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Filme busca o Daft Punk por trás das máscaras

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A BBC – sempre ela – produziu o primeiro documentário sobre o duo eletrônico francês Daft Punk. Dirigido por Hervé Martin-Delpierre, o filme se chama “Daft Punk Unchained” e pode ser encontrado no Cine Torrent, com legendas em português.

Para um grupo tão inventivo, o documentário é bem careta. Martin-Delpierre conta a história do Daft Punk cronologicamente, começando na infância de Thomas Bangalter e Guy-Manuel De Homem-Christo, passando pela banda de rock que os dois formaram ainda adolescentes – Darlin – a descoberta da música eletrônica, as primeiras experiências em raves e a formação do Daft Punk, primeiro como um duo de DJs/produtores e depois reencarnados em dois robôs, sem mostrar os rostos.

Já escrevi bastante aqui no blog sobre o Daft Punk e sua importância.

Aqui, um texto sobre a vitória deles no Grammy com o álbum “Random Access Memories”, e aqui um sobre os 20 anos de aniversário do lançamento de “Da Funk”, primeiro grande sucesso da dupla.

Acho o Daft Punk um dos nomes mais importantes e influentes da história da música eletrônica, lado a lado com Kraftwerk, Giorgio Moroder, Derrick May e Tom Moulton, entre outros. Mas assistir ao filme revelou, para mim, uma faceta da dupla que eu não conhecia: a maneira irrepreensível como eles planejaram e executaram todos os passos da carreira.

Filhos de famílias ricas, Bangalter e Homem-Christo foram extremamente bem orientados pelos pais nos tratos com gravadoras e agentes, e conseguiram assinar contratos que lhes garantiam liberdade criativa absoluta. O pai de Thomas, Daniel Vangarde, foi um famoso produtor de discoteca nos anos 70, responsável por hits como “D.I.S.C.O.”, do Ottawan (e como revelou meu chapa Lúcio Riberio – leia aqui – tem uma pizzaria na Bahia e mora em BH).

O Daft Punk sempre fez o que quis, da maneira que quis. Desde o primeiro disco, “Homework” (1997), nunca mostrou seus discos para a gravadora antes de terminá-los e concebeu todas as campanhas publicitárias de seus lançamentos.

Algumas foram geniais: para lançar “Random Access Memories” (2013), a dupla mandou colocar outdoors em todo o caminho de Los Angeles até o festival Coachella e exibiu no telão um vídeo de dois minutos antes do show do grupo Yeah Yeah Yeahs. Veja:

Aqui, a reação da plateia do Coachella vendo o clipe pela primeira vez:

“Daft Punk Unchained” não traz entrevistas novas com a dupla, mas tem depoimentos de gente como Nile Rodgers, Michel Gondry, Pharell Williams, Giorgio Moroder, Pete Tong e Paul Williams. As cenas de arquivo e imagens de shows são fantásticas.

O ponto baixo fica para a participação de Kanye West, que parece não ter percebido que o filme não era sobre ele.

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“All That Jazz” é obra-prima de Bob Fosse

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O horário é péssimo, mas, acredite, o esforço valerá a pena. A HBO Plus exibe na madrugada de sábado, às 4h30 (veja outros horários aqui) o filme “All That Jazz” (1979), de Bob Fosse. É uma chance rara de ver um dos melhores filmes dos anos 70 e lembrar a genialidade de um cineasta de que pouco se fala hoje em dia.

Fosse (1927-1987) foi coreógrafo, dançarino, ator e roteirista. Dirigiu cinco filmes, sendo que pelo menos quatro são extraordinários: “Cabaret” (1972), “Lenny” (1974), “All That Jazz” (1979) e “Star 80” (1983). “Lenny” é um de meus filmes prediletos, e escrevi aqui no blog sobre “Star 80” (leia aqui).

“All That Jazz” é uma história autobiográfica sobre a vida de Fosse enquanto editava “Lenny” e, simultaneamente, montava a produção do musical “Chicago” na Broadway. Roy Scheider (“Tubarão”) interpreta Joe Gideon, alter ego de Fosse, um coreógrafo e cineasta viciado em fama, mulheres, sexo e drogas.

Como a maioria dos filmes de Fosse, a trama intercala temas como a busca pela fama, a vacuidade de Hollywood e o culto a celebridades a sequências oníricas de puro surrealismo e inventividade, sempre coreografadas com maestria.

A primeira sequência do filme é primorosa, quase oito minutos sem diálogos mostrando o processo de seleção de dançarinos para um musical. A montagem (de Alan Heim, parceiro habitual de Fosse) e a maneira como Fosse usa o som e coreografa suas cenas deveriam ser estudados em escolas de cinema.

Em “All That Jazz”, Fosse lida com a própria mortalidade e, de certa forma, antecipa o que iria acontecer com ele oito anos depois, quando morreria de um enfarte fulminante, aos 60 anos.

O filme marcou muita gente. Stanley Kubrick chegou a dizer que era um dos melhores filmes que havia visto. No documentário “A Personal Journey Through American Movies” (1995), Martin Scorsese destacava “All That Jazz” (veja a partir de 13m25s)

E aqui, um depoimento de Fosse, incluído nos extras de “All That Jazz” lançado pela Criterion:

Um maravilhoso fim de semana a todos.

