Quantcast
Channel: Andre Barcinski
Viewing all articles
Browse latest Browse all 575

O arquivista da contracultura

$
0
0

vale burroughs O arquivista da contraculturaAlgum milionário deveria chegar para meu amigo Fábio Massari e oferecer uma mesada só para ele ficar pensando em coisas legais. Pode ser livro, programa de rádio, qualquer coisa. O importante é que ele faça.

A última empreitada do Massari é o livro “Alguém Come Centopeias Gigantes?”, compilação de entrevistas feitas por V.Vale para o fanzine “Search and Destroy” e as publicações da editora RE/Search (na foto, Vale ao lado de William Burroughs).

A lista de entrevistados é embasbacante: Jello Biafra, The Clash, Patti Smith, The Cramps, Throbbing Gristle, Henry Rollins, Timothy Leary, autores como J.G. Ballard, Lawrence Ferlighetti e Burroughs e cineastas como John Waters, entre outros.

Os papos são absurdamente ricos e interessantes. Você abre o livro em qualquer página e dá de cara com uma opinião, uma história ou uma ideia que ampliam seus horizontes sobre assuntos diversos: música, arte, política, ativismo, drogas e a vida em geral. Entrevistados citam livros, filmes e pessoas que você não conhece, e seu primeiro impulso é buscar conhecê-los.

V. Vale é uma espécie de embaixador da contracultura californiana (um Massari de São Francisco?). No fim dos anos 70, esse norte-americano de família japonesa trabalhava na livraria City Lights, do poeta beat Lawrence Ferlighetti, quando Ferlighetti e Allen Ginsberg doaram 100 dólares cada para que Vale fizesse um fanzine. O “Search and Destroy” começou cobrindo a rica cena punk de São Francisco, mas logo expandiu seus interesses para a literatura, o cinema e a política.

centopeias 208x300 O arquivista da contraculturaVárias entrevistas foram realizadas antes de os personagens ficarem famosos na cena pop. É muito legal ler o papo com o Devo, gravado em 1977, com a explicação da banda para seu conceito de “de-evolução”.

Já a entrevista com os Cramps, publicada originalmente no livro “Incredibly Strange Music”, é antológica. Lux e Ivy falam das raridades de sua coleção de discos. Vale, outro nerd obcecado por música esquisita, se empolga com o conhecimento enciclopédico da dupla, e o papo rende diálogos como:

Vale – Charlie Feathers deve ter um alcance de quatro oitavas, como Yma Sumasc...

Poison Ivy – E alcance emocional também. Quando ele canta “In the Pines” parece que pode ter esqueletos no armário e embaixo de seu trailer.

Lux Interior – Você já ouviu “Scream”, de Ralph Nielsen and the Chancellors?

Poison Ivy – Parece um disco snuff! Eles estão saindo impunes de um assassinato – assassinato musical.

Não é todo dia que se pode achar um volume onde Jello Biafra fala de punk, Timothy Leary comenta os “acid tests”, J.G. Ballard explica a diferença entre escrever ficção e ficção-científica, Henry Rollins baba por Mark Twain e William Burroughs dá uma de suas últimas entrevistas, cinco meses antes de morrer.

Bom fim de semana a todos.

The post O arquivista da contracultura appeared first on Andre Barcinski.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 575