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QUANDO EDDIE MURPHY ERA REI

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Dia desses revi “Delirious”, o show de “stand-up” de Eddie Murphy gravado em 1983 (um leitor avisa que está no Netflix brazuca, legendado). Foi como abrir uma cápsula do tempo.

Pra começo de conversa, é difícil imaginar que algum comediante, hoje, faria piadas tão politicamente incorretas e que uma emissora – naquele caso, a HBO – transmitiria um show tão pesado.

Eddie fez piadas homofóbicas, machistas e racistas. Numa época em que pouco se sabia sobre a Aids, disse que tinha medo de pegar a doença depois de beijar uma mulher (em 1996, o comediante faria um pedido público de desculpas à comunidade gay: “Eu era muito mal informado na época e me arrependo profundamente do que disse”).

Em 1983, Eddie era o rei da comédia. Fazia grande sucesso no programa de TV “Saturday Night Live” e seus filmes – “48 Horas” e “Trocando as Bolas” – lotavam os cinemas. Milionário, bonito e arrogante, se comportava como um popstar: vivia cercado de seguranças, andava pelas cidades de limusine e se gabava de dormir com trocentas mulheres.

Além de talentoso, Eddie Murphy tinha uma característica que o destacava e que prejudicou bastante sua carreira: não tinha medo de fazer piada sobre ninguém.

No show “Raw” (1986), ele abre contando o telefonema que recebeu de Bill Cosby, lendário comediante negro, que o repreendeu por falar palavrões e fazer piadas “sujas”. Eddie faz uma imitação perfeita de Cosby e simplesmente aniquila o sujeito, um ídolo quase intocável nos Estados Unidos.

Em “Delirious”, ele não poupa ninguém. Veja essa sequência – legendada – em que Eddie esculhamba Michael Jackson (em 83, auge do sucesso de “Thriller”), Elvis, Mick Jagger, James Brown, e faz sua imitação inacreditável de Stevie Wonder:

 

 

Apesar da grosseria, “Delirious” é uma obra-prima do “stand-up”.  Um gênio cômico no auge de sua forma e carisma. A facilidade com que ele passa de um personagem a outro, na mesma piada, é assombrosa.

Um dos momentos mais impressionantes é a clássica sequência em que o comediante relata os churrascos que costumavam acontecer em sua casa. Eddie interpreta seis personagens – ele próprio aos sete anos, o pai bêbado, a mãe que o atacava com um sapato, o tio que incendeia o quintal ao acender o fogo, a tia gorda e bigoduda, e o primo. Humoristas do meu Brasil, assistam e aprendam:

 

 

Sua capacidade de improviso também impressiona: em um momento do show, Eddie vê uma criança na platéia. “Quantos anos você tem?”. Ouve-se uma voz de menino: “Nove!”. “Nove? Então vou contar uma piada pra você contar na escola”:

- Um urso e um coelho estavam fazendo cocô na floresta. O urso diz: “Com licença, você também tem problemas com cocô prendendo em seu pelo?”

- Não – responde o coelho.

-Ótimo – disse o urso, e limpou a bunda com o coelho.

Bom fim de semana a todos.

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