Vários leitores avisaram: entrou no catálogo do Netflix brasileiro “Fogo Contra Fogo”, filmaço policial que Michael Mann dirigiu em 1995. Revi o filme pela enésima vez e continua tão espetacular e emocionante quanto na primeira sessão.
Al Pacino faz o Tenente Vincent Hanna, que persegue uma quadrilha de assaltantes barra pesada liderada por Neil McCauley (Robert De Niro). O elenco de apoio é brincadeira: Tom Sizemore, Val Kilmer, Danny Trejo e Jon Voight completam o time dos bandidos, enquanto Wes Studi e Ted Levine (ele mesmo, o Buffalo Bill de “O Silêncio dos Inocentes”) ajudam Pacino na busca aos meliantes.
Muito já se falou sobre o talento de Michael Mann para filmar tiroteios e cenas de ação, e se você não viu “Thief” (1981), “Manhunter” (1986), “O Informante” (1999), “Colateral” (2004), “Miami Vice” (2006) e “Inimigos Públicos” (2009), sugiro fazê-lo agora.
Em “Fogo Contra Fogo”, há uma cena de assalto a banco que é um manual de como filmar sequências de ação. Veja:
Queria aproveitar a oportunidade para destacar outra qualidade dos filmes de Mann: a de criar personagens reais e interessantes, coisa rara em filmes policiais. Há uma cena em “Fogo Contra Fogo” que não tem balas zunindo, carros voando pelos ares ou sangue jorrando, mas na qual o diretor, em dois minutos, consegue traçar um perfil de três personagens importantes da trama. A cena (dublada, desculpem) vai de 4:21 a 7:01 e mostra o personagem de Pacino contracenando com a namorada, interpretada por Diane Venora, e a filha desta, vivida por Natalie Portman:
Em 120 segundos, e sem a necessidade de nenhum diálogo “explicativo” da cena, Mann mostra que:
- Pacino e Venora não são casados
- Portman não é filha de Pacino
- O pai de Portman é um irresponsável que sempre desaponta a filha
- Pacino é um policial (evidente quando ele pega a arma) e obcecado por seu trabalho
- Venora toma remédios
- A relação de mãe e filha é conflituosa
- A personagem de Portman é psicologicamente instável
Tudo isso terá consequências ao longo da história. Outros personagens, como o de Val Kilmer, por exemplo, têm problemas pessoais sérios e que afetarão o seu destino e o das pessoas próximas a ele. O mesmo acontece com o personagem de Robert De Niro, que se apaixona por uma jovem (Amy Brenneman).
Chamar Michael Mann de “diretor de filmes de ação” é limitante. Ele faz grandes filmes, com grandes personagens e grandes histórias. As cenas de ação são a cereja do bolo.
The post “Fogo contra Fogo” é muito mais que um filme de ação appeared first on Andre Barcinski.