Acaba de sair no Brasil “Dead Kennedys – Fresh Fruit For Rotting Vegetables” (Editora Ideal), livro do inglês Alex Ogg sobre a banda punk liderada por Jello Biafra.
Não é uma biografia completa da banda, mas o relato de seus primeiros três ou quatro anos, da fundação ao lançamento do disco de estreia, em 1980. O livro é uma versão ampliada de um texto que Ogg escreveu para o relançamento comemorativo de 25 anos do disco, em 2005.
A edição que está saindo no Brasil é caprichada, com muitas fotos, reproduções de cartazes de shows e flyers, e colagens de Winston Smith, o artista gráfico que fez o logo e as capas do DK.
Para quem quiser saber mais sobre a origem do Dead Kennedys, como Jello, Klaus Flouride e East Bay Ray se conheceram e montaram a mais original e inventiva banda hardcore de todos os tempos, vale a pena a leitura.
Mas uma história que não está no livro e que pouca gente conhece aconteceu no Rio de Janeiro em 1992, seis anos depois do fim da banda.
Naquele ano, lancei “Barulho”, livro sobre o rock alternativo americano. Jello e o então baixista do Ministry, Paul Barker, vieram ao Brasil para o lançamento. Estupidamente, marquei a festa mo Rio na mesma semana em que acontecia a Rio Eco, uma conferência global sobre meio-ambiente, com presença de políticos e celebridades do mundo todo. A cidade estava lotada.
Uma noite, levei Jello, Paul e um grupo de amigos para jantar no Lamas, tradicional restaurante carioca, ponto de encontro de intelectuais e boêmios. Estávamos traçando filés com cebola frita (menos Jello, que era vegetariano), quando entrou no restaurante um grupo de engravatados. Jello reconheceu um deles e percebi que ficou constrangido na hora.
A figura era ninguém menos que Jerry Brown. Brown tinha sido governador da Califórnia de 1975 a 1983 (e seria novamente em 2011), e era o alvo de uma das melhores e mais virulentas letras de Jello, “California Über Alles”, composta em 1979.
Nela, Jello espinafrava o que considerava “hippismo” de Brown e previa uma América onde “zen-fascistas” executariam cidadãos em câmaras de “gás orgânico venenoso” e onde crianças seriam obrigadas a meditar na escola. Brown era descrito como “Big Brother num cavalo branco”.
Em nossa mesa estava um amigo meu, Lance Gould, jornalista que trabalhava para várias revistas americanas. Lance e eu decidimos promover o encontro de pedra e vidaraça. Fomos à mesa de Brown, nos apresentamos e dissemos que Jello estava na mesa ao lado e “adoraria conhecer o governador”. Jello, constrangido, cumprimentou Brown, que foi simpático e não demonstrou nenhum ressentimento. Os dois falaram por um tempo sobre a conferência.
Até ler o livro de Alex Ogg, eu achava que aquele fora o primeiro encontro de Jello e Jerry Brown, mas o jornalista conta que, depois do fim dos Dead Kennedys, Jello acabou meio que se arrependendo da letra, percebeu que Brown era um político muito acima da média, e até participou de grupos ativistas apoiados por Brown. Os dois já haviam se encontrado antes.
De qualquer forma, foi um encontro inusitado e improvável entre um punk revoltado e seu alvo, num templo da boemia carioca.
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