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Channel: Andre Barcinski
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Correção política não tem a menor graça

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Estava assistindo a uma reprise do "TV Pirata" e percebi que muitos dos quadros do programa dificilmente seriam gravados hoje, com a patrulha do politicamente cuspindo ódio nas redes sociais.

Aqui vão dez quadros clássicos do humor brasileiro que seriam implacavelmente malhados se fossem exibidos hoje em dia, acompanhados das respectivas acusações que mereceriam nas redes sociais...

TV Pirata - Mocreólogo
Apologia à "ditadura da beleza", misoginia

Casseta e Planeta - Piada Eleitoral
Antissemitismo, preconceito contra os lusos, apologia ao uso de álcool, preconceito contra cidadãos verticalmente desfavorecidos

Trapalhões - Índio Boiola
Preconceito contra povos indígenas, homofobia, assédio sexual

Golias - tipos de cocô
Preconceito contra cidadãos com incontinência intestinal

TV Pirata - Delegacia do Macho
Apologia à violência contra as mulheres, misoginia

Costinha - O Padre
Visão preconceituosa sobre o papel de religiosos católicos, assédio sexual

Jô Soares e Paulo Silvino - Jornal do Gordo
Preconceito contra cidadãos com problemas auditivos

Jorge Loredo - O Mendigo
Preconceito social, elitização, preconceito contra nipônicos

Casseta e Planeta - Hinos de países que não foram à Copa
Preconceito contra o Terceiro Mundo, homofobia

TV Pirata - Negro, Eu?
Hoje a equipe inteira seria presa por racismo

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Brasil recebe Death, pioneiros do punk

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A banda norte-americana Death desembarca no Brasil para três shows. Dias 4 e 5, com ingressos esgotados, toca no Sesc Belenzinho, em São Paulo, e dia 6 se apresenta no Rock Carnival Festival, em Curitiba.

A história do Death é incrível. Formada em Detroit, em 1973, por três irmãos negros, David, Danis e Bobby Hackney, fazia um som de garagem muito rápido e pesado, influenciado por Stooges, MC5 e The Who.

Os irmãos Hackney gravaram um disco em 1975, mas problemas pessoais e de relacionamento entre os irmãos deixaram o LP inédito por 34 anos. Pesou também o fato de nenhuma gravadora se interessar em lançar o disco de uma banda chamada “Morte”.

Nesse período, o compacto da faixa “Politicians in My Eyes”, prensado pela própria banda, circulou entre fãs de som pesado, que consideravam o Death precursores do punk. Escrevi sobre o Death aqui no blog, em 2013 (leia aqui).

Fiz uma entrevista rápida com o baixista e vocalista Bobby Hackney, que falou sobre a história da banda e a expectativa para os shows no Brasil:

- O que você espera dos shows por aqui? Vocês recebem muitas mensagens de fãs brasileiros?
- Muitas. Temos recebido muitas mensagens e pedidos para shows no Brasil. Não podemos esperar...

- Durante as mais de três décadas em que sua música ficou praticamente esquecida, você imaginou que um dia seriam redescobertos?
- Nosso irmão David previu isso, antes de partir para o outro lado (David morreu de câncer, em 2000). Mas ainda é uma surpresa para nós e, francamente, tem um quê de surreal.

- Quando você estava fazendo música com seus irmãos num quarto, nos anos 70, vocês tinham noção de como soavam à frente do seu tempo?
- Historiadores do rock dizem que antecipamos o som do punk em uns cinco anos. Quando estávamos fazendo música em Detroit nos 70, o termo “punk” era um xingamento. Se você chamasse alguém de punk, o resultado era um olho roxo ou um nariz sangrando, dependendo de sua habilidade para se defender.

bandcalleddeath Brasil recebe Death, pioneiros do punk

- Vocês tiveram ofertas de gravadoras interessadas em lançar seu disco, contanto que mudassem de nome (Clive Davis, chefão da Arista, ofereceu um contrato à banda). Vocês se arrependem de não ter mudado o nome da banda, como Davis sugeriu?
- De forma alguma. Temos muito orgulho do fato de nosso irmão David ter recusado todas as ofertas e nos mantido fiéis ao nome Death e à filosofia da banda.

- De que forma o documentário “A Band Called Death” e o lançamento de seu disco pela gravadora Drag City, em 2009, mudaram a vida da banda?
- Tanto o filme quanto o disco apresentaram nossa música e nossa história ao mundo. Os dois nos ajudaram a trilhar um caminho que nos tem levado a lugares do mundo que nunca esperaríamos conhecer.

- Apesar de o rock’n’roll ter se originado com artistas negros – Little Richard, Chuck Berry e tantos outros – é raro ver bandas de rock formadas por negros, com exceções de Bad Brains, Living Colour, Fishbone e algumas outras. Por que você acha que isso ocorre?
- Não podemos esquecer o fato de que havia grandes artistas negros fazendo rock nos anos 60 e 70, como Hendrix e The Chambers Brothers. Ao longo de nossa carreira, conhecemos muitas bandas de rock pesado formadas por negros, mas boa parte delas não teve a chance de mostrar seu talento. Mas acho que o maior obstáculo para nós sempre foi o nome, muito mais do que a cor de nossa pele.

- Como é o público de um show do Death hoje?

- Temos fãs de 8 a 80. O público do Death é formado por todas as gerações de rockers, desde os anos 60 até hoje, e nós amamos isso!

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Cinema brasileiro está virando cinza

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54b689da96881 1024x614 Cinema brasileiro está virando cinzaUm incêndio na Cinemateca Brasileira na manhã de quarta destruiu cerca de 600 rolos de filmes (leia aqui a reportagem da “Folha de S Paulo”).

Não há ainda uma lista de que filmes foram destruídos. O secretário-executivo do Ministério da Cultura, João Brant, disse em uma rede social: “Ao que parece, todos já tinham sido duplicados, o que garante que o conteúdo não se perca”.

Duvido.

Não acredito em nada que o MinC afirme quando o assunto é preservação de nosso patrimônio cultural.

A Cinemateca Brasileira é só um entre tantos exemplos de descaso do poder público com a preservação de filmes, livros, fotografias e registros históricos.

Na matéria da “Folha”, a presidente do conselho da Sociedade Amigos da Cinemateca diz que não houve manutenção nem reparos no acervo ao longo dos últimos três anos. Vale lembrar que muitos desses rolos são antigos, feitos de material altamente inflamável.

É preciso que o MinC venha a público urgentemente e revele a lista completa de filmes destruídos, além de informar à sociedade as condições reais de preservação de seu acervo.

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“Fogo contra Fogo”é muito mais que um filme de ação

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Vários leitores avisaram: entrou no catálogo do Netflix brasileiro “Fogo Contra Fogo”, filmaço policial que Michael Mann dirigiu em 1995. Revi o filme pela enésima vez e continua tão espetacular e emocionante quanto na primeira sessão.

Al Pacino faz o Tenente Vincent Hanna, que persegue uma quadrilha de assaltantes barra pesada liderada por Neil McCauley (Robert De Niro). O elenco de apoio é brincadeira: Tom Sizemore, Val Kilmer, Danny Trejo e Jon Voight completam o time dos bandidos, enquanto Wes Studi e Ted Levine (ele mesmo, o Buffalo Bill de “O Silêncio dos Inocentes”) ajudam Pacino na busca aos meliantes.

Muito já se falou sobre o talento de Michael Mann para filmar tiroteios e cenas de ação, e se você não viu “Thief” (1981), “Manhunter” (1986), “O Informante” (1999), “Colateral” (2004), “Miami Vice” (2006) e “Inimigos Públicos” (2009), sugiro fazê-lo agora.