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Lionel Richie: “O amor nunca sai de moda!”

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Fiz uma entrevista com grande Lionel Richie para a “Folha” (leia aqui).

Richie, 66, estreou ontem sua nova turnê brasileira, no Teatro Positivo, em Curitiba. As datas incluem ainda Rio de Janeiro (8 de março, na HSBC Arena) e São Paulo (9 de março, no Ginásio do Ibirapuera). É a segunda turnê brasileira do cantor, que já esteve por aqui em 2010.

Como o papo não coube todo no texto, aqui vai a íntegra:

Em 2010 o senhor tocou pela primeira vez no Brasil e volta agora, seis anos depois. Como será o repertório dessa nova turnê em comparação com a de 2010?
Sim, você está certo, aquela foi minha primeira vez no Brasil. Eu disse, à época, que havia demorado demais para ir ao Brasil, e era verdade. Agora volto, seis anos depois, e não acredito que estarei no Brasil. Eu amo o Brasil, amo as pessoas, a comida, a música e a diversão. O Brasil é contagiante. Sempre me pergunto por que demoro tanto a voltar!

E o repertório? Terá algumas surpresas?
Olha, com certeza vamos adicionar mais músicas, mas não é uma tarefa fácil fazer o repertório de meus shows. Tenho duas horas e meia a três horas de canções que todo mundo conhece e quer ouvir no show, então selecionar o setlist perfeito é muito difícil. E o público quer ouvir aquelas mesmas canções de novo e de novo, as pessoas nunca cansam de ouvir suas preferidas. Ninguém me perdoaria se eu deixasse de fora “Three Times a Lady”, “Hello”, “Say You, Say Me”, “Easy” ou “All Night Long”: Mas a maior surpresa nunca é o show que fazemos no palco, mas a plateia cantando todas as canções junto comigo. Meu show é como um karaokê gigante!

Seu álbum mais recente, “Tuskegee”, chegou a número 1 das paradas norte-americanas. O senhor ficou surpreso com isso?
Falando do ponto de vista de um artista que ama ter músicas no número um das paradas, posso dizer que já esperava, porque acreditava no disco, mas quando ele chegou a número 1 e ficou no topo por algumas semanas, foi a cereja no bolo. E pelo fato de ser um álbum de country, com duetos com artistas de country [o disco traz antigos sucessos de Richie em duetos com 13 artistas famosos da música country norte-americana, como Shania Twain, Willie Nelson e Blake Shelton], nos fez chegar ao topo da parada de música country, que tal? Isso mostra que música não deve ser colocada em categorias. Se o público gosta das músicas, vai comprar, não interessa se é country, música clássica, jazz ou pop. O que importa são as melodias. E se o povo gostar das melodias, vai comprar seu disco.

O senhor passou por inúmeras fases da indústria musical, dos dias de glória da Motown à era do Spotify. O que mudou na indústria nesse tempo?
A única coisa que mudou de verdade é que não podemos mais monetizar a composição de canções. Hoje, se você é só o compositor, não ganha nada. É uma tragédia não poder viver mais da venda de discos. Quando jovens artistas me pedem dicas de carreira eu tento explicar que sou um compositor, mas também sou um artista e posso cantar em meus shows, e é assim que sobrevivo. Nesse novo modelo, é difícil monetizar seu talento como compositor, e isso me preocupa. Gostaria que os jovens compositores tivessem as mesmas oportunidades que eu tive.

Em 2015, o senhor fez um show memorável no festival de Glastonbury, na Inglaterra. Como foi?
Aquilo foi uma festa-surpresa para Lionel Richie! Não tinha ideia de que 150 mil pessoas iam aparecer, tanta gente vestida como eu, tantos penteados afro na plateia. Antes do show, disseram que ia cair um temporal e que seria o show mais enlameado da história. Cheguei lá, o sol estava brilhando, havia 150 mil pessoas, um monte de gente vestida que nem eu, e as 150 mil pessoas cantaram todas as músicas. Nunca vou esquecer esse show. O público era muito diversificado, havia fãs de sete a setenta, todo mundo cantando e dançando. Foi provavelmente o maior tributo à minha carreira que já recebi.

Li que o senhor é muito popular em países árabes, e que planeja um dia se apresentar em Bagdá...
Sim, é verdade. Nos anos 70, 80 e 90, minha música chegava muito ao Oriente Médio, mas eu não sabia como tinha chegado lá. Não tocava em rádios árabes, mas tornou-se incrivelmente popular. Isso ainda me surpreende. Toda vez que vou a Abu Dhabi ou Dubai, as pessoas me contam histórias de como casaram ouvindo minhas músicas, iam à escola ouvindo minhas músicas e aprenderam inglês ouvindo minhas músicas, Espero um dia, assim que as situações de conflito no Oriente Médio acalmarem, poder tocar em Bagdá e outras cidades. Tenho muitos fãs que vivem em áreas que estão passando por guerras ou conflitos, e amaria tocar para eles. Meus fãs árabes merecem.

