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QUANDO A BOÇALIDADE TRIUNFA

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rifle QUANDO A BOÇALIDADE TRIUNFA

 

A história aconteceu ano passado, numa cidade fluminense. Nomes e apelidos dos personagens foram abreviados para evitar processos e brigas.

No início de 2013, um comerciante – vamos chamá-lo de “J.” - convenceu alguns amigos e vizinhos a investir em um terreno que havia encontrado numa área rural. Era uma pequena chácara, que o dono, em apuros financeiros, havia colocado à venda por um preço baixo.

J. conseguiu onze investidores. Cada um entrou com o que pôde – os valores variavam de R$ 5 mil a R$ 15 mil – e cada investidor receberia, depois de finalizada a compra, uma fração do terreno correspondente ao valor investido.

Os meses foram passando, e nada de J. dar satisfação sobre a grana. Quando encontrava algum dos investidores na rua, dizia que o negócio “estava andando”, e que logo daria notícias.

Mas as notícias não vieram. Depois de uns quatro meses, J. parou de falar no assunto.

Os investidores começaram a desconfiar que algo não estava certo. Alguns procuraram J., mas este, misteriosamente, passou a viajar muito e quase não parava mais em casa.

Um dia, um dos investidores intimou J.: queria saber quando receberia seu terreno – ou seu dinheiro de volta. J. marcou uma reunião com todos os investidores, na casa de um deles. Na noite marcada, havia cerca de 20 pessoas na reunião.

J. começou se desculpando pela demora na conclusão do negócio. Disse que havia encontrado outra oportunidade de lucro e resolvera investir parte da grana nesse “esquema” que “não tinha como dar errado”. Sem entrar em detalhes, disse que a coisa não andou como ele esperava.

Resumindo: J. usara o dinheiro dos investidores em outro negócio, e a grana sumira.

Na verdade, a revelação não foi uma grande surpresa para os investidores. Os meses de sumiço e as desculpas esfarrapadas de J. eram um prenúncio de calote. Entre eles, já estavam discutindo como fariam para reaver o dinheiro.

Um dos investidores era um professor, sujeito culto e educado, sempre pronto a encontrar a saída mais diplomática para os problemas. Ele perguntou a J. como pensava em devolver o dinheiro. J. fez uma longa explanação sobre empréstimos bancários, fundos de investimento e alguns negócios que estaria prestes a concluir, e que certamente cobririam os prejuízos. O professor parecia satisfeito:

- Olha, J., achei errado o que você fez, mas vejo que você assumiu o erro e está disposto a fazer de tudo para não causar prejuízo a ninguém. Sinto boa vontade de sua parte. Se os outros concordarem, aceito que você conclua esses negócios pendentes e depois devolva o que investimos.

A declaração do professor pareceu dissipar o mal-estar na sala. Outras pessoas disseram mais ou menos a mesma coisa:

- Pelo menos você assumiu o erro...

- Vou dar um voto de confiança a você...

- Se Deus quiser, vamos receber nosso dinheiro e acabar com essa desconfiança toda...

No canto da sala, um dos investidores pediu a palavra. Era “S.”, um matuto humilde e quieto, que morava num pequeno sítio e vivia da venda de bananas e mandioca. Olhando para J., S., disse:

- Com todo respeito ao professor e amigos, mas não concordo, não. J., vou te dizer uma coisa: se você não devolver meu dinheiro em cinco dias, vou até sua casa e meto chumbo na sua cara. E vocês podem dizer pra polícia que fui eu que matei, não precisa nem investigar. Me escondo no matão e quero ver alguém me achar.

Todo mundo ficou em choque. Especialmente J., que começou a tremer e chorar.

- Não fala uma coisa dessas, S., Deus me livre... Eu faço tudo pra te pagar! Vendo minha casa, vendo tudo que eu tiver! Pelo amor de Deus, não fala isso!

Sentindo uma súbita mudança na disposição de J., outros investidores esqueceram a diplomacia:

- Ah é? Então se vai pagar ele, me paga também, ou eu te arrebento!

- Se você pagar a alguém e não me pagar, ponho fogo na sua casa!

Em pouco mais de uma semana, J. devolveu o dinheiro a todos os investidores. Algumas dívidas foram trocadas por carro, televisão e um barquinho a motor. S. ganhou uma moto usada.

 

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