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Nada como um atentado contra o prefeito para a polícia aparecer, não é mesmo?

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policia rodoviaria federal blitz br1 Nada como um atentado contra o prefeito para a polícia aparecer, não é mesmo?

No início da noite de 19 de maio, o prefeito de Paraty, José Carlos Gama Miranda (PT), conhecido por Casé, saía da sede da prefeitura acompanhado pelo primo, Sérgio José Miranda, funcionário da prefeitura, quando um sujeito se aproximou numa moto, sacou uma arma e disparou várias vezes contra os dois.

Felizmente, o criminoso errou os tiros. Casé foi atingido de raspão na cabeça, assim como Sérgio. Os dois foram atendidos no precaríssimo hospital local e depois transferidos para um hospital de verdade, em Angra dos Reis.

Na manhã de 21 de julho, uma operação envolvendo pelo menos uma dúzia de homens do Grupo de Atuação Especial do Combate ao Crime Organizado, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense e da Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar prendeu um suspeito pelo crime.

A operação foi grande. O dono de uma padaria, da qual somos clientes, contou que viu vários sujeitos à paisana, com armas e até metralhadoras, cercando uma casa ao lado do estabelecimento: “Fiquei apavorado. Achei que iam nos assaltar”.  Os policiais invadiram a casa, mas não acharam ninguém. Acabaram encontrando o suspeito em outra casa, momentos depois.

Nos dois meses entre o atentado contra o prefeito e a prisão do rapaz, Paraty mudou. Os moradores passaram a conviver com algo que, até então, não conheciam: policiamento eficiente.

Durante esse período, vimos carros da polícia parando e vistoriando veículos, grupos de policiais dando blitze em conhecidos pontos de tráfico, caminhões recolhendo motos sem documentos, veículos multados por infrações de trânsito, enfim, percebemos a presença do Estado como nunca havia acontecido na cidade.

Só para comparar: em mais de cinco anos morando na região, não havíamos sido parados uma vez sequer no posto da Polícia Rodoviária na Estrada Rio-Santos. No último mês, fomos parados duas vezes.

Com o aumento da fiscalização, diminuiu o número de motos zunindo loucamente pelas ruas sem respeitar placas, faixas e limites de velocidade. Também rarearam os carros estacionados em locais irregulares. Na última Festa Literária de Paraty (FLIP), realizada no início de julho, o policiamento foi intenso.

A situação contrasta com a bandalheira absoluta com a qual a população já havia se acostumado, especialmente durante os eventos mais populares do calendário turístico local.

Ano passado, durante a Festa da Cachaça, quase batemos de frente com um carro que vinha na contramão de uma ponte, com o motorista bebendo uma latinha de cerveja enquanto uma criança de uns oito anos viajava no banco da frente, de pé, com a cabeça para fora do teto solar.

Fica a pergunta: se o tal suspeito for, de fato, culpado pelo atentado contra o prefeito, quanto tempo vai demorar para o policiamento e a fiscalização desaparecerem da cidade e tudo voltar ao normal?

Bom fim de semana a todos.

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“Táxi gourmet”: você merece!

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uber final1 Táxi gourmet: você merece!

P.S.: Estou em viagem interestadual em meu possante Uber e só poderei moderar os comentários no meio da tarde. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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Não tem jeito: “True Detective 2” é mesmo um abacaxi

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truedetective 1024x512 Não tem jeito: “True Detective 2” é mesmo um abacaxi

Há cerca de um mês, quando a HBO estreou a segunda temporada de “True Detective”, escrevi aqui no blog que o primeiro episódio não tinha sido lá grande coisa, mas que ainda era muito cedo para avaliar a série.

Hoje, depois de ter visto cinco dos oito episódios (escrevo na sexta-feira, antes da exibição do sexto episódio), dá para dizer sem medo de errar: “True Detective” é um abacaxi.

É inacreditável que o mesmo Nick Pizzolatto, criador e roteirista da série, seja responsável pela segunda temporada, que não tem uma fração da inventividade, tensão e mistério da trama que envolveu Matthew McConaughey e Woody Harrelson na temporada de estreia.

O que era um policial noir-gótico-sobrenatural à David Lynch virou uma trama policial comum, confusa e sem graça.

Tudo é ruim em “True Detective 2”: diálogos, personagens, atuações, situações, direção... um desastre completo.

O principal problema da série, a meu ver, é o excesso de personagens principais. São quatro: o policial Ray Velcoro (Colin Farrell), o mafioso Frank Semyon (Vince Vaughn), e outros dois policiais, Ani Bezzerides (Rachel McAdams) e Paul Woodrugh (Taylor Kitsch).

Cada um deles tem seus próprios demônios: Velcoro está em guerra contra a ex-mulher pela guarda do filho, que pode ter sido concebido depois de um estupro sofrido por ela.

Semyon tenta, há anos, ter um filho, mas perdeu uma fortuna num roubo e agora volta às atividades criminais para recuperar seu dinheiro.

Woodrugh é um ex-militar com uma história cabulosa – e secreta - de guerra, além de ter questões sexuais mal resolvidas - e não tão secretas assim.

Bezzerides é um poço de ressentimento contra os homens. A moça odeia o pai, um guru new age (David Morse) que ela culpa pelo suicídio da mãe, mas não hesita em usar a irmã, que trabalha num esquema de transmissão de filmes pornô pela Internet, para ajudá-la a solucionar um caso envolvendo prostituição.

O tema central da série é a investigação do assassinato de um político, metido num projeto bilionário de uma estrada que corta a Califórnia. Mas as tramas particulares de cada personagem, com seus problemas familiares e dramas pessoais,  acabam por interferir demais na narrativa, e a história principal empaca.

Para piorar, algumas sequências são muito mal filmadas e outras, completamente inverossímeis.

No fim do quarto episódio, há um tiroteio sangrento entre policiais e uma gangue de traficantes mexicanos, no meio da rua, que deixa muitos civis mortos. Revi a sequência umas três vezes só para confirmar que foi, sem exagero, uma das piores cenas de tiroteio que já vi. Os policiais agem como patetas, os bandidos são umas bestas que preferem ficar parados no meio da rua trocando tiros a tentar fugir, e a pataquada termina com uma cena ridícula em que o chefão dos bandidos, que está com a arma apontada para a cabeça de um refém, dá uma de kamikaze e mata o refém em vez de atirar nos policiais.

Aqui está a cena inteira. Repare nos policiais andando em fila indiana pela rua como se estivessem indo a um piquenique; a péssima pontaria dos bandidos que não acertam um tirinho sequer de metralhadora em Rachel McAdams enquanto ela faz cooper desprotegida pelo meio da rua; a lentidão da van que foge a 10 km por hora; a passividade dos trabalhadores de um sweatshop, que nem se dão ao trabalho de sair à rua depois que o prédio vizinho EXPLODIU e, finalmente, o bandido careca kamikaze.

 

 

Mas nada se compara à cena do quinto episódio em que uma chefona da polícia faz uma reunião “secreta” com Velcoro, Bezzerides e Woodrugh – no meio da rua, à luz do dia.

Isso não aconteceria nem em filme brasileiro dos anos 80.

Minha única motivação para terminar de ver “True Detective” é conferir se ainda tem algo para piorar ali. Quem sabe uma aparição surpresa de Nicholas Cage?

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Bukowski ralou para ser Bukowski

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O canal + Globosat exibe hoje, às 12h, "Bukowski - Born Into This", documentário de John Dullaghan sobre o escritor Charles Bukowski (1920-1994).

O filme tem entrevistas muito boas com Bukowski e com amigos e admiradores como o cantor Tom Waits e os atores Harry Dean Stanton e Sean Penn.

Mas o aspecto mais interessante do filme é a descrição dos anos em que Bukowski penou financeiramente antes de poder dedicar-se apenas à literatura.

O escritor morreu de leucemia, em 9 de março de 1994, aos 73 anos. Mas foi só aos 49 anos de idade que ele virou escritor em tempo integral.

Antes disso, Bukowski penou em vários empregos: dirigiu caminhões, carregou mudanças, trabalhou numa fábrica de picles e foi carteiro. Tudo para ganhar uma grana que o possibilitasse escrever à noite.

No fim dos anos 50, depois de quase morrer de uma úlcera perfurada, conseguiu emprego nos correios, separando correspondência. Ele trabalhava a noite toda e escrevia durante o dia. "Mas eu escrevia tanto que, à noite, meus braços doíam a ponto de eu não conseguir levantá-los quando ia separar as cartas", conta o escritor.

Bukowski trabalhou de separador de cartas por onze anos. Nesse período, escreveu centenas de poemas e contos, que enviava para revistas literárias. Um dia, um sujeito chamado John Martin leu um dos poemas e ficou impressionado com a força e beleza das palavras de Bukowski.

Martin escreveu para o autor elogiando o poema e perguntando se ele tinha mais material. Bukowski tinha pilhas de poemas inéditos. Martin resolveu fundar uma editora, a Black Sparrow Press, só para publicar o trabalho dele (depois publicaria obras importantes de autores como John Fante, Paul Bowles e D.H. Lawrence, entre muitos outros).

É aí que vem o momento mais bonito e emocionante do filme: John Martin conta que perguntou a Bukowski por que ele não largava o emprego nos correios para escrever. "Porque eu preciso sobreviver", disse o escritor.

Martin pediu a Bukowski que fizesse uma lista de todos os seus gastos mensais. O escritor começou a listar: "3,50 dólares por mês para cigarros, 20 por mês para comida, 40 para aluguel..." e chegou ao total de cem dólares. "Quer dizer que você viveria bem com cemdólares por mês?" perguntou Martin. "Sim, não preciso mais do que isso", respondeu Bukowski.

"Então está combinado: eu vou te pagar cem dólares por mês até o fim da sua vida, só para você largar os correios e poder escrever em tempo integral", disse Martin.

