Pra começo de conversa: cresci no Rio de Janeiro, tenho família lá, adoro a cidade e meus amigos e amigas cariocas. Agora, pra trabalhar, o Rio periga ser um dos piores locais do planeta. Não vou especular as razões, mas a verdade é que, toda vez que preciso fazer um trabalho na Cidade Maravilhosa, especialmente um que envolva equipes numerosas – filmagens, gravações, etc. - já sei o que esperar: atrasos, frustração e desculpas esfarrapadas.
Dia desses, participei de uma entrevista e sessão de fotos com artistas famosos da música brasileira. Todos os astros chegaram na hora, mas o maquiador deixou todo mundo esperando por uma hora. Detalhe: a produção havia mandado um carro buscá-lo em casa. Quando a produtora ligou, desesperada, perguntando onde ele estava, o gênio do pincelzinho deu chilique: “Ai, fofa, não me apressa não, que o trânsito está hor-rí-vel!”
Claro que, no fim, as coisas sempre dão certo. A simpatia e competência das pessoas acabam compensando o esculacho. O tal maquiador era tão engraçado e boa praça que, em cinco minutos, os artistas estavam gargalhando de suas piadas. Quando uma cantora brincou que era “pau pra toda obra”, o sujeito respondeu na lata: “Ah, querida, pau e obra, é comigo mesmo!”
O maior choque de culturas que já presenciei foi quando fiz um show da banda gótica The Sisters of Mercy no Circo Voador, na Lapa. O Sisters é inglês, mas sua equipe inteira é formada por alemães. Os caras parecem um exército, de tão disciplinados. Todo dia, o tour manager imprimia o cronograma do dia seguinte: “08h30 – café da manhã no hotel; 10h15 – encontro no saguão e embarque no ônibus”. Me sentia na Wehrmacht.
No dia do show, chegamos ao Circo às 11 da manhã para montagem de palco e passagem de som. O lugar estava trancado. O primeiro funcionário apareceu duas horas depois, de chinelo, regata e cara de ressaca. Os alemães espumavam. Pouco antes do show, o tour manager me chamou: “O Andrew (Eldritch, líder da banda) quer que você tire aquela mulher daqui”, apontando para a baiana que vendia acarajé. Eldritch estava preocupado com a panela de óleo fervente e disse que aquilo “não era seguro”. Expliquei pro sujeito que a baiana estava lá há 30 anos e não dava para expulsá-la assim.
Mas a pior experiência profissional que tive em terras cariocas foi uma festa de Réveillon em um clube na beira do mar. Contratamos dez garçons, mas nenhum apareceu. Durante a montagem da festa, alguém roubou a máquina de raio laser da equipe de som, que só foi recuperada depois que um policial deu uma prensa no flanelinha que guardava carros perto do lugar.
Meses antes, quando fui alugar banheiros químicos para o evento, ouvi a seguinte frase do gentilíssimo atendente da empresa: “O quê? Tá achando caro? O preço tá bom porque você tá pagando com antecedência; tenta alugar em cima da hora pra ver a trolha que você vai levar!”
Paguei a facada e combinei com o sujeito que eles recolheriam os banheiros químicos no dia seguinte à festa, até porque o clube estava alugado para outro evento. A festa aconteceu. Cinco ou seis dias depois, eu estava em casa, quando tocou o telefone. Era o dono do clube, furibundo: “P... que pariu! Tem um monte de família aqui na piscina e esses banheiros tão fedendo pra c....! Manda esses filhos da p... tirarem essas m.... daqui agora!” A empresa ainda não recolhera os infectos banheiros químicos, que estavam empesteando o clube todo. Liguei para a empresa, mas ninguém atendeu. Depois de um tempão, consegui falar no celular do gerente. Ele disse que estava em Rio das Ostras e “já, já” mandaria uma equipe retirar os banheiros.
Foi o último evento que fiz no Rio.
P.S.: Amanhã, um pequeno tributo a um grande músico: Johnny Winter.
The post TRABALHAR NO RIO DE JANEIRO DÁ UM TRABALHO… appeared first on Andre Barcinski.