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A escolinha do professor Santucci

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o diretor roberto santucci nos bastidores de ate que a sorte nos separe seu novo filme 1348172099752 615x300 A escolinha do professor SantucciA revista “Piauí” de janeiro publicou um perfil do cineasta carioca Roberto Santucci. Assinada por Luiza Miguez, a reportagem afirma que ele é o cineasta de maior sucesso comercial da história do cinema brasileiro, com um total de 22 milhões de ingressos vendidos.

O público pode não conhecer Santucci, mas já deve ter visto alguns de seus filmes: “De Pernas pro Ar”, “Até que a Sorte nos Separe”, “O Candidato Honesto”, “Loucas pra Casar” e “Odeio o Dia dos Namorados”, entre outros. Seu próximo lançamento é “Um Suburbano Sortudo”:

Santucci dirige comédias populares na linha do humor televisivo de programas como “Zorra Total” e “Sai de Baixo”. E se você não gosta desses filmes, não tem problema: nem o próprio Santucci parece gostar, tanto que se refere a eles como sua “moeda de troca”, sucessos que produz para poder realizar seu verdadeiro sonho artístico, que é o de dirigir filmes policiais e de ação (ele chegou a dirigir alguns, incluindo “Bellini e a Esfinge”, de 2002, mas foram fracassos de público).

Confesso que fiquei surpreso ao saber que Santucci é o cineasta mais popular da história do cinema brasileiro. Se alguém me perguntasse, eu chutaria que J.B. Tanko, o croata que dirigiu uma penca de filmes dos Trapalhões, era o campeão de bilheteria. Mas não duvido que Santucci tenha vendido mais ingressos, especialmente depois de ler que em 2014 seus filmes foram responsáveis por 60% do total de público do cinema nacional e que, naquele mesmo ano, comédias representaram 80% dos ingressos vendidos para filmes brasileiros. Santucci criou uma fórmula de sucesso e merece os parabéns por levar tanta gente ao cinema.
ate que a sorte nos separe A escolinha do professor SantucciA reportagem de Luiza Miguez é interessante também por explicar as principais características do público do cinema brasileiro atual. É, segundo o texto, um público conservador e “família”, que “se interessa por temas de ascensão social – pobres que ficam ricos graças à astúcia e ao engenho – e aprecia um humor mais popular”. Os espectadores não gostam de filmes com legendas e se concentram, segundo um especialista em análises de mercado, no interior de São Paulo, onde está a maior parte das salas de cinema. Para se certificar de que os filmes agradem ao público, Santucci realiza sessões de testes, coisa normal em Hollywood. Dependendo da reação da plateia, o cineasta faz mudanças no filme.

Um aspecto triste da reportagem é o ressentimento de Santucci contra o “establishment” do cinema brasileiro. Imaginei que um diretor de tanto sucesso comercial estivesse mais em paz com sua obra e não ligasse tanto para críticas, que são normais e até esperadas para o tipo de cinema apelativo e escrachado que ele produz. Mas a reportagem é cheia de ataques do cineasta contra a crítica e o que ele chama de “patota”. Um trecho diz: “Socializar com os ‘diretores intelectuais, esses que ostentam inteligência’, lhe causa desânimo”.

O que me causa desânimo é perceber que no Brasil muitos consideram a atividade intelectual algo arrogante e ostentador, numa separação grotesca entre o “bom” e o “popular” e que chega perigosamente próximo da apologia à ignorância. Parece que o ato de criticar denota algum tipo de superioridade e deve ser rechaçado como elitista. Vindo de um cineasta, essa visão é verdadeiramente espantosa.

A reportagem diz que Santucci não gosta dos filmes de Godard e de Truffaut e acha críticos "preconceituosos e elitistas". "Assim como não é cinéfilo nem apreciador de cinema de arte, também lhe falta paciência para filmes clássicos do gênero [a comédia]."

Não há problema algum em um diretor não gostar de determinados cineastas (embora eu ache estranho um cineasta não ser um cinéfilo e não gostar de clássicos), mas ao espernear contra o "elitismo" e "preconceito" de quem fala mal de seus filmes, Santucci parece querer dizer que só pessoas despidas de preconceitos podem realmente apreciar sua obra.

Só para efeito de comparação, o italiano Mario Monicelli (1915-2010) também realizou comédias de costumes que abordavam as diferenças sociais e culturais da Itália, fizeram imenso sucesso de bilheteria e atraíam o "povão" aos cinemas, e nem por isso Monicelli vivia reclamando que os críticos tinham preconceito contra seus filmes e que a “intelligentsia” o desprezava enquanto artista. Talvez porque os filmes fossem bons, não é mesmo?

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