Os dois assinaram um contrato no dia 2 de janeiro de 1970. No dia 25 de janeiro,  Bukowski entregou os originais de seu primeiro romance, "Post Office", uma história autobiográfica sobre seus anos trabalhando nos correios.

O mais curioso dessa história é que ela aniquila a imagem que muitos têm de Bukowski como um niilista doido, um porra-louca irresponsável e arruaceiro que só queria saber de beber, trepar e escrever. Quer dizer, ele só queria fazer isso mesmo, mas sabia que não tinha condições financeiras para largar tudo e viver de literatura. Por mais de um quarto de século - do momento em que publicou o primeiro conto, aos 24 anos de idade, até receber a "mesada" de Martin - Bukowski se virou como pôde para não morrer de fome.

Até o fim da vida, o escritor foi grato a Martin e às editoras independentes que o publicaram quando ele era um joão-ninguém. Mesmo depois de ficar famoso, nunca deixou de enviar poemas e contos para as pequenas editoras. Bukowski nunca esqueceu de onde veio.

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Coppola e seu fiasco “selvagem”

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No fim de 1983 (ou teria sido início de 84?) vi "O Selvagem da Motocicleta" ("Rumble Fish"), de Francis Ford Coppola. Fiquei tão empolgado com o filme que liguei imediatamente para meu pai e recomendei que ele não deixasse de ver.

Alguns dias depois, perguntei o que ele tinha achado. A resposta me surpreendeu: "Achei péssimo! Que coisa piegas e cafona! E que atores horríveis, não é possível que o Coppola tenha dirigido aquilo!"

Por um bom tempo, tive a convicção de que eu estava certo e ele, errado: o filme era mesmo uma maravilha, uma obra-prima noir e existencialista. Aos 15 anos, a gente sempre tem razão, certo?

Mas nada como um dia depois do outro.

Uns 15 anos depois, revi "O Selvagem da Motocicleta", e tive de dar razão ao coroa: que abacaxi insuportável! Que coisa pretensiosa e vazia!

O que aos 15 anos me pareceu genial - o preto e branco Nouvelle Vague da fotografia, o niilismo do personagem de Mickey Rourke (ridiculamente batizado Motorcycle Boy), as homenagens aos astros "selvagens" do cinema, como Brando e Dean, a trilha sonora percussiva de Stewart Copeland - aos trinta e poucos tinha se tornado um pastiche extravagante e brega dos filmes de delinquentes teens dos anos 50.

E o que era aquele peixe vermelho em meio à fotografia preto e branca, simbolizando a "ânsia pela liberdade" de Motorcycle Boy? E as cenas de lutas que pareciam coreografia de musical da Broadway? Que coisa cafona.

Fora que o elenco todo estava muito mal. Até mesmo bons atores, como Mickey Rourke e Dennis Hopper, que fazia o pai alcoólatra, atuavam em modo Cigano Igor. E Matt Dillon e Nicolas Cage não tinham salvação.

Hoje, às 23h50, o Telecine Cult exibe "O Selvagem da Motocicleta". Vou tentar revê-lo para confirmar sua ruindade. É uma pena que o canal não exibirá o filme dublado. Imagine uma hora e meia de Matt Dillon com a voz de Alexandre Frota:

 

 

Nelson Rodrigues é que estava certo em sua recomendação à juventude: "Jovens, envelheçam!"

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Exposição celebra Alair Gomes, o “voyeur” de Ipanema

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 Exposição celebra Alair Gomes, o voyeur de Ipanema

Alair Gomes era uma figura. Magrinho, dentuço e com os cabelos permanentes desgrenhados, usava óculos grossos, que lhe davam um ar de cientista maluco. E era mesmo: autodidata, estudou física, matemática e neuropsicologia e deu aulas de Filosofia da Ciência em Yale e no Instituto de Biofísica da UFRJ.

Alair morava no sexto andar de um prédio em Ipanema. O apartamento era abarrotado de livros, fitas VHS de clássicos do cinema e fotos, a maioria tiradas por ele mesmo. Durante mais de 35 anos, fez dezenas de milhares de fotografias, que revelava e ampliava em um pequeno laboratório montado dentro do apartamento.

Alair Gomes era homossexual, e toda sua arte girou em torno de seus desejos eróticos. Da janela de sua casa, conseguia ver, espremido entre dois prédios, um pedaço das areias de Ipanema, justamente o trecho onde grupos de rapazes costumavam se reunir para malhar. Usando uma teleobjetiva, Alair clicou o que chamaria de "Trípticos" - grupos de fotos mostrando os movimentos dos rapazes.

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Os moradores de Ipanema se acostumaram a ver Alair andando pelo bairro, sempre com sua Nikon na mão, fotografando a juventude dourada da praia. Nas areias, conheceu muitos jovens, "Meninos do Rio", que acabaram virando musos de suas imagens.

Esses dias, a Caixa Cultural de São Paulo (Praça da Sé, 111), abriu uma bonita exposição, "Alair Gomes: Percursos", com curadoria do fotógrafo Eder Chiodetto. Aqui, Eder fala sobre a exposição, que vai até 4 de outubro:

 

 

Ver os "Trípticos" da maneira como foram concebidos para exibição - com nove imagens sequenciais, dispostas lado a lado - é uma experiência e tanto. Os quadros parecem filmes e adquirem um "movimento", ressaltando o caráter "voyeur" de Alair, como se ele estivesse filmando escondido, sem que seus objetos soubessem que estavam sendo clicados.

Alair Gomes foi assassinado em 1992, dentro de seu apartamento. O criminoso foi certamente um de seus musos, mas o crime, a exemplo de tantos outros assassinatos de homossexuais, nunca foi sequer investigado.

Felizmente, o trabalho de Alair foi resgatado e preservado, e hoje ele é considerado um dos grandes fotógrafos do país. Em 2001, quando a Fundação Cartier-Bresson, em Paris, fez uma grande exposição das imagens de Alair, o diretor da Fundação, Hervé Chandès, escreveu: “Em nus masculinos, não há nada hoje comparável no mundo da fotografia ao trabalho deste brasileiro”.

Bom fim de semana a todos.

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Um grande filme sobre um dos piores filmes de todos os tempos

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É por isso que eu digo que nenhum blog tem leitores tão bons: há alguns dias, a leitora Renata Teofilo recomendou um documentário disponível no Netflix americano, “Lost Soul”, de David Gregory. Vi o filme no fim de semana e não consigo parar de pensar nele. Obrigado, Renata.

“Lost Soul” conta a história da produção de um dos piores filmes de todos os tempos, “A Ilha do Dr. Moreau” (1996), uma bomba de proporções atômicas dirigida por John Frankenheimer e estrelada por Marlon Brando e Val Kilmer.

Mas o personagem principal é Richard Stanley, um cineasta talentoso que foi tirado do projeto no meio das filmagens e substituído por Frankenheimer. O filme conta a saga de Stanley, então com 30 anos, para adaptar “Dr. Moreau” para o cinema, a atribulada experiência de lidar com uma grande produção e, por fim, o colapso mental, físico e psicológico que o filme causou no cineasta.

“A Ilha do Dr. Moreau” foi a terceira adaptação para o cinema do clássico romance de terror e ficção-científica de H.G. Wells, lançado em 1896, sobre um náufrago que encontra uma ilha onde um cientista conduz experimentos abomináveis com animais, criando seres grotescos.

No meio dos anos 90, Stanley era uma grande promessa do cinema independente de horror, tendo dirigido um filme excelente, “Hardware” (1990). Mas seu sonho era adaptar para as telas “A Ilha do Dr.Moreau”, um de seus livros favoritos.

O projeto atraiu a atenção da produtora americana New Line Cinema, que concordou em dar a Stanley um orçamento modesto de oito milhões de dólares para fazer o filme.

Mas a maldição começou quando alguém sugeriu Marlon Brando para o papel de Moreau. Para espanto de todos, o recluso e excêntrico ator aceitou. Com Brando a bordo, outro superastro de Hollywood entrou no projeto – Bruce Willis. Para completar, James Woods também foi chamado. Com esse trio, o que deveria ser um pequeno filme independente virou uma produção de 35 milhões de dólares (equivalente a uns 70 milhões hoje).

Stanley dedicou quatro anos ao projeto. Além de escrever o roteiro em colaboração com Walon Green, que escreveu “Meu Ódio Será Tua Herança” (1969), de Sam Peckinpah, e com o jornalista Michael Herr, autor de uma obra-prima da literatura jornalística, “Dispatches”, sobre sua experiência cobrindo a guerra do Vietnã, Stanley criou toda a concepção visual do filme e encontrou uma locação ideal em Cairns, no norte da Austrália.

Mas as coisas começaram a desandar. Primeiro foi o divórcio de Bruce Willis e Demi Moore, que fez Willis desistir do projeto. Seu substituto foi um dos sujeitos mais arrogantes e intratáveis de Hollywood: Val Kilmer. James Woods também pulou fora e foi substituído por Rob Morrow (“Quiz Show”).

Próximo ao início das filmagens, a filha de Marlon Brando, Cheyenne, cometeu suicídio, o que pôs o projeto em risco. Ninguém conseguia falar com Brando.

Depois de algumas semanas de espera, Brando apareceu, mais louco do que nunca. Sua primeira exigência foi se maquiar todo de branco, como um personagem de teatro kabuki japonês. Depois pediu ao diretor de arte que fizesse um chapéu de um balde, que passou a usar na cabeça todos os dias. Brando chegou ao set sem ter lido o roteiro e falava coisas sem coerência.

O ator se encantou com um figurante, um dominicano chamado Nelson de La Rosa, um dos menores homens do mundo – media 71 centímetros – e exigiu que de La Rosa fosse transformado em uma versão “mini” dele próprio, inclusive usando as mesmas roupas (muitos dizem que o personagem Mini-Me, da série “Austin Powers”, foi inspirado em La Rosa).