Recentemente, tivemos a última edição do Grammy. Que artistas jovens lhe impressionam?
Acho que Adele tem feito um trabalho incrível, e chegou ao ponto da carreira em que é muito reconhecida. Bruno Mars é outro artista muito bom. E Kendrick Lamarr está surgindo como um rapaz de enorme talento. Também tenho de dizer que Demi Lovato me impressionou com sua versão de “Hello”, ela arrasou na gravação. No mundo da música country temos Luke Bryan, que é muito talentoso. Ah, e não poderia esquecer The Weeknd. Vamos dar mais três álbuns para ele e ver do que é capaz...

O que o senhor acha da música pop contemporânea?
Passamos por um período, há alguns anos, em que tudo era basicamente sampleado de músicas antigas, e com isso perdemos um pouco a criatividade. Era uma solução esperta, mas os artistas estavam tomando emprestado de músicas originais e perdemos a noção do que era original e novo. Mas acho que estamos voltando ao ponto de vermos artistas criativos, e não artistas criados. Weeknd, Bruno Mars e Adele estão escrevendo suas próprias músicas. Elas podem ter o clima e o sentimento de canções antigas, mas são criações novas, e isso é muito bom.

Como sua música sobreviveu e continuou tão popular por todos esses anos?
Minha música fala de acontecimentos do dia a dia e traz histórias e frases que nunca sairão de moda. Dizer “I love you” (“Eu te amo”) nunca sairá de moda, ou “Please don’t leave”(“Por favor não vá”), “All night long” (“a noite toda”), “Easy like Sunday morning” (“Tranquilo como uma manhã de domingo”). São frases que você diz todo dia de sua vida, de alguma forma. Essas histórias ainda se aplicam hoje e se aplicarão por gerações e gerações. Lembre-se: o amor nunca sai de moda!
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P.S.: Estarei em viagem hoje e amanhã. O blog volta com um texto inédito na quarta, dia 9. Até lá.

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Cadê a lista de filmes destruídos no incêndio da Cinemateca? (e R.I.P. George Martin e Naná Vasconcelos)

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film reel Cadê a lista de filmes destruídos no incêndio da Cinemateca? (e R.I.P. George Martin e Naná Vasconcelos)No dia 3 de fevereiro, um incêndio na Cinemateca Brasileira destruiu centenas de rolos de filmes.

De acordo com a Cinemateca, que guarda cerca de 44 mil títulos em sua coleção, o incêndio destruiu um dos quatro depósitos no galpão onde são guardados rolos de filmes feitos de nitrato, uma substância inflamável usado em películas cinematográficas até os anos 1950.

O secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC), João Brant, disse em uma rede social: “Ao que parece, todos os rolos já tinham sido duplicados, o que garante que o conteúdo não se perca”.

A assessoria de imprensa do MinC afirmou que até 80% dessas obras já tinham cópias de segurança.

Afinal, quem está falando a verdade? Havia cópias de “todos” os rolos, como diz João Brant, ou de 80%, como diz o MinC?

Alguém acredita no que diz o MinC?

Poucas horas depois do incêndio, em uma entrevista coletiva, a coordenadora geral da Cinemateca, Olga Futemma, disse que sua equipe disponibilizaria em até dez dias uma lista completa de todos os filmes destruídos.

Passado mais de um mês do incêndio, ninguém viu a tal lista.

Escrevi para a Cinemateca cobrando a lista. Resposta:

Seguimos trabalhando na lista dos rolos de filmes em nitrato de celulose, que foram afetados no incêndio ocorrido no dia 03 de fevereiro. A divulgação será feita oficialmente pela Secretaria do Audiovisual e pela Cinemateca Brasileira. Pedimos que aguarde essa manifestação, que deverá ocorrer em breve.

Continuarei solicitando a lista a cada 15 dias até que a Cinemateca se manifeste.

Acho importante que cinéfilos cobrem a lista da Cinemateca. Temos o direito de saber que filmes foram perdidos para sempre.

Mais importante ainda é cobrar do governo apoio à Cinemateca e a todas as entidades responsáveis pela preservação de filmes no país. A situação é catastrófica.

R.I.P. GEORGE MARTIN

Fiz hoje de manhã um texto para a "Folha" sobre a importância de George Martin (leia aqui). E peço desculpas, mas não terei condições de escrever sobre o grande Naná Vasconcelos devido a compromissos profissionais que vão tomar o dia (na verdade, a semana toda). Por isso, sugiro a leitura do excelente texto de meu colega Carlos Calado (aqui).

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George Martin: a máquina do som

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george martin 81 140634c George Martin: a máquina do somSe alguém pode ser considerado o “Quinto Beatle”, certamente foi George Martin, o produtor, arranjador, maestro e compositor que ajudou a banda a gravar algumas de suas melhores canções (leia aqui um texto que fiz na “Folha” sobre Martin, que morreu terça, aos 90 anos).

