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O HENDRIX DO DESERTO

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Até três meses atrás, eu não tinha ouvido falar de Bombino. Mas fui ao Austin Psych Fest, festival da música psicodélica de Austin, onde ele se apresentou, e alguns leitores recomendaram não perder o show.  Segui o conselho. Hoje, não consigo parar de ouvir Bombino, especialmente seu terceiro disco, “Nomad”, produzido por Dan Auerbach, do Black Keys.

Bombino é o nome artístico do guitarrista Omara Moctar, 34. Moctar nasceu em um acampamento Tuareg no deserto perto de Agadez, no Níger, oeste da África. Os Tuaregs são um povo nômade do Níger, Mali, Burkina Faso e outros países africanos, que habitam o norte do Saara.

O grupo musical Tuareg mais famoso é o Tinariwen, do Mali, que existe há mais de 30 anos e tem nove discos. Bombino cresceu ouvindo Tinariwen, Terakaft e outras bandas que fazem uma mistura de sons africanos com blues e rock. Adorava Hendrix e Mark Knopfler. Aos dez anos de idade, foi forçado a ir com a família para a Argélia e depois para a Líbia, fugindo da perseguição do governo de Níger, que sempre teve uma relação conflituosa com os Tuaregs.

Bombino trabalhou como pastor de cabras enquanto praticava guitarra. Aos 17 anos, voltou a Agadez. Foi chamado por um famoso guitarrista Tuareg para integrar seu conjunto e virou músico profissional.  Em 2007, houve uma grande rebelião Tuareg, um período de lutas intensas contra o governo de Níger. Os Tuaregs exigiam melhores condições de vida e uma divisão dos lucros da exploração de urânio (as maiores minas do mundo estão no país). Dois músicos, colegas de Bombino, foram mortos por tropas do governo, que proibiu o uso de guitarras elétricas entre a população Tuareg. Bombino fugiu de novo, dessa vez para Burkina Faso.

Veja um trecho emocionante de um show de Bombino num acampamento Tuareg no Níger, em 2007:

Do outro lado do mundo, Dan Auerbach, guitarrista e cantor do Black Keys, viu vídeos de Bombino no Youtube e ficou obcecado pela música dele. Chamou o guitarrista e banda para gravarem em seu estúdio em Nashville. “Foi a primeira vez que gravamos em um estúdio de verdade”, conta Bombino (leia uma boa entrevista dele, em inglês, aqui).

O resultado foi “Nomad”, um dos melhores discos de 2013 que eu, estupidamente, só conheci mais de um ano depois. Veja aqui o clipe de “Azamane Tiliade”:

A música de Bombino é uma porta de entrada para uma cultura que poucos conhecem. Ele é um bluesman do deserto e faz a ponte entre as tradições Tuaregs e a música pop ocidental, que conheceu criança. É um som diferente, original e inesquecível. Espero que alguém traga logo Bombino para tocar por aqui.

 

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