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FELIZ ANIVERSÁRIO, RAMONES!

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Há 40 anos, os Ramones subiram pela primeira vez num palco. Quer dizer, nem subiram, porque não havia palco. Em 30 de março de 1974, um sábado, a banda fez sua estreia no Performance Space, um estúdio que um músico húngaro chamado Thomas Erdelyi, então empresário do grupo, tinha em sociedade com outro músico, Monte Melnick.

As estimativas de público variam de oito a trinta pessoas. A formação dos Ramones naquele sábado foi Dee Dee no vocal e baixo, Johnny na guitarra e Joey na bateria. A banda tocou sete músicas em dez minutos, incluindo algumas que se tornariam clássicas de seu repertório, como “I Don’t Wanna Go Down to the Basement”, “Now I Wann Sniff Some Glue” e “I Don’t Wanna Walk Around With You”.

Thomas, ou melhor, Tommy, sentiu que havia algo errado. Dee Dee não conseguia cantar, e Joey tinha uma voz melhor. Tommy sugeriu uma mudança: ele próprio seria o baterista, e Joey viraria cantor.

Não vou dizer, pela enésima vez, que os Ramones mudaram o rock para sempre e inventaram o punk. Isso todo mundo já sabe. Se você não conhece de cor os cinco primeiros discos do grupo, azar o seu.

Mas acho que é uma boa oportunidade para falar de um aspecto pouco falado da trajetória deles: o fato de os Ramones serem um "projeto" bem elaborado, e não um fenômeno espontâneo do underground, como muita gente diz.

Lendo alguns relatos sobre os primórdios da cena do CBGB's, parece que a banda já nasceu de jaquetas de couro, fazendo músicas de 60 segundos e com aquela postura de palco quase imóvel. Mas não foi bem assim.

Na verdade, o grande arquiteto dos Ramones foi Thomas Erdelyi, ou Tommy Ramone. Quando conheceu a banda, Tommy já era um músico experiente. Teve até uma banda com Johnny, os Tangerine Puppets, no fim dos anos 60. Era dono de um pequeno estúdio de gravação e conhecia toda a cena de rock de Nova York, das bandas mais pesadas e “viscerais”, como os New York Dolls, às mais virtuosísticas e progressivas.

Foi Tommy que teve a ideia de tornar os Ramones uma gangue, em que todos se vestiriam iguais. Pouco antes, os outros três – Johnny, Dee Dee e Joey – já haviam escolhido o nome, “Ramones”, tirado de Paul Ramone, nome fictício que Paul McCarney usava para se hospedar em hotéis. O fato de todos usarem o mesmo sobrenome dava uma ideia de família ou gangue. Talvez fosse a única opção, pensou Tommy, levando em conta o fato de que nenhum deles sabia tocar direito e, portanto, nenhum se destacaria no palco.

A estética ramônica não foi criada do dia para a noite. Quem viu os primeiros shows da banda lembra ter visto Joey com roupas “glam” e Dee Dee vestido com uma camisa de gola alta. A contagem de “One, two, three, four!” que abre todas as músicas, foi testada e aprovada em diversos shows, antes de virar marcar registrada do grupo.

Os Ramones sempre amaram o pop e, apesar de toda a agressividade e minimalismo de sua música, tinham um lado doce e ingênuo, quase infantil, e uma queda pelas girl groups dos anos 60 – Ronettes, Supremes, etc – grupos que, assim como os próprios Ramones, foram montados por produtores espertos. O que não tira os méritos da banda.

É preciso acabar com a ideia simplista e mentirosa de que o punk foi uma música “autêntica”, em contraposição aos sons comerciais e “fabricados” do pop. Todas as principais bandas do punk – Ramones, Sex Pistols, Clash – foram inventadas fora dos palcos e moldadas para agradar a um tipo específico de fã. O maior amigo de todas as bandas sempre foi o espelho.

Claro que a linha de montagem do punk não era tão profissional e calculista quanto a do pop mais comercial, mas dizer que o punk foi só um fenômeno espontâneo, nascido da insatisfação com os rumos da música dos anos 70, é de uma ingenuidade impressionante. Ou ninguém lembra que os discos dos Ramones foram lançados pela Sire, os do Clash pela CBS, e os do Sex Pistols pela EMI e Virgin?

 

 

Ninguém está dizendo que os Ramones não são autênticos e não acreditavam no que faziam. Claro que acreditavam. Ninguém é tão influente e importante se não faz música em que acredita, e os Ramones eram exatamente o que pareciam ser: quatro moleques de Forest Hills que reduziram o pop à sua forma mais concisa, brutal e divertida. Mas talvez a gente não estivesse comemorando os 40 anos da banda, hoje, se Tommy Ramone não tivesse a sabedoria de entender que até o som mais alternativo e diferente precisa de uma boa embalagem. Obrigado, Tommy.

P.S.: Estarei sem acesso à internet até o início da tarde e, portanto impossibilitado de moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.

 

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