ISLAND OF DR MOREAU 610 Um grande filme sobre um dos piores filmes de todos os tempos

A essa altura, Stanley já havia sido despedido. O diretor tivera uma crise nervosa depois de ser humilhado incontáveis vezes por Val Kilmer. O clima no set era tão bom que Rob Morrow, depois de apenas quatro dias de filmagem, ligou para a produtora e implorou: “Pelo amor de Deus, me tirem daqui, quero voltar pra minha família!” Stanley abandonou o set e desapareceu. Alguns meses depois, membros da equipe de filmagem o encontraram morando numa vila no meio do mato, balbuciando coisa sem sentido e amaldiçoando Val Kilmer.

Quem substituiu Stanley de última hora foi John Frankenheimer, então com 66 anos, um veterano de Hollywood com grandes filmes no currículo, como “Seconds” (1964) e “Operação França 2” (1975). Mas nem Frankenheimer aguentou trabalhar com Brando. Alguns dias depois do início das filmagens, foi a vez dele ligar para a produtora: “Já trabalhei com muitos atores difíceis, mas nunca na minha vida toda tive de aturar um lunático como Marlon Brando”.

A briga de egos entre Brando e Kilmer teve momentos épicos. Certo dia, cada um ficou esperando o outro sair de seu trailer, deixando toda a equipe, incluindo cerca de 50 figurantes, que haviam passado por sessões de maquiagem de mais de três horas para se transformar nos homens-animais de Moreau, esperando o dia inteiro. Uma figurante diz que foi contratada para três semanas de trabalho, mas que acabou ficando no set por seis meses. Com tanto tempo livre, o set virou uma orgia de sexo e drogas.

“A Ilha do Dr. Moreau” acabou sendo lançado em novembro de 1996 e foi destroçado pela crítica. Brando ganhou o prêmio Framboesa de Ouro de pior ator do ano. E Richard Stanley se pirulitou para um vilarejo nos Pireneus franceses, passou cinco anos sem fazer nada e só voltou a filmar em 2001 (aliás, um documentário que parece muito interessante, sobre a busca de Otto Rahn, o oficial da SS nazista, pelo Santo Graal).

Mais que um documentário sobre um filme que não deu certo, “Lost Soul” é um mergulho na insanidade – de Stanley, Brando, Kilmer, Frankenheimer – e de Hollywood. Um dos melhores documentários que vi nos últimos tempos.

Mais uma vez, obrigado, Renata.

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Contra a mesmice… Billy Wilder!

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Sabadão de noite, friozinho bom para se esconder no sofá debaixo de cobertas, e a questão era: o que assistir? Os episódios de “True Detective” que deixamos gravados? Algum filme novo que havíamos perdido no cinema? Com tantas opções em Netflixes e afins, a tendência é sempre buscar algo novo ou, pelo menos, inédito.

Mas a perspectiva de perder a noite de sábado vendo o duelo de ruindade entre Vince Vaughn e Colin Farrell em “True Detective” nos fez optar pelo mais seguro, e acabamos revendo, pela enésima vez, “Sunset Boulevard” (“Crepúsculo dos Deuses”), de Billy Wilder.

O filme foi lançado há 65 anos e é mais criativo, original, surpreendente e transgressor do que qualquer coisa que se vê na TV ou no cinema hoje.

William Holden faz Joe Gillis, um roteirista fracassado que acaba na mansão decrépita de Norma Desmond (Gloria Swanson), uma atriz cinquentona que foi estrela do cinema mudo. Desmond vive há décadas no ostracismo, mas, em sua cabeça perturbada, ainda se acha uma celebridade. Ela vive sendo paparicada pelo enigmático e sorumbático Max (Erich von Stroheim), seu faz-tudo – é chofer, segurança, babá e médico da atriz.

O filme mistura realidade e ficção. Gloria Swanson (1899-1983) foi uma famosa atriz do cinema mudo que viu sua fama diminuir na década de 1930, depois do advento do cinema sonoro. Ninguém estava mais apta a interpretar Norma Desmond do que ela.

Vários companheiros de Swanson na época de ouro do cinema mudo fazem parte do elenco: o diretor Cecil B. DeMille (1881-1959), que fez diversos filmes com a atriz, interpreta a si mesmo e protagoniza uma das cenas mais tristes do cinema, quando precisa enganar Norma Desmond dizendo que pretende trabalhar com ela, quando sabe que o tempo da atriz já passou e que ela não passa de uma relíquia empoeirada de Hollywood.

Em outra cena linda e melancólica, vários astros e diretores do cinema mudo – Buster Keaton, H.B. Warner, Anna Q. Nilsson e a colunista social Hedda Hopper – aparecem na mansão de Norma Desmond, jogando cartas. O ator que interpreta Max, Erich von Stroheim, é um cineasta e ator extraordinário que havia dirigido, em 1924, o clássico “Greed” (“Ouro e Maldição). E os diálogos do filme citam inúmeros nomes famosos de Hollywood, como Greta Garbo, D.W. Griffith, Adolphe Menjou e Rudolph Valentino, entre outros.

“Sunset Boulevard” foi o tributo de Billy Wilder (1906-2002) ao cinema mudo e sua condenação ao esquecimento público de que os astros silenciosos foram vítimas depois do advento do cinema sonoro. O roteiro foi escrito em parceria com Charles Brackett, com quem Wilder fez 13 filmes, e teve participação de D.M. Marshmann Jr. Os três dividiram o Oscar de melhor roteiro original.

E que roteiro: cada segundo é uma preciosidade. Não há uma cena fora do lugar ou que dure mais que o necessário. Os diálogos são sofisticados e cheios de ironia e inteligência. Nem a estranheza de ter um narrador morto – o filme começa com uma narração em “off” de Joe Gilis, que aparece morto na piscina da mansão (teria Wilder lido “Memórias Póstumas de Brás Cubas”?) – atrapalha.

 

 

“Sunset Boulevard” funciona em tantos níveis que chega a ser assustador. É um drama comovente sobre personagens esquecidos e à margem da fama, uma crítica pesada à ingratidão de Hollywood e do público com seus antigos ídolos, um relato ácido sobre o culto a celebridades, uma história trágica de insanidade, amor não correspondido e obsessão, e uma porrada na cara dos estúdios hollywoodianos, dirigidos por ineptos e pessoas sem talento. É a vingança de Billy Wilder contra tudo que julgava errado no cinema e em Hollywood. É um dos grandes filmes do cinema e merece ser revisto ad infinitum, tornando nossas noites de sábado muito mais agradáveis.

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Um mar de esgoto

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lixo baia guanabara Um mar de esgoto

Semana passada, a agência de notícias Associated Press (AP) anunciou os resultados de testes, feitos a pedido da agência pelo laboratório do programa de qualidade ambiental da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, sobre a qualidade da água da Lagoa Rodrigo de Freitas, da Praia de Copacabana e da Baía de Guanabara, onde serão realizadas diversas provas dos Jogos Olímpicos do Rio (veja aqui uma matéria do R7 sobre o tema). Os testes confirmaram o que qualquer morador da Cidade Maravilhosa já sabe há décadas: nossa água é podre.

Um técnico do laboratório disse: “Os testes até agora mostram que as águas do Rio estão cronicamente contaminadas. A quantidade de matéria fecal que entra nos corpos de água no Brasil é extremamente alta. Infelizmente, temos níveis comparáveis a algumas nações africanas e à Índia”.

A AP submeteu os resultados dos testes ao instituto independente Southern California Coastal Water Research Project, da Califórnia. Um dos biólogos do instituto afirmou: “O que se tem ali é basicamente esgoto puro. É água dos banheiros, dos chuveiros e do que as pessoas jogam na pia, tudo misturado, que vai para a água das praias. Isso seria interditado imediatamente se fosse encontrado aqui”, disse ele, referindo-se aos Estados Unidos.

A reação do governo do Rio foi a de sempre: em vez de pedir desculpas à população por ter mentido ao prometer que limparia 80% da Baía até as Olimpíadas, pôs em dúvida a qualidade dos testes e ainda culpou “interesses” que estariam por trás dos estudos. Em entrevista à Rádio Estadão, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, disse: “Temos que tomar muito cuidado com isso, com esses relatórios, ver o que tem de real nisso. A gente sabe que tem muitas obras para serem feitas para a despoluição da Baía de Guanabara, trabalhos a serem feitos na Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas temos que ver quais são os interesses que estão por trás desses relatórios. A gente sabe que tem uma disputa séria por trás das pessoas que não querem a disputa dentro da Baía de Guanabara”.

Vale relembrar essa lindíssima peça publicitária, em que o então governador do Rio, Sergio Cabral, em tom triunfante e sob os acordes ribombantes do “Bolero de Ravel”, comanda a despoluição da Baía (Pezão era vice de Cabral):

 

 

Mais realista é esse vídeo:

 

 

Quatro dias depois da divulgação dos testes da AP, que repercutiram no mundo todo, Pezão anunciou mais um plano para despoluir a Baía. O prazo, dessa vez, é 2030.

Alguém ainda acredita nas promessas do governo?

O mais revoltante nessa história é que todo mundo está preocupado com a saúde dos atletas que disputarão as Olimpíadas, mas parece esquecer que, depois dos Jogos, é a população do Rio que continuará vivendo nesse mar de esgoto.

Os cariocas também têm culpa. Parecem mais preocupados em evitar um fiasco internacional e ver a imagem da Cidade Maravilhosa manchada na imprensa mundial do que em resolver a situação. Cadê os protestos pela despoluição de praias? Quantos cariocas, em comunidades carentes ou condomínios de luxo, jogam seu esgoto em córregos, mar e rios?

A gente sabe o que vai acontecer nas Olimpíadas: Pezão, Nuzman e Eduardo Paes vão contratar todos os ecobarcos disponíveis, cercarão as raias olímpicas e farão uma limpeza superficial na água, evitando que sofás, latas de lixo, pneus e cadáveres de bichos invadam o local de competição. Assim que terminarem os Jogos, volta tudo ao normal.

