Quantcast
Channel: Andre Barcinski
Viewing all articles
Browse latest Browse all 575

O PRIMEIRO E.T. A GENTE NUNCA ESQUECE

$
0
0

Lembro exatamente a primeira vez que vi “E.T. – O Extraterrestre”: foi no cinema Roxy, em Copacabana. Tinha 14 anos e, mesmo já curtindo filmes de ação e policiais, mas me emocionei com a história do ser espacial que faz amizade com um menino.

ET O Extraterrestre - Trailer por thevideos no Videolog.tv.

Lembrei-me de “E.T.” porque, há algumas semanas, levei minha filha de seis anos para ver o filme do “Lego” em 3D. Saí do cinema tão revoltado que prometi mostrar a ela um filme bem melhor.

O que me irritou em “Lego”, mais até que a dor de cabeça provocada pelo 3D, a música exageradamente alta e o ritmo frenético de videogame, colocados ali para anestesiar os sentidos de qualquer criança e não dar a ela tempo sequer de pensar, foi a ruindade da história. Não havia um fio condutor, apenas um fiapo de trama que só servia para juntar cenas ribombantes, em que personagens voavam pelos ares enquanto um poperô de quinta categoria era expelido pelos alto-falantes a 120 decibéis. Uma tortura completa.

Uma Aventura LEGO® (The Lego Movie) - Trailer Legendado por thevideos no Videolog.tv.

Quando saímos da sessão, perguntei a ela se havia gostado do filme. Ela destacou uma ou duas cenas “muito legais”, mas não conseguiu explicar a história. Também, não havia história para explicar. Eu disse que iria alugar um filme com uma ótima história. E pensei logo em “E.T.”.

Para minha surpresa, não foi fácil achar uma cópia de “E.T.”. A Netflix não tem o filme, e as duas locadoras perto de casa também estavam sem cópias (“A última cliente que levou o DVD não devolveu”, disse uma vendedora). Para nossa sorte, o Telecine reprisou o filme há alguns dias, mas em inglês, sem dublagem em português.

Resolvi assistir mesmo assim, e fui traduzindo os diálogos mais difíceis. Mas nem precisava: o roteiro de “E.T.” – escrito por Melissa Mathison – é tão bom que o filme praticamente se explica sozinho. Nesse sentido, parece um filme mudo.

Minha filha ficou muito emocionada com “E.T.”. Riu na cena em que a menininha, interpretada por Drew Barrymore, grita de pavor quando vê o E.T. pela primeira vez; adorou a cena em que os meninos voam de bicicleta e ficou com os olhos marejados quando E.T. se despede de Elliot.  No fim, lembrava o nome de todos os personagens.

Não estou comparando “E.T,” e “Lego”. Existe um abismo de qualidade entre os dois. O primeiro é um clássico do cinema infanto-juvenil, e o segundo é mais uma salsicha numa linha de montagem. Mas a experiência de ver, na sequência, dois filmes de qualidade tão díspares serve para acabar com alguns mitos.

O primeiro é de que crianças “modernas” não têm capacidade de concentração para ver filmes mais lentos, já que estão acostumadas com o ritmo acelerado dos desenhos e videogames atuais. Percebo justamente o contrário: quando crianças se interessam por alguma coisa, não precisam de uma overdose de estímulos sensoriais para gostar daquilo.

Outro mito: efeitos especiais antigos são “toscos”, e as crianças não gostam. Os efeitos especiais de “E.T.” são, de fato, primitivos, se comparados às maravilhas digitais que qualquer pangaré tem à mão, hoje. Mas as crianças não parecem se importar, assim como não se importam com a cenografia primitiva de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (o original, claro) ou com os desenhos “antiquados” de um Hayao Miyazaki.

Lego nunca mais.

The post O PRIMEIRO E.T. A GENTE NUNCA ESQUECE appeared first on Andre Barcinski.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 575