Em “Fogo Contra Fogo”, há uma cena de assalto a banco que é um manual de como filmar sequências de ação. Veja:

Queria aproveitar a oportunidade para destacar outra qualidade dos filmes de Mann: a de criar personagens reais e interessantes, coisa rara em filmes policiais. Há uma cena em “Fogo Contra Fogo” que não tem balas zunindo, carros voando pelos ares ou sangue jorrando, mas na qual o diretor, em dois minutos, consegue traçar um perfil de três personagens importantes da trama. A cena (dublada, desculpem) vai de 4:21 a 7:01 e mostra o personagem de Pacino contracenando com a namorada, interpretada por Diane Venora, e a filha desta, vivida por Natalie Portman:

Em 120 segundos, e sem a necessidade de nenhum diálogo “explicativo” da cena, Mann mostra que:

- Pacino e Venora não são casados

- Portman não é filha de Pacino

- O pai de Portman é um irresponsável que sempre desaponta a filha

- Pacino é um policial (evidente quando ele pega a arma) e obcecado por seu trabalho

- Venora toma remédios

- A relação de mãe e filha é conflituosa

- A personagem de Portman é psicologicamente instável

Tudo isso terá consequências ao longo da história. Outros personagens, como o de Val Kilmer, por exemplo, têm problemas pessoais sérios e que afetarão o seu destino e o das pessoas próximas a ele. O mesmo acontece com o personagem de Robert De Niro, que se apaixona por uma jovem (Amy Brenneman).

Chamar Michael Mann de “diretor de filmes de ação” é limitante. Ele faz grandes filmes, com grandes personagens e grandes histórias. As cenas de ação são a cereja do bolo.

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DiCaprio, mas pode chamar de Jason

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leo revenant 01dec15 1024x636 DiCaprio, mas pode chamar de JasonEm 2014, quando a Academia esnobou “O Lobo de Wall Street” e preferiu Matthew McConaughey a Leonardo Di Caprio, escrevi aqui no blog que Di Caprio só ganharia um Oscar quando parasse de trabalhar com Scorsese:

Quando se analisa a lista de vencedores recentes, fica claro que DiCaprio não tinha chance com seu arrogante junkie de Wall Street em “Lobo”. Aliás, ele dificilmente terá chance de ganhar um Oscar em um filme de Scorsese, já que o diretor não é chegado a histórias de redenção e triunfo da bondade. Pelo contrário: Scorsese sempre foi um pessimista e prefere mostrar o lado podre da sociedade, os desajustados. Se DiCaprio quiser redenção, que procure um Spielberg ou Zemeckis, diretores que não têm vergonha de colocar o personagem principal chorando no fim, enquanto uma música cafona de triunfo (preferencialmente de um John Williams) ribomba ao fundo.

jason DiCaprio, mas pode chamar de JasonDiCaprio não procurou Spielberg, mas sua versão mais indie e cool, o mexicano Alejandro Iñárritu. E agora vai ganhar seu Oscar.

Iñárritu faz filmes de encomenda para o Oscar: espetáculos suntuosos, visualmente impactantes e supostamente profundos. O diretor usa a fotografia impressionista de Emanuel Lubezki, planos-sequência supérfluos e diálogos empolados, que falam bonito e dizem pouco, para esconder a qualidade duvidosa de suas histórias. “Birdman” e “O Regresso” são exercícios autoindulgentes que abusam de efeitos de choque – longos planos sem cortes, closes "intensos", imagens oníricas e delirantes – para mascarar roteiros simplórios.

Em “O Regresso”, DiCaprio faz Hugh Glass, guia de uma expedição que caça animais para a venda de peles no norte dos Estados Unidos, em 1823. A região, então conhecida por Louisiana Purchase, é perigosa, habitada por índios pouco amistosos e ursos barra pesada.

Logo na primeira sequência, o grupo de Glass, liderado pelo capitão Andrew Henry (Domhnall Gleeson), um dos personagens mais burros criados pelo cinema nos últimos anos, é atacado e massacrado por índios comandados por um nativo de inteligência igualmente limitada, que chamarei de Cacique Burraldo (Duane Howard). Burraldo está atrás da filha, Powaqa, que foi sequestrada por homens brancos. Burraldo leva as peles que roubou do grupo de Glass para Toussaint, chefe de um bando de franceses que também está atrás das peles. A toupeira quer trocar as peles por cavalos, que usará na busca pela filha.

Glass e os poucos sobreviventes do massacre tentam voltar ao forte onde estão hospedados, mas ele é atacado por um gigantesco urso, jogado de um lado para o outro como um boneco de pano e retalhado pelas garras afiadas do bicho.

Glass sobrevive e precisa ser carregado de maca, o que se mostra impossível por causa do gelo que cobre as montanhas íngremes da região. Um dos participantes do grupo é John Fitzgerald (Tom Hardy), um sujeito violento e que não vai com a cara de Glass porque este tem um filho índio, Hawk (Forrest Goodluck), e Fitzgerald odeia índios desde que foi escalpelado por alguns deles. Ele sugere ao capitão matar Glass e deixá-lo por ali mesmo. E o que faz o genial capitão Andrew Henry? Simplesmente deixa o próprio Fitzgerald e dois adolescentes – incluindo Hawk - tomando conta de Glass até ele morrer. Brilhante.

Claro que dá tudo errado: Fitzgerald ataca Hawk, foge e deixa Glass abandonado no gelo, sem comida e todo arrebentado pelo urso. Ao capitão Henry, Fitzgerald diz que Glass morreu nas montanhas, mas nosso herói está vivinho da silva e consegue se arrastar – literalmente – por muitos quilômetros, tentando voltar ao forte. No caminho, é arremessado de penhascos, lançado de cachoeiras com pedras pontiagudas, arrastado por rios congelantes, soterrado por tempestades de neve e atacado por índios assassinos. Mas ele tem a resiliência de Rambo e Jason somados, e não se detém diante de pequenos desafios, como o de pular de um penhasco de 60 metros montado num cavalo.

DiCaprio se resume a gritar, babar e fazer cara de dor, com ocasionais cenas de introspecção em que recorda a esposa índia morta por brancos malvados, tem delírios sobre o filho e fala platitudes sobre o vento que sopra na floresta, sempre ostentando um olhar perdido no horizonte típico de comercial de seguro-saúde para a terceira idade.

ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS

O roteiro é uma piada de mau gosto. A quantidade de rombos de lógica e sequências ridículas assusta.

Não vou nem me ater a clichês, como pés humanos destroçados por um urso que se curam milagrosamente, índios que acertam uma flecha na jugular de um figurante a 50 metros de distância e são incapazes de acertar DiCaprio a dois passos, Glass boiando num rio vestindo uma pele de bisão encharcada e o genial capitão Andrew Henry saindo sozinho com Glass atrás do fujão Fitzgerald, em vez de organizar um grupo maior para a missão. Isso a gente até releva. Mas o roteiro deixa algumas perguntas no ar:

- Por que Cacique Burraldo implora a Toussaint por cavalos, sendo que ele acabou de massacrar o grupo de Glass, que deixou para trás um monte de cavalos?

- Por que Glass, faminto depois de dias sem comer, encontra o cadáver de um bisão ao lado de várias fogueiras na floresta e decide comer o intestino do bicho cru, em vez de fazer um suculento bife?

- Como Cacique Burraldo pode estar negociando por tanto tempo com o francês Toussaint sem perceber que é o próprio Toussaint que mantém Powaqa como escrava sexual?

- Por que Toussaint e seu bando, ao enforcarem o índio que salva a vida de Glass fazendo uma espécie de cabana com galhos durante uma tempestade de gelo (alguém mais lembrou “Dersu Uzala”, de Kurosawa?), se dá ao trabalho de pendurar uma placa no pescoço do morto?

- Porque Fitzgerald conta a todo mundo que planeja ir para o Texas e, ao fugir (arrombando um cofre dentro de um forte cheio de gente, é bom lembrar), decide tomar o mesmo rumo, em vez de partir em outra direção e dificultar a vida do capitão e de Glass, que saíram em seu encalço?

Cinema é a maior diversão, já dizia Severiano Ribeiro, e é preciso perdoar licenças poéticas de vez em quando. Mas só de pensar que “O Regresso” foi indicado a DOZE Oscars, que DiCaprio perdeu a estatueta por “Lobo de Wall Street” e vai ganhar por esse troço, e que Stallone vai bater Mark Ruffalo (“Spotlight”), é licença poética demais pro meu gosto.

Bom Carnaval a todos. O blog volta com um texto inédito quinta, dia 11.

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Série de TV revela bastidores da música pop

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Deus Salve a Rainha... e a BBC Four!

O que a emissora produz de conteúdo de qualidade não é brincadeira.

O último biscoito fino é “Music Moguls”, uma série documental em três episódios sobre os bastidores da música pop. Tem no Cine Torrent, com legendas em inglês, e também no Youtube.

