Dois documentários sobre figuras marcantes da música pop acabam de chegar ao Netflix gringo: “Muscle Shoals”, que aborda a vida e carreira do produtor Rick Hall, e “Beware of Mister Baker”, cinebiografia do baterista Ginger Baker.
Rick Hall foi, junto a Sam Phillips, Berry Gordy e Phil Spector, um dos maiores visionários do pop americano. No início dos anos 60, ele fundou em Muscle Shoals, uma cidadezinha de oito mil habitantes no Alabama, um estúdio modesto, o FAME, que se tornaria lendário graças à qualidade de gravação e aos grooves de sua banda, os Swampers, cinco caipiras branquelos que formaram um dos combos mais funky do planeta e gravaram com Aretha Franklin, Percy Sledge, Wilson Pickett e Etta James, entre centenas de outros.
Hall teve uma vida miserável: criado numa família paupérrima em um barraco de chão de terra, perdeu o pai, o irmão mais novo e a esposa em acidentes terríveis. A mãe não aguentou a barra, largou a família e se prostituiu. Perto dele, Roy Orbison foi o mais feliz dos homens.
A salvação de Hall foi a música. Ele juntou um grupo de meninos locais – Roger Hawkins (bateria), Barry Beckett (teclados), David Hood (baixo), Pete Carr (guitarra) e Spooner Oldham (teclados) - e começou a gravar artistas desconhecidos. Mas seu faro para talento era impressionante, e o primeiro cantor que gravou foi Arthur Alexander, cujas músicas “Anna” e “You Better Move On” foram regravadas por duas bandinhas que estavam surgindo na época: Beatles e Rolling Stones. Aliás, Alexander é o único compositor gravado por Beatles, Stones e Dylan (que gravou “Sally Sue Brown”).
Hall era obsessivo: gravava cem takes de uma canção, até se dar por satisfeito. O som que ele e os Swampers tiravam daquele estúdio minúsculo e primitivo logo começou a chamar a atenção. Paul Simon ligou atrás daquela “banda negra” que fazia um som tão grooveado, e quase caiu de costas quando descobriu que eram todos brancos. Num Alabama onde negros e brancos ainda bebiam água em bebedouros separados, Hall contratou vários músicos negros e criou uma gravadora sem distinção de cor.
Mas os Swampers logo cansaram de ser apenas coadjuvantes, e montaram seu próprio estúdio, o Muscle Shoals Sound Studios. Tornaram-se rivais de Hall, que criou outras bandas de estúdio igualmente fabulosas. Nas décadas seguintes, Muscle Shoals virou um dos epicentros da indústria musical nos Estados Unidos. Lynyrd Skynyrd, Stones, Cher, Bob Seeger, Traffic, Rod Stewart, Joe Cocker, Dire Straits, Bob Dylan e dezenas de artistas famosos foram à cidade atrás daquele som tão “quente” e particular.
As cenas de arquivo são de cair o queixo. Tem Percy Sledge gravando “When a Man Loves a Woman”, Keith e Mick babando no console de gravação ao ouvir a guitarra de “Brown Sugar”, e Wilson Pickett cantando “Land of a Thousand Dances”. Keith diz que queria gravar “Exile on Main Street” inteirinho lá, mas que “a polícia não deixou”. “Aquele lugar tem algo de mágico”, diz o guitarrista dos Stones. “Acho que nunca gostei tanto de gravar em algum lugar”.
“Beware of Mister Baker” é ainda mais divertido. Culpa de Ginger Baker, um dos personagens mais talentosos e fora de controle que a música pop já conheceu. Para se ter uma ideia do nível de loucura, basta dizer que o filme começa com Ginger quebrando o nariz do diretor a bengaladas. E dali, só piora.
Ginger é um gênio egocêntrico e insuportável, mas tão cativante que é impossível ignorá-lo. Junkie, maluco e irresponsável, teve trocentos filhos com trocentas mulheres, largou famílias para criar outras, é um pai relapso, péssimo marido e dado a explosões de violência – chegou a pisotear o companheiro de Cream, Jack Bruce, numa briga.
Mas é também, segundo Neil Peart, Nick Mason, Lars Ulrich, Chad Smith, Bill Ward, Carlos Santana, Marky Ramone e Stewart Copeland, todos entrevistados no filme, um dos maiores monstros que já pilotaram uma bateria. Um virtuoso, comparável a Max Roach, Buddy Rich e outras lendas do jazz.
Para mim, o momento mais marcante do filme é a cara de nojo de Eric Clapton quando o entrevistador compara Ginger a John Bonham e Keith Moon: “Não, de jeito nenhum, Ginger é outro tipo de músico”, diz Clapton.
Aos fãs de Bonham e Moonie, que podem se ofender, uma sugestão: reclamem com Eric.
Veja mais:
+ R7 BANDA LARGA: provedor grátis!
+ Curta o R7 no Facebook
+ Siga o R7 no Twitter
+ Veja os destaques do dia
+ Todos os blogs do R7
The post GINGER BAKER E RICK HALL: GÊNIOS INSANOS DO ROCK appeared first on Andre Barcinski.