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Odair José e o pop da periferia

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Hoje e amanhã, no SESC Pompéia, em São Paulo, Odair José fará shows de lançamento da caixa “Quatro Tons de Odair José”. A caixa traz os quatro primeiros discos de Odair pela Polydor/Philips, ainda inéditos em CD: "Assim Sou Eu..." (1972), "Odair José" (1973), "Lembranças" (1974) e "Odair" (1975).

Odair José - Pare de Tomar a Pílula + Deixe Essa Vergonha de Lado por thevideos no Videolog.tv.

O início dos 70 foi a fase de maior sucesso do cantor e compositor. No fim dos 60, ele havia deixado a vida confortável da família em uma fazenda em Goiás para tentar a sorte como músico no Rio. Odair penou na Cidade Maravilhosa: dormiu na rua e sobreviveu cantando em inferninhos. “Toquei em todos os puteiros de Bangu a Copacabana.”

O cantor conseguiu uma audição na CBS e gravou alguns discos pela companhia, mas logo se irritou com a insistência do selo em obrigá-lo a copiar sua maior estrela, Roberto Carlos. Odair tinha de usar até a banda de apoio do Rei.

No fim do contrato com a CBS, gravou o compacto de “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”. A gravadora não acreditou no disco e nada fez para promovê-lo. Revoltado, Odair partiu para uma excursão de kombi pelo Nordeste. Dois meses depois, um funcionário da CBS o encontrou no interior da Bahia: “Volta pro Rio correndo, tua música tá em primeiro lugar!”

Quando a CBS quis forçá-lo a gravar outro disco com a equipe de Roberto Carlos, Odair mandou a gravadora pastar e foi para a Philips. Na Polydor, selo “popular” da Philips, ao lado de Tim Maia e outros, sustentou Caetano, Gil, Elis e outros artistas consagrados, mas que não vendiam.

Na Polydor, Odair montou a banda que sempre quis. Chamou o grande trio instrumental Azymuth para acompanhá-lo, além do soulman Hyldon na guitarra. O pop brasileiro dos anos 70, mesmo o mais popular e considerado brega pela crítica, era muito bem produzido e contava com músicos e arranjadores excepcionais.

Isso não impediu que Odair fosse jogado na categoria dos “cafonas”, ao lado de Nelson Ned, Waldik Soriano e Agnaldo Timóteo. Não importava se suas maiores influências eram Paul Anka e os Beatles (ele tinha uma música chamada "Eu Queria Ser John Lennon"), e não os boleros lacrimejantes de Lucho Gatica, que faziam a cabeça de Ned e Timóteo: para a crítica da época, eram todos bregas.

Suas músicas eram crônicas pop da periferia e abordavam temas ousados: havia o sujeito que queria tirar a prostituta da “vida fácil” (“Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”), a empregada doméstica com vergonha de sua condição social (“Deixe Essa Vergonha de Lado”), o cara que implorava à amada para largar os anticoncepcionais e ter um filho com ele (“Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)”) e, especialmente corajoso para a época, “Na Minha Opinião”, uma crítica ao casamento (“Na Minha opinião / o importante é se querer / assinar papel pra quê? / Isso não vai prender ninguém”).

Os quatro discos da caixa são dos melhores de Odair José. Tomara que uma nova geração pare de lembrá-lo apenas como "O Terror das Empregadas” e preste atenção em suas músicas. Odair reina.

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