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O que Nirvana, Led Zeppelin e Creedence têm em comum?

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...e ainda Beach Boys, White Stripes, Mark Lanegan, Van Morrison, Billy Bragg, The Fall, Woody Guthrie, Abba, Cat Power, Johnny Cash e Nick Cave?

Todos gravaram músicas de Huddie Ledbetter (1888-1949), mais conhecido por Lead Belly.

Acaba de sair “Lead Belly – The Smithsonian Folkways Collection", uma caixa com cinco CDs e 108 canções que dá uma geral na carreira desse músico extraordinário que não só compôs clássicos do blues e inspirou o rock, mas gravou, de memória, dezenas de canções antigas da música folk norte-americana que conheceu nos campos de algodão da Louisiana, onde nasceu.

A vida de Lead Belly foi tão dramática quanto suas letras: nascido em uma família de ex-escravos, em 1888 (ou 1885, segundo relatos), passou a juventude trabalhando duro e tocando violão e acordeon em bordéis e casas de má reputação com bluesmen como Blind Lemon Jefferson. Aos sete anos, separou uma briga dos pais ameaçando-os com uma espingarda; aos 18, fugiu de casa depois de engravidar a namorada.

Foi preso ao menos três vezes, uma delas por matar um homem a tiros. Condenado a 30 anos, cumpriu cinco e saiu depois de presentear o governador do Texas com uma canção elogiosa. Não demorou a voltar ao xadrez, dessa vez por tentativa de homicídio. Em 1933, o folclorista e pesquisador musical John Lomax gravou Lead Belly cantando na prisão de Angola, na Louisiana. Dessa vez, foi o governador da Louisiana que ouviu a gravação, comoveu-se com a voz de Lead Belly e o perdoou.

Veja um filme feito em 1935, interpretado por Lead Belly e Lomax, que reencena a libertação do músico:

E aqui, o Creedence tocando “Midnight Special”:

As 108 músicas da caixa formam um panorama riquíssimo da música de raiz dos Estados Unidos. São blues, gospels, spirituals e canções folclóricas, que inspiraram artistas como Pete Seeger, Woody Guthrie e Bob Dylan.

Lead Belly foi um elo entre o passado e o futuro da música norte-americana. Muitas das canções antigas que conhecemos hoje foram resgatadas por ele, que também inspirou gente como Jerry Lee Lewis e Little Richard a amplificarem o blues e criarem o rock, poucos anos depois da morte de Lead Belly.

GRANDES MOMENTOS DE DISCURSOS PRESIDENCIAIS...

...era o nome de um famoso quadro do programa de David Letterman. Pena que Letterman se aposentou, ou poderia usar este:

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Vai uma máquina de escrever aí?

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Sim, é verdade, a onda hipster é usar máquina de escrever.

Em praças de Williamsburgh e em Starbucks de São Francisco, o pessoal descolado anda revivendo o claque-claque das velhas Remingtons e Olivettis.

Veja esse projeto de Ginsberg, flagrado numa pracinha qualquer criando sua mais nova obra-prima:

hipster 1 Vai uma máquina de escrever aí?

Ou essa catadora de milho se exibindo num coffee shop. Detalhe para o celular vintage (ou “vin-têi-ji”, como gostam de dizer os hipsters brazucas):

Se a modinha está bombando agora em Nova York e Londres, deve chegar à Rua dos Pinheiros em três ou quatro anos. Tempo suficiente para você colocar em prática um plano perfeito para ficar rico explorando o hipsterismo.

O primeiro passo é correr em todos os brechós de sua cidade e vasculhar a Internet atrás de velhas máquinas de escrever, que podem ser adquiridas por uma bagatela.

Depois é só limpar as velharias, inventar nomes bacanas para cada uma – “Olivetti Plinio Marcos”, “Facit João do Rio”, “Remington Correio da Manhã” – e postar as fotos, com respectivos preços superinflacionados, em um site bacanérrimo. Vai chover dinheiro.

Os mais ousados podem abrir uma pequena cafeteria, com um busto de Hunter Thompson na frente, velhas páginas de tabloides nova-iorquinos decorando as paredes e Chet Baker e Orlando Silva em rotação permanente numa vitrola de plástico dos anos 70. Cada mesa teria uma velha máquina de escrever, em que os clientes podem digitar os pedidos.

Meu camarada Adão Iturrusgarai deu uma prévia de como seria o lugar:

 Vai uma máquina de escrever aí?

Não interessa se a máquina estiver quebrada ou faltando alguma tecla. Hipsters amam essas pequenas idiossincrasias da era pré-digital.

Bom fim de semana a todos.

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Os punks e o Cristo Redentor

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Buzzcocks Os punks e o Cristo RedentorTodo mundo que já organizou turnês de bandas sofreu na mão de um tour manager. Para quem não sabe, tour manager é uma espécie de babá das bandas. Ele é responsável por tudo: check-in em hotéis, deslocamento da equipe em vans, manutenção de horários de passagens de som, etc. E existe, no mundo da produção de shows, uma regra inquebrantável: quanto mais legais os caras das bandas, mais chato será o tour manager.

Na verdade, artistas não são legais, eles só fingem que são legais e põem um mala qualquer pra tratar com os contratantes. O tour manager é o bode expiatório que leva a culpa por qualquer maletice. Uma das frases mais corriqueiras por aqui é: “Os caras da banda são gente fina, mas o tour manager é um mala do cacete!”.

Trabalhei com produção de shows por quase dez anos e passei maus bocados com esses sujeitos.

O tour manager do Cardigans foi um dos piores. O sujeito morava na Tasmânia e era tão chato que logo ganhou o apelido de “Diabo da Tasmânia”. Era o tipo que usava uma trena para medir se a grade de proteção na frente do palco estava colocada na distância estipulada em contrato.

O tour manager do Sisters of Mercy era outro chato de galochas, com o agravante de receber ordens do mala dos malas, o cantor Andrew Eldritch. Num show no Circo Voador, no Rio, o sujeito exigiu que a produção retirasse do local uma pessoa que estava, segundo Eldritch, em “atitude suspeita”: a baiana que vendia acarajé. Explicamos que a coitada da tia estava ali desde a fundação do Circo e não poderia ser retirada.

Mas nenhum desses chatos chegou perto do nível de pentelhação do tour manager do Buzzcocks. Na turnê que o grupo fez no Brasil, em 2001, esse cara bateu todos os recordes. Enquanto Pete Shelley e Steve Diggle, os líderes da banda, tratavam todo mundo super bem e não davam nenhum sinal de estrelismo, o tour manager parecia que estava trabalhando com Elvis na fase Vegas.

No show do Olympia, em São Paulo, o sujeito queria que eu perguntasse às bandas de abertura que camisetas de bandas cada uma iria usar, para ele “aprovar”.

Cada refeição era um tormento. Ele queria saber, de antemão, os cardápios completos de todos os lugares onde a banda almoçaria e jantaria. Naquela época de Internet jurássica, quando nenhum restaurante tinha site, isso significava que tínhamos de ir aos lugares antes e anotar a lista de pratos.

Quando a turnê chegou ao Rio de Janeiro, o bicho despirocou. Não sei se ele achou que estava com o Guns N’Roses no Rock in Rio, mas o fato é que as exigências ficaram ainda mais absurdas.

Um dia, havíamos combinado uma visita ao Cristo Redentor, seguida de um jantar. O tour manager me chamou e pediu um catálogo telefônico: “Hoje EU vou escolher onde vamos jantar!”. O sujeito abriu o catálogo, procurou em “Restaurantes” e apontou um nome qualquer. Era uma churrascaria na Taquara, zona oeste do Rio, depois de Jacarepaguá. Longe pacas. “É aqui que nós vamos jantar hoje!”.

Naquela tarde, fomos ao Cristo. A banda tirou fotos, admirou a paisagem e deu autógrafos para alguns fãs que os reconheceram. Depois todo mundo foi para a lanchonete e começou a tomar caipirinhas. Menos o tour manager, que saiu para verificar alguma coisa completamente inútil e sumiu por um tempo.

Certa hora, eu disse a Steve Diggle que precisávamos ir embora, ou nos atrasaríamos para o jantar.

“Mas já? Está muito agradável aqui, com essa caipirinha e esse visual. Por que precisamos ir tão cedo?”, disse Diggle.

“Porque o restaurante fica a umas três horas daqui”, respondi.

“E por que não vamos num restaurante mais perto?”

Expliquei a Diggle que o tour manager tinha escolhido aquele lugar onde Judas perdera as botas. Diggle deu um suspiro longo, olhou pro horizonte e perguntou: “Ele é um ‘fucking pain in the ass’ (em bom português, “mala do c*ralho”), não?”