Em vez de falar dos artistas, a série se concentra nos profissionais que atuam em torno deles: agentes, produtores e relações-públicas. Cada episódio trata de uma classe de profissionais.

O primeiro é narrado por Simon Napier-Bell, o genial agente do Wham! (escrevi sobre o mais recente livro de Napier-Bell, um compêndio sobre a história da trambicagem na música pop - leia aqui) e conta a história dos grandes agentes da história do pop-rock, de Colonel Tom Parker, agente de Elvis, a Scooter Braun, que descobriu um moleque cantando no Youtube e o transformou em Justin Bieber.

O episódio fala ainda de outros agentes que marcaram época, como Brian Epstein (Beatles), Andrew Loog-Oldham (Stones), Peter Grant (Led Zeppelin) e do assustador Don Arden, agente de Black Sabbath e Small Faces, pai de Sharon, esposa de Ozzy Osbourne, e altamente conectado com a Máfia, que gostava de pendurar rivais de janelas.

O segundo episódio é dedicado aos produtores. Narrado por Nile Rodgers (Chic), traz entrevistas, histórias e cenas de arquivo fantásticas de nomes como Joe Meek, Lamont Dozier, Mark Ronson, Tony Visconti, George Martin e Trevor Horn, entre outros.

Já o último episódio é o mais surpreendente, por tratar de um profissional cujo trabalho exige que ele não apareça: o relações-públicas. A série entrevista Keith Altham, que conta como convenceu Jimi Hendrix a queimar sua guitarra no festival de Monterey, em 1967, criando uma imagem icônica e que fez a fama do guitarrista.

Interessante também é conhecer as táticas de guerrilha virtual empregadas pelo staff de Taylor Swift para satisfazer os fãs da cantora e saber como Tony Blair cooptou os irmãos Gallagher, do Oasis, para ajudá-lo a se eleger Primeiro Ministro do Reino Unido, em 1997.

“Music Moguls” é muito bem feito e informativo. Quem dera o Brasil tivesse uma BBC Four...

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“Heroes”: como fazer um clássico de Bowie

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Escrevi ontem aqui no blog sobre a série “Music Moguls”, da BBC Four (leia aqui).

Um dos trechos mais interessantes mostra o produtor Tony Visconti contando como gravou “Heroes” (1977), a faixa clássica de David Bowie, no estúdio Hansa, em Berlim.

Achei no Youtube uma versão estendida do papo com Visconti.

- Ele começa contando que a fita original da sessão está muito velha e corre o risco de quebrar se usada repetidas vezes, por isso todas as pistas foram copiadas digitalmente.

Visconti mostra a “backing track”, a base da música, apenas com George Murray no baixo, Carlos Alomar na guitarra, Dennis Davis na bateria, Bowie tocando piano e Brian Eno fazendo “lindos barulhos espaciais” com um pequeno sintetizador. “Aqui estão os cinco músicos tocando juntos”, diz Visconti. “A canção ainda não tinha vocal, melodia, forma ou estrutura. Não tínhamos nem o nome para ela”.

- Murray usa no baixo um flanger, uma espécie de eco. Visconti diz que os produtores costumam gravar instrumentos “limpos”, sem efeitos, e adicionar os efeitos depois, mas que ele e Bowie sempre preferiram gravar o instrumento com o efeito, para que isso não pudesse ser mudado depois.

- Visconti mostra sons feitos por Brian Eno em seu pequeno sintetizador e por Bowie num velho sintetizador chamado Solina (foto abaixo): “Um som meio brega”.

download 4 Heroes: como fazer um clássico de Bowie

- Uma semana depois, chamaram Robert Fripp, guitarrista do King Crimson, para colaborar. Fripp gravou três solos, todos usando microfonia, que ele obtinha se aproximando e se afastando do amplificador, enquanto Brian Eno manipulava o som com um sintetizador. “Não existe um pedal de guitarra que faça esse som. Ele é resultado de dois caras muito espertos trabalhando em conjunto”. Na foto abaixo, Eno, Fripp e Bowie trabalham em "Heroes":

eno fripp bowie 1024x689 Heroes: como fazer um clássico de Bowie

- Visconti diz que os três pequenos solos de Fripp eram muito bonitos e marcantes, mas que não funcionavam na canção. Até que ele teve a ideia de juntar os três. “E aí veio aquele som celestial de Fripp!”.

- Bowie tinha um Chamberlin (foto abaixo), um antigo synth com diferentes timbres. Ele tocou um “riff” que, segundo o produtor, lembrava as canções da gravadora norte-americana Stax, meca da soul music dos anos 60, e usou o timbre de “Naipe de Metais”. “Não é um bom som de metais, mas está na mixagem”.

chamberlin2 1024x969 Heroes: como fazer um clássico de Bowie

- “Bowie é muito impaciente no estúdio. Se queremos um cowbell (espécie de agogô) e não tiver nenhum, ele sai batendo em qualquer pedaço de metal até conseguir o som que deseja. Esse sou eu batendo com uma baqueta de bateria ou um garfo, não lembro bem, em um rolo metálico.”

- Visconti diz que Bowie não tinha a letra da música e escrevia no próprio estúdio. Um dia, incapaz de se concentrar, pediu a Visconti e à cantora Antonia Maass, com quem Visconti estava namorando, que saíssem por algum tempo do estúdio para ele terminar de escrever a letras. Tony e Antonia foram dar um passeio próximo ao Muro de Berlim, que ficava ao lado do estúdio, e se beijaram. Bowie viu a cena da janela e a incorporou na letra:

I can remember / standing, by the wall / and the guns, shot above our heads / and we kissed, as though nothing could fall

Eu me lembro / de pé, junto ao muro / e as armas disparando sobre nossas cabeças / e nos beijamos, como se nada pudesse cair

- Visconti conta que, ao fim das gravações, só tinha uma pista (“track”) livre para gravar os vocais. Ele e Bowie queriam que os vocais, do meio da canção para a frente, tivessem um grande eco. “Se eu tivesse três pistas poderia gravar os trechos separadamente, mas só havia uma pista, então tivemos de ser criativos”.

A solução foi colocar três microfones no estúdio. Bowie ficou de um lado da grande sala do estúdio Hansa, com um microfone à sua frente. No meio da sala, a cerca de sete ou oito metros, Visconti colocou o segundo microfone, e na outra extremidade do estúdio, a uns 18 metros de Bowie, o terceiro. O segundo e terceiro microfones foram conectados a um dispositivo que os ligava de acordo com o volume da voz de Bowie. Se ele cantasse baixinho, sua voz só seria captada pelo microfone à sua frente. Se aumentasse o volume da voz, o segundo microfone ligaria e captaria a voz de Bowie com um pouco de eco. Se Bowie gritasse, o terceiro microfone dispararia e gravaria a voz com muito eco. O resultado está na canção.

- Por fim, Visconti mostra os “backing vocals” (“vocais de apoio”) que ele e Bowie gravaram para a música. “Se você prestar atenção, vai ouvir um sotaque britânico e um do Brooklyn”.

Isso, amigos, é um produtor.

Um ótimo fim de semana a todos.

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Oscar: o que vale duas horas de seu tempo e o que não vale dois minutos

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Aqui vai um ranking informal dos filmes que vi do Oscar, divididos por categoria:

VALEM O INGRESSO

Spotlight

Excelente filme sobre a equipe do jornal “Boston Globe” que revelou centenas de casos de pedofilia envolvendo padres. Uma aula de jornalismo investigativo.

Perdido em Marte: Quem diria que a história de um sujeito sozinho em Marte pudesse ser tão divertida?

A Grande Aposta: Steve Carell e Christian Bale estão ótimos nesse drama sobre a crise financeira nos EUA em 2008 e os espertalhões que a anteviram e enriqueceram com ela.

Mad Max – Fury Road: Divertida e megalômana versão de George Miller para a série que criou nos anos 80 sobre a batalha pela gasolina num futuro distópico.

VALEM DOIS MANGOS E OLHE LÁ

Ponte de Espiões

Spielberg em seu território costumeiro: patacoadas nacionalistas, música melosa, montanhas de clichês e Tom Hanks no papel de bom moço.

O Regresso: Jason Voor..., ou melhor, Leonardo DiCaprio se arrasta – literalmente – por 300 km no gelo, pula de penhascos montado num cavalo e come intestino de bisão cru, enquanto o diretor Alejandro Iñárritu copia Kurosawa e Tarkovsky e todo mundo aplaude.

