Fim de semana triste para trapalhões em geral: no Rio, Renato Aragão, 79, teve um enfarte durante a festa de 15 anos da filha. Nos Estados Unidos, o Pateta Scott Asheton, baterista dos Stooges, morreu de causas não reveladas, aos 64 anos.
The Stooges (1970) live at Goose Lake Festival por thevideos no Videolog.tv.
Da formação original dos Stooges, de 1967, só restou Iggy Pop. O baixista Dave Alexander morreu em 1975, aos 27 anos, de um edema pulmonar causado por alcoolismo, e o guitarrista Ron Asheton, irmão de Scott, se foi em 2009, aos 60, de um ataque do coração.
Os Asheton moravam em Ann Arbor, Michigan. O pai morreu quando eles eram muito novos, e a mãe os criou sozinha. Ou melhor, não criou, já que os dois viraram os maiores delinqüentes do bairro, batendo em coleguinhas da escola, fumando maconha e arranhando carros dos mais abastados. Ron e Scott moraram com a mãe até depois de completarem 40 anos.
Iggy (James Osterberg) morava em um trailer, próximo à casa dos Asheton, e se aproximou dos irmãos por achá-los tão estranhos quanto ele. “Eles eram piromaníacos, gostavam de explodir coisas, e também usavam roupas com suásticas só para irritar os outros. Me identifiquei muito com eles”.
Os três primeiros discos dos Stooges – “Stooges” (1969), “Funhouse” (1970) e “Raw Power” (1973) – são tão bons e influentes que é difícil escolher o melhor. Se alguém botasse uma arma na minha cabeça, eu optaria por “Funhouse”, 40 minutos de um mantra lento, sujo, distorcido, e soterrado em pilhas de Mandrix (ou Mandrax, como chamam na América). Acho “Down on the Street” uma das maiores músicas de todos os tempos.
Os três discos foram a trilha sonora perfeita para os Estados Unidos da virada dos 60 pros 70, quando o país recebia os cadáveres de soldados vindos do Vietnã, via a heroína invadir as metrópoles, terroristas locais explodindo prédios públicos e o fim da era hippie de paz e amor. Os Stooges eram o oposto dos hippies. Não tinham esperança em nada. Só queriam ligar o volume no dez e viajar em direção ao torpor absoluto.
Quando foram gravar o primeiro disco, ligaram as pilhas de Marshall no volume máximo, dentro do estúdio. O produtor John Cale (Velvet Undergorund) explicou, como sse estivesse falando com crianças de cinco anos, que não era necessário um volume tão alto na gravação. "Qual a graça de gravar, se não for no dez?" perguntou Scott Asheton. A banda ganhou a discussão.
Foi uma época estranha. Os "powers that be", fossem gravadoras ou estúdios de cinema, não entendiam a juventude, tinham perdido o bonde do gosto do público, e, desesperados, jogavam pilhas de dinheiro na mão de qualquer um que viesse com uma ideia nova. Foi assim que Scorsese, Coppola e Bogdanovich fizeram os filmes que fizeram, e que Danny Fields, um olheiro da gravadora Elektra, convenceu a corporação a assinar as duas bandas mais anticomerciais de Detroit, o MC5 e os Stooges (e, depois, os Ramones - “Danny Says” é uma homenagem a ele). Outros tempos...
Iggy Pop Stooges documentary - Raro por thevideos no Videolog.tv.
Se você quer ter uma pequena ideia de como eram os shows dos Stooges nos anos 70, sugiro ouvir “Metallic 2 x KO”, pirata ao vivo com trechos de dois shows, um de 1973 e outro do ano seguinte, que foi o último concerto da banda antes de sua volta, em 2003. O crítico Lester Bangs definiu assim o disco: “É o único álbum de rock que conheço onde você pode ouvir garrafas de cerveja arremessadas da plateia quebrando contra cordas de guitarras.”
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