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The Who: bagunçado é mais legal

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O canal BIS exibe esse dias “The Who – Live at the Isle of Wight Festival 1970”, um filme-concerto dirigido por Murray Lerner que mostra o Who se apresentando no famoso festival inglês (veja horários aqui).

Antes de tudo, uma reclamação: por que um canal especializado em música precisa cortar filmes musicais? O DVD de “Live at the Isle of Wight” tem 85 minutos de duração, mas o BIS só exibe a versão com 60 minutos. Bola fora. Veja aqui a versão integral:

Voltando ao show: em agosto de 1970, quando a banda se apresentou pela segunda vez na Ilha de Wight (a primeira fora no ano anterior), o quarteto de Roger Daltrey (voz), Pete Townshend (guitarra), Keith Moon (bateria) e John Entwistle (baixo) estava no fim da turnê da ópera-rock Tommy e apresentando algumas músicas novas, como “Naked Eye” e “I Don’t Even Know Myself”.

O Who era uma das maiores bandas do mundo e Wight, um dos maiores festivais. A edição de 1970 reuniu 600 mil pessoas.

Mesmo com todo o gigantismo e importância, é surpreendente assistir ao show e verificar a precariedade da produção. Qualquer quermesse de cidade pequena no Brasil tem hoje um palco mais bem montado e equipado do que a estrutura que o Who encontrou em 1970.

Adoro ver esses shows clássicos – Stones em Altamont (1969), Hendrix em Monterey (1967), Woodstock (1969), Cream no Royal Albert Hall (1968), Bowie de Ziggy Stardust no Hammersmith Odeon (1973) – e ficar atento aos detalhes de produção.

O show do Who é uma zona: não há barreira na frente do palco e 600 mil pessoas estão quase aos pés da banda. Técnicos, fotógrafos e bicões andam tranquilamente pelo palco. Na frente de Townshend, um mané faz “air guitar” sentado no chão. Não há decoração ou telão. A iluminação é mínima e a segurança, inexistente.

Mesmo assim é um show antológico, que captura uma banda extraordinária no auge de sua carreira.

É curioso perceber que os shows mais lembrados na história do rock e pop foram justamente alguns dos mais bagunçados e realizados em condições precárias.

Veja o exemplo do primeiro concerto “de estádio” da história do pop e que acaba de completar 50 anos: em 15 de agosto de 1965, os Beatles se apresentaram no Shea Stadium, em Nova York, diante de 55 mil meninas histéricas. Ninguém viu ou ouviu nada, mas o show entrou pra história.

Com a popularização dos megafestivais - Monterey, Woodstock -no fim dos anos 60 e o surgimento dos supergrupos que dominariam as paradas de discos dos anos 70 (Led Zeppelin, Crosby, Stills, Nash & Young, Eagles, Pink Floyd), promotores de shows perceberam o potencial de faturamento de shows em estádios e começaram a investir em infraestrutura.

A famosa turnê de estádios de Crosby, Stills, Nash & Young pelos EUA, em 1974, foi uma das primeiras a contar com um sistema de som adequado a locais com 60 ou 70 mil pessoas. Veja Grahan Nash falando sobre a caixa, lançada ano passado, com gravações da tour:

A partir do início dos anos 80, com a era dos superastros do pop – Michael Jackson, Madonna, Bruce Springsteen, Elton John, Queen, U2 – shows de estádios viraram a norma, mas os concertos antológicos rarearam. O profissionalismo da indústria do entretenimento ao vivo chegou a um nível tão alto que os erros e improvisações que tornaram alguns shows memoráveis simplesmente desapareceram. E muito da graça de ver um show também.

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