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70 VEZES NELSON MOTTA (E TCU TEM NOVO MEMBRO, O RÊGO)

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nelsonmotta RODOLPHO MACHADO 70 VEZES NELSON MOTTA (E TCU TEM NOVO MEMBRO, O RÊGO)

Há uma piada corrente entre jornalistas e pesquisadores de música brasileira: quando algum deles lança um livro ou documentário, outro pergunta: “E aí, conseguiu não entrevistar o Nelson Motta?”.

Há alguns meses, no lançamento de meu livro “Pavões Misteriosos”, ouvi a piada pelo menos duas vezes. E a resposta foi: não, não consegui não entrevistar Nelson Motta. Afinal, o tema de “Pavões Misteriosos” era a música pop brasileira dos anos 70 e 80, e é impossível falar desse período sem citar o homem.

Na verdade, qualquer brasileiro com 50 anos ou menos e que goste de música e TV teve Nelson Motta, que acaba de completar 70 anos, como uma influência inescapável em sua vida. Desde a época dos festivais, no fim dos anos 60, até hoje, ele é uma espécie de Zelig do pop nacional, sempre na linha de frente.

Durante minha pesquisa para o “Pavões”, tive a chance de pesquisar sobre o trabalho de Nelson nos bastidores da música brasileira. Ele foi um dos primeiros produtores de trilhas sonoras para a Globo, criou os programas “Som Livre Exportação” e “Sábado Som” e ajudou a fundar o “Jornal Hoje”, onde apresentava matérias sobre música, cinema, TV e literatura.

Nasci em 68 e não lembro essas reportagens, que só veria anos depois, em cenas de arquivo. Mas devia ser fantástico ligar a TV na hora do almoço e ver aqueles papos com Raul Seixas, Tim Maia, Novos Baianos e Ney Matogrosso.

Também não tive idade para ir ao festival Hollywood Rock, em 75 (Mutantes, Rita Lee & Tutti Frutti, Raul Seixas, Erasmo Carlos) ou para frequentar a Frenetic Dancin’ Days, a casa noturna que Nelson abriu na Gávea e onde revelou as Frenéticas.

Mas outra criação de Nelson fez minha cabeça nos anos 70: a trilha do “Globo Cor Especial”, que ele compôs com Marcos Valle e Paulo Sergio Valle: “Não existe nada mais antigo / do que caubói que dá cem tiros de uma vez”.

Depois, comecei a ler a coluna diária sobre música que ele assinava no “Globo”, fui à Praia do Pepino, em 85, ver Raul Seixas tocando no “Mixto Quente”, programa que Nelson criou, e lembro o choque de ver “Armação Ilimitada”, com sua estética new wave e modernex, parecendo uma ovelha negra – ou melhor, colorida – na programação ultracareta da Globo.

Sempre fui admirador do trabalho eclético de Nelson Motta, mas nunca o conheci pessoalmente. Meu encontro mais marcante com ele – e o primeiro em pessoa, embora ele certamente não lembre – aconteceu em Nova York, em 8 de dezembro de 1994. Naquele dia, morreu Tom Jobim, e fui correndo ao hospital cobrir a chegada de amigos e parentes do compositor.

Dezenas de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas se amontoavam para entrevistar todo mundo que chegava. Nelson desceu de um carro e andou em direção à porta do hospital, onde foi cercado por uma multidão. Os jornalistas gritavam: “Nelson, fala com a gente!”, enquanto fotógrafos disputavam um ângulo melhor para fotografá-lo. Lembro que achei a cena constrangedora: profissionais de imprensa gritando e quase saindo no tapa por uma declaração, sem a menor consideração pela gravidade da situação e pelos sentimentos dos amigos e familiares que chegavam.

Nelson parecia atordoado. Ficou sem reação diante dos gritos e empurra-empurra dos fotógrafos, e nada falou. Continuou andando em direção à porta. Quando passou ao meu lado, perguntei: “Senhor Motta, o senhor se importaria de dar uma declaração sobre seu amigo Tom Jobim?”. Como disse, eu não conhecia Nelson e não me senti à vontade para chamá-lo pelo primeiro nome – ou por “Nelsinho”, como faziam alguns. Acho que ele nunca havia sido chamado de “Senhor Motta” antes, e talvez essa deferência o tenha feito parar e dar um depoimento muito bonito e comovente sobre o amigo e ídolo que acabara de perder. Nunca esqueci a cena.

Hoje, às 20h30, o Canal Brasil exibe mais um episódio da série “Nelson 70”, sobre a trajetória musical de Nelson Motta. Vale a pena assistir.

RÊGO NO TCU

Para quem vê enormes diferenças entre governo e oposição, vale lembrar que os dois vibraram com a chegada do senador Vital do Rêgo (PMDB) ao TCU, onde certamente irá atravancar o quanto pode as investigações sobre o Petrolão.

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