Em 25 anos escrevendo sobre música e cinema, já recebi muitas cartas raivosas. No topo do ranking dos fãs mais irritadiços estão Legião Urbana, Rush e Tarantino, seguidos de perto por Amy Winehouse e Teatro Mágico.
Mas agora preciso revisar esse ranking: semana passada, me deparei com o suprassumo dos revoltados de Twitter: fãs de Lana Del Rey. Ô turminha mala.
E pior: os lanamaníacos deram chilique por causa de uma crítica positiva ao último disco da cantora, que publiquei esses dias na “Folha” (leia aqui). Nem a cotação dada ao disco (“Bom”) parece tê-los convencido de que a crítica era elogiosa.
As reclamações variavam do já tradicional “Quem é você para falar mal de Lana?” e “Vai lá e faz melhor”, a divagações sobre a “genialidade” da cantora.
Uma fã reclamou que eu comparei Lana a “chanteuses malditas” como Nico e Nina Simone. Se tivesse lido com atenção, a moça veria que não só eu não fiz tal comparação, como ainda escrevi que o disco é feito de forma “maquiavelicamente ousada” justamente para fazer Lana parecer Nico e Nina.
Eu nunca seria capaz de comparar duas divas da melancolia, artistas extraordinárias de almas torturadas, a uma patricinha construída por produtores para tocar em boutiques hipster do Brooklyn.
O mais preocupante é que o fã-clube de Lana não parece formado apenas por adolescentes, a quem tudo se perdoa, mas por adultos com carteira de trabalho assinada. E xingamento de moleque eu respeito - até hoje, a melhor carta hater que recebi foi de uma fã de 15 anos do Avenged Sevenfold: “Com todo o respeito, o senhor é um débil-mental” - mas chilique de marmanjo é, francamente, ridículo.
Vários fãs de Lana criticaram, até de forma arrogante, a tradução que fiz dos títulos de algumas músicas da cantora. “Você deveria fazer um curso de inglês”, escreveu uma moça, furiosa com a tradução de “Fucked my way up to the top” por “Trepei para chegar ao topo”. O curioso é que ela não disse como traduziria a frase. “Faço inglês há um tempão e o que você escreveu não tem nada a ver”, disse um rapaz, que provavelmente estuda no curso do Joel Santana, para “fazer inglês há um tempão” e não saber o que a frase significa.
Comentei com um amigo sobre as reclamações acerca da tradução. Ele sugeriu “Subi na vida trepando”. Achei uma ótima tradução, mas prefiro a minha, já que “subir na vida” não quer dizer, necessariamente, “chegar ao topo”. E a letra de Lana diz que ela trepou “to the top”, ou seja, até o ponto mais alto (da carreira? Da música? Da fama? A letra não diz).
O caso me fez lembrar um episódio curioso envolvendo fãs do AC/DC. Quando a banda tocou no Morumbi, fiz uma crítica muito elogiosa ao show, mas disse que achava estranho que meninas gostassem de aparecer nos telões durante a faixa “The Jack”, já que a letra fala de uma mulher que tem gonorreia. Alguns fãs escreveram furiosos, dizendo que a música era sobre pôquer e que “jack” significava “valete”. De fato, “jack” também pode significar “valete”, e a música fala de um jogo de cartas, mas é só uma forma – bem machista, por sinal – para reclamar de uma fã que transmitiu a doença para um membro (opa!) da banda. Ou alguém acha que Bon Scott estava cantando sobre alguma dama que o havia vencido no carteado?
E fãs de Lana, please, get a life.
P.S.: Esse texto deveria ser publicado na manhã de segunda, mas, por erro meu, foi ao ar domingo. Volto com texto novo no blog na terça-feira. Desculpem a nossa falha.
P.S. 2 - Acabo de ver a Costa Rica batendo a Grécia nos pênaltis. Os costa-riquenhos, um bando de moleques sem experiência em Copa, que passaram pelo grupo da morte vencendo Itália e Uruguai e levaram um gol da Grécia aos 45 minutos do segundo tempo, depois de jogar mais de uma hora com um homem a menos, foram para a cobrança de pênaltis concentrados, mas sem cair na choradeira patética da seleção da CBF. Converteram os cinco pênaltis que bateram. Parabéns à Costa Rica. Já o time do Marin, que chora mais que meninas de cinco anos vendo "Frozen", protagonizou algumas das imagens mais constrangedoras da Copa, como o capitão Thiago Silva chorando e pedindo para não bater o pênalti. O capitão do time. Repetindo: o CAPITÃO do time.
P.S. 3 - Já separei os discos da Shakira e os livros do Garcia Márquez para curtir essa semana. Vai, Colômbia!
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