Ainda o Oscar: até acreditei que Leonardo DiCaprio poderia vencer o prêmio de melhor ator por “O Lobo de Wall Street”, mas logo mudei de Ideia. Tanto que, no liveblog do Oscar promovido pelo R7, cravei a vitória de Mattew McConaughey (“Clube de Compras de Dallas”).
Depois de aturar mais uma cerimônia careta, tediosa e sem um pingo de ousadia, com premiações diplomáticas e esnobadas em filmes mais transgressores (o que foi a vitória de “A Um Passo do Estrelato” sobre “O Ato de Matar” na categoria de “melhor documentário”?), cheguei a uma conclusão: se DiCaprio quiser ganhar um Oscar de melhor ator, será sem Martin Scorsese.
Já escrevi sobre como a parceria entre Scorsese e DiCaprio deu um gás na carreira de ambos (leia aqui). Mas o Oscar sempre esnobou Scorsese – sua única vitória na categoria de “melhor diretor” foi em 2006, com “Os Infiltrados” - e se DiCaprio quiser levar uma estatueta, deveria procurar algum diretor com mais “vocação” para o Oscar.
É verdade que Joe Pesci (“Os Bons Companheiros", 1990) e Cate Blanchett (“O Aviador”, 2004) já ganharam Oscars com Scorsese, mas sempre nas categorias de coadjuvantes, cujas premiações ainda mantêm algum resquício de ousadia (Paul Newman, Robert De Niro e Ellen Burstyn também venceram, mas há pelo menos 28 anos). Hoje, o prêmio de melhor ator, invariavelmente, vai para quem interpretou um personagem real de importância histórica ou um personagem que se redime no fim. Mais que talento, o que parece interessar à Academia é a redenção.
Pegue a lista dos dez últimos vencedores do Oscar: tivemos personagens reais (o Ray Charles de Jamie Foxx, o Truman Capote de Phillip Seymour Hoffman, o Idi Amin de Forest Whitaker, o Lincoln de Daniel Day-Lewis), ou o cantor country bêbado que encontra o amor (Jeff Bridges em “Crazy Heart”) e o artista fracassado que reencontra o sucesso (Jean Dujardin em “O Artista”).
Dos últimos dez vencedores, só o violento magnata do petróleo interpretado por Daniel Day-Lewis em “Sangue Negro” é um personagem ficcional e que não se redime no fim. Mas a atuação de Day-Lewis era tão superior a dos concorrentes que seria uma vergonha não dar o prêmio pra ele.
Quando se analista a lista de vencedores recentes, fica claro que DiCaprio não tinha chance com seu arrogante junkie de Wall Street em “Lobo”. Aliás, ele dificilmente terá chance de ganhar um Oscar em um filme de Scorsese, já que o diretor não é chegado a histórias de redenção e triunfo da bondade. Pelo contrário: Scorsese sempre foi um pessimista e prefere mostrar o lado podre da sociedade, os desajustados. Se DiCaprio quiser redenção, que procure um Spielberg ou Zemeckis, diretores que não têm vergonha de colocar o personagem principal chorando no fim, enquanto uma música cafona de triunfo (preferencialmente de um John Williams) ribomba ao fundo.
No site da “The New Yorker”, o sempre ótimo Richard Brody disse tudo, ao encerrar a patada que deu na cerimônia do Oscar assim: “’O Lobo de Wall Street’ já entrou para a história futura do cinema, e será visto com admiração e deslumbramento quando as políticas comezinhas da cerimônia já estiverem, felizmente, esquecidas. Enquanto isso, que venha a versão do diretor, com quatro horas de duração, e que ela tenha uma exibição no cinema para coincidir com o lançamento do DVD.”
Quem quiser ler a íntegra do texto de Brody, é só clicar aqui. Recomendo demais.
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