Para empezar, buenos dias a todos. Que Viva México!
Agora, o texto de hoje...
Se você era adolescente na segunda metade da década de 80 e tinha algum interesse por skate, com certeza lembra a primeira vez que viu o filme. Naquela época, ele circulava em fitas de vídeo, trazidas por algum felizardo que tinha viajado ao exterior ou que tinha um parente iloto da Varig.
Lembro a primeira vez que vi: foi na casa de um amigo, cuja família era dona do primeiro – e único – aparelho de videocassete do bairro.
O filme começava com um apresentador de TV caretão, falando alguma coisa sobre skates. Um sujeito louro assiste ao programa, sentado num sofá. O lourinho se revolta: “Isso não é um skate!”. Ele pega uma marreta, destrói a TV, e tira de dentro dela um skate lindo, colorido e cheio de desenhos irados. “Isso sim é um skate!” Em seguida, apareciam imagens alucinantes de skatistas voando em half pipes, fazendo manobras que nunca tínhamos visto antes.
O filme chamava “Bones Brigade Video Show” e foi lançado em 1984, mas demorou pelo menos dois anos para chegar ao Brasil. E o lourinho era Stacy Peralta, uma lenda do skate. Nos anos 70, Peralta fizera parte dos Z-Boys, o mitológico grupo de skatistas que incluía nomes como Tony Alva, Jay Adams, Peggy Oki e Bob Biniak (em 2001, Peralta faria um documentário sensacional sobre a equipe, chamado “Dogtown and Z-Boys”; se não viu, assista).
Depois de se aposentar das competições, Peralta fundou, com o empresário George Powell, uma marca de skate, a Powell-Peralta, e teve a ideia de criar a maior equipe de skatistas que o mundo já conhecera. Depois de fuçar por meses em pistas, procurando os moleques mais talentosos e ousados, juntou uma turma que mudaria o esporte: Tony Hawk, Steve Caballero, Rodney Mullen, Tommy Guerrero, Alan Gelfand, Mike McGill e Lance Mountain, entre outros. São esses monstros que aparecem voando pelos ares em “The Bones Brigade Video Show”.
O vídeo foi revolucionário não só por mostrar ao mundo o talento dessa molecada (Tony Hawk tinha 16 anos em 1984), mas pela forma como Peralta filmou as manobras. Até então, ninguém havia pensado em suspender câmeras acima de half pipes para capturar os skatistas de cima. O estilo visual do filme era tão radical quanto as manobras.
Lembrei-me de “Bones Brigade Video Show” ao assistir a um recente documentário, dirigido pelo próprio Peralta, sobre essa equipe de skatistas: “Bones Brigade: An Autobiography”. Passa de vez em quando na TV a cabo, tem na Netflix gringa, e é imperdível.
Peralta não só conta a história da Bones Brigade e da explosão do skate no mundo nos anos 80, mas traça perfis comoventes dos integrantes da equipe. Steve Caballero era um moleque pequenininho e solitário, abandonado pelo pai e que viu no skate a única saída para um futuro que não parecia muito promissor.
Tony Hawk era um filhinho de papai que se tornou o maior skatista de todos e revolucionou o esporte, mas sofreu um colapso nervoso aos 18 anos devido à pressão pelas vitórias e conquistas.
E o personagem mais fascinante é Rodney Mullen, misto de filósofo e poeta, filho de um pai severo, que o proibiu de competir até perceber que o moleque só conseguia ser feliz em cima de um skate. Rodney compensava a tristeza que sentia em casa treinando nove horas por dia, e foi tão dominante no freestyle que os adversários competiam para ver quem tirava segundo.
“Bones Brigade: An Autobiography” tem lindas imagens de arquivo, mostrando as primeiras competições da equipe e tardes ensolaradas na Califórnia com moleques voando em pistas improvisadas em piscinas vazias. Numa das cenas mais engraçadas, os integrantes da Bones Brigade se exibem em Londres, onde são recebidos por multidões de adolescentes. Um deles convida a equipe para jantar em sua casa. “Se eu fosse vocês, iria”, diz um amigo de Tony Hawk. “Esse moleque é filho de George Harrison!” Dhani Harrison é entrevistado e lembra a emoção de ter Hawk e Caballero em sua casa: “Meus amigos de escola não acreditaram quando eu disse que tinha conhecido o pessoal da Bones Brigade.” E mostra a foto para provar. No meio da garotada, um ex-Beatle sorri.
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