Até aquele momento, eu evitara criticar o tour manager na frente da banda, para não causar nenhum tipo de atrito, mas senti que podia ser sincero. Disse que o sujeito não era só chato, mas a figura mais detestável, arrogante e intratável que eu já tivera o desprazer de conhecer, e relatei alguns dos casos recentes envolvendo o pentelho.

Diggle disse: “Sabe de uma coisa? Chama a van. Vamos jantar. E deixa ele aí.”

Até hoje não sei como o mala voltou do topo do Cristo Redentor. A pé, provavelmente.

PARAGUAI TEM VITÓRIA TRANQUILA

Na Copa América, deu a lógica: o Paraguai impôs seu melhor futebol e venceu a selecinha da CBF, provando, mais uma vez, que Dunga não é treinador e que essa "Geração 7 x 1" é das piores que já vestiram o uniforme amarelo. A CBF diz que está tudo bem e que Dunga continuará. Então agora é estufar o peito, cantar o hino com lágrimas nos olhos, fazer o sinal de "Tóis", postar "selfie" com careta e não se classificar nas eliminatórias para a a Copa de 2018. Vamos torcer.

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“Spiderland”: um disco que nasceu antes do tempo

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Vinte e quatro anos atrás, entrevistei o músico e produtor Steve Albini em seu estúdio em Chicago. Albini mostrou alguns discos em que estava trabalhando – Jesus Lizard, Didjits, Volcano Suns – e também faixas de algumas de suas bandas prediletas. Uma dessas faixas era “Breadcrumb Trail”, do Slint. Eu nunca tinha ouvido falar do Slint e não fiquei nada impressionado com a música. Era lenta, repetitiva, e o cantor não cantava, mas narrava a letra. Eu queria mesmo ouvir músicas inéditas do Jesus Lizard, e não dei bola pro Slint.

Quase um quarto de século depois, “Spiderland” periga ser o disco mais tocado aqui em casa. É só começar a guitarrinha aguda de “Good Morning, Captain”, que minha filha já sabe: “É o disco em que o moço fala!”.

No início dos anos 90, época em que o grunge imperava, muita gente desprezou “Spiderland”. O LP vendeu mal até para os padrões de uma gravadora independente como a Touch & Go. Não ajudou o fato de a banda ter se separado imediatamente depois da gravação, sem turnê de lançamento e entrevistas para fanzines e rádios universitárias (a banda voltaria a se apresentar ao vivo, anos depois, mas nunca mais gravaria junta).

Até Steve Albini, que era amigo do grupo e havia produzido o primeiro disco deles, “Tweez”, confessou que não gostou de “Spiderland” quando o ouviu pela primeira vez: “Quando ouvi os vocais de Brian [McMahan] em ‘Washer’, achei horrível e disse que eles deveriam ter deixado a música só instrumental. Hoje, quando lembro minha primeira opinião, acho que foi resultado de um equívoco auditivo.”

Meses depois, Albini faria uma resenha gloriosa do LP na “Melody Maker”: “Vivemos em um tempo de anões: dance music, três variedades de hard rock tosco, rap infantil e repleto de slogans e baladinhas sem tesão. Meus instintos me dizem que a seca vai perdurar por um bom tempo – possivelmente até que as bandas que o Slint vai inspirar atinjam a maturidade.”

O documentário “Breadcrumb Trail”, de Lance Bangs, conta a história do Slint. Bangs entrevistou os integrantes da banda, amigos e colaboradores, e tenta explicar o que fez de “Spiderland” um disco tão especial. Algumas fotos e cenas de arquivo são incríveis: um ensaio, em 1990, mostra a banda em pleno processo de mudança sonora, quando abdicou da velocidade para se concentrar em longuíssimos e repetitivos temas que formariam a base de “Spiderland”.

Há trechos de shows das primeiras bandas do baterista Britt Walford e do guitarrista Brian McMahan, quando não tinham mais de 12 anos de idade. E uma foto deixa claro que eles não eram crianças de gosto comum: Britt aparece, aos 11 anos, segurando um disco de Lydia Lunch, musa da cena vanguardista “No Wave” de Nova York.

O filme será exibido no In Edit – Festival Internacional do Documentário Musical, que começa amanhã e vai até 12 de julho em São Paulo e terá uma edição em Salvador, de 14 a 19 de julho (veja programação completa aqui). Assisti a vários filmes que serão exibidos e preparei uma lista de dez filmes imperdíveis. Amanhã publico textos sobre cinco deles e, na sexta, sobre os outros cinco. A programação está muito boa.

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Pop cambojano, James Brown, rock da Groenlândia…

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Começa hoje e vai até 12 de julho em São Paulo (e de 14 a 19 de julho em Salvador) o 7º In-Edit – Festival Internacional do Documentário Musical.

É um dos festivais mais legais do Brasil, não só pela qualidade da programação, mas por trazer filmes que dificilmente seriam exibidos em circuito comercial por aqui.

A programação está muito boa e eclética. Há filmes sobre bandas de rock da Groenlândia, hip hop panamenho e pop cambojano; cinebiografias de Jaco Pastorius, James Brown, Paco de Lucía e Aracy de Almeida; documentários sobre os Racionais, Slint, Killing Joke, The Damned, NAS e Premeditando o Breque. Tem de tudo (veja a programação completa aqui).

O cineasta homenageado desta edição é o norte-americano Murray Lerner, diretor de clássicos filmes-concerto de Bob Dylan, Jimi Hendrix, The Who e do Newport Folk Festival, com Son House, Johnny Cash, Joan Baez, Howlin’ Wolf e muitos outros. O festival vai exibir também “From Mao to Mozart: Isaac Stern in China” (1980), sobre o histórico concerto do violinista Isaac Stern com a Orquestra Sinfônica da China.

Assisti a vários filmes da programação do In-Edit e fiz uma seleção de dez títulos imperdíveis. Aqui vão os cinco primeiros e amanhã, mais cinco:

 


Don’t Think I’ve Forgotten: Cambodia’s Lost Rock and Roll
Em abril de 1975, a capital do Camboja, Phnom Pehn, foi tomada pelas tropas do Khmer Vermelho, sob o comando do líder comunista Pol Pot. Cerca de dois milhões de pessoas foram executadas, e qualquer resquício cultural e social do passado foi exterminado.
Escritores, atores, músicos e pintores foram alguns dos alvos mais procurados. A rica história da música pop cambojana dos anos 1950 e 1960 foi sepultada nos “Campos da Morte”, com a matança de vários ídolos musicais do país. Esse filme resgata essa história. Imperdível.

 


Mr. Dynamite: The Rise of James Brown
O filme é bem careta, mas as cenas de arquivo e os depoimentos – incluindo músicos extraordinários como Maceo Parker e Bootsy Collins, que tocaram na banda de James Brown – são excepcionais.
Melhor história de todas: certa vez, Little Richard, com quem Brown dividia um empresário, precisou cancelar 30 shows para gravar um disco. O empresário colocou Brown, de peruca, para se fazer passar por Little Richard e cantar nos shows. Ninguém notou a diferença.

 


Autoluminescent: Rowland S. Howard
Nick Cave, Thurston Moore, Wim Wenders, Lydia Lunch e outros falam da importância de Howard (1959-2009) em suas vidas e carreiras. Howard foi guitarrista do Birthday Party, uma das bandas mais inovadoras e influentes do pós-punk, e tocou também no Crime and the City Solution e These Immortal Souls.
O som único, sujo e abrasivo de Howard influenciou muita gente. Difícil imaginar as cenas góticas, noise e shoegazer existindo sem o Birthday Party abrindo os caminhos.

 


Jaco
“Meu nome é John Francis Pastorius Terceiro e sou o maior baixista do mundo”. Era assim que Jaco Pastorius (1951-1987) costumava se apresentar, mesmo quando era um músico desconhecido, ganhando a vida em bares na Flórida. E quem discorda?
Nesse documentário, gente como Flea, Bootsy Collins, Santana, Joni Mitchell, Herbie Hancock, Wayne Shorter e outros confirmam: nunca houve um baixista como Jaco. As cenas de arquivo e trechos de shows são de cair o queixo, e o fim da vida de Jaco – drogas, álcool, e uma morte estúpida – das mais tristes.
E atenção, classe artística brazuca: o documentário foi inteiramente financiado por Robert Trujillo, baixista do Metallica e fã de Pastorius. Quando será que nossos artistas vão parar de mendigar dinheiro público e botar as mãos nos bolsos por boas causas?

 


Sumé – O Som de uma Revolução
Em 1973, a banda Sumé (a pronúncia é “Súmi”) lançou o primeiro disco de rock de uma banda da Groenlândia. O LP – cantado inteiramente em gronelandês - foi importante não só por marcar a estreia da ilha no cenário pop mundial, mas por ser um protesto contra a dominação dinamarquesa.
Esse filme é uma revelação: apresenta músicos novos para nós e conta a história de uma nação que desconhecemos quase que por completo.