Cada cidade tem a praia que merece.

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Músico revela: mentor do Marco Civil da Internet e de mudanças no ECAD é advogado do Google

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Em maio, o músico e produtor musical Tuninho Galante, 55, (foto abaixo, de óculos) publicou uma coluna no jornal “O Globo” intitulada “A Máscara Caiu” . A coluna revelava que o advogado Ronaldo Lemos, diretor do Creative Commons (CC) no Brasil, é advogado do Google.

FullSizeRender2 300x252 Músico revela: mentor do Marco Civil da Internet e de mudanças no ECAD é advogado do Google

A revelação é importante porque Lemos, além de defender o CC, é um dos criadores do Marco Civil da Internet e vice-presidente do Conselho de Comunicação Social do governo federal, comissão responsável por elaborar estudos e pareceres solicitados pela Câmara dos Deputados e pelo Senado sobre assuntos como publicidade, diversões e espetáculos públicos, produção e programação das emissoras, monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação e renovação de concessão, permissão e autorização de serviços de radiodifusão.

Recentemente, Lemos ajudou o governo na CPI do ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), entidade responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais a compositores, elaborando um anteprojeto que cria um órgão fiscalizador do ECAD no Ministério da Justiça. E o advogado representa legalmente o Google, empresa que processa o ECAD.

Segundo a coluna de Galante, “O Google entrou com uma ação contra a União Brasileira de Editores Musicais (UBEM) e o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direito Autoral (ECAD), depositando um valor irrisório que entende ser devido pelos direitos de milhões de músicas que utiliza. Na verdade, o Google não quer pagar por obras veiculadas no Youtube, o que afeta milhares de compositores, cantores, músicos, editoras e produtores fonográficos.” Galante diz que não tem nenhuma ligação com o ECAD e se define como “estudioso e ativista” dos direitos autorais.

Ronaldo Lemos (foto abaixo) é um dos mentores do Marco Civil da Internet, lei que regula o uso da Internet no país e chamada por alguns de “Constituição da Internet” (aqui, ele aparece no programa de TV de Regina Casé falando sobre o Marco Civil).

 Músico revela: mentor do Marco Civil da Internet e de mudanças no ECAD é advogado do Google

Na coluna, Galante diz que o CC “preconiza um tipo de licença que permite a troca e circulação de conteúdo audiovisual, como filmes, músicas, fotografias, livros, fotografias de prédios, residências etc. de graça”, e que “há uma desconfiança” de que “o CC trabalha a favor do Google”. Essa suspeita, segundo Galante, teria sido confirmada com a revelação de que Lemos trabalha para o Google.

Na verdade, a ligação do Google com o Creative Commons não é nenhum segredo. O site do Google lista as organizações que recebem apoio da empresa, e o CC é citado. No site do CC há a descrição de um projeto financiado pelo Google, que paga até 20 mil dólares para projetos do CC em todo o mundo (um dos projetos chama-se “Promovendo a música gratuita nas Américas Sul e Central”).

Galante acha que existe um conflito de interesses entre a atuação de Lemos no governo, no Creative Commons e seu trabalho como advogado do Google. E Lemos tem usado seu espaço na imprensa e TV para defender o Marco Civil da Internet e a CPI do ECAD, sem explicitar que foi um dos criadores do Marco Civil e sem dizer que trabalha para o Google, empresa interessada nos dois temas (o Google apoiou publicamente o Marco Civil). Na coluna sobre o ECAD, Lemos escreve: "Uma CPI no Senado elabora um projeto de lei para regulamentar o setor". Só não menciona que ele próprio colaborou para o projeto.

Aqui vai a entrevista que fiz com Tuninho Galante.

- Como você descobriu que Ronaldo Lemos trabalhava para o Google?

- Levei um susto quando vi na imprensa que o Google tinha entrado com uma ação contra o ECAD e a UBEM para não pagamento de direito autoral. Fiquei assustadíssimo com isso. Depois tive acesso a uma petição enviada pelo Google para o ECAD e fiquei estarrecido quando vi quem assinava a petição [para provar que Lemos é advogado do ECAD, Galante enviou ao blog a cópia de uma resposta a uma notificação do ECAD, datada de 18 de fevereiro de 2015 e assinada por Ronaldo Lemos, em que ele se declara "representante legal do Google".]:

R Lemos Músico revela: mentor do Marco Civil da Internet e de mudanças no ECAD é advogado do Google

- Você tem alguma ligação com o ECAD?

- Nenhuma. Zero. Eu faço parte da AMAR (Associação de Músicos, Arranjadores e Regentes), junto com Aldir Blanc, Nei Lopes, Paulo Cesar Pinheiro e outros. Mas não sou diretor, sou só um ativista e estudioso do direito autoral. Essa petição circulou entre os membros da AMAR e de outras associações de músicos e compositores. Muita gente viu.

- Você defende o ECAD?

- Sim, já escrevi vários artigos a favor do ECAD e do direito autoral.

- Mas o ECAD é muito criticado por compositores, músicos, donos de casas de shows, etc.

- Sim, é verdade. Acho que o ECAD tem um seríssimo problema de comunicação. Não é um problema de gestão nem de falta de transparência, mas de comunicação. O ECAD, como o nome diz, é um escritório central, formado por associações de músicos e compositores. Ele fala diretamente a essas associações, mas não tem autonomia pra falar diretamente pros autores, e essas associações brigam entre si.

- Muitos compositores reclamam que recebem pagamentos irrisórios do ECAD...

- Sim, mas não é o ECAD que paga, ele só arrecada e distribui. Quem paga são emissoras de rádio, TV, etc. O ECAD arrecada os pagamentos de direitos autorais no Brasil inteiro e depois divide com os autores das músicas, de acordo com as vezes em que cada música foi executada. Mas há vários compositores maravilhosos que simplesmente não tocam no rádio. Em segundo lugar, temos que lembrar que o Brasil é um dos campeões mundiais de inadimplência no pagamento de direitos autorais. As empresas públicas, então, as rádios e TVs do governo, simplesmente não pagam direito autoral. É muito mais fácil para o artista reclamar na porta do ECAD do que bater na porta das emissoras de rádio e nas portas das prefeituras e exigir que elas paguem pelas músicas que estão tocando.  Existe uma leniência na classe artística atual.

- Voltando à questão do processo do Google contra o ECAD, qual foi sua reação ao ver que a mesma pessoa que estava ajudando o governo na CPI do ECAD era advogado do Google?

- Fiquei estarrecido. Sempre se comentava da participação muito forte desse advogado em relação a temas ligados ao direito autoral. Inclusive, na CPI contra o ECAD, foi ele que fez o texto técnico com um anteprojeto de mudança na legislação. Está no Youtube pra quem quiser ver, o Randolfe [senador Randolfe Rodrigues, do PSOL-AP] apresentando o advogado...

 

 

Mesmo antes de saber que o advogado trabalhava para o Google, eu já tinha achado absurdamente contraditório que um profissional escolhido e pago pela CPI do direito autoral para fazer um estudo sobre o tema e escrever um anteprojeto de lei pudesse ser o representante do Creative Commons no Brasil. Não faz o menor sentido isso. O CC é contra o interesse do autor. Depois, quando ele [Lemos] assina uma petição em nome do Google contra A UBEM e o ECAD, dizendo que as músicas que estão no Youtube não são passíveis de receber direito autoral, aí é que fiquei de cara!

- Você sabia que ele era um dos criadores do Marco Civil da Internet?

- Soube recentemente.

- E também membro do Conselho de Comunicação Social do Governo?

- Sim, como “representante da sociedade civil”.

- Você acha que há conflito de interesses?

- Claro que sim. Isso é conflito de interesses. Ele não deveria estar atuando nessa área por conflito de interesses. Quero deixar claro que não tenho nada pessoal contra esse cara ou contra o Google. Sou usuário do Google. O que acho absurdamente incrível é essas empresas defenderem a utilização do trabalho de terceiros sem remuneração de direito autoral, em nome de uma liberdade de expressão. Os criadores intelectuais têm de ser pagos. Aí vem uma empresa como o Google, que não produz conteúdo, não produz um disco, não produz um filme, não produz nada, e tem um faturamento gigantesco em cima do trabalho de outros.

- Mas o Google também tem o direito de participar das discussões sobre o uso da Internet no país....

- Com certeza. O Google é um dos maiores players da Internet e tem todo o direito de participar de qualquer discussão sobre legislação e direitos. Mas é preciso deixar as coisas claras. É importante que ele [Lemos] fale: sou advogado do Google!

 

OUTRO LADO

Procurei o advogado Ronaldo Lemos para que ele pudesse se manifestar. Enviei por e-mail perguntas sobre a atuação dele junto ao Google, sobre o suposto "conflito de interesses" citado por Galante, e perguntei por que razão, em recentes colunas de jornal sobre o ECAD e o Marco Civil da Internet, ele não se identificou como advogado do Google e como um dos mentores do Marco Civil.

Lemos não respondeu a nenhuma das três perguntas. Sua réplica foi:

“O que tenho a dizer é o seguinte: Tuninho Galante é um ardoroso defensor do ECAD, entidade que foi condenada por formação de cartel e abuso de poder econômico, além de ter sido investigada e condenada por diversas CPIs. Uma das minhas atuações como advogado é exatamente de agir contra os abusos do ECAD. Qualquer empresa, pessoa, governo ou entidade que quiser advogar contra esses abusos pode me procurar sempre e a qualquer momento que terei prazer em atender.”

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Daniel Johnston, Yo La Tengo, e um momento antológico do rádio

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Meu site predileto, Dangerous Minds, fez uma matéria sensacional sobre o grupo indie americano Yo La Tengo e sua obsessão em tocar covers.