Martin foi um bruxo de estúdio, um gênio maluco que usou seu amplo conhecimento de música clássica, música de vanguarda, música eletrônica e experimentalismos dos mais variados para criar algumas das canções mais importantes da música pop. Aqui vão sete delas, que escolhi para a “Folha”:

"A Day in the Life" (1967)
Martin fez o que nenhum arranjador faz: pediu para sua orquestra de 40 músicos tocar caoticamente, cada músico em completa falta de sintonia com os colegas. Depois gravou essa bagunça quatro vezes e empilhou tudo em uma única faixa, dando a impressão de 160 instrumentos gritando em direções diferentes. Era a impressão de caos que a faixa pedia.

"Being for the Benefit of Mr. Kite" (1967)
Para obter a estranheza e ambientação de parque de diversões que John Lennon queria para essa música, Martin gravou cerca de 60 fragmentos de sons de órgão, mandou cortar as fitas em pedaços, jogou todas para o alto e colou tudo sem a menor preocupação com sequência.

"I Am the Walrus" (1967)
O coral de 16 pessoas foi instruído a cantar gritos e frases sem sentido, para adicionar ao clima anárquico da música de John Lennon.

"Tomorrow Never Knows" (1966)
Sons de gaivota, a voz de Lennon captada de um alto-falante de teclado e guitarras gravadas de trás para frente compõem a cacofonia psicodélica desse clássico. As "gaivotas", na verdade, eram uma risada de Paul gravada de trás para frente.

"Strawberry Fields Forever" (1967)
A faixa foi gravada duas vezes, em versões de velocidades e tons diferentes. Martin juntou as duas, reduzindo a velocidade de uma delas.

"Eleanor Rigby" (1966)

Martin não só fez um brilhante arranjo de cordas, mas teve a ideia de colocar os microfones muito próximos dos violinos, violas e cellos —oito no total— para captar um som mais "duro" e realçar a angústia da canção mórbida de McCartney, certamente uma de suas letras mais tristes.

"Goldfinger" (1964)
George Martin produziu essa obra-prima —vjunto com o coautor da faixa, John Barryv — para o tema do filme "Goldfinger", do agente James Bond. A vox é de Shirley Bassey e o guitarrista, não creditado, foi um jovem prodígio de 20 anos chamado Jimmy Page.

Tão importante quanto admirar pela enésima vez as bruxarias de estúdio de George Martin é entender o papel fundamental que ele teve na evolução do conceito de produtor musical.

Martin deu sorte de pegar uma banda jovem e talentosa num período – o início dos anos 60 – quando as tecnologias de gravação começavam a permitir voos criativos mais ambiciosos. Até surgirem gênios como Martin e Joe Meek na Inglaterra e Phil Spector e Brian Wilson nos Estados Unidos, o papel do produtor era, basicamente, captar o artista da mesma forma como ele soava ao vivo.

Mas Martin queria mais. Ele trabalhou anos na gravação de álbuns de comediantes como Peter Sellers e Spike Milligan, que vinham do rádio e adoravam experimentar com sons e efeitos. Quando encontrou Lennon e McCartney, dois gênios que sabiam ouvir conselhos, achou os parceiros perfeitos para engendrar uma mudança radical na forma de gravar discos.

Com os Beatles, Martin usou um arsenal vastíssimo de experimentações: manipulou a velocidade de fitas, gravou sons de trás pra frente, adicionou gravações de diálogos, testou diferentes tipos de microfones para diferentes objetivos, enfim, fez tudo que não estava no manual.

Eram outros tempos. Bandas ainda ganhavam a maior parte de seu dinheiro com a venda de discos. Não havia a facilidade de viagens aéreas e transporte global de hoje, e turnês não eram tão extensas.
Depois que os Beatles pararam de fazer turnês, em 1966, a banda e Martin mergulharam de cabeça nos experimentalismos sônicos que resultariam em álbuns clássicos como “Rubber Soul” (1965), “Revolver” (1966) e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967). Do outro lado do Atlântico, Brian Wilson fez o mesmo: ficou no estúdio compondo e gravando “Pet Sounds” (1966), enquanto sua banda, os Beach Boys, tocava mundo afora.

O sucesso deu a Martin carta branca para fazer o que bem quisesse. É incrível pensar que o produtor da maior banda do mundo tinha liberdade total da gravadora para tentar coisas novas e transgressoras, e que os Beatles nunca se acomodaram e sempre buscaram novos caminhos.

Se a lógica de mercado fosse imposta a discos complexos como “Sgt. Pepper’s”, com suas músicas estranhas, orquestrações inusitadas e letras aparentemente sem sentido, o disco nunca teria saído daquela maneira. Felizmente, o fim dos anos 60 foi um período único na história do pop, em que gravadoras – as melhores, pelo menos - ainda não tentavam controlar totalmente seus artistas e confiavam em gente como George Martin.

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Mojica, 80

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mojica Mojica, 80José Mojica Marins dirigiu mais de 40 filmes, apresentou programas de TV e teve seu próprio gibi. Mas sua maior obra é mesmo sua vida.

Filho de um toureiro/gerente de cinema e de uma dona de casa/cantora de tangos, nasceu na Vila Mariana, em 13 de março de 1936. Uma sexta-feira 13.

