Há dois meses, escrevi aqui no blog sobre o ridículo “abraço” que artistas e moradores deram no Cine Leblon, no Rio, para salvar a velha sala. Ou melhor, para fingir que a salvavam, enquanto apareciam em colunas de jornal e se gabavam da proeza em redes sociais (leia aqui).
Enquanto nossa classe artística encena essas presepadas por aqui, em outros lugares do mundo, artistas verdadeiramente preocupados com sua arte põem a mão na massa e resolvem os problemas sem ficar choramingando ou esperando o Estado nhonhô resolver a parada. É o caso de Quentin Tarantino.
Esses dias, Tarantino assumiu a função de programador do New Beverly Cinema, um cultuado cinema de Los Angeles.
Tarantino cresceu vendo sessões duplas no New Beverly, um antigo teatro de shows e vaudeville que o então proprietário, Sherman Torgan, transformou em cinema em 1978. Quando a sala de 228 lugares começou a passar por crises financeiras, nos anos 2000, devido à concorrência de TV a cabo e locadoras, Tarantino passou a colaborar com um cheque mensal de 5 mil dólares, que ajudava a equilibrar as contas.
Em 2007, Torgan morreu depois de sofrer um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta. Tarantino comprou o prédio e jurou que, enquanto tivesse condições financeiras, o cinema não fecharia. O filho de Torgan assumiu a direção da sala, e Tarantino passou a programar algumas sessões duplas e exibir filmes de sua coleção particular.
Há alguns dias, o cineasta resolveu assumir de vez o controle do cinema: bancou uma enorme renovação e virou seu principal programador. O New Beverly reabrirá em dois meses, exibindo sessões duplas de filmes antigos e novos, que não encontram espaço no circuito comercial.
Tarantino mostrará filmes e trailers de sua coleção e baniu de vez a projeção digital da sala. “Enquanto eu viver, o New Beverly só exibirá filmes em película”, disse o cineasta que, junto a nomes como Martin Scorsese e Judd Apatow, convenceu a Kodak a continuar fabricando filme para cinema. Numa entrevista ao site Deadline (leia aqui), o cineasta disse: “As pessoas não têm noção de como chegamos perto de perder filme para sempre (...) Para mim, projeção digital é como ver televisão em público, as pessoas saindo de casa para ver um DVD com um monte de estranhos. É a morte do cinema.”
Na noite de Halloween, Tarantino sonha em convidar o cineasta Eli Roth, que interpretou Bear Jew, o soldado que matava nazistas com um bastão de beisebol em “Bastardos Inglórios” e que será homenageado com uma retrospectiva de seus filmes, para encarnar de novo o personagem e destruir todo o equipamento digital da sala. Taí uma sessão que eu viajaria meio mundo para ver.
Enquanto isso, no Leblon, nossos artistas abraçam um poste e reclamam do governo. Bastardos inglórios...
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