Eduardo Coutinho era o maior cineasta em atividade no Brasil. Nos últimos 30 anos, nenhum brasileiro fez filmes tão bons e pessoais. Desde a explosão de “Cabra Marcado para Morrer” (1984), filme que começou como a descrição da luta de uma liga camponesa nordestina pela melhoria das condições de trabalho na lavoura, foi interrompido pelo golpe de 64 e retomado mais de 20 anos depois, seus filmes só cresceram em densidade e experimentação.
Em tese, os filmes de Coutinho eram documentários – entrevistas com pessoas reais e relatos de casos verdadeiros – mas não eram documentários como os que nos acostumamos a ver, em que o diretor usa imagens e entrevistas para corroborar idéias pré-concebidas.
Apesar de ter começado a carreira no cinema documental militante, Coutinho logo percebeu que o cinema não pode escolher lado. “Faço de tudo para não interferir com as respostas dos entrevistados”, disse o cineasta em um debate na última FLIP, em Paraty. “Se meu entrevistado fica 30 segundos em silêncio antes de dar uma resposta, eu mostro esses 30 segundos, por mais torturante que seja para ele e para o espectador, mas cortar isso ou mudar algo na edição seria uma traição à pessoa que está abrindo sua vida para mim.”
Mais que retratos acabados de realidades diversas, os filmes de Coutinho levantavam mais questões do que respostas. Ele parecia genuinamente interessado no inesperado, em respostas e histórias únicas, sem se preocupar que elas complementassem alguma entrevista anterior ou encerrassem o assunto.
Coutinho fez filmes sobre religião (“Santo Forte”, 1999), favelas (“Babilônia 2000”, 2000), a vida em um prédio gigantesco e melancólico (“Edifício Master”, 2002), a vida de operários (“Peões”, 2004), e uma inovadora experimentação de linguagem em que pessoas famosas e anônimas eram entrevistadas e “interpretavam” as respostas de outras (“Jogo de Cena”, 2007). Apesar de abordar assuntos diversos, os filmes são ligados por um tema comum, que é a celebração do humano e do que é único em cada pessoa.
Assista ao trailer de "Jogo de Cena":
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