Steve Jobs: Um blablablá interminável, em que Jobs sai como um sujeito intratável e com um ego descomunal. Impossível ter qualquer tipo de empatia ou interesse por ele.

NEM QUE TE PAGUEM

Trumbo

Uma grande história desperdiçada num dramalhão que parece novela da Globo. O diretor Jay Roach conseguiu fazer Helen Mirren parecer canastrona.

Creed: A única diferença desse abacaxi em relação aos filmes da série “Rocky” é que Stallone não luta. De resto, solta seus muxoxos incompreensíveis, faz cara de coitado e cospe frases feitas sobre o boxe como metáfora da vida. Insuportável.

P.S.: A partir de hoje, só poderei moderar comentários a partir de 11h da manhã. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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1981: o auge de Siouxsie

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Foi relançado no fim de 2015 o disco “Siouxsie and the Banshees – Live in Cologne 1981”. Está no catálogo do Spotify e é absolutamente viciante.

Gravado em Colonia, na Alemanha, em 19 de julho de 1981, o disco captura um grupo fora de série no auge de sua criatividade.

Siouxsie e seus Banshees haviam acabado de lançar seu quarto disco, “Juju”, uma obra-prima com faixas como “Spellbound”, “Arabian Knights”, “Halloween”, “Into the Light” e “Sin in My Heart”.

Foi o segundo de três discos gravados com a formação clássica da banda – e uma das maiores uniões de talentos de um grupo do período: Siouxsie nos vocais, Budgie na bateria, Steven Severin no baixo e o extraordinário John McGeoch na guitarra.

McGeoch (1955-2004) foi, junto com Andy Gill (Gang of Four) e Johnny Marr (Smiths), o grande guitar hero daquela geração. Tocou no Magazine, Visage e Public Image Ltd., com quem inclusive veio ao Brasil, em 1987. Veja:

Achei um documentário de rádio (da BBC, claro) sobre McGeoch. Aqui vai:

Voltando ao disco: foi com esta formação – Siouxsie, McGeoch, Budgie e Severin – que a banda subiu ao palco do Sartory Saal, em Colonia, para um show gravado para o programa “Rockpalast”, da TV pública alemã WDR. A íntegra do show está no Youtube.

Aqui vai a versão matadora de “Head Cut”, uma das melhores canções de “Juju”:

E aqui vai a íntegra do show. Sugiro não começar a ver no trabalho ou na faculdade, porque é difícil parar no meio:

Tive a sorte de ver Siouxsie and the Banshees algumas vezes, mas nunca com John McGeoch na guitarra. Quando a banda veio ao Brasil, em 1986, o guitarrista era John Carruthers. Foi emocionante ver Siouxsie ao vivo, mas assistindo a esse show de Colonia fica claro que nunca houve um Siouxsie and the Banshees como aquele de 1981.

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Sexo, drogas, rock’n'roll… e Scorsese!

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A HBO estreou essa semana a série "Vinyl". Criada por Mick Jagger, Martin Scorsese e Terence Winter, roteirista de "Lobo de Wall Street", a série se passa em Nova York em 1973 e conta a saga de Richie Finestra (Bobby Cannavale), dono de uma gravadora pop chamada American Century. O primeiro episódio foi dirigido por Scorsese e é divertido demais.

A primeira metade da década de 70 foi importante para a indústria do disco porque marcou o início do período de fusões que acabariam por criar as megagravadoras que dominariam o mercado mundial. Selos menores foram vendidos aos montes para conglomerados e corporações, o que viria a colaborar para a queda na qualidade geral da música pop a partir dos anos 80.

Nas primeiras cenas de "Vinyl", Finestra está em Berlim, negociando a venda da American Century para a Polygram. Ele promete aos chefões da Polygram - alemães e holandeses - que está prestes a contratar o Led Zeppelin, o que aumentaria substancialmente seu poder de barganha.

O que Finestra não conta é que sua gravadora está em apuros. Sem revelar um artista há anos e sofrendo com vendagens decepcionantes, a American Century está à beira da falência, e sua venda é a única maneira de reverter a situação.

A série fala dos bastidores do mercado musical da época: jabá, a influência da Máfia na promoção de discos, o uso liberado de drogas em gravadoras, falsificação de dados de vendagem de LPs e por aí vai. Muita coisa é verdade ou foi inspirado por fatos (veja abaixo).

O único ponto negativo - e que não tem relação com a série - foi a tradução dos diálogos. Fica claro que o tradutor não conhecia a cena musical da época e os termos usados na indústria.

Numa cena, um músico disse que tocou "at Max's". Isso foi traduzido por "na casa de Max", quando se referia ao lendário clube Max's Kansas City, onde se apresentavam bandas como Velvet Underground e New York Dolls.

Em outra sequência, um executivo promete um contrato de "three points" para um artista. A expressão foi traduzida por "três dígitos", mas na verdade quer dizer "três pontos percentuais sobre a venda de cada disco".

A palavra "label" ("selo", ou "gravadora") foi traduzida por "marca". E quando um executivo pergunta a Finestra como estão os "Rhine monkeys" ("Macacos do Reno"), piada com os executivos alemães da Polygram, a expressão não foi traduzida, como se "Rhine Monkeys" fosse o nome de uma banda.

ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS

Algumas cenas e situações são inspiradas em casos reais.

- A cena em que Finestra chega aos bastidores do show do Led Zeppelin no Madison Square Garden e vê o empresário da banda, o brutamontes Peter Grant, dando um esporro num promotor que permitiu a venda de merchandise pirata é verdadeira, e inclusive aparece no filme "The Song Remais the Same":

- Na série, Finestra tenta desesperadamente assinar o Led Zeppelin, mas descobre que a banda já tinha um acordo para montar seu próprio selo. A história é real. O Zep lançou seus cinco primeiros álbuns pela Atlantic, mas em 1974 montou a gravadora Swan Song, cujo álbum de estreia foi "Physical Graffiti" (1975).

- Uma assistente de Finestra, a ambiciosa Jamie (Juno Temple), aparece comprando uma mochila cheia de drogas no metrô, que distribui para os colegas de trabalho. A cena parece ter sido inspirada pela história do selo Casablanca, de Neil Bogart, casa de Kiss, Village People e Donna Summer, que tinha até uma funcionária encarregada de passar nos escritórios e anotar os pedidos de cocaína e anfetaminas do staff.

- Depois de receber a notícia de que os discos de sua gravadora serão boicotados por um poderoso dono de uma cadeia da rádios, Finestra contrata um sujeito misterioso, Joe Corso (Bo Dietl) como "promotor de vendas". Corso é claramente ligado à Máfia. De fato, a Máfia dominava a promoção de discos nos anos 70 nos Estados Unidos, controlando milhares de estações de rádio e decidindo que músicas tocavam. Há quem diga que a expressão "hit", que tanto significa uma música de sucesso comercial quanto a execução de um rival, foi criada por promotores de discos ligados à Máfia.

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Stones, Dylan e Aretha: em busca do estúdio perfeito

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Os horários são péssimos, mas sempre dá pra gravar: na sexta, dia 19, às 7 da manhã, e domingo, dia 20, ao meio-dia, o canal BIS reprisa o documentário "Muscle Shoals", sobre o lendário estúdio FAME e seu criador, o incomparável Rick Hall.

Em 2014, escrevi sobre o filme:

Rick Hall foi, junto a Sam Phillips, Berry Gordy e Phil Spector, um dos maiores visionários do pop americano. No início dos anos 60, ele fundou em Muscle Shoals, uma cidadezinha de oito mil habitantes no Alabama, um estúdio modesto, o FAME, que se tornaria lendário graças à qualidade de gravação e aos grooves de sua banda, os Swampers, cinco caipiras branquelos que formaram um dos combos mais funky do planeta e gravaram com Aretha Franklin, Percy Sledge, Wilson Pickett e Etta James, entre centenas de outros.

Hall teve uma vida miserável: criado numa família paupérrima em um barraco de chão de terra, perdeu o pai, o irmão mais novo e a esposa em acidentes terríveis. A mãe não aguentou a barra, largou a família e se prostituiu. Perto dele, Roy Orbison foi o mais feliz dos homens.

