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Na noite de quarta, na FLIP, os humoristas Hubert e Reinaldo, do “Casseta”, entrevistaram o cartunista Jaguar, 82, na mesa “Millôrmaníacos”. Jaguar foi convidado para falar de Millôr, seu amigo desde os anos 50, mas acabou também contando várias histórias engraçadas sobre sua própria vida. Selecionei os melhores trechos do papo:
“Quando comecei a desenhar, nos anos 50, cartunista não era profissão. Eu dizia que era cartunista e a pessoa achava que eu fazia cartões. Mas até hoje não sei desenhar direito, sou o único cartunista que não faz caricatura, copio todas do Chico Caruso.”
“Fiz um teste para cartunista da ‘Manchete’. Foram aprovados três: eu, do Rio, o Borjalo, de Minas, e o Brandão, de Porto Alegre. Eu era bancário na época e disse pro Brandão que era melhor ele fazer teste pro Banco do Brasil, porque ninguém podia viver de cartum. Resultado: o Brandão virou bancário. Muitos anos depois, fui lançar um livro em Barcelona e encontrei o Brandão lá. Ele era gerente da filial do Banco do Brasil em Barcelona, tava muito melhor que eu!”
“Quando eu bebia, não tinha amnésia; agora que parei, sofro de amnésia abstêmica, não lembro de mais nada.”
“A repressão aqui no Brasil era a maior esculhambação. Lembro que os milicos prenderam um monte de gente e foram prender o Millôr, mas o carro tava lotado e deixaram pro dia seguinte. Daí o Ferreira Gullar soube e ligou pro Millôr, que se escondeu na casa do sogro.”
“Quando o pessoal do ‘Pasquim’ foi preso, por alguma razão, não me pegaram. Daí me escondi na casa do Flávio Cavalcanti, que era o maior apoiador do golpe. Era o melhor lugar: ninguém ia me procurar na casa do Flávio. E foi melhor ainda, porque fiquei escondido junto com a Leila Diniz.”
“É até estranho dizer isso, mas nunca fui tão feliz quanto no tempo em que fiquei preso na Vila Militar. Passava o dia todo sem fazer nada, nem banho eu tomava. Fiquei três meses lá. Consegui ler uns livros que nunca achei que terminaria. Li ‘Guerra e Paz’ inteirinho. Onde mais alguém poderia ler ‘Guerra e Paz’ sem ser na cadeia? Também tentei ler ‘Ulysses’, mas só cheguei na página 15. Era tradução do Antônio Houaiss. E o Ivan Lessa odiava a tradução: ‘Você liga pro Joyce e tem o Antônio Houaiss na linha.’”
Sobre a história de Millôr ter inventado o frescobol: “O Millôr dizia que gostava de frescobol porque era um jogo sem vencedor e sem vencido, mas isso é conversa dele. A verdade é que ele não tolerava perder nunca. Millôr achava que perder era coisa pro Federer, pro Nadal, mas não pra ele.”
“Millôr odiava o Tarso de Castro, que era muito amigo do Chico Buarque, então o Millôr vivia falando mal do Chico. Um dia, eu estava com o Millôr num bar, quando o Chico chegou e foi tirar satisfação. Teve uma discussão, o Chico cuspiu no Millôr, que jogou tudo que tinha na mesa – incluindo a moça com quem ele estava – em cima do Chico. No dia seguinte, fiz uma notinha dizendo, sem citar nomes: ‘O maior músico brasileiro e o maior cartunista brasileiro saíram no tapa num bar.’ E comecei a ouvir de um monte de gente: ‘Que história é essa, que o Ziraldo saiu na porrada com o Martinho da Vila?’”
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