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TÁ ESTRESSADO? NÃO VÁ PESCAR!

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peixe1 TÁ ESTRESSADO? NÃO VÁ PESCAR!

O verão está chegando. Para aproveitar a estação mais agitada do ano, decidimos comprar um bote para pesca e passeio. Depois de pesquisar bastante, optamos por um modelo dos mais simples, de fibra, com cinco metros de comprimento e um motorzinho de popa.

Nada melhor que passar horas jogando o anzol ao mar apreciando o crepúsculo, não é mesmo? Difícil imaginar algo tão relaxante e agradável.

Quer dizer, isso se você não for idiota como nós e decidir seguir a lei, registrando seu barco na Capitania dos Portos. Caso você opte por essa insanidade, seus dias se tornarão trevas, as noites, insones, você perderá enorme quantidade de cabelos – metade por queda, metade arrancado – e seu stress atingirá o nível de um controlador de voo em Congonhas.

Um breve resumo de nossa saga:

Quatro ou cinco meses atrás, fui à Capitania dos Portos pedir informações sobre registro de embarcações. Dei de cara com a porta. A Capitania só funcionava até 13h30.

Na segunda visita, o lugar estava sem luz. Na terceira, o “sistema” estava fora do ar. Pelo menos consegui pegar a lista de documentos necessários.

Fui ao banco, paguei as taxas, anexei o recibo de compra do barco, autentiquei os documentos pedidos e voltei, todo pimpão, à Capitania. Faltavam diversos documentos. “Não te deram a lista completa?” perguntou um funcionário. Quando respondi que aquela lista fora passada por alguém da própria Capitania, veio a resposta de sempre: “Ah, mas então a pessoa se enganou”.

A nova lista tinha cinco ou seis itens a mais, vários deles autenticados. Como estava sem paciência para voltar à Capitania pela QUINTA vez e certo de que achariam algum documento preenchido erradamente, optei pela saída covarde: contratei um despachante naval.

Sim, eles existem. Despachantes navais. São iguaizinhos aos despachantes de carros, alvarás, passaportes, foguetes interplanetários, etc.: os mesmos dedos amarelos de nicotina, falando em três celulares ao mesmo tempo, alternando tom de voz forte e impositivo a cochichos quando o assunto chega à resolução dos meandros delicados de nossa burocracia kafkiana.

O despachante disse para eu não me preocupar, que o registro ficaria pronto em uma semana. Dois dias depois, entregou um protocolo, que permite que usemos o barco enquanto o processo está tramitando. “Mas cuidado, que isso só vale por um mês; se demorar mais que isso tem que renovar o protocolo”, alertou. Li o documento de cabo a rabo e não achei prazo de validade. “Não tá escrito, mas vai por mim, só vale um mês”.

Alguns dias depois, o despachante ligou. Achei que era para avisar que o registro estava pronto. “Você não vai acreditar, mas a Capitania está pedindo uma carta do fabricante do barco com as especificações, dimensões, capacidade de passageiros, etc.” Argumentei que essas informações já constavam do recibo do barco, mas o despachante disse que a Capitania exigia a tal carta.

O fabricante do barco ficava a 200 km de casa. Levei mais de duas semanas para conseguir a carta.

Dias depois, novo telefonema do despachante: “Olha, você vai achar que estou de sacanagem, mas agora estão pedindo um laudo de um engenheiro naval atestando as dimensões do barco”. Surreal: a Capitania já tinha dois documentos com as medidas e agora exigia que eu pagasse um engenheiro naval para medir o barco e atestar que os números estavam corretos.

Isso atrasou o processo em mais duas ou três semanas. Para piorar, “a pessoa que estava com o processo entrou de férias”, como explicou a secretária do despachante.

A essa altura, os gastos com despachante, xerox, cartório e engenheiro naval chegavam a quase 25% do valor do bote.

Depois de anexar à papelada o maldito laudo do engenheiro naval, recebi novo protocolo – o terceiro. Isso foi há mais de um mês. Já estamos no fim da validade do quarto protocolo, e nada do registro.

Tomara que saia antes do derretimento das calotas polares, para dar tempo de pegar uns bagrinhos.

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