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Killing Joke, The Damned e Carlos Imperial…

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Aqui vai a segunda - e última - parte com as dicas dos melhores filmes do In-Edit: Festival Internacional de Documentários. Corra!

 

The Possibilities are Endless

Edwyn Collins foi líder da banda indie escocesa Orange Juice, que influenciou Teenage Fanclub, Belle and Sebastian e muitos outros. Também tece uma carreia solo de sucesso com músicas como “A Girl Like You”.Em 2005, Collins sofreu uma hemorragia cerebral, ficou em coma e quase morreu. Perdeu os movimentos do lado direito do corpo e não conseguia mais se comunicar. Esse filme relata o longo, doloroso e comovente processo de recuperação de Collins, que vive até hoje numa pequena vila na costa leste da Escócia. Bonito demais.

 

The Death and Ressurrection Show

Se você ainda não se converteu ao evangelho do Killing Joke, esse filme pode ajudar. Com cenas de arquivo mostrando 30 anos de shows da banda e entrevistas com os integrantes, colaboradores e admiradores como Jimmy Page, o onipresente Dave Grohl e Alex Patterson (The Orb), “The Death and Ressurrection Show” é imperdível.Se o filme tivesse só as divagações existenciais e obsessões ocultistas de Jaz Coleman, já valeria a pena. Mas as cenas do KJ ao vivo são matadoras, assim como as imagens da banda gravando nas pirâmides do Egito.

 

The Case of the Three Sided Dream

Rahsaan Roland Kirk (1935-1977) foi um dos personagens mais interessantes e radicais do jazz norte-americano. Cego desde criança devido a um erro médico, Kirk tocava sax, clarinete, flautas e quase todos os instrumentos de sopro. Detalhe: ao mesmo tempo. Seus shows eram incríveis, com Kirk subindo ao palco com três instrumentos de sopro pendurados no pescoço e misturando, a seu jazz livre, sons de relógios, gongos e bases pré-gravadas. Kirk não parou de inovar nem depois de um derrame que paralisou o lado direito de seu corpo: ele simplesmente modificou seus instrumentos para poder tocá-los com uma mão só. Não perca esse filme de jeito nenhum.

 

The Damned: Don’t You Wish We Were Dead

O Damned surgiu em 1976 e lançou o primeiro compacto do punk inglês (“New Rose”) e o primeiro LP de uma banda punk britânica (“Damned Damned Damned”), mas nunca teve a moral e sucesso de seus contemporâneos Sex Pistols e Clash. Esse filme, dirigido por Wes Orshoski, que fez o documentário sobre Lemmy, explica a razão: os integrantes simplesmente se odeiam. É impressionante a quantidade de brigas, processos e discussões sobre dinheiro que aconteceram na vida do Damned,e como esses conflitos destruíram qualquer chance de sucesso.

 

Eu Sou Carlos Imperial

Escrevi sobre esse filme no blog (leia aqui). É uma divertida homenagem ao genial, polêmico e cafajeste Carlos Imperial, lenda de nossa cultura pop.

 

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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Nina Simone: quando a música importava

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Assistir a “What Happened, Miss Simone?”, a cinebiografia da cantora Nina Simone (1933-2003) , é uma experiência deprimente. Não pelo filme, que é ótimo, mas pela comparação entre Nina Simone e o atual cenário musical. O documentário escancara o abismo de talento e relevância que existe entre a música contemporânea e a de 30 ou 40 anos atrás.

Disponível no Netflix brasileiro, o documentário teve a participação da família de Simone e, talvez por isso, ignore algumas passagens mais dramáticas e tristes da vida da cantora, especialmente o terço final de sua trajetória, marcada por depressão, drogas e surtos psicóticos. Nem sinal da célebre história em que Nina Simone deu um tiro num executivo de gravadora, ou de relatos dos inúmeros shows que ela interrompeu para sair na porrada com alguém na plateia.

O essencial está ali: nascida Eunice Waymon numa família pobre de oito irmãos na Carolina do Norte, começou a tocar piano em cultos ministrados pela mãe, uma pastora metodista. Eunice sonhava em ser pianista clássica, “a primeira negra pianista clássica dos Estados Unidos”. Mas a realidade foi bem mais dura, e ela ganhou a vida cantando blues e jazz em clubinhos de Atlantic City. Mudou o nome para Nina Simone para que a mãe não descobrisse.

Em 1959, George Wein, o famoso empresário que criou o Newport Jazz Festival, viu Nina Simone pela primeira vez e ficou marcado para sempre pela experiência: “A profundidade e escuridão daquela voz me fascinaram de uma maneira difícil de explicar”. Wein não foi o único.

Dois anos depois, Simone casou com Andrew Stroud, um policial barra pesada do Harlem, que largou a polícia para virar empresário da cantora. Nina e Andrew tiveram uma filha e ganharam bastante dinheiro, mas a relação do casal era das piores. Ele a submetia a um calendário brutal de shows e, vez por outra, lhe dava surras terríveis.

 

 

Em setembro de 1963, uma bomba explodiu numa igreja em Birmingham, no Alabama, matando quatro crianças negras. O atentado supremacista ocorreu dois meses depois do assassinato do líder negro Medgar Evers, amigo de Nina, e ela entrou em parafuso. Compôs e gravou “Mississipi Goddam”, uma das músicas de protesto mais furiosas de todos os tempos, e efetivamente destruiu a própria carreira. Passou a cantar somente músicas de cunho político. Seus discos pararam de vender e os shows rarearam.

Os assassinatos de John Kennedy (1963), Malcolm X (1965), Bobby Kennedy (1968), Martin Luther King (1968) e Fred Hampton (1969) deram a Nina a certeza de que uma guerra racial estava em curso no país, e ela passou a defender a violência contra o “domínio branco”. Uma das cenas do filme mostra a cantora perguntando à plateia em um show: “Vocês estão prontos para incendiar prédios?”.

 

 

Se hoje a radicalização política de Nina Simone pode soar paranoica e agressiva, é preciso analisar o contexto da época e o passado da cantora para tentar entender suas motivações. Numa época em que amigos e políticos que ela admirava eram mortos, jovens negros eram mandados para o Vietnã em números proporcionalmente muito maiores que jovens brancos, e grupos armados como os Panteras Negras prometiam incendiar o país, todo o ressentimento de uma infância passada em um lugar segregado, onde os pais não podiam sequer entrar nos teatros onde Nina tocava piano, fez explodir nela uma fúria incontrolável.

Por quase dez anos, Nina Simone sabotou a própria carreira. Defendeu o poder negro “por todos os meios necessários”, aproximou-se de grupos radicais e criticou artistas negros que, segundo ela, faziam concessões ao mercado.

No início dos anos 70, falida e cansada de apanhar do marido, separou-se de Stroud e decidiu abandonar os Estados Unidos. Foi para Barbados, onde teve um caso com o Primeiro Ministro local, e depois para a Libéria, onde pôde conhecer suas raízes africanas. Mas sua psique estava abalada, e ela começou a dar sinais de depressão e bipolaridade. A filha conta que, numa viagem à Libéria, apanhou tanto da mãe que fugiu de volta para Nova York.

Se o filme pula alguns momentos mais constrangedores da vida de Nina Simone (a palavra “cocaína” sequer é citada), vale pelas imagens da mulher cantando e tocando piano. O que é aquilo? Já existiu algum performer mais intenso e imprevisível?

Vendo Nina cantando “I Put a Spell on You”, “Young, Gifted and Black” ou “Mississipi Goddamm”, a sensação é de ver alguém tirando a roupa no palco. A mulher nunca teve máscaras  ou se escondeu por trás de teatralidades e encenações. Ela era sua música.

 

 

Há uma cena de um show em Montreux, em 1976, que marcou a volta da cantora à Suíça depois de uma ausência de oito anos, em que ela encara a plateia por uns dois minutos, sem dizer nada, como se estivesse tentando entender o que fazia ali. A confusão mental de Nina Simone é evidente. Só ela podia saber o que estava pensando. Mas a plateia ficou muda. Ninguém deu um pio, respeitando aquele momento tão íntimo em que a cantora, mesmo na frente de tantas pessoas, estava sozinha com ela mesma.

