Se você mora em São Paulo e gosta de experiências fortes no cinema, sugiro dar uma passada na Universidade Presbiteriana Mackenzie na manhã de sábado. Às 11h, no Auditório do Centro Histórico e Cultural (Rua Maria Antônia, 307, prédio 1, Higienópolis), será exibido “The Unknown” (1927) e às 14h, “Freaks” (1932), ambos de Tod Browning.
Browning (1880-1962) é um mestre do cinema demente, um dos grandes criadores de momentos estranhos e inesquecíveis do cinema.
Aos 16 anos, Charles – o Tod ele inventaria depois – largou a família rica para se juntar a um circo. O rapaz era obcecado por tudo de mais estranho: anões levantadores de peso, engolidores de espada, mulheres barbadas, faquires. Ele próprio criou um número em que era enterrado vivo.
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Foi amigo de D.W. Griffith e trabalhou como ator em filmes mudos, até que virou diretor. E levou para as telas toda a bizarrice que tanto amava. Fez melodramas, comédias, suspense e filmes de terror, sempre com uma visão macabra e pessimista do mundo.
Depois de dirigir vários filmes com Lon Chaney – inclusive este “The Unknown”, bizarríssimo drama de horror em que o astro faz – acredite – um arremessador de facas sem braço, que lança facas com os pés e tem um caso com a assistente, vivida por Joan Crawford com 22 aninhos – Browning obteve sucesso com “Drácula” (1931), estrelado por Bela Lugosi.
Mas sua obra-prima é mesmo “Freaks”, um dos filmes mais estranhos já bancados por um grande estúdio (no caso, a MGM). O filme se passa num circo, onde uma trapezista gostosona seduz um anão só para roubar seu dinheiro e é descoberta pelos “freaks” que trabalham no picadeiro: a mulher barbada, duas irmãs siamesas, o “Pinhead” (um homem de cabeça pequena e pontuda), o “Homem-Torso” e outros.
Browning usou cenas reais de apresentações circenses, e o público surtou: na Inglaterra, “Freaks” foi banido por quase 30 anos. A reação foi tão ruim que o diretor passou a ter cada vez mais dificuldades para conseguir emprego e abandonou o cinema poucos anos depois.
Nos anos 60, “Freaks” estava completamente esquecido, quando começou a ser exibido em sessões de filmes B na televisão e virou cult. Em 1977, os Ramones, fanáticos pelo filme, lançaram a faixa “Pinhead”, inspirada em “Freaks” e contendo o hoje clássico grito de “Gabba Gabba Hey!”. Só que os Ramones se enganaram: no filme, os freaks gritam “Gobble Gobble”.
Gabba ou Gobble, não importa. O que importa é que Tod Browning vai mudar sua vida.
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