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A RESSURREIÇÃO DE NICK DRAKE

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Há 40 anos, Nick Drake dormiu e não acordou mais.

Em 25 de novembro de 1974, a mãe de Nick, Mary, foi despertar o filho e o encontrou morto na cama. Nick tinha 26 anos.

Na verdade, Nick havia desistido da vida uns dois anos antes, deprimido pelo fracasso comercial de seu terceiro disco, “Pink Moon”, e por sua total incapacidade de amar e sentir-se amado. Para escapar, fumava quantidades surreais de maconha e tomava montanhas de antidepressivos. Foi uma overdose de antidepressivos que o matou. Ninguém sabe se acidentalmente ou não.

Tirando parentes e alguns poucos admiradores, a morte de Nick Drake passou em branco. Tanto que seu obituário só foi publicado pelo semanário “New Musical Express” mais de dois meses depois, em fevereiro de 1975.

Também, que obituário: “Réquiem para um Homem Solitário” (leia aqui) de Nick Kent, é um dos textos mais bonitos escritos sobre a carreira breve e silenciosa de Nick Drake. A eulogia de Kent – o primeiro artigo mais profundo sobre a música de Drake – fez com que muita gente descobrisse o cantor após sua morte.

Entre os jovens que leram o artigo estava um certo Robert James Smith, então prestes a completar 16 anos. Robert ficou obcecado pela música de Nick Drake, especialmente pela canção “Time Has Told Me”, que abria o disco de estreia do cantor, “Five Leaves Left” (1969). Anos depois, quando montou a própria banda, Robert inspirou-se na letra da canção (“O tempo me disse / que você é um achado raro / uma cura confusa / para uma alma confusa”) para batizar seu grupo: The Cure.

Ainda na Inglaterra, uma jovem Siouxsie Sioux caiu de amores pelas letras dilacerantes de Drake. Nos Estados Unidos, Peter Buck, que anos depois montaria o REM, também se fascinou, mas pela técnica de Drake ao violão, inspirada por mestres do folk britânico como Bert Jansch e John Martyn.

Desde sua morte, há 40 anos, a fama de Nick Drake só aumentou. Fãs visitam seu túmulo e a casa onde viveu; bandas fazem covers e estudiosos pesquisam sua vida breve.

Enquanto viveu, Nick Drake foi um mistério. Seus três discos – “Five Leaves Left” (1969), “Bryter Layter” (1970) e “Pink Moon” (1972)” – foram fracassos. Parou de tocar ao vivo logo no início da carreira, assombrado por uma timidez doentia e medo de rejeição. Deu uma única entrevista na vida, e esta foi tão constrangedora, com longas passagens de silêncio e respostas monossilábicas e evasivas, que ele jurou nunca mais se abrir para ninguém.

Não existe uma imagem de Nick Drake tocando num palco. Na verdade, não há uma imagem em movimento de Drake, com exceção de poucos filmes familiares, feitos quando ele era criança. Fãs obsessivos ainda discutem se o homem alto que aparece de costas nessa cena, capturada em um festival de música na Inglaterra no início dos anos 70, é Nick Drake:

No obituário escrito por Nick Kent, ele cita uma declaração de Robert Kirby, amigo e arranjador de Drake, que talvez seja a melhor definição da música etérea, triste e arrebatadora do artista:

“Vejo o trabalho de Nick, primordialmente, como uma série de observações completas e vívidas, e não apenas exercícios de introspecção, como muitos acham. Elas são quase pequenos provérbios epigramáticos. A música e a letra se fundem de maneira a tornar a atmosfera das canções mais importante do que qualquer outra coisa. Eu sei que isso era o objetivo principal de Nick – não acredito, por exemplo, que ele achasse suas letras ‘grande poesia’ ou algo semelhante. Elas estão lá para complementar... para criar uma atmosfera ditada, em primeiro lugar, pela melodia”.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

 

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