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CSN&Y: NENHUMA BANDA SE ODIOU – E FATUROU – TANTO

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Acaba de sair “CSNY 1974”, uma caixa de três CDs e um DVD com trechos da célebre turnê de 1974 do grupo Crosby, Stills, Nash & Young. A doçura das melodias e a sonoridade zen das músicas não reflete em nada os bastidores da turnê, uma das mais conturbadas do pop, em que os músicos saíam na porrada nos bastidores, cheiravam pó como tamanduás e  se comportavam como prima donnas enquanto tocavam baladas de paz e amor para 70 mil pessoas por noite em estádios lotados de fãs que só queriam reviver o espírito libertário e otimista da era Woodstock.

O CSN&Y foi um dos primeiros – senão o primeiro – “supergrupo” do rock, formado no fim dos anos 60 por músicos que já haviam feito sucesso em outros grupos: Stephen Stills e Neil Young no Buffalo Springfield, Graham Nash no The Hollies e David Crosby no The Byrds. O projeto começou como CSN. Neil Young foi adicionado depois, por sugestão do chefe da gravadora Atlantic, Ahmet Ertegun.

Não é à toa que os dois grupos mais populares do início dos 70, o Led Zeppelin e o CSN&Y, foram, basicamente, projetos criados por gravadoras ou produtores (Jimmy Page escolheu os músicos do Zep, um a um). A música pop já havia se tornado um big business. Não havia mais espaço para o amadorismo saudável de dez anos antes, quando bandas se conheciam na escola ou na faculdade. As gravadoras sabiam o que o público queria e criaram projetos que apelavam ao gosto médio.

Não importava que os músicos se odiassem, contanto que os discos vendessem bem. O caso do CSN&Y é emblemático daquela era de ganância: os quatro não se suportavam e haviam prometido nunca mais pisar num palco juntos. Cumpriram a promessa por quatro anos, até que, em 1974, a gravadora Atlantic e o empresário Bill Graham vieram com uma proposta tão alta que eles não resistiram. Seriam 31 shows em estádios, com públicos variando de 40 mil a 90 mil pessoas. A maior turnê de rock até então.

Quando Cameron Crowe, então repórter da revista “Creem” (e depois diretor de “Quase Famosos”), perguntou a Stephen Stills por que a banda estava saindo novamente em turnê, Stills respondeu: “A primeira tour foi pela arte e música, a segunda pelas garotas. Esta é pela grana”.

E grana não faltou. A equipe tinha mais de 80 pessoas e incluía traficantes, massagistas, acupunturistas e até um sujeito que tomava conta dos tapetes persas onde os quatro sentavam durante o show (leia aqui uma hilariante matéria da “Rolling Stone” americana, com entrevistas com vários participantes da turnê).

Crosby e Nash eram mais tranquilos, mas Stills e Young, donos de gênios fortes e egos do tamanho de rinocerontes, brigavam por qualquer coisa: arranjos, ordem das músicas no setlist, e quem iria cantar o quê. Neil Young se recusava até a viajar junto com os companheiros.

Os shows foram caóticos. A música de CSN&Y era adequada a pequenos teatros, não a estádios de futebol, e o volume altíssimo das montanhas de caixas dificultava a harmonização dos quatro cantores. Naquela época, não existiam telões que transmitissem o show ao vivo, e deve ter sido uma experiência frustrante para o público. Mesmo assim, o resultado é muito bom. Ainda prefiro ouvir CSN&Y no estúdio – acho que as versões ao vivo tendem a obscurecer as sutilezas das gravações – mas é divertido ouvir “Wooden Ships” ou “Old Man” seguidos do barulho de 150 mil mãos aplaudindo.

“CSNY 1974” é o registro perfeito daquela época pós-hippie, em que os sonhos de paz, amor e liberdade tinham virado case de marketing e as gravadoras já vendiam nostalgia.

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