Formado em 1984 por três nerds de música e colecionadores de disco – Ira Kaplan (guitarra, vocais), Georgie Hubley (bateria) e James McNew (baixo) - o YLT sempre gostou de tocar versões de suas músicas favoritas.

Durante 12 anos – de 2001 a 2012 – a banda fez uma residência anual de oito dias seguidos de shows, na época do Natal, no lendário clube Maxwell’s, em Hoboken, New Jersey, casa do YLT. Nesses shows eles tocavam covers e recebiam convidados surpresa. David Byrne, Lee Ranaldo e Steve Shelley (Sonic Youth), Ray Davies (Kinks), Alex Chilton (Big Star), Jeff Tweedy (Wilco) e dezenas de outros artistas apareceram por lá.

Aqui está o Yo La Tengo no Maxwell’s, em 2011, fazendo uma versão matadora de “Gates of Steel”, do Devo:

 

 

E aqui o clipe da banda para sua versão de "Friday I'm In Love", do Cure:

 

 

Outra iniciativa legal do YLT era ajudar na campanha anual de arrecadação de fundos para a rádio indie WMFU, de New Jersey. Todo ano a banda ia ao estúdio e fazia shows improvisados, em que atendia pedidos de ouvintes. O ouvinte pedia uma música e o Yo La Tengo tocava a canção ali, na hora, sem ensaio.

Foi durante um desses programas que ocorreu um momento dos mais emocionantes: em 4 de fevereiro de 1990, o telefone tocou nos estúdios da rádio. Do outro lado da linha estava o músico Daniel Johnston. Johnston tinha 29 anos e não era o ídolo indie que se tornaria depois, com a bênção de gente como Kurt Cobain. Johnston era esquizofrênico, tinha sérios problemas psicológicos e estava morando na casa dos pais em West Virginia.

O Yo La Tengo costumava tocar uma música de Johnston, “Speeding Motorcycle” (que acabou lançada no álbum “Fakebook”, de 1990), e o locutor da rádio, Nick Hill, perguntou se Johnston não queria cantar com a banda. Foi assim que o Yo La Tengo, do estúdio, e Daniel Johnston, pelo telefone, gravaram essa versão de “Speeding Motorcycle”.

 

 

A participação no programa não rendeu a Johnston apenas essa colaboração com o Yo La Tengo. Um dos ouvintes do programa era Jeff Feuerzeig, um cineasta e roteirista. Feuerzeig decidiu, ali, que faria um filme sobre Daniel Johnston. E o resultado foi “The Devil and Daniel Johnston” (2006), um dos grandes documentários já feitos sobre os demônios e inspirações de um músico.

 

 

Na verdade, “Speeding Motorcycle” não foi a única música que Daniel Johnston e o Yo La Tengo tocaram naquele programa. Aqui você encontra um link para o site da WMFU, onde o locutor Nick Hill conta detalhes do programa e dá o link para a íntegra dele.

Ah, mais uma coisa: não poderia me despedir sem botar aqui outra indicação preciosa do Dangerous Minds. Se isso não alegrar seu final de semana, nada o fará...

 

 

Bom fim de semana a todos.

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Sexo, drogas e pop: a vida de Nile Rodgers, gênios das pistas de dança

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niledaft Sexo, drogas e pop: a vida de Nile Rodgers, gênios das pistas de dança

A editora Zahar lança este mês o livro “Le Freak – Autobiografia do Maior Hitmaker da Música Pop”, de Nile Rodgers. O livro está em pré-venda em algumas livrarias virtuais e é imperdível.

Há dois anos, quando o livro saiu no exterior, escrevi no blog sobre ele. Aqui vai o texto...

“Le Freak” já entrou para minha lista pessoal dos livros mais incríveis sobre música.

Nile Rodgers foi o criador do grupo de discoteca Chic, famoso por sucessos como “Le Freak”, “Good Times” e “Dance, Dance, Dance”. Foi também produtor de alguns dos álbuns mais marcantes dos anos 80, como “Let’s Dance” (1983), de David Bowie, “Like a Virgin” (1984) de Madonna e “Notorious” (1986), do Duran Duran. Trabalhou com Diana Ross, Michael Jackson, Mick Jagger e centenas – centenas mesmo – de outros artistas.le freak1 Sexo, drogas e pop: a vida de Nile Rodgers, gênios das pistas de dança

Mas vamos deixar de lado por um momento a carreira musical de Nile Rodgers. Só a vida dele daria um livro espetacular. Não é à toa que um terço de “Le Freak” conta a infância e adolescência do sujeito.

A mãe de Nile, Beverly, tinha 13 anos quando ele nasceu. Beverly era negra, mas tinha raízes européias e indígenas. O pai de Nile era um percussionista de jazz de família africana. O casal logo se separou. Beverly teve filhos com vários outros homens – Nile é o único filho negro – enquanto o pai de Nile, que sofria de alcoolismo, acabou morando na rua, mendigando. E isso é só a primeira página.

Beverly se casa com um beatnik judeu, Bobby Glanzrock, vira junkie em tempo integral e manda o pequeno Nile morar com vários parentes, incluindo uma avó durona e uma tia com problemas mentais por ter sido violentada na infância.

São tantas as histórias incríveis sobre a infância de Nile Rodgers que é difícil destacar alguma. A que mais me deixou pasmo foi a de um criminoso chamado “Bang Bang” que se apaixona por Beverly, leva um fora dela e ameaça matar os filhos – incluindo Nile – se ela não voltar para ele. Beverly se esconde com as crianças e chama a polícia, que inicia uma caçada em todo o país por Bang Bang, então procurado por vários crimes. Esse era um dia normal na vida da família Rodgers.

Adolescente, Nile começa a se interessar por jazz, vira hippie depois de tomar LSD com uma comuna de freaks chefiada por Timothy Leary – 20 anos depois, numa festa, Nile ouve Leary contar a história do dia em que converteu dois jovens negros ao LSD e percebe que o personagem da história era ele próprio – trabalha limpando aviões num aeroporto de Los Angeles, onde acaba fazendo faxina no avião de Frank Sinatra, estuda música clássica, começa a tocar guitarra e consegue uma vaga na banda do lendário teatro Apollo, no Harlem.

No meio dos anos 70, Nile e seu parceiro musical, Bernard Edwards, montam o Chic. A inspiração veio do Roxy Music e – pasmem – do Kiss.

O Roxy Music é compreensível: com sua sofisticação sonora e aquelas capas chiques com supermodelos em poses de revista, o Roxy Music inspirou toda a discoteca. Já o Kiss interessou a Nile pelo anonimato da banda. Nile achou interessante o fato de os integrantes não se mostrarem e decidiu que o Chic também seria assim, mais um projeto que uma banda.

Entre 1975 e 1986, Nile Rodgers foi um dos grandes nomes do pop. Explodiu com o Chic e os discos que produziu – Sister Sledge, Bowie, Madonna, Dura Duran – lideraram as paradas. Com o sucesso e a fortuna, vieram imensos problemas com drogas, especialmente cocaína.

 

 

Nile cheirava tanto que seu contador um dia o aconselhou a presentear os amigos com pingentes de ouro: “Nile, ouro é mais barato que cocaína; em vez de comprar pó pra eles, dê ouro. Eles vão gostar e você vai poupar uma fortuna.” Uma vez, em plena paranóia cocainômana, Nile, que havia transado com a namorada de um traficante e achava que o marginal iria matá-lo, passou dias trancado no armário de um hotel de luxo, empunhando uma pistola 45 e uma espada de ninja.

Quem gosta de ler sobre os bastidores da música vai se fartar.  Nile conta encontros com Michael Jackson, Diana Ross, Eddie Murphy (Nile fez a trilha de “Um Príncipe em Nova York”), Blondie e Bowie, entre outros. Numa festa na mansão de Madonna, na Flórida, Niles termina a noite no banheiro, cheirando e chorando – “Cara, você é demais! Eu tem amo, cara!” – com Mickey Rourke.

Os casos com Madonna são hilários. Certa vez, a “Material Girl”, triste porque Nile não havia dado em cima dela, pergunta se ele não a achava sexy. “Madonna, você é a coisa mais sexy que já vi na vida”, responde Nile. “Então por que você nunca quis me comer?” Nile, atordoado pela pergunta, explica que é o produtor do disco e não achava isso seja legal. “Isso não impediu nenhum dos meus produtores de tentarem me comer”, diz Madonna.

Depois de lançar “Le Freak”, Nile Rodgers voltou a reinar no pop com sua participação no álbum “Random Access Memories”, do Daft Punk. Ele foi co-autor de três faixas do disco, incluindo o hit “Get Lucky”. E Rodgers deve lançar, nos próximos meses, um novo disco do Chic, “It’s About Time”. O disco tinha lançamento marcado para junho, depois foi adiado para julho, mas ainda não está disponível. Estou muito curioso para ver  que Nile Rodgers aprontou com a nova encarnação do Chic.

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Brasil: ame-o e deixe-o

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airport Brasil: ame o e deixe o

Nunca vi tanta gente querendo ir embora do Brasil.

E não falo de “coxinhas” que sonham em se dourar no sol de Miami ou “petralhas” que querem conhecer as maravilhas de Cuba antes da invasão ianque, mas em pessoas comuns que não aguentam mais a direção que o país tomou.

O irmão de um amigo largou um bom emprego de editor de filmes em São Paulo para ser guia turístico na Itália. Outro diz que vai vender sua pequena empresa de alarmes e porteiros eletrônicos para morar no Uruguai. Uma amiga voltou à Inglaterra depois de passar seis meses estudando numa universidade pública do Rio - ou melhor, dois meses, já que as aulas ficaram paradas um tempão porque os faxineiros estavam sem receber e os corredores pareciam depósitos de lixo.

Estão certíssimos.

Morei um bom tempo fora do país. E a todos que perguntam sobre a experiência, recomendo que tentem. No mínimo, a experiência vai mudar sua noção de cidadania.

