O aviso chegou no celular: “Sua compra no cartão x, no valor de R$ 1.169,00, não foi aprovada.”
Só havia um problema: eu não tinha feito compra alguma.
Liguei para a operadora do cartão. Alguém havia tentado fazer, via Internet, três compras com meu cartão. A primeira foi numa livraria, as outras duas numa companhia aérea. Todas foram rejeitadas pela operadora.
Fui conferir os extratos dos últimos meses e descobri três compras parceladas que eu não tinha feito. Valor total: mais de 1100 reais.
Eu não havia percebido as compras porque foram realizadas em estabelecimentos e empresas onde costumo comprar e parceladas em muitas prestações, para o valor mensal não chamar a atenção. Coisa de profissional.
Levei quase uma hora para identificar as compras falsas e esclarecer tudo com a operadora do cartão de crédito. Tive de escrever uma carta detalhando o trambique. A empresa garantiu que serei ressarcido.
Histórias de trambiques cibernéticos são corriqueiras, mas nunca esperamos que possam acontecer com a gente. E quando acontecem, nos sentimos uns idiotas.
Nos últimos tempos, tenho me sentido, cada vez mais, personagem de um pesadelo orwelliano.
Tudo começou há algumas semanas, quando fui comprar um aparelho eletrônico e o vendedor perguntou: “O senhor quer pagar por boleto ou em débito automático no banco x, agência y, conta w?”
Como ele tinha meus dados bancários? Eu nunca havia feito nenhuma compra naquela empresa.
“Os dados estão no nosso sistema.”
Dias depois, entrei no site de uma companhia aérea e fiz uma busca de bilhetes para uma cidade sul-americana que pretendemos visitar. Foi só uma busca, não comprei nada.
Nos dias seguintes, comecei a receber ofertas e mensagens de várias outras empresas – até do meu banco – que mencionavam passagens para a cidade que eu havia procurado. Todo site que eu acessava trazia, nas barras laterais, anúncios de passagens para a tal cidade.
Claro que isso não é novidade. Acontece todo dia com todo mundo. Mesmo assim, é assustador. E como tenho lido muito os textos de gente como Evgeny Morozov, autor de “The Net Delusion” e crítico da suposta “democratização” trazida pela Internet, minha paranóia tem crescido a cada dia.
Hoje é Black Friday, e o Procon de São Paulo divulgou uma lista de mais de 300 sites de compra que devem ser evitados. Eu que não abro o laptop hoje de jeito nenhum.
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