Ontem escrevi quatro textos sobre David Bowie. Um aqui para o blog e três para a “Folha de S. Paulo”.
O primeiro texto para a “Folha” foi uma tentativa de resumir, em três mil toques, a carreira musical do homem.
O segundo foi uma análise do disco “Blackstar”, o primeiro testamento musical do pop.
O terceiro foi sobre três shows de Bowie que tive a sorte de ver (por falta de espaço, o texto saiu editado no jornal; amanhã publico a íntegra aqui no blog).
Para hoje, escolhi dez trechos de letras marcantes de de David Bowie.
Vale lembrar que poucos artistas escreveram letras tão crípticas e impenetráveis quanto Bowie. Ele nunca disse as coisas da maneira mais simples. Sempre preferiu analogias e mistérios.
Como analisar uma letra como a de “Quicksand” (1971) sem conhecer a obsessão de Bowie pelo ocultismo e por Aleister Crowley? Impossível.
Mais uma vez, recomendo a leitura de “David Bowie e os Anos 70”, de Peter Doggett, em que o autor destrincha a obra de Bowie na década de 70 e explica as circunstâncias culturais, sociais, políticas e comportamentais que inspiraram as letras.
Em ordem cronológica:
Agora é hora de sair da cápsula / se você tem coragem
Space Oddity, 1969
Dizem que sua vida vai muito bem / Dizem que você brilha como uma menininha / mas algo me diz que você se esconde / quando o mundo é quente e cansado / você chora um pouco no escuro / eu também / não tenho certeza o que você deve dizer / mas posso ver que não está bem
Letter to Hermione, 1969
Dia após dia / eles mandam meus amigos / para mansões frias e cinzas / do outro lado da cidade / onde homens magros vigiam as ruas / e os sãos permanecem nos subterrâneos
All the Madmen, 1970
Eu não sabia o que estava esperando / e meu tempo corria solto / um milhão de ruas sem saída / e sempre eu achava que estava no caminho certo / parecia que o gosto não era tão doce / então eu me virei para olhar para mim mesmo / mas nunca consegui perceber / como os outros vêem o farsante / eu sou rápido demais para fazer esse teste / mudanças / vire-se e contemple o estranho
Changes, 1971
Ouça esse Robert Zimmermann / escrevi uma canção para você / sobre um homem jovem e estranho / chamado Dylan / com uma voz como areia e cola / e palavras de vingança / elas podiam nos derrubar / trouxeram mais pessoas / e amedrontaram muitas mais
Song for Bob Dylan, 1971
Eles vão rachar ao meio seu crânio bonitinho / e enchê-lo de ar / e te dizer que você tem 80 anos, mas irmão, você não vai se importar / você vai se deixar injetar qualquer coisa sem pensar no amanhã / Cuidado com a mordida selvagem / de 1984
1984, 1974
Não é o efeito da cocaína / penso que pode ser o amor
Station to Station, 1976
Às vezes você fica tão só / às vezes você chega a lugar nenhum / eu vivi por todo o mundo / e deixei todos os lugares / por favor, seja minha / divida minha vida / fique comigo / seja minha esposa
Be My Wife, 1977
Caso essa viagem fantástica / torne-se erosão / e nós nunca envelhecermos / lembre-se, é verdade, a dignidade vale muito / mas as nossas vidas são valiosas também
Fantastic Voyage, 1979
Ela abria portas estranhas / que nós nunca fecharíamos
Scary Monsters (and Super Creeps), 1980
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