Ouvir Nina Simone destrói tudo que vem depois. É impossível ver esse filme e depois ligar a TV, ouvir o rádio ou saber as últimas novidades do Facebook sem pensar na futilidade e no nível rastaquera do nosso cotidiano. Resumindo: a obra de Nina Simone está aí, e a vida é muito curta pra perder com besteira.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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Texto de hoje será publicado mais tarde


Mel Gibson, Michelle Pfeiffer e Kurt Russell: diversão para adultos

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O horário é péssimo, mas sempre dá pra gravar: na madrugada de terça pra quarta, às 5h30, o canal Max Up exibe “Conspiração Tequila” (“Tequila Sunrise”, 1988), de Robert Towne.

Vale a pena assistir. Não é nenhum filmaço, mas é dos exemplares mais representativos de um tipo de cinema que Hollywood deixou de fazer há uns 20 anos: o entretenimento adulto.

Hoje, quando a indústria do cinema concentra esforços em atrair o público infanto-juvenil, bem menos exigente e mais lucrativo que o público adulto, filmes como “Tequila Sunrise” sumiram das telas. Quem tem mais de 20 anos só quer ver séries de TV.

“Tequila Sunrise” é diversão escapista, mas de primeira categoria. Basta ver as credenciais da equipe: o diretor e roteirista é Robert Towne, que escreveu “Chinatown” (Roman Polanski, 1974), “Shampoo” (Hal Ashby, 1975) e “Missão Impossível” (Brian De Palma, 1996), além de ter colaborado, muitas vezes sem crédito, em roteiros como os de “O Poderoso Chefão” (Francis Ford Coppola, 1972), “Bonnie and Clyde” (Arthur Penn, 1968), “The Parallax View” (Alan J. Pakula, 1974) e “Maratona da Morte” (John Schlesinger, 1976), entre muitos outros.

A fotografia é de Conrad Hall (1926-2003), que fotografou só “Butch Cassidy and the Sundance Kid” (George Roy Hill, 1969), “A Sangue Frio” (Richard Brooks, 1967), “Fat City” (John Huston, 1972) e “Beleza Americana” (Sam Mendes, 1999).

A música é de Dave Grusin, que ganhou 12 Grammys e fez trilha e canções para mais de cem filmes, incluindo “Tootsie” (Sidney Pollack, 1982), “A Primeira Noite de um Homem” (Mike Nichols, 1967), “O Céu Pode Esperar” (Warren Beatty e Buck Henry, 1978) e “Num Lago Dourado” (Mark Rydell, 1981).

O elenco também é fraquíssimo: tem só Mel Gibson fazendo um ex-traficante de drogas que tenta largar o crime e disputa uma lindíssima, inteligente e charmosa dona de restaurante (Michelle Pfeiffer) com um detetive da polícia de Los Angeles – e seu amigo de infância – interpretado por Kurt Russell, em meio a uma caçada da polícia a um chefão do tráfico mexicano vivido por Raul Julia (1940-1994). O elenco de apoio também é de quinta categoria, com o inesquecível J.T. Walsh (1943-1998) no papel de um detetive e Arliss Howard fazendo um advogado bandido.

“Tequila Sunrise” não é nenhuma obra-prima, e nem pretende ser. É um empreendimento comercial, feito para faturar alto nas bilheterias. Mas, diferentemente de hoje, é um filme comercial muito bem escrito, bem atuado, com uma história envolvente e diálogos espertíssimos.

Foi só o segundo filme de Towne na direção. Ele havia estreado comum filme tão bom quanto desconhecido, “Personal Best” (1980), em que Mariel Hemingway interpreta uma corredora norte-americana que tenta se classificar para as Olimpíadas de Moscou, em 1980 (que seriam boicotadas pelos Estados Unidos), e acaba se apaixonando por uma colega de equipe.

Towne é das figuras mais excêntricas de Hollywood: considerado um genial “script doctor”, espécie de revisor que diretores contratam para melhorar roteiros, tem um ego do tamanho de um bonde e se recusou a assinar roteiros em filmes que não julga bons. Em 1984, chateado com o resultado de “Greystoke: a Lenda de Tarzan”, de Hugh Hudson, creditou o filme a P.H. Vazak, seu cachorro. Vakaz tornou-se o primeiro cão indicado ao Oscar de melhor roteiro.

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Um Japão que ninguém quer conhecer

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lucieobara Um Japão que ninguém quer conhecer

A ideia que muitos estrangeiros fazem do Japão é a de um país incrivelmente organizado e seguro, onde a criminalidade praticamente inexiste, a polícia é de uma competência quase sobrenatural e o sistema judicial é perfeito.

Mas um livro, recentemente lançado no Brasil, mostra um lado sombrio e sangrento do país do sol nascente: “Devoradores de sombras – A história real de uma jovem inglesa que desapareceu nas ruas de Tóquio e do mal que a aniquilou”, do jornalista britânico Richard Lloyd Parry.

lucielivro 199x300 Um Japão que ninguém quer conhecer

Parry mora no Japão há 20 anos, publicou reportagens investigativas sobre a Coreia do Norte, Timor Leste e Indonésia e participou de coberturas de guerras e conflitos no Iraque, Afeganistão, Sérvia e Paquistão. Mas a história que realmente o obcecou, nesses últimos anos, foi a de Lucie Blackman.

Em 2000, Lucie, uma inglesa de 21 anos, saiu para trabalhar em Tóquio e nunca mais voltou. Ela era “hostess” em uma casa noturna da cidade. Seu trabalho consistia, basicamente, em bater papo e manter de bom humor os clientes, na maioria executivos japoneses.

O sumiço de Lucie foi manchete em toda a imprensa inglesa e causou atritos até entre os governos britânico e japonês. Depois que o desaparecimento dela foi divulgado, dezenas de mulheres que trabalharam como “hostesses” no Japão relataram casos impressionantes de violência e medo.

O livro de Parry conta não só a história de Lucie e de seu desaparecimento, mas mergulha no submundo da capital japonesa e revela um Japão desconhecido para muitos ocidentais.

Mesmo depois que o caso foi solucionado e a imprensa do mundo todo já tinha esquecido Lucie Blackman, Parry continuou, por quase dez anos, acompanhando o julgamento e as repercussões do crime. Sua descrição do sistema judicial japonês é impressionante, assim como os relatos de incompetência e corrupção da polícia de Tóquio.

Alguns personagens parecem saídos de um livro de Jim Thompson ou Stephen King. Ao longo da história, nos deparamos com líderes de seitas de extrema-direita, parentes que usam a tragédia de Lucie para faturar, policiais corruptos, trapaceiros profissionais e pervertidos de todos os tipos.

Um dos maiores trunfos do livro é a descrição da vida de jovens europeias e norte-americanas que vão tentar a vida no Japão e acabam encontrando empregos de “hostesses”. O que, para muitos, é um passo antes da prostituição, na verdade cumpre uma função social importante na sociedade japonesa e na vida de muitos homens, que pagam muito dinheiro simplesmente para conversar – e receber elogios – de mulheres estrangeiras.

“Devoradores de Sombras” é um livro-reportagem que parece um romance policial, de tantas surpresas, reviravoltas improváveis e personagens lúgubres. E mostra um Japão que muitos – especialmente os japoneses – preferem não conhecer.

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Feliz aniversário, 7 a 1!

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Hoje é aniversário de um ano do maior jogo de futebol de todos os tempos. Toda vez que você estiver triste ou descrente da vida, reveja essas cenas - a indiazinha com a mão na boca, o menininho aos prantos, Júlio César fazendo cara de prisão de ventre, David Luiz agradecendo aos céus por ter levado de sete, Galvão passando da euforia à revolta - e ilumine seu dia.

 

 

Para celebrar essa data tão especial, a Câmara dos Deputados nos deu um presentão ontem, com a aprovação da Medida Provisória do Futebol. Com essa MP, não tem erro: muitos outros 7 a 1 virão por aí.

Se alguém tinha a esperança de que a prisão de José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e as investigações de corrupção envolvendo o atual presidente, Marco Polo Del Nero, pudessem levar a uma mudança na gestão de nosso futebol, essa esperança foi enterrada pela Bancada da Bola, com a cumplicidade de nossos clubes.

O texto aprovado não mexe na estrutura de poder do futebol e continua a favorecer a CBF e as federações.

Uma das mudanças foi a inclusão dos 20 times da série B na votação para a eleição da cúpula da CBF (atualmente, apenas as federações e os clubes da séria A podem votar). Na prática isso não muda nada, já que os times da série B são tão corporativistas e dependentes da CBF quanto os da série A.

Sobre as federações estaduais de futebol, conhecidos antros de corrupção e nepotismo, ficou como dantes: os deputados retiraram do texto a inclusão de novos critérios para a formação do colégio eleitoral nas eleições das 27 federações. Já os clubes ganharam 20 anos para parcelar suas dívidas, que certamente crescerão muito sob o comando da mesma CBF e das mesmas federações, com seus campeonatos deficitários de sempre.