Sou mais otimista. Acho que a Lava-Jato e as investigações que ainda vêm por aí podem servir para mudar alguma coisa. Pela primeira vez estamos vendo políticos e caciques de partidos presos e donos de empreiteiras atrás das grades. É um bom começo.

Mas entendo perfeitamente quando pessoas dizem que não aguentam mais.

É duro ver tanta gente desempregada – e de todas as classes sociais – tanta gente sem dinheiro e tantos negócios falindo, ligar a TV para ver a chefe da nação se pronunciar, esperando discursos de lucidez e austeridade em tempos de crise, e vê-la, de olhos esbugalhados e pinta de está prestes a sofrer um surto psicótico, falando de conquistas de mandiocas, mulheres sapiens e metas que não existem, mas que serão duplicadas assim que forem atingidas.

Os loucos tomaram conta do hospício.

No meio de tantas denúncias de corrupção e fisiologismo, é uma porrada na cara ler que o Senado aprovou a indicação, feita há um mês por Dilma, do advogado Ricardo Fenelon Júnior para a diretoria da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).

Fenelon tem 28 anos e virou um dos chefões da aviação no país. Agora faz parte de um grupo de cinco “especialistas” responsáveis pela regulação da aviação brasileira, incluindo normas de segurança dos passageiros.

O artigo 12 da Lei nº 11.182 de 2005 estabelece que os Diretores da ANAC devem comprovar “elevado conceito no campo de especialidade dos cargos para os quais serão nomeados”.

Mas as credenciais de Fenelon Júnior não parecem lá muito "elevadas": durante 18 meses – meses, não anos - ele fez dois estágios – sim, estágios – na procuradoria da ANAC e no juizado que auxilia passageiros com problemas no aeroporto de Brasília.

O grande trunfo do rapaz é ser genro do senador Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado. Dilma foi convidada de honra do casório, que ocorreu há dois meses e reuniu 1200 pessoas num rega-bofe histórico em Brasília. E o presente de casamento da presidenta foi um dos cargos máximos da aviação brasileira.

Uma nota, publicada no site da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (APPA) mostra a revolta dos profissionais do setor de aviação com a nomeação: "A possibilidade de nomeação política, baseada na mais asquerosa troca de favores partidários, é por nós, especialistas, veementemente repudiada".

Não adiantou. O genro do senador foi mesmo nomeado.

A partir de agora, toda vez que você pegar um avião, estará sob a responsabilidade de Ricardo Fenelon Júnior. Não dá uma reconfortante sensação de segurança?

Bom voo pra você.

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Técnico do Flamengo diz ser vítima de racismo… Será?

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Treino Flamengo Cristovao Borges SergioLANCEPress LANIMA20150602 0063 51 Técnico do Flamengo diz ser vítima de racismo... Será?

O técnico do Flamengo, Cristóvão Borges, acha que está sendo vítima de racismo.

Em entrevista à ESPN, o treinador disse:

Existem críticas exacerbadas que, por serem sistemáticas, viraram perseguição. E algumas com conotação racista sim (...) Começam com as críticas, as críticas insistentes, contínuas e diárias. Então ela vira perseguição e, no conteúdo de algumas dessas críticas, existem componentes racistas sim. Por exemplo, foi citado que o Flamengo, na hora de escolher o treinador, deixou de escolher o Osvaldo de Oliveira para escolher um do Pelourinho.

Li a “crítica” a que Cristóvão se refere. Ela está em textos do colunista do jornal “O Globo”, Renato Mauricio Prado. Em suas colunas, Prado, torcedor do Flamengo, cita um personagem fictício, “Bagá”, também torcedor fervoroso do time. Bagá chama Cristóvão de “Mourinho do Pelourinho” em referência ao treinador português José Mourinho, atualmente no Chelsea (Inglaterra) e considerado um dos maiores treinadores de futebol do mundo.

Sinceramente, não vejo racismo na coluna. Cristóvão é baiano de Salvador, por isso o “do Pelourinho”. A palavra começa por maiúscula, o que denota tratar-se do Pelourinho, bairro histórico de Salvador, não um "pelourinho" qualquer ("pelourinho" é uma coluna de pedra, geralmente colocada em local público, onde, no Brasil colonial, eram punidos criminosos e escravos rebeldes).

A escolha de palavras de Prado pode ter sido infeliz (talvez "Mourinho do Elevador Lacerda" não causasse tanta celeuma), mas é claramente uma brincadeira com a origem de Cristóvão, não com a cor de sua pele.

Respeito os sentimentos de Cristóvão e acredito que ele está sendo sincero ao reclamar do que considera racismo. Mas a verdade é que poucos treinadores do país têm sido tão elogiados pela imprensa e torcedores quanto ele, a despeito de seus resultados apenas medianos em campo.

Desde 2011, quando deixou de ser auxiliar e virou treinador, Cristóvão já trabalhou no Vasco, Bahia, Fluminense e Flamengo. Não ganhou nenhum título como treinador, mas sempre foi tratado com deferência. Se saísse hoje do Flamengo, conseguiria outro bom emprego em cinco minutos.

Como torcedor de um time – o Fluminense – treinado por Cristóvão, posso atestar que todas as críticas que ele recebia da torcida, que não foram poucas, resultavam de sua impressionante incapacidade de mexer no time durante os jogos e de montar uma defesa sólida. E outros treinadores – Abel, Renato Gaúcho, Luxemburgo, Ricardo Drubscky – foram tão ou mais criticados do que ele.

Em outro trecho da entrevista à ESPN, Cristóvão diz: "A tolerância comigo é diferente, sempre foi”.

Discordo novamente. A tolerância de times brasileiros com treinadores sempre foi e sempre será ridiculamente pequena. O Cruzeiro desmontou um time bicampeão brasileiro e depois despediu o técnico Marcelo Oliveira porque ele perdeu a Libertadores. O Botafogo demitiu Renê Simões com o time em primeiro lugar na Série B. Nosso futebol está cheio de exemplos de profissionais que foram mandados embora sem tempo de trabalhar adequadamente suas equipes.

No atual Campeonato Brasileiro, o Flamengo está em 13º lugar entre 20 times. É claro que a reação de torcedores e imprensa ao trabalho de Cristóvão não poderia ser das melhores.

Que existe racismo no futebol brasileiro, não há dúvida. É só ver o número desproporcional de treinadores brancos e negros. Isso precisa ser discutido. Mas ver Cristóvão usando o racismo para justificar as críticas que vem recebendo me parece errado.

O Flamengo foi campeão brasileiro em 2009 comandado por Andrade, um treinador negro que substituiu a Cuca, um treinador branco . Um dos técnicos mais queridos pela torcida do Flamengo é Jayme de Almeida, campeão da Copa do Brasil de 2013, que é negro.

Ao usar o racismo para se defender de críticas, Cristóvão abre um precedente perigoso: de agora em diante, todo comentarista, dirigente ou torcedor vai ter de pensar duas vezes antes de criticar um treinador negro. E isso é péssimo, porque cria dois pesos e duas medidas na avaliação do trabalho de um profissional. Treinadores devem ser avaliados exclusivamente por seus resultados e pela qualidade dos times que montam.

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Um dos grandes documentários dos últimos anos finalmente chega ao Brasil

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Em setembro do ano passado assisti ao documentário “Whitey – The United States vs. James Bulger”, de Joe Berlinger, e escrevi:

Assim como todos os outros filmes de Berlinger, “Whitey” não deve ser lançado no Brasil. A esperança é esbarrar no filme em algum canal a cabo durante uma noite insone, daqui a uns dois ou três anos.

É com alegria que digo que estava errado: o filme demorou só um ano pra chegar ao Brasil e está disponível no Netflix local.

“Whitey” conta a história do gângster James “Whitey” Bulger, um assassino sádico que reinou na região de Boston do início dos anos 1970 a 1994, quando sumiu de circulação e só foi capturado 17 anos depois.

Bulger foi a inspiração para o personagem de Jack Nicholson em “Os Infiltrados”, de Martin Scorsese.

 

 

E foi interpretado por Johnny Depp em “Black Mass”, que estreia em setembro nos EUA.

 

 

Sobre o filme de Joe Berlinger, escrevi aqui no blog, em 2014:

O tema central do documentário é o relacionamento de Bulger com o FBI. Há fortes indícios de que o criminoso era informante do FBI e que teria ajudado a polícia local a acabar com a máfia italiana na região de Boston, em troca de imunidade.  Sua fuga, em 1994, teria sido facilitada por agentes do governo americano.

Mas o filme de Berlinger levanta outra hipótese, ainda mais estarrecedora: Bulger não era informante, mas parceiro do FBI e da polícia local em todo tipo de crime: tráfico de drogas, extorsão, exploração de prostituição e jogos ilegais. Segundo alguns dos entrevistados, foi o próprio FBI que divulgou a suspeita de que Bulger era informante. Se ficasse comprovado seu relacionamento criminoso com o FBI, as famílias das 19 pessoas que ele matou, além das dezenas de comerciantes que extorquiu, poderiam processar o governo.

“Whitey” traz entrevistas com policiais, jornalistas, parentes das vítimas e com ex-parceiros de Bulger na gangue de Winter Hill, o grupo brutal que chefiou o crime organizado em Boston. O filme tem personagens fascinantes, como Bob Fitzpatrick, o lendário agente do FBI que participou de algumas das investigações mais importantes da agência (foi Fitzpatrick que achou o rifle que matou Martin Luther King e levou à prisão de James Earl Ray, além de ter chefiado o caso dos jovens ativistas mortos, contado no filme “Mississipi em Chamas”, e o caso de espionagem “Abscam”, contado no recente “A Trapaça”).