A salvação de Hall foi a música. Ele juntou um grupo de meninos locais – Roger Hawkins (bateria), Barry Beckett (teclados), David Hood (baixo), Pete Carr (guitarra) e Spooner Oldham (teclados) - e começou a gravar artistas desconhecidos. Mas seu faro para talento era impressionante, e o primeiro cantor que gravou foi Arthur Alexander, cujas músicas “Anna” e “You Better Move On” foram regravadas por duas bandinhas que estavam surgindo na época: Beatles e Rolling Stones. Aliás, Alexander é o único compositor gravado por Beatles, Stones e Dylan (que gravou “Sally Sue Brown”).

Hall era obsessivo: gravava cem takes de uma canção até se dar por satisfeito. O som que ele e os Swampers tiravam daquele estúdio minúsculo e primitivo logo começou a chamar a atenção. Paul Simon ligou atrás daquela “banda negra” que fazia um som tão grooveado, e quase caiu de costas quando descobriu que eram todos brancos. Num Alabama onde negros e brancos ainda bebiam água em bebedouros separados, Hall contratou vários músicos negros e criou uma gravadora sem distinção de cor.

Mas os Swampers logo cansaram de ser apenas coadjuvantes, e montaram seu próprio estúdio, o Muscle Shoals Sound Studios. Tornaram-se rivais de Hall, que criou outras bandas de estúdio igualmente fabulosas. Nas décadas seguintes, Muscle Shoals virou um dos epicentros da indústria musical nos Estados Unidos. Lynyrd Skynyrd, Stones, Cher, Bob Seeger, Traffic, Rod Stewart, Joe Cocker, Dire Straits, Bob Dylan e dezenas de artistas famosos foram à cidade atrás daquele som tão “quente” e particular.

As cenas de arquivo são de cair o queixo. Tem Percy Sledge gravando “When a Man Loves a Woman”, Keith e Mick babando no console de gravação ao ouvir a guitarra de “Brown Sugar”, e Wilson Pickett cantando “Land of a Thousand Dances”. Keith diz que queria gravar “Exile on Main Street” inteirinho lá, mas que “a polícia não deixou”. “Aquele lugar tem algo de mágico”, diz o guitarrista dos Stones. “Acho que nunca gostei tanto de gravar em algum lugar”.

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Críticas de discos projetadas pelo capeta

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british heavy metal 43 1024x768 Críticas de discos projetadas pelo capetaMuito, muito, mas muito obrigado ao leitor Pedro Carlos Leite, que enviou o link de uma matéria hilariante do site Whiplash (leia aqui) com críticas de discos da revista de metal "Rock Brigade" dos anos 80.

Alguém PRECISA lançar um livro com essas resenhas. Seria um best-seller imediato.

Alguns trechos antológicos:

Slayer - Show No Mercy
"Os guitarristas do Slayer rasgam os seus dedos, destroçando as cordas do mais perfeito instrumento projetado pelo capeta."

Black Sabbath - Live Evil
"O Sabbath resistiu e persistiu no caminho do pau-pesado que transcende a própria música. Pois na sua essência a estupidez do pesado é o repúdio encolerizado da própria condição “Filho da Puta”, pecaminosa e mortal em que vive o homem."

Deep Purple - In Rock

"Paice (o baterista Ian Paice) trata seus pratos como um escravo fugitivo enquanto Gillan solta um verdejante grito como um leão em seu mais duradouro período de cio."

Sobre Akira Takasaki, guitarrista da banda Japonesa Loudness
"O que esse japonês faz no palco é o que era de se esperar de um jovem nascido num país que tem a triste memória de ter levado duas bombinhas na orelha. Nem só de pastel vive japonês, mas também de lavanderia. A verdade é clara, é um povo muito esperto, não é como o português."

Sobre a banda canadense Exciter:
"A tecnologia Marshall, Tama e Gibson ao alcance de bastardos excomungados! O Exciter mostra que morre esganiçado pela garganta, brotando sangue pelos buracos da cabeça mas não se entrega, não renuncia ao Deus Heavy! Soca Dan Beehler, soca! Soca essa porra de bateria e mostre porque você veste sua pele de couro negro e arrebites de aço, seu fucking bastard!"

At War With Satan - Venom:
"Se você é um desses headbangers que gosta do Venom, ame-o com toda a sua força. Faça-o ritual, anseie-o por ficar só na escuridão para headbanguear nos mistérios da imaginação. Decrete a sua maldição nos domínios do teu reino, rogue a sua praga e lute duro."

Accept - Restless & Wild
"Logo no início do álbum, Udo solta um berro tão paranóico e comprido que parece que vai morder a bunda de alguma garota que lhe negou uma dormidinha numa tarde chuvosa."

Tokyo Blade - Night of the Blade
"Mas o que mais estraga o disco é o novo vocalista Vic Wright, que é muito americanizado e muito choroso. Ao gravar o LP, ele deve ter sentado no colo do produtor e deixado entrar até os bagos."

Vulcano - Bloody Vengeance
"Para um cego, um pingo no "i" passa despercebido. Para um advogado, um pingo no "i" pode significar o ganho de uma grande causa. O Vulcano é um grande advogado do metal com seu satanismo, sua força influenciadora, seus baixos, riffs e bumbos galopantes ao lado dos bramidos de Angel (o popular Uruca) nos vocais."

Anthrax - Fistful of Metal
"Fruto da população filha da puta de Nova York, eles se manifestaram na tribo heavy metaleira já babando pelos cantos da boca, cuspindo fogo e adrenalina como a boca do dragão."

Metallica - Ride the Lightning

"James Hetfield encaixa riffs com tamanha velocidade e precisão tal qual uma máquina encaixa suas centenas de cigarros em seus pacotes, sem uma única falha na produção."

E pra encerrar, minha crítica predileta de todos os tempos:

Ozzy Osbourne - Bark at the Moon
"Após devorar a cabeça de um morcego, o público delirou. Após explodir porcos com TNT nos fundilhos, a plateia abismou-se e ele tomou processo por isso. Após se fantasiar com penas e rasgá-las logo que entrava em cena, daí começou a decair e ganhou um apelido aqui no pedaço: Ozzy Osbornay."

Um maravilhoso fim de semana a todos.

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Ativismo ou censura?

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See no evil hear no evil speak no evil 1024x683 Ativismo ou censura?Está difícil ser adulto no Brasil. Quando a gente acha que é livre para fazer o que quiser, tem sempre um juiz, ativista ou curador de mostra de teatro para nos tratar feito crianças e dizer que livros podemos ler e que peças podemos assistir.

Semanas atrás, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitou o pedido do Ministério Público do Estado e proibiu a venda e exposição de "Minha Luta", o livro de Hitler que caiu em domínio público, privando assim incontáveis cidadãos de exercerem o direito de ler sobre o que bem entenderem.

Sexta-feira passada, a "Folha de S. Paulo" publicou uma reportagem de Gustavo Fioratti (leia aqui) sobre o cancelamento da peça "Exhibit B", do dramaturgo sul-africano Brett Bailey. A peça seria encenada em março na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), mas foi cancelada depois de protestos de ativistas.

Segundo Bailey, "Exhibit B" é uma "proposta antirracista" que faz uma releitura do que foram os zoológicos humanos que existiam na Europa no século 19, com atores interpretando negros em situação de opressão.

Na matéria da "Folha", um parágrafo se destaca e diz muito sobre a esquizofrenia das noções de liberdade no Brasil. O trecho inclui um depoimento do curador da MITsp, Antônio Araújo. Diz o texto:

"O recuo foi feito porque a MITsp havia sido informada de que grupos ativistas ameaçavam 'usar o próprio corpo' contra quem tentasse entrar no teatro. 'E eu não bancaria o risco de ver a polícia reprimindo negros com violência. Acho que essa é uma das tragédias desse país. E ter qualquer chance de ameaça policial contra negros era um limite para mim', diz o curador."

Resumindo: o curador não parece ver nenhum problema em um ativista "usar o próprio corpo" para impedir que um cidadão exerça seu direito de ver uma peça de teatro, mas cogita cancelar a peça por temer represália violenta da polícia contra os ativistas.

Numa coisa Araújo tem razão: a violência policial - especialmente alta contra negros - é uma das tragédias do país.

Outra tragédia é o país continuar a censurar manifestações artísticas toda vez que alguém reclama. Podemos crescer, por favor?