A MP também retirou a proposta de transformar a seleção brasileira de futebol em patrimônio cultural, o que permitiria ao Ministério Público acompanhar a gestão e investigar a CBF.

O ex-deputado Walter Feldman, atual secretário-geral da CBF, disse que isso significaria uma “ingerência desnecessária por parte do poder público em uma entidade privada”.

Em bom português: a seleção brasileira não é do Brasil, mas da CBF.

Então, leitores, por favor, não reclamem quando eu me referir ao time da camisa amarela como “seleção da CBF”, ok? Nada de ataques de pachequismo ou gritos de “Sou brasileiro, com muito orgulho”. O time é deles e acabou.

Enquanto isso, Del Nero diz que Dunga é o cara e que vai com ele para a Copa de 2018.

Para desopilar um pouco, só mesmo revendo esse vídeo hilariante:

 

 

Que venham muitos outros 7 a 1. Porque brasileiro não desiste nunca.

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O jornalismo musical não vale mais um centavo

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É o fim de uma era.

Depois de 63 anos, o semanário inglês “New Musical Express”, uma das publicações mais importantes da história da música pop, anunciou que deixará de ser vendido e passará a ser distribuído de graça.

A partir de setembro, cerca de 300 mil exemplares serão dados em lojas, estações de trem e metrô, lojas de discos e universidades.

Quem poderia imaginar que, um dia, o "NME" teria o mesmo valor de folhetos de promoção de supermercados ou anúncios imobiliários?

Como diria o Prince: sinal dos tempos.

É mais uma vitória da tese suicida e burra segundo a qual informação nasce em árvore e não vale nada. Enquanto isso, supostos arautos da liberdade de informação, como Zuckerberg e o Google, que vivem de explorar conteúdo e opinião criados por outros, comemoram. Parabéns a todos os envolvidos.

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O “New Musical Express”, ou “NME”, tem uma história e tanto. Criado em 1952, foi o primeiro jornal a publicar uma parada de discos na Inglaterra, ajudou a popularizar Beatles, Stones e Kinks, foi citado por Johnny Rotten em “Anarchy in the UK” (“I use the e-ne-my”, ou “N-M-E”), defendeu o punk e o pós-punk, lançou duas fitas cassete fundamentais do indie rock inglês, “C-81” e “C-86”, criou o termo “Britpop”, azedou a briga Blur-Oasis, brigou com Morrissey, ajudou a popularizar o Nirvana na Europa e foi fundamental na explosão da cena dance inglesa dos anos 90.

Nessa trajetória, lançou críticos e jornalistas como Nick Kent, Charles Shaar Murray, Ian MacDonald, Julie Burchill, Tony Parsons, Paul Morley, Ian Penman, Barney Hoskyns, Steve Lamacq, Paolo Hewitt e muitos outros. Músicos como Mick Farren (Deviants) e Chrissie Hynde (Pretenders) também escreveram para o semanário.

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Nos últimos meses, a circulação do “NME” não chegava a 16 mil exemplares. Chegou a vender 300 mil por semana, primeiro na época de ouro dos Beatles, em meados dos anos 60, e uma década depois, quando o editor Alan Smith pegou um jornal decadente e abriu espaço para que talentos como Nick Kent e Ian MacDonald escrevessem textos definitivos sobre a música pop (se você lê inglês, recomendo fortemente “The Dark Stuff”, coletânea dos textos de Kent, e “Revolution in the Head”, de MacDonald, análise de toda a obra dos Beatles, música a música).

Para saber mais sobre a história do “NME” e da imprensa musical, sugiro a leitura de “The History of the NME”, de Pat Long, e “In Their Own Write – Adventures in the Music Press”, de Paul Gorman. O primeiro é um relato detalhado da trajetória do “NME”, e o segundo é ainda melhor e mais abrangente, reunindo entrevistas com dezenas de pesos-pesados da crítica musical inglesa e norte-americana como Jon Savage, Ian MacDonald, Richard Metzger, Nick Logan, Vivien Goldman, Caroline Coon, Lisa Robinson, Lenny Kaye e muitos outros.

Bons tempos.

 

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Há 40 anos, Bowie caía na discoteca

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A plateia que foi aos shows de David Bowie na América do Norte, no fim de 1974, deve ter levado um susto: no lugar dos cenários imensos e da banda de “rock” que Bowie trouxera alguns meses antes, quando gravara o disco “David Live”, o camaleão aparecia agora ladeado por um grupo de músicos desconhecidos.

Ou melhor: desconhecidos para aquela plateia, roqueira e branca. Pra quem acompanhava a música black americana, aqueles músicos eram alguns dos maiores da época: Luther Vandross, cantor que gravara com Diana Ross, Donna Summer e Roberta Flack; Carlos Alomar, guitarrista da banda de James Brown; Andy Newmark, baterista de Sly and the Family Stone, e David Sanborn, extraordinário saxofonista que gravara com Stevie Wonder, Gil Evans e Todd Rundgren. Um timaço.

Na virada de 1974 para 1975, Bowie estava em meio a uma de suas maiores transformações sonoras e estéticas. Ele deixava de lado o pré-punk cru de “Diamond Dogs” (1974) e embarcava em sua viagem pela soul music, que culminaria no disco “Young Americans”, de 1975.

Naquela época, três coisas obcecavam David Bowie: cocaína, ocultismo e discoteca.

A primeira, ele consumia em quantidades industriais. Basta ver sua aparência cadavérica nos dois vídeos que ilustram esse texto. Naquela época o cantor passava dias acordado, sem comer nada exceto um suplemento alimentar que seu staff praticamente o forçava a ingerir.

O ocultismo era uma paixão antiga de Bowie. Em 1974, teve vários encontros com Jimmy Page e o cineasta Kenneth Anger, estudiosos da obra do bruxo inglês Aleister Crowley. Bowie passava dias trancado em quartos de hotel, memorizando escritos de Crowley, cheirando mais que um tamanduá e desenhando pentagramas nas paredes. Em 1976, faria um disco inteiramente inspirado em Crowley: “Station to Station”.

Já a música negra americana, de que Bowie sempre gostara, entrou com tudo em sua alma quando ele ouviu os primeiros lançamentos da gravadora Philadelphia International (PIR), chefiada pela dupla Gamble & Huff - Kenny Gamble e Leon Huff (leia aqui um texto que fiz no blog sobre a PIR). Bowie morou um tempo em Nova York e fazia visitas periódicas ao Apollo Theatre, no Harlem, onde viu show de James Brown,Curtis Mayfield, e de artistas do cast da PIR, como Teddy Pendergrass, Billy Paul, The O’Jays e Archie Bell and the Drells.

Tão empolgado ficou Bowie pelo som limpo, elegante e festivo da PIR, que montou a tal superbanda com Alomar, Vandross, Newmark e outros, levou todos para a Filadélfia e reservou semanas no Sigma Sound, estúdio onde gravavam os grupos do selo. O resultado foi “Young Americans”, seu nono álbum de estúdio.

 

 

Para os fãs de Bowie, que tinham acabado de ouvir o abrasivo e distópico “Diamond Dogs”, cheio de previsões apocalípticas e visões orwellianas, foi um choque vê-lo de terno, cantando soul music. Era mais uma prova de que a cabeça de Bowie estava sempre alguns anos à frente do gosto de seu público. Os fãs demoraram a perceber que “Diamond Dogs” era, na verdade, o encerramento do ciclo glam-pré-punk de Bowie, iniciado em 1972 com “Ziggy Stardust”.

O novo Bowie era um bandleader à moda antiga, um crooner que reciclava as tradições da black music americana e não estava mais interessado em ver o mundo pegar fogo, mas em narrar, da forma sempre críptica e enigmática de suas letras, o caos dos anos 70.

Leia qualquer análise das letras e temas de “Young Americans” e você verá uma confusão de teorias e ideias. Só Bowie sabe, ao certo, sobre o que estava escrevendo. Dá para perceber os ataques a Nixon (em “Somebody Up There Likes Me”) e "Fascination”, reza a lenda, foi inspirado em seu interesse por hipnote. Mas o disco não tem um tema central, como “Diamond Dogs”.

Quer dizer, não tinha um tema, até Bowie encontrar John Lennon em Nova York, entrar no Electric Lady Studios e gravar mais duas faixas: um cover meio sem graça de “Across the Universe”, dos Beatles, e uma canção disco chamada “Fame”.

A letra era uma tirada raivosa contra seu então agente, Tony De Fries, com quem Bowie tinha acabado de romper, e a sonoridade misturava elementos de diversos sucessos da black music, como “Footstompin’” (The Flairs), “Hollywood Swinging’” (Kool & the Gang), “The Payback”, de James Brown e “Do It (Til You’re Satisfied”), do B.T. Express.