Aos oito anos, ganhou uma câmera 8 mm e começou a fazer filmes com os amiguinhos do bairro. Aos 13, fez seu primeiro filme de terror. Seu estúdio era um galinheiro em Vila Anastácio, bairro proletário paulistano onde ficava o Cine Santo Estevão, pequeno cinema gerenciado por seu pai. A família morava nos fundos do cinema. Foi lá que José viu os clássicos de terror da Universal, viu Drácula, Frankenstein e o Lobisomem, viu Bela Lugosi, Boris Karloff e Lon Chaney, Buck Rogers, Chaplin e lindas histórias de caubóis que atiravam em índios.

“Naquela época, a gente nunca imaginava fazer cinema no Brasil”, dizia Mojica. “Aquilo era tão impossível quanto construir um foguete e ir pra Lua”.

Mas Mojica fez cinema no Brasil. O seu cinema. Se existe um cineasta brasileiro que pode ser chamado de “independente”, é ele. Foi contemporâneo de muitos movimentos e estilos – chanchadas, Atlântida, Vera Cruz, Cinema Novo, Boca do Lixo, pornochanchada – sem se agarrar a nenhum deles. Nunca fez parte de grupos ou panelas. Até 2008, quando dirigiu “Encarnação do Demônio”, não havia recebido um tostão do governo.

Mais que um cineasta, Mojica foi uma celebridade. No fim dos anos 60, era o cineasta mais popular do país. Havia dirigido três filmes de terror de grande sucesso comercial – “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964), “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967) e “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968) – além de dois programas de TV, “Além, Muito Além do Além” (TV Bandeirantes) e “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (TV Tupi). Zé do Caixão se tornara uma marca famosa, estampada numa conhecida linha de cosméticos chamada “Mistério”, em uma cachaça (“Marafo Zé do Caixão”) e num bizarro consórcio de compra de caixões. O personagem gravou marchinhas de carnaval (“Castelo dos Horrores”, 1969), foi tema de revistas em quadrinhos e apelidou o VW 1600, um carro que a Volkswagen lançou no fim de 1968 e que, por suas formas retangulares e semelhantes à de um esquife, acabou batizado com o nome do personagem. Zé do Caixão era uma espécie de Xuxa do mal.

marafo Mojica, 80
Reparem que escrevi “o personagem gravou marchinhas”, e não “Mojica gravou”. Isso tem uma razão: a partir de meados dos anos 60, Mojica e Zé do Caixão se tornaram a mesma criatura.
É um caso único de total confusão entre criador e criatura. Chaplin era Chaplin, não era Carlitos; Bela Lugosi só era Drácula quando botava a fantasia e os dentes postiços. Mas Mojica tornou-se Zé do Caixão 24 horas por dia. Não interessa se vestia um de seus safáris cáquis ou camisa do Corinthians: assim que botava os pés na rua, ouvia de populares: “E aí, Zé do Caixão?!”.

Com Zé, Mojica criou um personagem quase mitológico, uma espécie de Mula Sem Cabeça ou Saci Pererê. Perguntem aos mais velhos: no início dos anos 70, não era incomum pais assustarem os filhos ameaçando chamar Zé se os pequenos não e comportassem. Não é à toa que Mauricio de Souza fez um personagem chamado Zé Canjica.

Domingo, José Mojica Marins completa 80 anos. A Cinemateca de São Paulo o está homenageando com uma mostra de 20 filmes (veja a programação aqui), e no domingo, a partir de 19h15, o canal Space exibe os seis episódios da série “Zé do Caixão”, que coescrevi, e onde Matheus Nachtergaele interpreta Mojica de forma brilhante. O Canal Brasil também presta uma bonita homenagem e exibe seis dos principais filmes de Mojica, a partir do próximo dia 13, sempre à meia-noite de domingo para segunda. São eles: “Encarnação do Demônio” (2008), “À Meia-noite Levarei Sua Alma” (1964), “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967), “O Estanho Mundo de Zé do Caixão” (1968), “O Despertar da Besta” (1969) e “Delírio de um Anormal” (1978). Uma chance raríssima de ver os clássicos de Zé do Caixão na TV.

Muitos anos de vida ao querido Mojica e um maravilhoso fim de semana a todos.

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¡Adiós, amigos!

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still of steve martin in ¡three amigos 1986 large picture ¡Adiós, amigos!Infelizmente, o blog chega ao fim. Culpa da crise financeira que arrasa o país e, em particular, o mercado jornalístico.

Gostaria de agradecer a todos os colegas do R7. Quando comecei o blog aqui, me prometeram liberdade absoluta. Hoje, 28 meses depois, posso dizer que cumpriram a promessa. Sempre fui tratado com o maior carinho por todos e espero ter correspondido.

Este blog começou há quase seis anos na "Folha". Tive a sorte de ganhar um espaço para escrever sobre o que quisesse, da forma que quisesse. Coisa rara hoje em dia, quando o jornalismo se confunde tanto com a publicidade.

