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BIRITA, SEXO, PÓ E TOMATES MADURINHOS

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Sábado, às 17h, na Livraria da Vila (R. Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena), em São Paulo, acontece o lançamento de “Dias de Feira”, de Julio Bernardo.

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Fui cliente de Julio – mais conhecido por JB - antes de ser leitor e amigo. Explico: há uns oito anos, eu trabalhava em Pinheiros e almoçava quase todo dia num restaurante do bairro, atraído pelo chips de mandioquinha, que consumia em quantidades industriais. JB era sócio do restaurante e ajudava a comandar a cozinha.

Algum tempo depois, um amigo indicou um blog sobre gastronomia: “Dá uma olhada nisso, é engraçado demais, o cara tem um mau humor do cacete.” O blog (leia aqui) era realmente divertidíssimo: o autor arrasava com alguns dos restaurantes mais badalados de São Paulo, enquanto dava dicas de bibocas desconhecidas.  Imediatamente, reconheci o autor do blog: era JB.

Desde então, nos tornamos amigos de explorações gastronômicas. Perdi a conta de quantos botecos e restaurantes de bairro conheci por dica dele.

O blog começou a atrair a atenção, tanto de pessoas que compartilhavam das opiniões sempre extremas de JB, quando dos chefs que, massacrados, passaram a xingar e temer aquela criatura corpulenta e falastrona. No meio dos foodies – pessoas que passam a vida comendo em restaurantes e expondo suas incursões no Instagram – ele virou uma referência. Já críticos gastronômicos e donos de restaurante, invariavelmente, o odiavam.

Não concordo com tudo que JB escreve no blog, mas acho importante que existam pessoas como ele. A exemplo de qualquer “cena” no Brasil, o mundinho gastronômico é ridiculamente pequeno, fechado e autocongratulatório. Qualquer mosca que pouse nessa sopa é, a meu ver, bem-vinda.

Antes de trabalhar em restaurantes e ter um blog, JB foi feirante. Bucheiro, pra ser exato. Durante anos, vendeu miúdos em feiras livres na zona oeste de São Paulo. E “Dias de Feira” é uma coleção de causos e mandamentos que ele aprendeu nesse tempo de feirante.

O clima é “Bukowski no Ceasa”: quem acha que feira livre é um local idílico, onde alegres comerciantes cantam as maravilhas de seus produtos enquanto freguesas se deslumbram com a coloração fulgurante de frutas e verduras, vai se surpreender com o submundo das hortaliças, tão vivamente descrito por JB.

O mundo das feiras tem noites insones, bebedeiras homéricas, brigas de peixeira, traficas e todos os vícios possíveis e imagináveis. Feirantes carregam armas e têm códigos de justiça e éticas próprios; damas da noite trocam prazer por uma bela peça de picanha. Dentro dos caminhões e fora da vista das freguesas, ninguém é de ninguém.

A descrição dos personagens da feira é demais: tem a “boleira”, tiazinha que vende bolo, café e cachaça nas madrugadas; tem os ajudantes de barraca, não raro, ex-presidiários que vivem de bicos (um deles é descrito como “mais louco que Lobão e Arnaldo Batista juntos”); tem os fiscais trambiqueiros, que trocam multas por prestações de um carro zero para as filhas. É uma fauna e tanto.

“Dias de Feira” é um livro divertido e revelador sobre um mundo que a maioria só conhece na superfície. Daria uma excelente série de TV. Para o papel de JB, sugiro Otavio Muller.

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