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Você topa pagar o livro da Claudia Leitte? E o show do Milton? E o Cirque de Soleil?

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claudia leitte 1024x683 Você topa pagar o livro da Claudia Leitte? E o show do Milton? E o Cirque de Soleil?O que Claudia Leitte, Luan Santana, Milton Nascimento, o Cirque de Soleil, Maria Bethania, o Rock in Rio e Rita Lee têm em comum? Em primeiro lugar, são artistas e espetáculos famosos e que atraem multidões. Em segundo lugar, receberam autorização de uso de dinheiro público para suas apresentações e projetos.

Há alguns dias, depois de uma enxurrada de reclamações em imprensa e redes sociais, Claudia Leitte desistiu de fazer sua autobiografia, que custaria R$ 356 mil de nossos impostos, valor aprovado pelo Ministério da Cultura (MinC) por meio da Lei Rouanet.

Claudia Leitte não estava fazendo nada ilegal. A lei permite que qualquer um – famoso ou não – entre com um pedido de aprovação de projeto na Lei Rouanet. Se uma artista famosa como ela precisa de dinheiro público, é outra discussão.

Em 2014, quando o filme argentino “Relatos Selvagens” foi lançado por aqui, escrevi um texto questionando por que o cinema brasileiro não fazia filmes tão transgressores. Aqui vai um trecho:

Digamos que um cineasta ousado tivesse uma ideia genial para fazer uma comédia negra como “Relatos Selvagens” no Brasil. Quem iria financiá-lo? Mais importante: quem iria assistir ao filme?

A primeira pergunta é fácil responder: ninguém.

Hoje, quem manda no cinema brasileiro são diretores de marketing de grandes empresas privadas, que usam o nosso dinheiro para divulgar suas marcas. É uma situação ridícula e revoltante.

Para quem não sabe como funcionam as leis de incentivo, aqui vai uma rápida explicação: o governo permite que empresas usem uma parte do imposto devido – ou seja, dinheiro público - em projetos culturais. Só que as empresas podem escolher os projetos em que desejam colocar o nosso dinheiro. Resumindo: O financiamento é público, mas a seleção de projetos é privada.

E que empresa vai querer associar sua marca a um filme perverso e sombrio como “Relatos Selvagens”? Nenhuma. Até porque muitas delas já produzem seus próprios projetos – shows, festivais, concursos, filmes, etc. – usando essa boiada. E tome Rock in Rio, Cirque de Soleil, Claudia Leitte e Maria Bethânia recebendo verba pública para projetos privados.

É preciso mudar a Lei Rouanet. Não dá para as empresas decidirem em quais projetos vão colocar o nosso dinheiro. Se você fosse um diretor de marketing e quisesse ter máxima exposição de sua marca, onde preferiria ver o logotipo de sua empresa, na entrada do Cirque de Soleil ou num arquivo de preservação de filmes antigos?

Se o dinheiro for da empresa, ela tem o direito de colocar onde quiser. Se for grana pública, não. Simples assim.

No início de fevereiro, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu um passo importante para a melhoria da lei, ao decidir que a Rouanet não poderá mais beneficiar “projetos que apresentem forte potencial lucrativo" e com "capacidade de atrair suficientes investimentos privados". Foi uma decisão sensata.

Quem mais precisa de ajuda estatal, na minha opinião, são projetos de grande importância, mas baixa visibilidade de mídia, como preservação de acervos, arquivos de filmes, livros, fotografias e documentos, pesquisas sobre cultura, etc. Pequenos produtores musicais, teatrais e cinematográficos deveriam ter prioridade sobre o Cirque de Soleil, Maria Bethânia e afins. Aliás, num mundo ideal, Bethânia, Milton e Luan Santana teriam a consciência de não pedir dinheiro público para nada. Infelizmente, foi preciso uma lei para corrigir essa distorção.

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A maior aventura polar completa um século

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shackleton A maior aventura polar completa um séculoUma das grandes aventuras da humanidade está completando 100 anos: a Expedição Imperial Transantártica de Sir Ernest Shackleton.

Shackleton (1874-1922) liderou três expedições britânicas à Antártica, mas foi a última, iniciada em dezembro de 1914 e encerrada em agosto de 1916, que o tornou uma lenda da exploração polar. Foi o maior fracasso da vida de Shackleton – e também seu maior triunfo.

A meta da Expedição Imperial Transantártica era ambiciosa: cruzar o continente antártico, por terra, de oeste para leste.

Em 5 de dezembro de 1914, Shackleton e 27 tripulantes deixaram a Ilha Geórgia do Sul a bordo do veleiro Endurance, de 144 pés (44 metros), construído na Noruega especialmente para a missão (na foto, a tripulação completa do Endurance, menos o fotógrafo Frank Hurley, claro):

endurance crew 1024x534 A maior aventura polar completa um século

Em 18 de janeiro de 1915, um dia antes de chegar ao ponto da Baía de Vahsel onde a equipe deveria desembarcar, o Endurance ficou preso no gelo. Imobilizado num imenso platô congelado, o barco ficou vagando pelo mar de Weddel por mais de nove meses, até que, em 27 de outubro de 1915, foi esmagado pelas placas de gelo.

endurance 1024x768 A maior aventura polar completa um século

Shackleton e sua tripulação abandonaram o navio. Pouco menos de um mês depois, em 21 de novembro, testemunharam, horrorizados, o Endurance afundando para sempre no gelo. Pelos cinco meses seguintes, a tripulação morou em barracas no banco de gelo, comendo carne de foca e esperando que o gelo se abrisse para que pudessem navegar em três botes salva-vidas rumo a qualquer lugar habitado.

endurance destruido A maior aventura polar completa um século

Em 9 de abril de 1916, finalmente, o gelo se abriu. Enfrentando ondas de dez metros e ventos de 100 quilômetros por hora no Mar de Weddel, os três botes – batizados com os nomes de financiadores da expedição, James Caird, Dudley Docker e Stancomb Wills – conseguiram chegar à inóspita Ilha Elephant. Foi a primeira vez em 497 dias que pisavam em terra firme.

Mas a parte mais arriscada da missão ainda estava por vir: Shackleton deixou 22 homens na Ilha Elephant e rumou com outros cinco no pequeno barco James Caird até a Ilha Geórgia do Sul, enfrentando frio de 20 graus negativos, ondas de vinte metros e ventos de 200 por hora em um dos mares mais traiçoeiros do mundo, próximo à Passagem de Drake (para se ter uma ideia da insanidade que era enfrentar um mar daqueles numa casquinha de noz, aqui vai a imagem de um cargueiro cruzando a Passagem de Drake):

drake A maior aventura polar completa um século

E aqui, uma foto do barco James Caird:

James Caird Lifeboat Ernest Shackleton Endurance A maior aventura polar completa um século

Em maio de 1916, o James Caird chegou finalmente à Ilha Geórgia do Sul. Mas Shackleton e seus homens precisaram atravessar a ilha a pé, numa travessia inédita e tão perigosa que só foi realizada novamente em 1955, por uma equipe de alpinistas britânicos. Quando finalmente chegaram à estação baleeira de Stromness - barbados, imundos, fracos e com as roupas em farrapos - pareciam, segundo relatos, uma assombração. E assim que Shackleton se identificou, alguns marinheiros devem ter pensado estar diante de fantasmas, já que a tripulação do Endurance fora dada como morta.

Depois de alguns dias de descanso, Shackleton começou a organizar o resgate de sua tripulação. Ele pediu ao governo inglês um navio propício para enfrentar o Mar de Weddel, mas nenhum estaria disponível até outubro (é bom lembrar que isso tudo aconteceu em meio à Primeira Guerra Mundial). A solução foi pedir emprestado ao governo chileno o Yelcho, um barco a vapor de 120 pés (37 metros) que fazia a manutenção de faróis.

Às 13h10 do dia 30 de agosto de 1916, mais de quatro meses depois de abandonar 22 homens de sua tripulação, Shackleton chegou com o Yelcho à Ilha Elephant e os resgatou. Todos os 28 tripulantes do Endurance voltaram vivos.

Em 1959, o escritor e jornalista norte-americano Alfred Lansing lançou “A Incrível Viagem de Shackleton”, livro em que relata, por meio de diários e entrevistas com sobreviventes, os detalhes da Expedição Imperial Transantártica e dos quase dois anos de luta pela sobrevivência na área mais inóspita do planeta. É um dos melhores livros de aventura que já li. Recomendo demais.

