Semana passada, a atriz Lucélia Santos pegou um ônibus. Dentro do coletivo, foi reconhecida por uma fã, que fotografou a atriz. Simpática, Lucélia sorriu e fez um “V” da vitória.
A imagem caiu das redes sociais, esse túmulo da sensatez. E a resposta foi triste: muita gente ironizou a atriz por estar usando transporte coletivo.
Lucélia retrucou em seu Twitter pessoal: “O Brasil é o único pais que conheço onde andar de ônibus e politicamente incorreto! Vai entender...” e “O Brasil deveria ler mais, se instruir mais, desejar mais e sair da burrice de consumo idiota e descartável que lhe dá carros! (...) Hoje a Dilma anunciou 4 bilhões para mobilidade urbana, e os caras pensam em construir estradas e incentivar mais a venda de carros. Pode?”
O fato virou notícia. E os títulos de algumas das reportagens já demonstraram um certo preconceito: “Lucélia Santos FLAGRADA em ônibus lotado”. Como assim, “flagrada”? Ela estava se escondendo, por acaso? Estava fazendo algo errado?
Até quem apoiou a atriz revelou, nas entrelinhas, seu preconceito. No Twitter de Lucélia, um fã postou: “Muito bom ver alguém do seu nível andando de ônibus!” Quer dizer que há gradações de “nível” entre as pessoas? Ônibus é feito para pessoas de determinado nível?
É curioso como situações assim revelam quem somos: um país preconceituoso demais. Do mais rico ao mais pobre, o preconceito é geral. Quem anda de carro ironiza quem anda de ônibus, e quem anda de ônibus também ironiza seus colegas de coletivo, companheiros de desgraça.
Esperar o quê, num país onde o vice-presidente Michel Temer diz que o brasileiro fica contente se “consegue botar os filhos na escola, fazer compras e ter seu carrinho”?
O pior é que Temer tem razão. Conheço gente que passa mais tempo lavando a caranga do que conversando com os filhos. Um casal conhecido tirou o filho da escola porque estava “cara demais” e o colocou em outra, inferior e mais barata. Mas troca de carro todo ano.
Nunca esqueço uma antiga propaganda de carro, em que um rapaz está esperando o ônibus no ponto, enquanto vê automóveis novinhos e reluzentes planando pela rua como naves espaciais. A mensagem era clara: se você anda de ônibus, você não é ninguém.
Lucélia está certa: transporte individual é coisa de país subdesenvolvido. Mas nossos políticos vivem comemorando números recordes de venda de automóveis, como se isso fosse sinal de progresso. Progresso seria andar num ônibus limpo e rápido.
E não adianta querer forçar a população a andar de coletivo, como faz o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, com a ridícula proibição de circulação de táxis nas faixas de ônibus. A população que anda de carro, hoje, só vai passar a usar ônibus quando o serviço prestar.
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