“Fame” foi um estouro. O compacto foi o primeiro de Bowie a chegar ao topo da parada norte-americana. A vendagem de “Young Americans” só seria superada, oito anos depois, por “Let’s Dance”, até hoje o disco mais vendido da carreira do camaleão.

Tão grande foi o sucesso de “Fame” - e tão forte seu refrão - que, até hoje, muita gente considera “Young Americans” uma sátira ao culto a celebridades, quando o disco é bem mais rico e complexo que isso.

E quão insanas foram as gravações? Basta dizer que, cinco anos depois, o guitarrista Earl Slick foi tocar no álbum “Double Fantasy”, de John Lennon, e se surpreendeu quando entrou no estúdio e o ex-Beatle disse: “Que bom te ver de novo, Earl!”. Earl respondeu: “Mas onde diabos nos conhecemos?”, e Lennon respondeu: “Ora, naquela sessão de ‘Fame’, com o David”.

Slick simplesmente não lembrava ter gravado “Fame”.

P.S.: Aproveito o texto sobre Bowie para recomendar, pela enésima vez, um dos melhores livros sobre música que já li, “O Homem Que Vendeu o Mundo – David Bowie e os Anos 70”, uma análise, música a música, de todas as canções de Bowie na década de 70 (leia mais aqui).

P.S.2: Estarei fora até o início da noite e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

Bom fim de semana todos.

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Lugar de “Cidadão Kane”é na tela grande

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Ótima notícia: a série “Clássicos Cinemark” está exibindo, em salas de todo o país, “Cidadão Kane” (1941), de Orson Welles.

Para quem gosta de cinema, poucas experiências podem ser tão prazerosas quanto ver “Kane” numa tela grande. Agora que o cineclubismo e salas de repertório são coisas do passado ou de poucos abnegados, essa chance não deve ser perdida.

É interessante imaginar que muitas gerações de cinéfilos só viram o beabá do cinema – “Kane”, “Encouraçado Potemkin”, “A Regra do Jogo”, “Rashomon” – em vídeo ou DVD, o que torna a experiência muito diferente e menos recompensadora.

Até a explosão do mercado de VHS, nos anos 80, nenhum filme era feito para ser exibido numa tela de TV. Se Orson Welles soubesse que gerações inteiras veriam “Kane” em imagens de algumas poucas polegadas, certamente não pediria ao fotógrafo Gregg Toland para explorar com tanta obsessão as lentes grandes angulares, que deixam em foco todas as dimensões dos cenários.

É por isso que ninguém deve perder a chance de ver “Cidadão Kane” num cinema. Mesmo que você já conheça o filme, ele parecerá inédito e ganhará outra dimensão.

Tive a sorte de ver o filme no cinema. Foi no Cine Paissandu, nos anos 80, quando a sala reprisou diversos filmes de Welles, como “Kane”, “A Marca da Maldade”, “Mr. Arkadin”, “Soberba” e “A Dama de Xangai”.

É uma pena que o circuito de filmes antigos tenha sido praticamente exterminado no país e hoje se limite a iniciativas isoladas, como o CCBB, MAM e a Cinemateca Brasileira em São Paulo.

Voltando a “Kane”: Orson Welles tinha 25 anos quando começou a filmá-lo. Ele interpreta Charles Foster Kane, personagem inspirado no magnata da imprensa William Randolph Hearst. Kane é um monstro de ambição e ganância, que manipula a todos e faz qualquer coisa para obter cada vez mais poder e fortuna.

O filme abre com a morte do personagem principal em seu imenso e lúgubre palácio, Xanadu, cercado apenas por sua fortuna e solidão. Kane diz uma única palavra, “Rosebud”, derruba no chão um pequeno globo de vidro contendo a miniatura de uma casa, e morre.

Começa o mistério de Charles Foster Kane: o que é Rosebud? O que representa aquela pequena casa dentro do globo de vidro? Se Kane estava sozinho em seu leito de morte, como o mundo pode saber que sua última palavra foi “Rosebud”?

Tudo em “Kane” é soberbo: a fotografia Expressionista de Gregg Toland, a música de Bernard Herrmann, que depois comporia temas de obras-primas de Hitchcock como “Um Corpo Que Cai” e “Psicose”, a montagem de Robert Wise, a atuação de todo o elenco e o roteiro de Herman J. Mankiewickz e Orson Welles.

Sobre o roteiro do filme, vale a pena ler o clássico ensaio que a crítica de cinema Pauline Kael escreveu em 1971. O texto está no livro “Criando Kane e Outros Ensaios”, lançado no Brasil pela Record. Nele, Kael diz que Mankiewickz foi tão “autor” do filme quanto Welles.

Em 1972, o cineasta Peter Bogdanovich, fã e amigo pessoal de Welles, escreveu “The Kane Mutiny”, em que rebatia a tese de Kael. Não encontrei o texto publicado em português, mas recomendo “Este é Orson Welles” (Editora Globo, 1995), livro de entrevistas em que Bogdanovich sabatina Welles sobre sua vida e carreira. O livro está fora de catálogo, mas é facilmente encontrável em sebos por aí.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

P.S. 2: Até quarta-feira, estarei acompanhando um familiar que vai se submeter a uma cirurgia e, por isso, não terei condições de me dedicar ao blog. Volto na quinta com um texto inédito. Obrigado pela compreensão e até lá.

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Como a Internet está jogando a ciência nas trevas

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france in xxi century1 Como a Internet está jogando a ciência nas trevas

Grande parte das informações científicas publicadas em revistas e sites é falsa. O número pode chegar a 50%.

Quem divulgou esse dado assustador não foi nenhum site de teorias da conspiração ou um lunático qualquer, mas Richard Horton, há 20 anos editor da "The Lancet", fundada na Inglaterra em 1823 e considerada uma das mais importantes revistas médicas e científicas do mundo.

No editorial de 11 de abril (leia aqui, em inglês), Horton descreveu um simpósio, realizado em Londres, sobre a confiabilidade de pesquisas médicas. A conclusão é alarmante: "O caso contra a ciência é claro: boa parte da literatura científica, talvez metade, pode simplesmente ser falsa. Prejudicada por estudos com mostras qualitativas pequenas, efeitos diminutos, análises exploratórias sem validade e flagrantes conflitos de interesses, (...) a ciência tem mergulhado rumo à escuridão. Como disse um dos participantes: 'Métodos pobres dão resultado'."

Na última década, houve na Internet uma profusão de revistas "open access" ("acesso aberto"), que publicam trabalhos científicos. Elas são gratuitas para o público, mas não para o autor do trabalho, que paga para tê-lo publicado. Isso criou um verdadeiro comércio online de informações médicas e científicas.

Como o acesso é livre, muitas dessas revistas têm grande número de acessos, e os artigos publicados ganham uma chancela de respeitabilidade.

Em 2013, o jornalista John Bohannon, da Universidade Harvard, enviou um trabalho científico para 304 dessas revistas "open access". Mais da metade aceitou publicar o trabalho, que descrevia uma nova droga capaz de diminuir o crescimento de células cancerosas.

Só havia um problema: o trabalho era totalmente inventado. Um trote.

Bohannon publicou a história na revista "Science" (leia aqui, é sensacional). "Qualquer revisor com um conhecimento ginasial de química (...) deveria ser capaz de perceber os erros imediatamente. Os experimentos são tão absurdos que os resultados são inúteis,", escreveu.

A única revista de acesso aberto que alertou Bohannon para os erros encontrados no trabalho foi justamente uma das poucas que se destaca pela seriedade e credibilidade, a PLOS ONE - Public Library of Science.

Continua Bohannon: "De começos modestos e idealistas, mais de uma década atrás, as revistas científicas de acesso aberto têm se multiplicado numa indústria global, guiada por taxas de publicação para autores e não por assinaturas para leitores. A maioria dos participantes é suspeita. A identidade e localização dos editores dessas revistas são, muitas vezes, propositalmente escondidas. (...) Buscas pelos IPs e dados bancários têm jogado luz sobre o assunto e revelado uma rede de contas localizada, principalmente, em países em desenvolvimento."

Resumindo: boa parte da publicação de trabalhos científicos, hoje, é tão picareta quanto os e-mails que recebemos todos os dias avisando de uma herança a receber na África ou pedindo ajuda para crianças famintas no Afeganistão.

O maior problema não é o trambique de que muitos autores são vítimas (e cúmplices), mas o fato de que a maior prejudicada, no fim das contas, é a ciência.

A publicação de trabalhos falsos ou cientificamente irrelevantes tem disseminado informações erradas e que por vezes são usadas como base para que pacientes tomem decisões médicas. É um assunto de vida e morte.