P.S.: O leitor Peçanha enviou um link que traz as fotos que Frank Hurley tirou da expedição de Shackleton. É sensacional. Confira target="_blank">aqui.

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O dia em que o Rage Against the Machine derrotou Simon Cowell

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O canal BIS exibe hoje, às 21h, o filme-concerto Rage Against the Machine Live at Finsbury Park, gravado em junho de 2010 em Londres.

O show foi bem típico da banda: animado, agitado e politizado. Mais interessante que o show, no entanto, é a história por trás dele.

Tudo começou no fim de 2009, quando um inglês de 35 anos chamado Jon Morter resolveu iniciar uma campanha bizarra no Facebook. Morter, um técnico em logística e DJ de rock nas horas vagas, pediu aos internautas que fizessem de “Killing in the Name”, a explosiva faixa lançada em 1992 pelo grupo Rage Against the Machine, a música mais vendida no Natal de 2009 no Reino Unido.

A ideia era desafiar a dominância nas paradas britânicas do todo-poderoso Simon Cowell, criador e apresentador do reality show musical “The X-Factor”. Desde que o programa estreara, em 2004, as músicas vencedoras haviam liderado as paradas natalinas no Reino Unido.

O vencedor do “X-Factor” de 2009 foi Joe McElderry com “The Climb”, versão xaropenta de uma música chinfrim de Miley Cirus. Vejam a bagaça:

Jon Morter imaginou como seria engraçado acabar com o monopólio de Cowell e trocá-lo pelo Rage Against the Machine, mas a verdade é que não tinha nenhuma esperança de conseguir. Um ano antes, ele havia tentado o mesmo com “Never Gonna Give You Up”, de Rick Astley, sem sucesso. Agora tentaria com “Killing in the Name”, que só existia em versão digital.

O que começou como uma brincadeira ganhou força depois que algumas celebridades, como Paul McCartney, embarcaram na piada e disseram que iam comprar “Killing in the Name”. Depois que Joe McElderry disse à imprensa que achava a música do Rage “uma droga” e “barulho puro”, a coisa pegou fogo.

Em 20 de dezembro de 2009, quando saíram os resultados das paradas de Natal, veio a surpresa: “Killing in the Name” havia vendido 502 mil cópias em formato digital, 50 mil a mais que “The Climb”.

Para celebrar, o Rage Against the Machine fez um show gratuito para 40 mil pessoas no Finsbury Park, em Londres, e doou toda a grana arrecadada com a música – 162 mil libras (908 mil reais) – para uma instituição de caridade que cuida de sem-teto.

Na abertura do show, a banda fez questão de satirizar Cowell, com um vídeo em que ele “apresenta” o Rage Against the Machine. A animação não está no filme, mas achei a gravação de um fã:

E aqui a abertura do show, com uma versão matadora de “Testify”:

O show todo é muito bom, mas o final, com o público fazendo o coro de “Fuck Simon Cowell”, é antológico.

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O rock brasileiro estourou de vendas nos anos 80… só que não!

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anos 80 837881 O rock brasileiro estourou de vendas nos anos 80... só que não!Leio no jornal que uma marca de sabonete vai patrocinar uma turnê com Pitty, Paralamas e Nando Reis em celebração ao rock brasileiro. Nas entrevistas de lançamento do “projeto”, artistas referem-se ao gênero, especialmente ao rock dos anos 80, como uma espécie de era dourada do pop no país e falam com nostalgia do tempo em que o rock brasileiro “dominava as paradas”.

Sinto dizer, moçada, mas essa época de ouro só existiu na imaginação de vocês – e em releases de gravadoras. A realidade é bem diferente. O rock sempre levou um banho da música romântica, do samba, do sertanejo, da discoteca, do axé e de sons dançantes em geral. E os números provam.

Para acabar de uma vez por todas com essa mística de que “o rock dominou o Brasil nos anos 80”, compilei o resultado das paradas daquela década. A referência usada aqui é a parada do Nopem (Nelson Oliveira Pesquisas de Mercado), que, em 1965, começou a listar os discos mais vendidos em lojas. Essa parada não traz números de venda, apenas um ranking dos discos mais vendidos, e o método utilizado na pesquisa estava sujeito a muitas imprecisões. A pesquisa se limitava a lojas do Rio de Janeiro e de São Paulo, e os números de venda de um dado ano eram eliminados no ano seguinte, ou seja, só eram computados os discos vendidos de 1 de janeiro a 31 de dezembro. Um artista que tivesse lançado um disco em julho, por exemplo, teria seu resultado dividido entre dois anos, o que certamente baixaria a sua posição no ranking.

Outra característica curiosa da pesquisa do Nopem é que ela juntava, na mesma lista, compactos simples, compactos duplos e LPs, fazendo uma espécie de “compensação” para organizar o ranking (um LP valia “x” compactos simples e “y” compactos duplos).

Ninguém tem dúvida de que é uma pesquisa imperfeita, mas ela é imperfeita para todos os gêneros e não privilegia nenhum deles.

Aqui vai a lista, de 1980 a 1989, do número de discos de rock (nacionais e estrangeiros) que ficaram entre os 10 mais vendidos no Brasil:

1980 – 0

1981 – 1 – John Lennon (compacto de “(Just Like) Starting Over”)

1982 – 1 – John Lennon (LP “John Lennon”) – a lista do Nopem diz apenas “John Lennon”, sem especificar o disco. Pode ser a coletânea póstuma “John Lennon – The Collection”, mas não podemos ter certeza.

1983 – 1 - Ritchie (compacto de “Menina Veneno”) – ok, vamos dar uma colher de chá e classificar Ritchie como “rock”, ok?

1984 – 2 – Ritchie (LP “Vôo do Coração) e Kid Abelha & os Abóboras Selvagens (compacto “Como Eu Quero)

1985 – 2 – Scorpions (compacto de “Still Loving You”) e RPM (compacto de “Louras Geladas”)

1986 – 1 – Ultraje a Rigor (LP “Nós Vamos Invadir Sua Praia)

1987 – 0

1988 – 1 - Legião Urbana (LP “Que País é Este”)

1989 – 1 – Cazuza (LP “O Tempo Não Para”)

Resumindo: dos 100 discos mais vendidos no Brasil entre 1980 e 1989, o rock teve exatamente dez representantes, sendo sete deles brasileiros. Para efeito de comparação, Roberto Carlos teve dez e Julio Iglesias, três. Outros artistas que apareceram na lista: Agepê (3), Rita Lee (2), Clara Nunes (2) e Gretchen (2).

Então, por favor, vamos ter mais cuidado ao mitificar a popularidade do rock brasileiro dos anos 80. Foi uma época crucial de rejuvenescimento do mercado consumidor de discos no Brasil e revelou artistas importantes, mas nunca foi um colosso de vendas como dizem por aí.

P.S.: Segunda-feira, o texto do blog será publicado mais tarde, por volta de 10 da manhã, com uma análise do resultado do Oscar.

Bom fim de semana a todos.

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No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédio

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Chris Rock Promo 1024x576 No Oscar da correção política, o vencedor foi o tédioDepois do tsunami de falta de graça que varreu o Oscar do ano passado, capitaneado por um picolé de chuchu chamado Neil Patrick Harris, eu esperava uma cerimônia mais divertida na madrugada de segunda, quando Chris Rock voltou ao comando da festa depois de 11 anos. Me enganei. O que se viu foi uma das transmissões mais tediosas e soporíferas, com quase quatro horas de piadas ruins em um clima paranoico de correção política.

Todo mundo já esperava uma cerimônia “politizada” devido ao boicote de alguns artistas e diretores negros, como Spike Lee e Will Smith, que protestaram contra a ausência de indicados negros. Mas Chris Rock exagerou. Seu monólogo de abertura sobre relações raciais e o preconceito de Hollywood foi muito bom e corajoso, mas os textos foram perdendo a graça à medida em que os temas se repetiam.

Isso parece ter contagiado os vencedores dos prêmios, que se revezaram em defender suas causas prediletas diante de um público televisivo estimado em 900 milhões de pessoas.

