Dois dos artistas mais talentosos do cinema mundial morreram nesse domingo: no Rio, Eduardo Coutinho, 80, foi assassinado a facadas, aparentemente pelo filho esquizofrênico.
Em Nova York, Philip Seymour Hoffman, o grande ator norte-americano, morreu de uma aparente overdose de drogas, possivelmente heroína. Hoffman, que havia sido internado em uma clínica para recuperação de heroinômanos, foi encontrado com uma seringa espetada no braço.
EDUARDO COUTINHO
Eduardo Coutinho era o maior cineasta em atividade no Brasil. Nos últimos 30 anos, nenhum brasileiro fez filmes tão bons e pessoais. Desde a explosão de “Cabra Marcado para Morrer” (1984), filme que começou como a descrição da luta de uma liga camponesa nordestina pela melhoria das condições de trabalho na lavoura, foi interrompido pelo golpe de 64 e retomado mais de 20 anos depois, seus filmes só cresceram em densidade e experimentação.
Em tese, os filmes de Coutinho eram documentários – entrevistas com pessoas reais e relatos de casos verdadeiros – mas não eram documentários como os que nos acostumamos a ver, em que o diretor usa imagens e entrevistas para corroborar idéias pré-concebidas.
Apesar de ter começado a carreira no cinema documental militante, Coutinho logo percebeu que o cinema não pode escolher lado. “Faço de tudo para não interferir com as respostas dos entrevistados”, disse o cineasta em um debate na última FLIP, em Paraty. “Se meu entrevistado fica 30 segundos em silêncio antes de dar uma resposta, eu mostro esses 30 segundos, por mais torturante que seja para ele e para o espectador, mas cortar isso ou mudar algo na edição seria uma traição à pessoa que está abrindo sua vida para mim.”
Mais que retratos acabados de realidades diversas, os filmes de Coutinho levantavam mais questões do que respostas. Ele parecia genuinamente interessado no inesperado, em respostas e histórias únicas, sem se preocupar que elas complementassem alguma entrevista anterior ou encerrassem o assunto.
Coutinho fez filmes sobre religião (“Santo Forte”, 1999), favelas (“Babilônia 2000”, 2000), a vida em um prédio gigantesco e melancólico (“Edifício Master”, 2002), a vida de operários (“Peões”, 2004), e uma inovadora experimentação de linguagem em que pessoas famosas e anônimas eram entrevistadas e “interpretavam” as respostas de outras (“Jogo de Cena”, 2007). Apesar de abordar assuntos diversos, os filmes são ligados por um tema comum, que é a celebração do humano e do que é único em cada pessoa.
Assista ao trailer de "Jogo de Cena":
PHILIP SEYMOUR HOFFMAN
O maior ator norte-americano dos últimos 20 anos? Se não ele, quem?
Philip Seymour Hoffman conseguia melhorar qualquer filme. Mesmo besteiróis como “Missão Impossível 3”, em que enfrentou Tom Cruise, ou “Quase Famosos”, em que fez um hilariante crítico musical Lester Bangs, ganharam muitos pontos só pela presença do ator.
Em homenagem a Hoffman, aqui vai uma lista pessoal de seus cinco maiores momentos no cinema, em ordem cronológica.
Boogie Nights (1997) – Uma de suas cinco colaborações com o cineasta Paul Thomas Anderson. Hoffman faz um assistente de filmagem de fitas pornô que cai de amores pelo ator interpretado por Mark Wahlberg.
Magnólia (1999) – Num filme de elenco imenso e talentoso – Jason Robards, Julianne Moore, William H. Macy, Philip Baker Hall, Tom Cruise, John C. Reilly – Hoffman se destacou como o enfermeiro que cuida de um milionário moribundo (Robards) e que precisa encontrar o filho dele (Cruise) antes de o ricaço morrer. Mais uma colaboração do ator com Paul Thomas Anderson.
Capote (2005) – O filme pelo qual Hoffman será lembrado, e que lhe deu o único Oscar (trailer abaixo). Sua interpretação do escritor Truman Capote é uma das maiores do cinema dos últimos anos.
Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (2007) – No último filme de Sidney Lumet, Hoffman interpreta – veja só que coincidência – um viciado em heroína, que planeja um golpe contra a loja de jóias da própria família. Um grande filme.
O Mestre (2012) – Hoffman faz Lancaster Dodd, um autor, filósofo e mentor de uma religião, inspirado em L. Ron Hubbard, fundador da Igreja da Cientologia. O embate de Hoffman com Joaquin Phoenix, no papel de um veterano de guerra que vira seguidor de Dodd - é memorável.
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