A Internet prometeu um mundo "livre de filtros" e aberto a todos, mas se transformou, com algumas exceções, num balcão de negócios comandado por interesses escusos, juntando o crescente analfabetismo funcional dos usuários com a multiplicação de "especialistas" em todo tipo de assunto. A única forma que o público tem para se defender é buscar informação nas fontes mais confiáveis e credíveis.

E isso acontece em todas as áreas.

Acesse agora o site da Amazon e tente achar UM livro que tenha recebido nota menor que quatro estrelas em cinco. Difícil. Sabe por quê? Porque a Amazon tem uma equipe imensa de "críticos" para escrever os textos que acompanham a descrição dos livros. Para simular isenção, a Amazon costuma publicar críticas de um site de leitores chamado Goodreads, que sempre traz textos elogiosos aos livros. O que a Amazon não informa é que comprou a Goodreads em 2013.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

 

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Cuidado com o golpe do hospital!

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nepal hospitals afp 650 650x400 71430041720 Cuidado com o golpe do hospital!

Passei três dias num hospital acompanhando um familiar que fez uma cirurgia (aliás, muito obrigado pelas muitas mensagens de apoio; a operação foi um sucesso e o paciente já está correndo e escalando trepa-trepas por aí).

No primeiro dia, recebemos a seguinte carta do hospital:

Prezado (a) paciente e familiares,

ATENÇÃO

Com o objetivo de obter vantagens financeiras indevidas, pessoas mal intencionadas podem realizar contatos telefônicos durante a internação no hospital ou após a alta, identificando-se como médicos ou funcionários desta instituição.

Não devem ser feitas transações bancárias antes de confirmadas a origem e veracidade da ligação.

Caso recebam alguma ligação desse tipo, o paciente ou seus acompanhantes devem entrar em contato imediatamente com seu médico e o atendimento do Hospital no telefone...

Já vi muito trambique por aí, mas esse era novidade para mim. Dei uma pesquisada e verifiquei que as primeiras reportagens alertando sobre o golpe datavam de 2013.

Aparentemente, o caso é bem mais comum do que a gente imagina. Familiares de pacientes, ainda fragilizados emocionalmente pela internação de pessoas amadas, não titubeiam em pagar qualquer cobrança, por mais cara e estranha que possa parecer.

O que mais chama a atenção na carta do hospital é o trecho "Podem realizar contatos telefônicos durante a internação no hospital ou após a alta", o que mostra que os bandidos têm a cumplicidade de alguém do staff do hospital, que lhes repassa os contatos de pacientes.

É difícil imaginar o sangue frio de um sujeito que liga para enganar alguém que acabou de passar por uma experiência traumática como uma internação.

Na saída do hospital, depois que nosso familiar recebeu alta, pegamos um táxi de volta para casa. O motorista era um vovô simpático que "errou" o caminho entre duas ruas conhecidíssimas do Rio de Janeiro não uma, não duas, não três, mas QUATRO vezes, transformando uma corrida de 30 reais em uma de 45. Na chegada, disse que não tinha troco para uma nota de 50, numa tentativa de nos extorquir outros cinco reais.

Bom fim de semana a todos.

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Mirem-se no exemplo do Wilco

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Jeff Tweedy e seu Wilco continuam a surpreender, não só pela qualidade da música que têm feito nos últimos 21 anos, mas pelas estratégias de relacionamento com os fãs.

Há alguns meses, escrevi aqui no blog que o Wilco periga ser a melhor banda norte-americana das últimas duas décadas (leia aqui). E digo mais: é a que melhor trata seus fãs.

 

 

Na sexta passada, a banda liberou gratuitamente o download de seu nono disco de estúdio, "Star Wars". O link ficará disponível no site oficial do Wilco até 13 de agosto.

No dia seguinte, os fãs puderam ver, em streaming, o show do grupo no festival Pitchfork, em Chicago.

Poucos dias antes do lançamento-surpresa de "Star Wars", o Wilco anunciou uma mudança na política de reserva antecipada de ingressos para seus shows. As reservas passarão a ser feitas por uma nova empresa, que, segundo a banda, facilitará a vida dos fãs inscritos no site do grupo,  que têm prioridade na compra de ingressos.

Desde 2010, quando largou a gravadora Nonesuch, ligada à Warner, e montou seu próprio selo, o dBpm, o Wilco vem provando que é possível ser independente e continuar aumentando seu número de fãs. A banda é um exemplo de sucesso num mercado musical dilacerado.

A estratégia "faça você mesmo" tem surtido efeito. Em vez de reclamar da qualidade dos line-ups de festivais por aí, o Wilco inventou seu próprio festival, o Solid Sound, que acontece anualmente e é um grande sucesso (veja aqui o line-up de 2015, que aconteceu em junho).

No festival, o Wilco geralmente faz três shows: um "normal", outro com pedidos de fãs, e o terceiro só de "covers". A banda acaba de lançar "Every Other Summer", um documentário sobre o Solid Sound de 2013 (veja aqui um clipe deles tocando uma versão matadora de "Cut Your Hair", do Pavement).

Jeff Tweedy sabe que hoje o dinheiro está muito mais em shows do que em disco, e por isso tem excursionado sem parar, não só com o Wilco, mas em apresentações solo e com o Tweedy, a banda que montou com o filho, Spencer. A maioria dos concertos têm lotação esgotada.

Outro ponto importante a favor do Wilco: há quase 20 anos eles mantêm o próprio estúdio, The Loft, em Chicago, onde ensaiam e gravam não só os próprios discos, mas os que Tweedy produziu para Mavis Staples, Richard Thompson e outros artistas.

Sobre "Star Wars": só consegui ouvir o disco duas vezes, mas gostei demais. O Wilco deixou de ser uma banda de "alt-country" há muito tempo e se tornou um supergrupo que faz uma música extremamente pessoal, única e indefinível. O disco ora lembra Bowie da fase "Scary Monsters", ora remete aos experimentos sônicos do krautrock ("Pickled Ginger" lembra muito o Can).

Há pelo menos três ou quatro faixas - "Taste the Ceiling", "You Satellite", "King of You", "Magnetized" - que perigam virar clássicos do repertório da banda.

Que venham logo para o Brasil, por favor.

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Uber? Não, obrigado!

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 Uber? Não, obrigado!

Não tenho nada contra o Uber ou contra quem usa o serviço. Boa sorte a todos. Que sejam felizes. Mas o Uber nunca verá um centavo do meu suado dinheirinho.

Não uso o Uber pela mesma razão por que evito comprar pão em posto de gasolina, jornal em padaria, chiclete em farmácia e isqueiro em banca de jornal.

Não uso o Uber porque acredito que o comércio precisa de uma ordenação lógica, em que um comerciante, na medida em que paga impostos e oferece um tipo de serviço específico, merece a primazia na oferta dos produtos e serviços em que se especializou.

Quero deixar uma coisa bem clara: sou 100% a favor da livre concorrência. Mas a concorrência só é livre se não for desleal, e casos como o do Uber configuram, sim, concorrência desleal.

Ponha-se no lugar de um motorista de táxi que pagou 60 mil, 80 mil ou até 100 mil reais pela licença para trabalhar, paga impostos, gasta uma grana com o sindicato e tem o preço das corridas tabelado pelo governo, e que subitamente sofre a concorrência do Uber, cujos carros não precisam pagar pela licença e cobram até 30% a menos que os táxis (há também uma versão "chique" do Uber, mais cara que táxis normais).

Se isso não é concorrência desleal, não sei o que é.

Imagine então a situação dos taxistas que não têm carro próprio e usam veículos de frota. Eles trabalham umas 12 horas por dia só para pagar os custos fixos de aluguel do carro e combustível, e depois disso é que começam a rodar para ganhar o próprio dinheiro. O Uber pode simplesmente aniquilar esses profissionais.

Diante de situações como essa, a reação de muitos é dizer: "Ah, isso é do mercado, e a concorrência é boa para o público."

Mas as coisas não são bem assim.

Há dois anos, fiz uma reportagem para a "Folha" sobre o sumiço das pequenas padarias de São Paulo e o surgimento das chamadas "superpadarias", estabelecimentos que mais parecem supermercados e que vendem de tudo: jornais, revistas, sushi, frutas, pizzas... até pão.

Na reportagem, o editor da revista "Panificação Brasileira", Augusto Cezar de Almeida Neto,  contou que a tendência das megapadarias teve início nos anos 80, quando supermercados começaram a abrir padarias dentro de seus estabelecimentos. "Os donos de padarias foram acossados pelas grandes redes de supermercados e precisaram expandir sua oferta de produtos e serviços. As padarias passaram a oferecer refeições e produtos que não ofereciam."

