A partir de sábado, a Mostra Internacional de Cinema de SP homenageia o cineasta italiano Mario Monicelli com a exibição de cinco de seus filmes em cópias restauradas.
Monicelli (1915-2010) foi um dos maiores diretores do cinema italiano, conhecido principalmente por comédias como “Totò Procura Casa” (1949), “O Incrível Exército de Brancaleone” (1966) e “Parente é Serpente” (1992), mas que também dirigiu grandes filmes dramáticos - embora sempre com um pé na comédia - como “A Grande Guerra” (1959) e “Os Companheiros” (1963).
Entre os cinco filmes programados na Mostra, não poderia faltar “Os Eternos Desconhecidos” (“I Soliti Ignoti”, 1958), que será exibido sábado, dia 31, às 17h20 no Cinesesc, e segunda, dia 2, às 14h na Cinesala.
Na lista de minhas cinco comédias prediletas de todos os tempos, “Os Eternos Desconhecidos” estaria lado a lado com “A General” (Buster Keaton, 1926), “Diabo a Quatro” (1933), com os Irmãos Marx, “Quanto Mais Quente Melhor” (Billy Wilder, 1959) e “Monty Python e o Cálice Sagrado” (Terry Gilliam, 1975).
“Os Eternos Desconhecidos” é uma paródia de “Rififi” (1955), excelente filme de Jules Dassin sobre um grupo de bandidos que tenta dar o golpe perfeito ao roubar uma joalheria que supostamente tem um sistema de segurança infalível.
O filme conta a história de uma gangue de bandidos incompetentes que planeja assaltar uma loja de penhores destruindo a parede do apartamento vizinho. Claro que dá tudo errado.
É um filme muito engraçado e que ao mesmo tempo traz a melancolia das melhores comédias italianas, em que o humor disfarça e ameniza a pobreza e os problemas sociais. É muito comovente perceber como o cinema italiano conseguir rir das desgraças do país.
Para ajudá-lo no filme, Monicelli juntou um verdadeiro dream team da comédia italiana: o roteiro teve participação de Suso Cecchi D’Amico (1914-2010), uma roteirista extraordinária que trabalhou só com Visconti, Antonioni, Zurlini, Comencini, Rosi e a nata do cinema italiano, e da dupla Age (1914-2005) & Scarpelli (1919-2010), dona de outro currículo notável, com roteiros para Ettore Scola, Sergio Leone, Steno, Risi, Comencini, Petri e de muitos filmes estrelados por Totò.
O elenco é brincadeira: Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni, Renato Salvatori, Claudia Caridinale, Carlo Pisacane, Memmo Carotenuto e Tiberio Murgia, além da participação antológica de Totò como Dante Cruciani, “especialista” que ensina o bando a abrir cofres.
Veja a cena em que Cruciani ensina a gangue de idiotas os segredos de sua profissão e presta tributo a seu velho mestre, “Fu Chi-Min”:
O filme fez tanto sucesso que teve duas continuações na Itália, “Audace Colpo Dei Soliti Ignoti” (Nanni Loy, 1959) e “I Soliti Ignoti – Vent’Anni Dopo” (Amanzio Todini, 1985), além de uma refilmagem norte-americana, “Crackers” (1984), dirigida pelo francês Louis Malle e estrelada por Donald Sutherland e Sean Penn.
“Os Eternos Desconhecidos” também inspirou Woody Allen a fazer “Trapaceiros” (2000), em que o próprio Allen lidera um grupo de bandidos incapazes numa malsucedida tentativa de assalto a uma loja.
Se tiver a chance de ver "Os Eternos Desconhecidos" em tela grande, não perca de jeito nenhum.
Bom fim de semana a todos. O blog volta com um texto inédito na terça, logo após o feriado.
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