Nesse período, fiz 1561 textos sobre os assuntos mais variados. Mas a principal qualidade do blog, acredito, foi estabelecer um canal direto de comunicação com os leitores. Não tenho Twitter ou Facebook, então o blog serviu como minha verdadeira rede social.

Se meus cálculos estão certos, recebi pouco mais de 168 mil comentários e respondi a 31560 deles. Média de 20 respostas para cada texto.

Tive a sorte de ter os melhores leitores que alguém pode querer. Perdi a conta de quantos livros, filmes e discos conheci por dicas de leitores, e quantas discussões legais rolaram na seção de comentários, sempre mais interessante do que os próprios textos.

Muito obrigado a todos que acompanharam o blog nesse tempo. Um público de alto nível e super bem informado. Espero encontrá-los por aí - se o mercado jornalístico permitir, claro. De minha parte, vou tocar projetos de TV, livros, e continuar colaborando com a “Folha”.

Beijos, abraços e obrigado por tudo.

P.S.: Não poderei responder a todos os comentários, então deixo meus agradecimentos antecipados a todos que escreverem. Responderei aos comentários até o meio da semana. Gabba Gabba Hey e tudo de bom para vocês!

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Teste Rapido R7


No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédio

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Chris Rock Promo 1024x576 No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédioDepois do tsunami de falta de graça que varreu o Oscar do ano passado, capitaneado por um picolé de chuchu chamado Neil Patrick Harris, eu esperava uma cerimônia mais divertida na madrugada de segunda, quando Chris Rock voltou ao comando da festa depois de 11 anos. Me enganei. O que se viu foi uma das transmissões mais tediosas e soporíferas, com quase quatro horas de piadas ruins em um clima paranoico de correção política.

Todo mundo já esperava uma cerimônia “politizada” devido ao boicote de alguns artistas e diretores negros, como Spike Lee e Will Smith, que protestaram contra a ausência de indicados negros. Mas Chris Rock exagerou. Seu monólogo de abertura sobre relações raciais e o preconceito de Hollywood foi muito bom e corajoso, mas os textos foram perdendo a graça à medida em que os temas se repetiam.

Isso parece ter contagiado os vencedores dos prêmios, que se revezaram em defender suas causas prediletas diante de um público televisivo estimado em 900 milhões de pessoas.

A diretora do melhor documentário em curta-metragem, “A Girl in the River”, falou da violência contra as mulheres no Paquistão; um dos diretores de “Divertidamente” (que bateu o brasileiro “O Menino e o Mundo” na categoria melhor longa de animação) mencionou bullying nas escolas; o cantor Sam Smith, vencedor pela canção “Writing’s on the Wall”, do filme “007 contra Spectre”, dedicou seu prêmio à comunidade LGBT, e até o Chile foi lembrado, quando os diretores do curta de animação “Bear Story” disseram que aquele era o primeiro prêmio “do pequeno país de onde viemos, o Chile”.

Os astros da noite, claro, não perderam a chance de usar o palco de palanque. O mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), bicampeão do Oscar, citou em seu discurso os povos indígenas e disse que sonhava com um mundo “onde a cor da pele de uma pessoa não importava”; Lady Gaga cantou uma balada xaropenta sobre abuso sexual e depois foi cercada por vítimas de agressão sexual em escolas e universidades, enquanto muita gente da plateia chorava assim que as câmeras da TV se aproximavam. Para finalizar, Leonardo DiCaprio, que finalmente ganhou seu Oscar de melhor ator, deu sua aulinha particular sobre uma das poucas causas que ainda não tinha sido citada na noite: o aquecimento global.

Um dos poucos apresentadores que não se deixou contaminar pelo clima de fanatismo PC foi o grande Sacha Baron Cohen. Na pele do rapper Ali G, ele fez duas das melhores piadas da noite, quando reclamou da ausência, entre os indicados, “daquele povo pequeno e amarelo com pintos pequenos... os Minions”, e “do extraordinário ator negro de ‘Star Wars’... Darth Vader”. A plateia riu, constrangida.

Um dos poucos momentos bonitos da cerimônia foi o emocionado Ennio Morricone agradecendo em italiano o prêmio de melhor trilha sonora e dedicando-o à esposa, Maria.

No fim das contas, nem o supertalentoso Chris Rock deu jeito na festa, que por vezes lembrava uma palestra motivacional.

O Oscar só tem uma saída para tornar as quatro horas da festa mais suportáveis: chamar Ricky Gervais e Jim Carrey poara apresentarem juntos. Veja o que Gervais aprontou no Globo de Ourto desse ano:

E relembre o lendário grito de “Viva El Salvador” de Jim Carrey, em 1996:

Sei que a chance de isso acontecer é zero, mas não custa sonhar.

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No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédio

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Chris Rock Promo 1024x576 No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédioDepois do tsunami de falta de graça que varreu o Oscar do ano passado, capitaneado por um picolé de chuchu chamado Neil Patrick Harris, eu esperava uma cerimônia mais divertida na madrugada de segunda, quando Chris Rock voltou ao comando da festa depois de 11 anos. Me enganei. O que se viu foi uma das transmissões mais tediosas e soporíferas, com quase quatro horas de piadas ruins em um clima paranoico de correção política.