A diretora do melhor documentário em curta-metragem, “A Girl in the River”, falou da violência contra as mulheres no Paquistão; um dos diretores de “Divertidamente” (que bateu o brasileiro “O Menino e o Mundo” na categoria melhor longa de animação) mencionou bullying nas escolas; o cantor Sam Smith, vencedor pela canção “Writing’s on the Wall”, do filme “007 contra Spectre”, dedicou seu prêmio à comunidade LGBT, e até o Chile foi lembrado, quando os diretores do curta de animação “Bear Story” disseram que aquele era o primeiro prêmio “do pequeno país de onde viemos, o Chile”.

Os astros da noite, claro, não perderam a chance de usar o palco de palanque. O mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), bicampeão do Oscar, citou em seu discurso os povos indígenas e disse que sonhava com um mundo “onde a cor da pele de uma pessoa não importava”; Lady Gaga cantou uma balada xaropenta sobre abuso sexual e depois foi cercada por vítimas de agressão sexual em escolas e universidades, enquanto muita gente da plateia chorava assim que as câmeras da TV se aproximavam. Para finalizar, Leonardo DiCaprio, que finalmente ganhou seu Oscar de melhor ator, deu sua aulinha particular sobre uma das poucas causas que ainda não tinha sido citada na noite: o aquecimento global.

Um dos poucos apresentadores que não se deixou contaminar pelo clima de fanatismo PC foi o grande Sacha Baron Cohen. Na pele do rapper Ali G, ele fez duas das melhores piadas da noite, quando reclamou da ausência, entre os indicados, “daquele povo pequeno e amarelo com pintos pequenos... os Minions”, e “do extraordinário ator negro de ‘Star Wars’... Darth Vader”. A plateia riu, constrangida.

Um dos poucos momentos bonitos da cerimônia foi o emocionado Ennio Morricone agradecendo em italiano o prêmio de melhor trilha sonora e dedicando-o à esposa, Maria.

No fim das contas, nem o supertalentoso Chris Rock deu jeito na festa, que por vezes lembrava uma palestra motivacional.

O Oscar só tem uma saída para tornar as quatro horas da festa mais suportáveis: chamar Ricky Gervais e Jim Carrey poara apresentarem juntos. Veja o que Gervais aprontou no Globo de Ourto desse ano:

E relembre o lendário grito de “Viva El Salvador” de Jim Carrey, em 1996:

Sei que a chance de isso acontecer é zero, mas não custa sonhar.

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Tinariwen vem aí!

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Quero acreditar que algum programador do SESC é leitor do blog.

Em julho de 2014, fiz um texto aqui sobre o grande guitarrista africano Bombino. Pouco mais de um ano depois, Bombino se apresentou no SESC Pinheiros.

Em fevereiro de 2015, escrevi que o Tinariwen, grande grupo Tuareg do Mali, faria shows no Chile e na Argentina, e lamentava o fato de nenhum promotor trazê-los ao Brasil. “Onde está o SESC nessas horas, não é mesmo?”, dizia o texto.

Demorou um pouco, mas alguém do SESC parece ter se mexido, já que o Tinariwen chega ao Brasil para três shows, dias 24 e 25 de março no SESC Vila Mariana, e dia 26 de março na Fundição Progresso, no Rio. Será a segunda passagem do grupo pelo Brasil, depois de uma turnê em 2011.

O Tinariwen, cujo nome quer dizer “desertos”, é uma banda de músicos Tuaregs do norte da África. O som mistura guitarras, percussão africana e ritmos árabes e norte-africanos. É uma música hipnotizante, quase um mantra, muito bonita e emotiva.

O grupo foi formado há mais de 30 anos e tem seis LPs de estúdio. O último, “Emmaar” (2014), foi o primeiro disco do Tinariwen gravado fora da África. Segundo o site da banda, os músicos tiveram de fugir do Mali depois de uma rebelião, na qual militantes islâmicos teriam sequestrado um integrante do grupo, e acabaram gravando nos Estados Unidos. O disco tem participação de alguns músicos americanos, como o atual guitarrista do Red Hot Chili Peppers, Josh Klinghoffer.

No fim de 2015, o Tinariwen lançou “Live in Paris 2014”, gravado ao vivo em Paris. O disco é absolutamente fantástico. Aqui vai “Tinde Final Tinariwen”, com a participação da cantora argelina Lalla Badi:

Nunca vi o Tinariwen ao vivo, mas a julgar por “Live in Paris 2014”, deve ser imperdível.

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(I Can’t Get No) Selfie!

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LiveConcerts 1024x434 (I Cant Get No) Selfie!Durante a turnê dos Rolling Stones pelo Brasil, semana passada, a “Folha de S. Paulo” pediu ao jornalista norte-americano Dean Goodman que escrevesse pequenas críticas sobre cada uma das apresentações do giro sul-americano.

Goodman já assistira a 232 shows da banda, e seus textos dizem muito sobre a diferença de comportamento entre fãs argentinos e brasileiros.

Sobre o show em Buenos Aires, dia 7 de fevereiro, ele escreveu:

“O clima de expectativa é febril. Os fãs argentinos dos Stones são os mais malucos, e todo fã dos Stones no mundo sonha em fazer uma romaria até aqui para fazer parte dessa experiência sobrenatural.

Desde os acordes iniciais de "Start Me Up" ("Tattoo You", 1981), a multidão jovem em frente ao palco explode em frenesi, pulando com os braços no ar, com as vozes ao máximo. É um pouco assustador porque você não tem o menor controle enquanto é carregado por todo o campo pela multidão esmagadora.

Você tem medo de que sua perna ou tornozelo sejam fraturados a qualquer momento. No final do show você está completamente encharcado de suor. Mas absolutamente satisfeito.”

No dia seguinte, ainda em Buenos Aires, Goodman diz que os fãs argentinos se superaram:

“Como os fãs poderiam superar a loucura do primeiro show? Cantando. Eles conseguem tomar controle de "Midnight Rambler" ("Let It Bleed", 1969), o blues homicida de 15 minutos que chega na metade do show.

Durante um dos momentos de calma na canção, o público canta o riff da guitarra por vários minutos. O feitiço vira contra o feiticeiro. Mick Jagger vira o espectador pasmo e precisa lançar mão de seus 50 anos de experiência para retomar as rédeas.

Quando Keith Richards vem para frente para tocar seu par de canções previsto, a multidão aplaude e canta por vários minutos. Keith fica claramente maravilhado com a acolhida e parece estar prestes a se dissolver em lágrimas.”

Dois dias depois, em 10 de fevereiro, a turnê chega ao Maracanã. Goodman escreveu:

“É um show dos Rolling Stones ou uma convenção de smartphones? Os brasileiros podem ser belos, mas será que precisam ficar fazendo selfies durante o show inteiro, com as costas para o palco? Definitivamente não estamos mais na Argentina.

Os fãs descontraídos no Maracanã estão ocupados demais se divertindo para acompanhar as músicas. Os Stones fazem uma apresentação descuidada, com alguns erros.

Tocam uma canção mais ou menos nova pela primeira vez na América Latina, "Doom and Gloom" ("GRRR!" 2012), para um mar de rostos sem reação.”

F5vpyWN (I Cant Get No) Selfie!

Quem bom que isso foi escrito por um insuspeito crítico norte-americano e não por um brasileiro, que logo seria acusado de complexo de vira-latas ao dizer o que qualquer um pode comprovar: boa parte do público brasileiro passa mais tempo batendo papo e fazendo selfies do que vendo o show.

Acho que existem algumas razões para isso, mas a principal é o encarecimento no preço de ingressos de shows e espetáculos nos últimos anos. Isso, a meu ver, afasta cada vez mais os fãs do artista e atrai um público mais interessado no “evento” do que na música. Com os preços absurdos cobrados por shows e espetáculos, frequentá-los adquiriu um status que não existia antigamente, e o público parece obcecado em provar que esteve lá.

Isso não acontece só em shows, mas em estádios de futebol. Não dá para comparar a desanimação das plateias de hoje em nossas “arenas” superfaturadas com o comportamento do público de futebol de 20 ou 30 anos atrás, quando estádios ainda ofereciam ingressos a preços populares, torcedores podiam tomar cerveja e levar bandeiras.

Estamos formando gerações que preferem ver shows pela tela de um celular e torcedores mais interessados em aparecer no telão do estádio. Como dizem por aí, 7 a 1 foi pouco.

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