Vi o primeiro “Robocop” em 1987, numa sessão de meia-noite lotada no cinema Roxy, em Copacabana. Lembro que fiquei revoltado quando li no “Jornal do Brasil” uma crítica que reclamava da violência e do “americanismo” do filme. Fiquei surpreso porque o filme que vi não tinha nenhuma patriotada de Tio Sam, muito pelo contrário: era uma sátira à era Reagan, esculhambando a tara americana por poder, dinheiro e armas.
O diretor do primeiro “Robocop” foi o holandês Paul Verhoeven, que depois faria outra comédia sanguinolenta e escrachada contra uma certa ideia de eugenia americana, “Tropas Estelares”, um filme B onde todos os personagens eram lindos, louros e tinham dentes brilhantes e perfeitos.
O “Robocop” de Verhoeven trazia tons religiosos – o personagem principal morre violentamente e ressuscita para salvar o mundo – e lembrava também um faroeste, com um mocinho enfrentando bandidos sádicos em uma cidade poeirenta. A cidade era Detroit, destruída pela crise financeira e tomada por traficantes e ladrões.
O filme tinha tudo: um cenário bacana, vilões memoráveis e cenas de ação empolgantes (como esquecer o bandido caindo numa tina de ácido e depois sendo atropelando por um carro?). Robocop até lembrava Charles Bronson e Clint Eastwood, quando fazia um comentário ridículo antes de mandar bandidos pelos ares. Era o tipo de filme que faria um satirista como Samuel Fuller orgulhoso.
Quando anunciaram um “remake” de “Robocop”, pensei que faria todo sentido. Os temas principais continuam relevantes – a paranóia americana, a ganância corporativa e a obsessão pela segurança por meio da força. E Detroit, que havia falido no filme, agora estava falida de verdade.
Mas José Padilha errou a mão. Fez um filme que mantém o espírito crítico do original, mas substituiu o escracho por um tom politizado sem graça. Depois da décima tirada satírica sobre o poderio bélico norte-americano ou o vigésimo grito histérico do personagem de Samuel L, Jackson, um apresentador de TV ultranacionalista, a diversão acabou. Ninguém vai ao cinema para ser doutrinado, especialmente quem paga 20 mangos para ver “Robocop”.
Verhoeven mostrou que era possível fazer um filme-pipoca com mensagem. Padilha fez um filme-mensagem sem pipoca.
Não que este “Robocop” seja ruim. É correto e bem feito, mas falta humor. Os vilões e as cenas de ação são genéricos. Os tiroteios lembram videogames, de tão exagerados e velozes. O clímax, em um heliporto, é um dos mais brochantes que vi em muito tempo.
Para quem não viu o “Robocop” original, este pode até divertir. Mas quem conhece o filme de Verhoeven não consegue ver o de Padilha sem se decepcionar. Confira o trailer abaixo. E bom fim de semana...
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