Isso causou o fim de muitas padarias e pequenos restaurantes de bairro, que não tiveram condições de competir com as "superpadocas". Com menos padarias, houve uma redução na oferta para os consumidores e um aumento no preço dos produtos (sugiro ler essa matéria do jornal "O Dia", sobre a diferença de até 114% nos preços do pão em padarias cariocas).

Prejudicadas pelos supermercados, as padarias começaram a vender revistas e jornais, o que causou a falência de muitos donos de bancas.

Novamente, imagine a situação: você compra uma banca de jornal, gasta uma bela grana com a compra do ponto, e de repente vê a padaria que fica em frente à sua banca vendendo revistas. É justo?

Eu acho que padarias não poderiam vender jornais e revistas, assim como postos de gasolina não poderiam vender pão. E isso não tem nada a ver com protecionismo, mas com bom senso. A outra opção, que seria liberar todo mundo para vender o que quiser, acaba quase sempre favorecendo os comerciantes mais poderosos, aniquilando a concorrência e causando aumento de preços.

Francisco Spadoni, arquiteto e professor da FAU, me disse: "O problema é que o Brasil não tem uma legislação sobre o que uma padaria pode ou não vender. Na França, uma ‘boulangerie’ só pode vender pães e bolos."

Tem mais: na França, para receber o nome de "boulangerie", o estabelecimento precisa fazer o pão no próprio local, não pode usar conservantes e não pode congelar o produto. Quem quiser pão congelado ou com conservantes, que compre em um supermercado.

Voltando ao caso Uber vs. taxistas: digamos que o Uber "pegue" em São Paulo, como as "superpadocas". Em pouco tempo, podemos ver o fim dos táxis de rua. Isso seria bom para a cidade? Tenho minhas dúvidas.

O caso está na Justiça. O sindicato dos taxistas alega que o Uber promove "transporte clandestino"; já o Uber apela para a "livre concorrência".

Se a prefeitura de uma cidade qualquer no Brasil decidir liberar o Uber, ótimo. Só espero que o prefeito se lembre de devolver, com juros e correção monetária, o dinheiro que os taxistas pagaram por suas licenças (hoje conversei com um taxista carioca que disse ter gasto 40 mil reais na licença em 1999; faça as contas).

De minha parte, vou continuar a usar o bom e velho táxi. Pode até custar um pouco a mais que a versão chique do Uber, mas prefiro pagar uns trocados a mais agora do que colaborar para a concorrência desleal e lamentar daqui a alguns anos, quando os táxis sumirem e estivermos nas mãos de Ubers ou similares.

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O dia em que os punks expulsaram o prefeito

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 O dia em que os punks expulsaram o prefeito

Morreu na terça-feira, aos 81 anos, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, arquiteto Luiz Paulo Conde (PFL). Minhas condolências aos familiares e amigos.

Além de prefeito e Secretário Municipal de Urbanismo, Conde foi presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil e professor e diretor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da UFRJ (Universidade Federal do Rio).

conde O dia em que os punks expulsaram o prefeitoMas a carreira política de Luiz Paulo Conde começou com um evento traumático: na noite de sábado, 16 de novembro de 1996, ele e seu staff resolveram comemorar a vitória na eleição para prefeito. E escolheram um lugar tradicional da noite carioca: o Circo Voador.

Só que nenhum assessor do prefeito eleito se deu a trabalho de verificar que show estava acontecendo no Circo. Se Conde soubesse a roubada em que estaria se metendo, certamente teria escolhido outro local. Naquela noite, estavam se apresentando no Circo  duas bandas punks de São Paulo: Ratos de Porão e Garotos Podres.

Deixo o relato por conta de meu amigo Pedrão, então roadie do Ratos (o trecho é da biografia que fiz de João Gordo, que sai no início de 2016 pela Darkside Books) :

Pedrão:

Fomos ao Circo fazer um show com o Garotos Podres. Alguém chegou no camarim e disse: “O prefeito tá aí!”. Nós achamos que era o Perfeito Fortuna, um dos donos do Circo. “O Perfeito? Legal, chama ele pra fumar um beque com nós!”. Mas era o prefeito, Luiz Paulo Conde, que tinha acabado de ser eleito. Quando o público viu aquela comitiva de políticos, com charanga e tudo, começou a vaiar, jogar lata e xingar: “Filho da puta! Filho da puta!”, e o Conde fugiu dali rapidinho. Mas a gente nem se ligou no que tinha rolado.

Voltamos pra São Paulo naquela mesma noite. Quando chegamos, um monte de gente começou a ligar pra nós: “O que vocês fizeram? Vocês fecharam o Circo Voador?”. A gente não entendeu nada, não sabíamos o tamanho da merda que tinha dado. O mais engraçado foi que o Garotos Podres esqueceu o pano de palco no Circo, e um jornal do Rio publicou uma foto das crianças que eram atendidas pela creche que funcionava lá, todas com carinhas tristes e, no fundo, o pano: “Garotos Podres”.

CesarMaia CircoVoador2 O dia em que os punks expulsaram o prefeito

No dia 19 de novembro, a “Folha de São Paulo” publicou:

O prefeito do Rio, Cesar Maia, anunciou ontem a cassação do alvará de funcionamento do Circo Voador, uma casa de espetáculos localizada na Lapa (centro do Rio) de onde o prefeito eleito, Luiz Paulo Conde (PFL), foi expulso na noite de sábado por um grupo de jovens punks.

Segundo Maia, o incidente serviu para dar um motivo concreto à Prefeitura do Rio para fechar o Circo Voador, objeto, afirmou, de muitas queixas relativas a barulho e confusão.
Maia não se sensibilizou com argumentos de que o local seria um dos pontos de maior tradição na cidade. “Tradição de que? De bagunça? De desordem? De maconha? De cocaína?”, disse o prefeito.

Achei no Youtube esse vídeo que mostra todo o incidente:

 

 

O Circo Voador ficou fechado por quase oito anos e só foi reaberto em julho de 2004.

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“Vício Frenético”: um filme feio, sujo e malvado

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Cansei de encher a bola da Versátil Filmes aqui no blog. Os caras lançam muita coisa boa (em tempo: não conheço ninguém lá, não tenho nenhuma ligação com a empresa e faço questão de comprar os lançamentos que me interessam).

Minha próxima aquisição será o DVD de um de meus filmes prediletos, que acaba de ser relançado: “Vício Frenético” (“Bad Lieutenant”, 1992), de Abel Ferrara.

A exemplo da maioria dos filmes de Ferrara, não é para todos. Muita gente pode achar de mau gosto, exagerado e sensacionalista. E é mesmo. Mas para quem gosta do cinema marginal e sujo de Ferrara, está no topo da lista, junto com “O Rei de Nova York” (1990), “Os Chefões” (1996) e “Bem-Vindo a Nova York” (2014).

Leia aqui sobre minha tentativa frustrada de entrevistar Abel Ferrara, em 1996.

Voltando a “Vício Frenético”: o filme acompanha alguns dias na vida do “tenente mau”, interpretado por Harvey Keitel. O sujeito é um demônio: rouba cocaína de cenas de crimes, faz negócios com traficantes, explora sexualmente duas jovens depois de pará-las por uma infração de trânsito, tudo isso enquanto investiga um caso de violência sexual contra uma freira e tenta negociar com um bookie de apostas ilegais para quem está devendo uma pequena fortuna.

Ferrara não perde tempo explicando por que o personagem é assim. Ele é, e pronto. Keitel o interpreta com o olhar perdido de quem sabe que sua vida não tem volta. É, no fundo, um filme extremamente religioso e espiritual, e talvez por isso tenha emocionado tanto outro diretor que sempre gostou de histórias de homens de fé habitando as ruas imundas de Nova York: Martin Scorsese.

Quando fez sua lista dos melhores filmes dos anos 90, Scorsese colocou “Vício Frenético” em quinto lugar, atrás apenas de “O Ladrão de Cavalos” (Tian Zhuangzhuang), “Além da Linha Vermelha” (Terence Malick), “Duo Sang” (Nien-Jen Wu) e “De Olhos Bem Fechados” (Stanley Kubrick).

“Vício Frenético” pode parecer, na superfície, uma apologia à violência ou um “manifesto” kamizake. Mas o filme trata de temas como redenção e moralidade. A violência de Ferrara nunca é gratuita ou recompensadora. Seus filmes podem ser, por vezes, desagradáveis e repulsivos. Mas quem não é?

Depois de assistir ao filme, sugiro ver a refilmagem dirigida por Werner Herzog e “interpretada” por Nicholas Cage, só para notar como um grande filme pode ser completamente destruído por más escolhas. Sinta o drama:

 

 

Quando assistiu à refilmagem, Abel Ferrara declarou: “Quero que todos os envolvidos com esse filme queimem no inferno!” Não dá para culpá-lo.

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