Todo mundo já esperava uma cerimônia “politizada” devido ao boicote de alguns artistas e diretores negros, como Spike Lee e Will Smith, que protestaram contra a ausência de indicados negros. Mas Chris Rock exagerou. Seu monólogo de abertura sobre relações raciais e o preconceito de Hollywood foi muito bom e corajoso, mas os textos foram perdendo a graça à medida em que os temas se repetiam.

Isso parece ter contagiado os vencedores dos prêmios, que se revezaram em defender suas causas prediletas diante de um público televisivo estimado em 900 milhões de pessoas.

A diretora do melhor documentário em curta-metragem, “A Girl in the River”, falou da violência contra as mulheres no Paquistão; um dos diretores de “Divertidamente” (que bateu o brasileiro “O Menino e o Mundo” na categoria melhor longa de animação) mencionou bullying nas escolas; o cantor Sam Smith, vencedor pela canção “Writing’s on the Wall”, do filme “007 contra Spectre”, dedicou seu prêmio à comunidade LGBT, e até o Chile foi lembrado, quando os diretores do curta de animação “Bear Story” disseram que aquele era o primeiro prêmio “do pequeno país de onde viemos, o Chile”.

Os astros da noite, claro, não perderam a chance de usar o palco de palanque. O mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), bicampeão do Oscar, citou em seu discurso os povos indígenas e disse que sonhava com um mundo “onde a cor da pele de uma pessoa não importava”; Lady Gaga cantou uma balada xaropenta sobre abuso sexual e depois foi cercada por vítimas de agressão sexual em escolas e universidades, enquanto muita gente da plateia chorava assim que as câmeras da TV se aproximavam. Para finalizar, Leonardo DiCaprio, que finalmente ganhou seu Oscar de melhor ator, deu sua aulinha particular sobre uma das poucas causas que ainda não tinha sido citada na noite: o aquecimento global.

Um dos poucos apresentadores que não se deixou contaminar pelo clima de fanatismo PC foi o grande Sacha Baron Cohen. Na pele do rapper Ali G, ele fez duas das melhores piadas da noite, quando reclamou da ausência, entre os indicados, “daquele povo pequeno e amarelo com pintos pequenos... os Minions”, e “do extraordinário ator negro de ‘Star Wars’... Darth Vader”. A plateia riu, constrangida.

Um dos poucos momentos bonitos da cerimônia foi o emocionado Ennio Morricone agradecendo em italiano o prêmio de melhor trilha sonora e dedicando-o à esposa, Maria.

No fim das contas, nem o supertalentoso Chris Rock deu jeito na festa, que por vezes lembrava uma palestra motivacional.

O Oscar só tem uma saída para tornar as quatro horas da festa mais suportáveis: chamar Ricky Gervais e Jim Carrey poara apresentarem juntos. Veja o que Gervais aprontou no Globo de Ourto desse ano:

E relembre o lendário grito de “Viva El Salvador” de Jim Carrey, em 1996:

Sei que a chance de isso acontecer é zero, mas não custa sonhar.

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Teste Rapido R7

No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédio

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Chris Rock Promo 1024x576 No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédioDepois do tsunami de falta de graça que varreu o Oscar do ano passado, capitaneado por um picolé de chuchu chamado Neil Patrick Harris, eu esperava uma cerimônia mais divertida na madrugada de segunda, quando Chris Rock voltou ao comando da festa depois de 11 anos. Me enganei. O que se viu foi uma das transmissões mais tediosas e soporíferas, com quase quatro horas de piadas ruins em um clima paranoico de correção política.

Todo mundo já esperava uma cerimônia “politizada” devido ao boicote de alguns artistas e diretores negros, como Spike Lee e Will Smith, que protestaram contra a ausência de indicados negros. Mas Chris Rock exagerou. Seu monólogo de abertura sobre relações raciais e o preconceito de Hollywood foi muito bom e corajoso, mas os textos foram perdendo a graça à medida em que os temas se repetiam.

Isso parece ter contagiado os vencedores dos prêmios, que se revezaram em defender suas causas prediletas diante de um público televisivo estimado em 900 milhões de pessoas.

A diretora do melhor documentário em curta-metragem, “A Girl in the River”, falou da violência contra as mulheres no Paquistão; um dos diretores de “Divertidamente” (que bateu o brasileiro “O Menino e o Mundo” na categoria melhor longa de animação) mencionou bullying nas escolas; o cantor Sam Smith, vencedor pela canção “Writing’s on the Wall”, do filme “007 contra Spectre”, dedicou seu prêmio à comunidade LGBT, e até o Chile foi lembrado, quando os diretores do curta de animação “Bear Story” disseram que aquele era o primeiro prêmio “do pequeno país de onde viemos, o Chile”.