O filme é imperdível, assim como tudo que Joe Berlinger já dirigiu. Se achar, não perca “Brother’s Keeper” (1992), que ele fez em parceria com Bruce Sinofsky (morto em fevereiro de 2015), história de três irmãos miseráveis de uma área rural no estado de Nova York que são acusados de matar o quarto irmão, e os três filmes da série “Paradise Lost”, sobre o famoso caso ocorrido em West Memphis, no estado de Arkansas, quando três adolescentes foram presos injustamente pelo assassinato de três crianças em um suposto ritual de magia negra.

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Dez jóias esquecidas do pop brasileiro

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Para animar seu fim de semana, fiz uma lista de dez canções extraordinárias do pop brazuca e que andam sumidas das programações de nossas rádios. Aqui vai:

 

Tony Bizarro – Estou Livre (1983)

Funkão de encher qualquer pista, cortesia de Robson Jorge e Lincoln Olivetti.

 

Téo - O Novo de Hoje Já é Velho Aqui (1974)

O disco de estreia de Téo Azevedo, “Grito Selvagem”, é uma obra-prima do samba-rock-funk-soul brazuca. Ouça essa música e diga se não lembra, e muito, a mistura de ritmos que a Nação Zumbi faria 20 anos depois...

 

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Gerson King Combo – Pro Que Der e Vier (1978)

Essa música é completamente insana: começa com um baixão lúgubre e – juro – pós punk, à Gang of Four, com Gerson narrando um encontro com uma gata, e logo vira uma alegre baladinha de parque de diversões. Não achei o áudio original, mas procure que você acha.

 

Marcos Valle – Minha Voz Virá do Sol da América (1971)

Difícil imaginar um álbum pop mais criativo e inteligente que “Garra”, que Marcos Valle lançou em 71. E essa canção é a mais linda do disco, uma faixa instrumental arrebatadora.

 

As Exorcistas – Ho He Ho, Senhora Vandebilt (1974)

Mister Sam é gênio. Conseguiu juntar, num só compacto, Paul McCartney e o filme “O Exorcista”. Aproveitando o sucesso do filme de terror, Sam inventou o grupo feminino As Exorcistas e lançou um compacto com uma versão em português para “Mrs. Vandebilt”, do Wings.

 

Raul Seixas – Tapanacara (1977)

Não entendo como essa faixa, a primeira do álbum “O Dia em Que a Terra Parou”, não é lembrada quando se fala nos maiores clássicos do Maluco Beleza. É um petardo disco de primeira categoria com uma das letras mais engraçadas de Raulzito (“Randolph Scott que era um caubói retado...”) e tocada por um supergrupo de músicos do Azymuth e Banda Black Rio.

 

Walter Franco – Feito Gente (1975)

“Revolver” é um LP clássico do pop brasileiro, e “Feito Gente”, a pesada e genial faixa de abertura, é um heavy metal existencialista que só poderia ter saído da cabeça de Walter Franco.

 

Di Melo – Pernalonga (1975)

Em 1975, Di Melo lançou um LP que levava seu nome. Era um disco extraordinário, misturando samba-rock, funk e psicodelia (ouça a faixa “Conformópolis”), mas não vendeu nada. Di Melo tentou uma carreira de compositor (escreveu “Volta”, gravada por Wando), mas acabou desanimando da música e sumiu por mais de 30 anos. Disseram até que tinha morrido. Mas o homem está vivinho da silva.

 

Arthur Verocai – Na Boca do Sol (1972)

Outro grande músico brasileiro que lançou um disco estupendo – “Arthur Verocai”, de 1972 – não vendeu quase nada, e sumiu por anos até ser redescoberto nos Estados Unidos. Veja que beleza essa versão ao vivo de “Na Boca do Sol”...

 

Baiano e os Novos Caetanos – Urubu Tá com Raiva do Boi (1974)

A música mais conhecida desse projeto de Chico Anysio e Arnaud Rodrigues era “Vô Batê Pa Tu”, mas sempre preferi essa, um xote hilariante que mistura urubus, bois e “os sete pecados industriais”. Chico Anysio era o cara.

E um bônus: The Bubbles, em 1969, tocando "The Space Flying Horse and Me", com o grande Renato Ladeira nos teclados e voz. Renato nos deixou na quarta-feira, aos 63 anos. The Bubbles, ou A Bolha, foi uma das bandas mais importantes do pop brasileiro dos anos 60, acompanhando Jards Macalé, Raul Seixas, Erasmo Carlos e Gal Costa, entre outros. Renato também foi um dos integrantes do Herva Doce, que fez grande sucesso nas FMs brasileiras nos anos 80. Minhas condolências aos parentes, amigos e fãs desse cara importante.

Bom fim de semana a todos.

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Sly and the Family Stone: a máquina do som

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Já escrevi aqui no blog sobre alguns “box sets” de CDs que são tão extensos e completos que se tornam repetitivos e acabam interessando só a colecionadores obsessivos.

Mas acaba de sair uma caixa de quatro CDs em que todos são imperdíveis, apesar de trazerem algumas canções repetidas: “Live at the Fillmore East – October 4th & 5th, 1968”, de Sly and the Family Stone.

A caixa reúne a íntegra de quatro shows da banda – dois por dia - no lendário clube Fillmore East, de Bill Graham.

E que banda: liderada pelo multi-instrumentista e gênio de estúdio Sly Stone, tinha seu irmão, Freddie Stone (guitarra e vocais), a irmã Rose (teclados e voz), Larry Graham (baixo e voz), Greg Errico (bateria), Cynthia Robinson (trompete) e Jerry Martini (sax). Um supergrupo multirracial cuja música unia funk, soul, rock, blues e psicodelia.

Naqueles shows, Sly e banda abriram para Eric Burdon & the Animals (poucas semanas antes, haviam tocado no mesmo local com The Jimi Hendrix Experience).

As gravações dessas noites no Fillmore East permaneceram inéditas até poucos meses atrás, quando uma versão selecionada do material foi lançada na Record Store Day. Agora sai a caixa completa.

E quão espetacular era a banda? Basta ler a opinião de Herbie Hancock, publicada na última edição da revista “Uncut”: “Me chamavam de grande músico de jazz, mas eu não conseguia tocar funk daquele jeito. Os ritmos, a troca entre a batida e o baixo (...) não parecia com nada que eu já havia escutado. Levei três ou quatro anos para chegar ao nível de entender o que Sly estava fazendo”.

Estamos falando de Herbie Hancock, que em 1968 já tinha tocado com um pessoalzinho mequetrefe como Miles Davis, Wayne Shorter e Ron Carter...

Voltando a Sly Stone: quando gravou o disco, ele tinha só 25 anos, mas já era um veterano da cena musical de São Francisco, apresentando um influente programa de rádio e compondo e produzindo sucessos para vários artistas de pop e soul.

Um mês depois dos shows no Fillmore, a banda de Sly lançou o compacto “Everyday People”, seu primeiro grande sucesso comercial (chegou a número 1 nas paradas norte-americanas) e emendou com o LP “Stand!”, em maio de 1969, um triunfo de vendas.

Talvez o sucesso desses lançamentos tenha feito a banda deixar de lado as gravações do Fillmore East. E depois que eles arrebentaram com a concorrência no festival de Woodstock, em agosto de 1969, o que resultou na inclusão das faixas “Dance to the Music” e “I Want to Take You Higher” no disco oficial do festival, aí é que ninguém lembrava mais as gravações de 1968.

Felizmente, podemos ouvir agora a íntegra desses shows, tão curtos quanto intensos. E imaginar que houve um tempo em que era possível ver Sly Stone abrindo pra Jimi Hendrix...

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EDC vs. Tomorrowland: chega ao Brasil a guerra corporativa da música eletrônica

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No início do mês começou a venda de ingressos para o EDC (Electric Daisy Carnival), um grande festival de música eletrônica que acontece em dezembro em São Paulo. Uma recente edição em Las Vegas atraiu cerca de 350 mil pessoas em três dias.

Já outro festival, o Tomorrowland, cuja primeira edição brasileira aconteceu em maio em Itu, anunciou que voltará ao Brasil em abril de 2016.

Apesar de vendidos ao público como eventos “alternativos” e de “espírito jovem”, EDC e Tomorrowland são a face mais corporativa e dominadora da música eletrônica mundial.

Os dois festivais têm origens parecidas: no início dos anos 1990, o holandês Duncan Stutterheim e o norte-americano Pasquale Rotella começaram a organizar pequenas raves e festas em seus países de origem. Stutterheim depois fundaria a promotora ID&T e criaria o festival Tomorrowland, enquanto Rotella criaria a empresa Insomniac e o festival EDC.

Os dois acabariam trabalhando para pesos-pesados da indústria cultural: em 2013, Stutterheim vendeu a ID&T por 130 milhões de dólares (450 milhões de reais) para a gigante SFX, uma das maiores produtoras de eventos de música eletrônica do mundo e dona do site de venda de músicas Beatport (Stutterheim anunciou sua saída da ID&T em abril).

Já Rotella vendeu – por supostos 50 milhões de dólares (174 milhões de reais) – metade da Insomniac para a gigante Live Nation, um conglomerado que controla cerca de 300 arenas, teatros e clubes em todo o mundo, agencia cerca de 250 artistas (incluindo Madonna, Jay-Z e Eagles) e promove turnês de U2, Rolling Stones, Madonna, Police, Christina Aguilera, Jonas Brothers e outros.

Nos últimos anos, gigantes da indústria do entretenimento têm comprado diversas empresas e marcas ligadas à música eletrônica. A Live Nation adquiriu clubes e marcas como Cream e Hard. Já a SFX comprou a Disco Donnie Presents e Life in Color, duas promotoras de eventos conhecidas na cena da música eletrônica.

Acabei de ler um livro muito interessante, “The Underground is Massive – How Electronic Dance Music Conquered America”, de Michelangelo Matos, sobre a história da música eletrônica nos Estados Unidos e sua transformação corporativa no meio dos anos 2000.

