O canal BIS está apresentando, esses dias, o show “Miles Davis & Quincy Jones Live at Montreux”.
Até o mais fanático admirador de Miles vai concordar que o concerto, gravado em 8 de julho de 1991 no festival de jazz de Montreux, na Suíça, não está entre os melhores momentos do músico. Mas é um dos mais emocionantes. Foi uma das últimas apresentações de Miles, que morreria menos de três meses depois.
O concerto foi um tributo de Quincy a Miles e a Gil Evans. Quincy juntou duas orquestras – a Jazz Band de George Gruntz (1932-2013) e a orquestra de Gil Evans (1912-1988), o lendário músico e arranjador que trabalhara em discos de Miles entre 1957 e 1968, incluindo clássicos como “Miles Ahead” e “Sketches of Spain” – e recriou os arranjos de Evans para algumas das músicas mais conhecidas do repertório de Miles.
O show tem um clima de reverência, como se a plateia estivesse se despedindo de Miles. À época, ele estava doente e muito magro, e há pelo menos três anos circulavam rumores de que estivesse com Aids.
O concerto começa com uma apresentação de Claude Nobs, o criador do Festival de Jazz de Montreux e célebre por ser citado em “Smoke on the Water”, do Deep Purple (a letra fala de um incêndio ocorrido em Montreux em 1971, quando o Deep Purple gravava o álbum “Machine Head”; durante o fogo, Nobs salvou várias pessoas das chamas; ele morreu ano passado, em um acidente de esqui).
Nobs chama ao palco Quincy Jones, e Quincy apresenta Miles: “O artista mais inovador e um de meus grandes heróis musicais; um homem que vem revolucionando a música há quase meio século e com quem terei a chance de me apresentar hoje pela primeira vez.” Miles sobe ao palco, muito magro e abatido, é ovacionado pelo público e abraçado por Quincy Jones. Um momento muito bonito e emocionante.
Durante o concerto, fica clara a fragilidade física de Miles. O trompetista Wallace Roney, então com 31 anos e que há seis era aluno de Miles, ajuda o mestre, virando páginas das partituras e, em certo momento, indicando a Miles o momento de iniciar um solo. É outra imagem linda de respeito e afeto.
Em 28 de setembro de 1991, Miles Davis morreu de pneumonia, após sofrer um derrame. O LP “Miles & Quincy Live at Montreux” foi lançado dois anos depois. Mas a gravação em vídeo do concerto é muito melhor que o disco. Percebe-se, nos olhares de admiração dos músicos no palco, que eles sabiam que testemunhavam um dos últimos suspiros de Miles.
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