Os astros da noite, claro, não perderam a chance de usar o palco de palanque. O mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), bicampeão do Oscar, citou em seu discurso os povos indígenas e disse que sonhava com um mundo “onde a cor da pele de uma pessoa não importava”; Lady Gaga cantou uma balada xaropenta sobre abuso sexual e depois foi cercada por vítimas de agressão sexual em escolas e universidades, enquanto muita gente da plateia chorava assim que as câmeras da TV se aproximavam. Para finalizar, Leonardo DiCaprio, que finalmente ganhou seu Oscar de melhor ator, deu sua aulinha particular sobre uma das poucas causas que ainda não tinha sido citada na noite: o aquecimento global.

Um dos poucos apresentadores que não se deixou contaminar pelo clima de fanatismo PC foi o grande Sacha Baron Cohen. Na pele do rapper Ali G, ele fez duas das melhores piadas da noite, quando reclamou da ausência, entre os indicados, “daquele povo pequeno e amarelo com pintos pequenos... os Minions”, e “do extraordinário ator negro de ‘Star Wars’... Darth Vader”. A plateia riu, constrangida.

Um dos poucos momentos bonitos da cerimônia foi o emocionado Ennio Morricone agradecendo em italiano o prêmio de melhor trilha sonora e dedicando-o à esposa, Maria.

No fim das contas, nem o supertalentoso Chris Rock deu jeito na festa, que por vezes lembrava uma palestra motivacional.

O Oscar só tem uma saída para tornar as quatro horas da festa mais suportáveis: chamar Ricky Gervais e Jim Carrey poara apresentarem juntos. Veja o que Gervais aprontou no Globo de Ourto desse ano:

E relembre o lendário grito de “Viva El Salvador” de Jim Carrey, em 1996:

Sei que a chance de isso acontecer é zero, mas não custa sonhar.

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Chris Rock Promo 1024x576 No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédioDepois do tsunami de falta de graça que varreu o Oscar do ano passado, capitaneado por um picolé de chuchu chamado Neil Patrick Harris, eu esperava uma cerimônia mais divertida na madrugada de segunda, quando Chris Rock voltou ao comando da festa depois de 11 anos. Me enganei. O que se viu foi uma das transmissões mais tediosas e soporíferas, com quase quatro horas de piadas ruins em um clima paranoico de correção política.

Todo mundo já esperava uma cerimônia “politizada” devido ao boicote de alguns artistas e diretores negros, como Spike Lee e Will Smith, que protestaram contra a ausência de indicados negros. Mas Chris Rock exagerou. Seu monólogo de abertura sobre relações raciais e o preconceito de Hollywood foi muito bom e corajoso, mas os textos foram perdendo a graça à medida em que os temas se repetiam.

Isso parece ter contagiado os vencedores dos prêmios, que se revezaram em defender suas causas prediletas diante de um público televisivo estimado em 900 milhões de pessoas.

A diretora do melhor documentário em curta-metragem, “A Girl in the River”, falou da violência contra as mulheres no Paquistão; um dos diretores de “Divertidamente” (que bateu o brasileiro “O Menino e o Mundo” na categoria melhor longa de animação) mencionou bullying nas escolas; o cantor Sam Smith, vencedor pela canção “Writing’s on the Wall”, do filme “007 contra Spectre”, dedicou seu prêmio à comunidade LGBT, e até o Chile foi lembrado, quando os diretores do curta de animação “Bear Story” disseram que aquele era o primeiro prêmio “do pequeno país de onde viemos, o Chile”.

Os astros da noite, claro, não perderam a chance de usar o palco de palanque. O mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), bicampeão do Oscar, citou em seu discurso os povos indígenas e disse que sonhava com um mundo “onde a cor da pele de uma pessoa não importava”; Lady Gaga cantou uma balada xaropenta sobre abuso sexual e depois foi cercada por vítimas de agressão sexual em escolas e universidades, enquanto muita gente da plateia chorava assim que as câmeras da TV se aproximavam. Para finalizar, Leonardo DiCaprio, que finalmente ganhou seu Oscar de melhor ator, deu sua aulinha particular sobre uma das poucas causas que ainda não tinha sido citada na noite: o aquecimento global.

Um dos poucos apresentadores que não se deixou contaminar pelo clima de fanatismo PC foi o grande Sacha Baron Cohen. Na pele do rapper Ali G, ele fez duas das melhores piadas da noite, quando reclamou da ausência, entre os indicados, “daquele povo pequeno e amarelo com pintos pequenos... os Minions”, e “do extraordinário ator negro de ‘Star Wars’... Darth Vader”. A plateia riu, constrangida.

Um dos poucos momentos bonitos da cerimônia foi o emocionado Ennio Morricone agradecendo em italiano o prêmio de melhor trilha sonora e dedicando-o à esposa, Maria.

No fim das contas, nem o supertalentoso Chris Rock deu jeito na festa, que por vezes lembrava uma palestra motivacional.

O Oscar só tem uma saída para tornar as quatro horas da festa mais suportáveis: chamar Ricky Gervais e Jim Carrey poara apresentarem juntos. Veja o que Gervais aprontou no Globo de Ourto desse ano:

E relembre o lendário grito de “Viva El Salvador” de Jim Carrey, em 1996:

Sei que a chance de isso acontecer é zero, mas não custa sonhar.

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