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Sexo, drogas, rock’n'roll… e Scorsese!

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A HBO estreou essa semana a série "Vinyl". Criada por Mick Jagger, Martin Scorsese e Terence Winter, roteirista de "Lobo de Wall Street", a série se passa em Nova York em 1973 e conta a saga de Richie Finestra (Bobby Cannavale), dono de uma gravadora pop chamada American Century. O primeiro episódio foi dirigido por Scorsese e é divertido demais.

A primeira metade da década de 70 foi importante para a indústria do disco porque marcou o início do período de fusões que acabariam por criar as megagravadoras que dominariam o mercado mundial. Selos menores foram vendidos aos montes para conglomerados e corporações, o que viria a colaborar para a queda na qualidade geral da música pop a partir dos anos 80.

Nas primeiras cenas de "Vinyl", Finestra está em Berlim, negociando a venda da American Century para a Polygram. Ele promete aos chefões da Polygram - alemães e holandeses - que está prestes a contratar o Led Zeppelin, o que aumentaria substancialmente seu poder de barganha.

O que Finestra não conta é que sua gravadora está em apuros. Sem revelar um artista há anos e sofrendo com vendagens decepcionantes, a American Century está à beira da falência, e sua venda é a única maneira de reverter a situação.

A série fala dos bastidores do mercado musical da época: jabá, a influência da Máfia na promoção de discos, o uso liberado de drogas em gravadoras, falsificação de dados de vendagem de LPs e por aí vai. Muita coisa é verdade ou foi inspirado por fatos (veja abaixo).

O único ponto negativo - e que não tem relação com a série - foi a tradução dos diálogos. Fica claro que o tradutor não conhecia a cena musical da época e os termos usados na indústria.

Numa cena, um músico disse que tocou "at Max's". Isso foi traduzido por "na casa de Max", quando se referia ao lendário clube Max's Kansas City, onde se apresentavam bandas como Velvet Underground e New York Dolls.

Em outra sequência, um executivo promete um contrato de "three points" para um artista. A expressão foi traduzida por "três dígitos", mas na verdade quer dizer "três pontos percentuais sobre a venda de cada disco".

A palavra "label" ("selo", ou "gravadora") foi traduzida por "marca". E quando um executivo pergunta a Finestra como estão os "Rhine monkeys" ("Macacos do Reno"), piada com os executivos alemães da Polygram, a expressão não foi traduzida, como se "Rhine Monkeys" fosse o nome de uma banda.

ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS

Algumas cenas e situações são inspiradas em casos reais.

- A cena em que Finestra chega aos bastidores do show do Led Zeppelin no Madison Square Garden e vê o empresário da banda, o brutamontes Peter Grant, dando um esporro num promotor que permitiu a venda de merchandise pirata é verdadeira, e inclusive aparece no filme "The Song Remais the Same":

- Na série, Finestra tenta desesperadamente assinar o Led Zeppelin, mas descobre que a banda já tinha um acordo para montar seu próprio selo. A história é real. O Zep lançou seus cinco primeiros álbuns pela Atlantic, mas em 1974 montou a gravadora Swan Song, cujo álbum de estreia foi "Physical Graffiti" (1975).

- Uma assistente de Finestra, a ambiciosa Jamie (Juno Temple), aparece comprando uma mochila cheia de drogas no metrô, que distribui para os colegas de trabalho. A cena parece ter sido inspirada pela história do selo Casablanca, de Neil Bogart, casa de Kiss, Village People e Donna Summer, que tinha até uma funcionária encarregada de passar nos escritórios e anotar os pedidos de cocaína e anfetaminas do staff.

- Depois de receber a notícia de que os discos de sua gravadora serão boicotados por um poderoso dono de uma cadeia da rádios, Finestra contrata um sujeito misterioso, Joe Corso (Bo Dietl) como "promotor de vendas". Corso é claramente ligado à Máfia. De fato, a Máfia dominava a promoção de discos nos anos 70 nos Estados Unidos, controlando milhares de estações de rádio e decidindo que músicas tocavam. Há quem diga que a expressão "hit", que tanto significa uma música de sucesso comercial quanto a execução de um rival, foi criada por promotores de discos ligados à Máfia.

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