Inside Llewyn Davis: Balada de Um Homem Comum por thevideos no Videolog.tv.
Muita gente tem falado de “Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum” como um filme sobre a cena de música folk de Greenwich Village, em Nova York, no início dos anos 60. Acho a definição equivocada. Claro, o filme se passa no Village, em 1961, e a trilha sonora é excelente, mas a cena folk é mais um pano de fundo, um cenário para a história de um anti-herói. A trama poderia muito bem acontecer na cena punk dos anos 70, que não faria muita diferença.
O que interessa no filme é Llewyn Davis (Oscar Isaac). Llewyn é um personagem raro num cinema cada vez mais em busca de figuras extraordinárias. Ele não tem nada de extraordinário: é um músico bom, mas longe de ser genial, e não parece ter a resiliência necessária para ser um sucesso. É, de fato, um “homem comum” (parabéns a quem deu o título brasileiro, caso raro de título nacional que não deturpa o original).
Llewyn é um sem-teto. Passa os dias vagando por cafés do Village, escritórios de gravadoras e estúdios de gravação. À noite, dorme no sofá de amigos e admiradores. É um andarilho, na melhor tradição do folk de Woody Guthrie e cia.
A recriação do Village de 1961 é sensacional. Os Coen disseram que o visual do filme foi inspirado na capa de “The Freewheelin’ Bob Dylan”, o segundo álbum de Dylan, lançado em 1963. Na foto, o cantor aparece andando pelo Village abraçado com a então namorada, Suze Rotolo. O chão está coberto de neve. A imagem tem tons frios e cores esmaecidas. O filme se passa no inverno nova-iorquino, e o personagem principal vive se queixando do frio e da neve.
Llewyn está no limite de sua paciência com a carreira e a cena folk. Vive dividido entre continuar a tocar para 30 pessoas e um emprego seguro na Marinha Mercante.
As frustrações se acumulam. Llewyn descobre que uma amante, Jean (Carey Mulligan), cantora e namorada de um amigo (Justin Timberlake), está grávida, e precisa conseguir dinheiro para o aborto. O cantor vai à gravadora cobrar direitos autorais por um disco que não vendeu nada, e tem um pequeno momento de alegria quando é chamado para tocar violão em uma canção pop e comercial. O dinheiro vem em boa hora, apesar de Llewyn achar a música grotesca (a cena folk era extremamente ortodoxa, e seus integrantes se julgavam herdeiros de uma tradição musical “pura” e intocada pelo comercialismo).
Sem perspectiva de futuro, Llewyn pega carona até Chicago com dois personagens sombrios, um poeta beat (Garrett Hedlund) e um músico de jazz (John Goodman). A viagem de Llewyn transforma o filme numa versão folk da “Odisséia”, cheia de perigos e surpresas (e um gato chamado “Ulysses”). É a melhor parte do filme, quando os Coen exibem sua maestria em criar personagens e situações que beiram o surreal.
Talvez os Coen tenham escolhido situar o filme no Village em 1961 por enxergar na solidão dos músicos e na melancolia das canções elementos que combinariam com a história triste de Llewyn Davis. Ou talvez eles só gostem mesmo da música da época. De qualquer forma, quando o filme mostra, por poucos segundos, um jovem Bob Dylan tocando para gatos pingados num café enfumaçado, logo depois de Llewyn sair do palco, mostra que a grandeza pode estar onde menos se espera.
P.S.: Domingo, participo de um liveblog do Oscar aqui no R7. Vamos comentar a cerimônia ao vivo. Apareça.
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