Matos explica que a indústria do entretenimento percebeu que poderia criar uma cena nova de música eletrônica nos Estados Unidos. O primeiro passo foi a criação de um termo, "EDM" (Electronic Dance Music), uma maneira de simplificar as ortodoxias de estilos existentes e congregar tudo num nome só. Se era difícil para o público leigo entender as diferenças entre house, techno, trance, dubstep e electro, por que não chamar tudo de “EDM”?

A cena de EDM virou uma mina de ouro. Promotores perceberam que era muito mais rentável bookar DJs do que bandas: os custos eram menores, o faturamento de bar era infinitamente maior e os patrocinadores, especialmente marcas de bebidas e energéticos, adoraram.

Matos diz que o momento de epifania da indústria musical em relação ao EDM aconteceu em 2006, quando o Daft Punk fez um show histórico no festival Coachella. No mesmo evento, se apresentaram Madonna e Kanye West.

O impacto do Daft Punk foi tão grande que, poucos dias depois do Coachella, Kanye West pediu permissão para usar um “sample” de “Harder, Better, Faster, Stronger”, do Daft Punk, e fez a canção “Stronger”, que chegaria a número 1 na parada da “Billboard” e ganharia um Grammy.

Produtores de música pop começaram a trabalhar com os nomes mais populares do EDM: Skrillex remixou Lady Gaga e Bruno Mars; Diplo gravou com M.I.A., Britney Spears, Beyoncé e Madonna; Deadmau5 fez música para videogames, Axwell, do Swedish House Mafia, remixou Usher e Madonna, e David Guetta trabalhou com Madonna, Akon e Little Wayne.

Ano passado a revista “Forbes” fez uma lista dos DJs mais bem pagos do mundo. O escocês Calvin Harris, colaborador de Rihanna, ficou em primeiro lugar, com mais de 60 milhões de dólares de faturamento.

EDM virou o novo pop, um gênero feito para adolescentes. E as músicas mais famosas em eventos como EDC e Tomorrowland são 100% poperô. É só pegar a parada de EDM e conferir. Essa semana, o primeiro lugar é isso aqui, cortesia de Diplo (413 milhões de visualizações no Youtube!):

E o segundo lugar é mais uma “criação” de Diplo em parceria com Skrillex, com Justin Bieber no vocal:

Os megafestivais de EDM misturam estéticas de Cirque de Soleil, Disneylândia, Las Vegas e parques de diversões a temas místicos que remetem a duendes, RPG e contos de fadas, tudo embalado como uma “experiência” de interação com a natureza. Veja o filme oficial do Tomorrowland Brasil:

Bom EDC pra vocês...

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Muse: expandindo os limites do ridículo

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muse1 Muse: expandindo os limites do ridículo
Tenho fé: um dia desses, Matt Bellamy, líder do Muse, vai reunir a imprensa, dar uma imensa gargalhada e dizer que tudo não passou de um trote. Chorando de rir, vai revelar o que muitos já desconfiavam: que o Muse não passava de uma piada, um projeto satírico onde ele usava todos os excessos do rock de arena dos anos 70 para tentar criar a banda mais ridícula da história do pop. Um Spinal Tap em carne e osso.

Não é possível que alguém veja essa capa e não perceba que Bellamy é um brincalhão:

lp1 Muse: expandindo os limites do ridículo

Faz muito tempo que a música pop não vê uma capa de disco tão bonita e moderna. Na galeria de arte do rock, ela não deve nada a essa belezinha...

lp2 Muse: expandindo os limites do ridículo

Ou a essa...

lp3 Muse: expandindo os limites do ridículo

Ou ainda a essa:

lp5 Muse: expandindo os limites do ridículo

“Drones” é o sétimo disco de estúdio do Muse. É um álbum conceitual sobre um assunto que vem tirando o sono de Bellamy: o drone.

Sim, Matt Bellamy está obcecado por drones. Ele não suporta mais a ideia de viver em uma sociedade controlada por esses objetos malignos e resolveu dar um basta na situação. “O mundo é controlado por drones que usam drones para nos transformar em drones”, disse.

Para provar, Bellamy fez um disco inteiro que parece ter sido composto, tocado, produzido e gravado por drones.

Em uma entrevista à BBC, o gênio afirmou: “É possível fazer coisas pavorosas por controle remoto, a uma grande distância, sem sentir nenhuma das consequências ou mesmo sentir-se responsável por nada.” A frase define bem o trabalho do Muse.

O novo disco foi produzido por Robert “Mutt” Lange, um ás de estúdio dos anos 70 e 80 que fez só “Highway to Hell” e “Back in Black”, do AC/DC, antes de trabalhar com Michael Bolton, Maroon Five, Nickelback e Muse e se esconder de vergonha por 30 anos numa floresta da Suíça, contando dinheiro e sem dar uma entrevista sequer.

Voltando ao disco: para transmitir ao planeta sua preocupação com os drones, Matt Bellamy criou videoclipes que são verdadeiras obras-primas da paranóia bélica. Achei interessante como ele incluiu nos vídeos suas letras, tão profundas e complexas, certamente para facilitar o processo de entendimento pelo ouvinte. Veja esse:

E esse aqui, com um começo à “Full Metal Jacket”, de Stanley Kubrick:

Vá em frente, Matt, que a música seria bem menos engraçada sem você.

P.S.: Estarei fora hoje até o meio da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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Heróis anônimos do pop

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O Netflix gringo exibe o documentário “The Wrecking Crew”, de Danny Tedesco.

“Wrecking Crew” (“Equipe de Demolição”) era o apelido dado a um grupo de músicos de estúdio que dominou a cena musical de Los Angeles entre meados da década de 50 e o início dos anos 70.

Ninguém sabe ao certo quantos músicos faziam parte do grupo – estimativas variam de 15 a 30 – mas alguns dos principais nomes eram os guitarristas Tommy Tedesco, Glen Campbell, Al Casey e Bill Pitman, os bateristas Hal Blaine e Earl Palmer, os saxofonistas Plas Johnson e Steve Douglas e os baixistas Carol Kaye e Larry Knechtel.

Por uns 15 anos, essa turma dominou os estúdios de gravação na capital da indústria do entretenimento nos Estados Unidos, gravando discos de Beach Boys, Frank Sinatra, Sonny and Cher, Simon & Garfunkel, Nat King Cole, Herb Albert, The Mamas & the Papas, Carpenters, Monkees, Neil Diamond e quase todo o pop americano.

O baterista Hal Blaine calcula ter gravado mais de 35 mil músicas em sua carreira; Plas Johnson gravou o tema da “Pantera Cor de Rosa”, de Henry Mancini; Carol Kaye gravou a guitarra de “La Bamba” e o baixo de “Good Vibrations” (veja um trecho do filme sobre a gravação deste clássico dos Beach Boys):

Músicos de estúdio não costumavam receber créditos nos discos, o que os tornaram verdadeiros heróis anônimos do pop. O grande público não tinha a menor ideia de quem era Hal Blaine, mas conhecia centenas de músicas famosas que ele havia gravado.

O surgimento da profissão de músico de estúdio só foi possível por causa do crescimento absurdo da indústria musical nos anos 1950. Com o aparecimento do rock’n’roll e a explosão do mercado de música para jovens, as gravadoras começaram a inundar as lojas com discos para aproveitar o apetite teen por músicas alegres e dançantes. E ter um time como o Wrecking Crew, capaz de gravar um disco inteiro em um dia, era uma vantagem imensa.

O ritmo de trabalho dos músicos era intenso. O guitarrista Bill Pitman conta que não era incomum fazer três sessões por dia, de manhã, à tarde e à noite, em diferentes estúdios da cidade.

Os caras gravaram tanto que nem lembram todas as sessões de que participaram. O guitarrista Tommy Tedesco conta no filme: “É comum alguém chegar pra mim e perguntar sobre meu trabalho em determinado disco, e eu não ter a menor ideia do que ele está falando.”

Isso não acontecia só nos Estados Unidos, mas no Brasil também. Por aqui, alguns dos músicos de estúdio mais procurados faziam parte de bandas como Os Carbonos, Fevers, Renato e seus Blue Caps, Roupa Nova, Azymuth e Banda Black Rio. Entrevistei alguns desses músicos para meu livro “Pavões Misteriosos”, e eles disseram a mesma coisa: os arranjadores chegavam ao estúdio com as partituras e os músicos nem sabiam para quem estavam gravando determinada canção.

Raul Carezzato, dos Carbonos, contou que em 1969 gravou uma música para o maestro Rogério Duprat. Meses depois, ouviu a música no rádio. Era “Que Pena”, de Jorge Ben, lançada em um disco de Gal Costa.

Na Inglaterra isso também era comum. Um dos guitarristas mais ocupados em estúdios ingleses na primeira metade dos anos 1960 foi Jimmy Page. “Naquela época a gente gravava e nem sabia de quem era a música. As sessões eram ininterruptas, uma depois da outra, sem intervalo. Nem eu tenho a lista de tudo que gravei e, sinceramente, não lembro muita coisa. Posso estimar quantas são. São muitas, posso garantir. Fiz isso por três anos seguidos, três sessões de gravação por dia”, disse Page.

Ele conta um episódio curioso: “Outro dia eu estava ouvindo a BBC e eles tocaram uma canção. Eu disse: ‘Meu Deus, sou eu que estou tocando!’ Era ‘I’ve Got Everything You Need, Babe’, de Bern Elliot & the Fenmen’. Então eu certamente gravei essa canção, porque sou eu sem sombra de dúvida.”

Voltando ao Wrecking Crew: a época de ouro dos músicos de estúdio durou até o início dos anos 1970, quando surgiu a onda dos cantores-compositores – James Taylor, Carole King, Neil Young, etc. – e gravadoras passaram a investir mais em artistas “autênticos”, que tocavam as próprias músicas e tinham suas próprias bandas. Gente como Tommy Tedesco e Plas Johnson passaram a trabalhar em cinema, TV e publicidade.

Foi o fim de uma era.

P.S.: Estarei fora hoje até o meio da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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