Torcedores de futebol de todo o país, mesmo rivais históricos, têm uma boa razão para torcer juntos: se a proposta do deputado federal Raul Henry (PMDB-PE) passar, será corrigida uma injustiça absurda, que periga transformar o Campeonato Brasileiro em uma disputa de dois ou três times.
A proposta do deputado revê a distribuição de recursos pagos aos times de futebol pela transmissão de jogos na TV.
Atualmente, as cotas são distribuídas de acordo com acertos individuais de cada clube com a Rede Globo, e os números são revoltantes. Aqui vai a tabela de pagamentos prevista para 2016:
- Grupo 1 – Flamengo e Corinthians: R$ 170 milhões
- Grupo 2 – São Paulo: R$ 110 milhões
- Grupo 3 – Vasco e Palmeiras: R$ 100 milhões
- Grupo 4 – Santos: R$ 80 milhões
- Grupo 5 – Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Internacional, Fluminense e Botafogo: R$ 60 milhões.
- Grupo 6 – Coritiba, Goiás, Sport, Vitória, Bahia e Atlético-PR: R$ 35 milhões
Ou seja: o bicampeão brasileiro, Cruzeiro, receberá, todo ano, R$ 40 milhões de reais a menos que o Palmeiras, que quase foi rebaixado em 2014, e pouco mais de um terço do Flamengo, décimo colocado em 2014 e 16º em 2013. O Santos, 17º colocado em média de público em 2014, receberá 33% a mais que o Internacional, quinto colocado em público.
Nem a desculpa da audiência cola mais. Este ano, os jogos do Corinthians na Globo no Campeonato Brasileiro tiveram média de 16,9 pontos na Grande São Paulo, abaixo de Palmeiras (17,1), São Paulo (17) e Santos (17).
Esse sistema de cotas tende a desequilibrar cada vez mais os campeonatos e dá aos times de maior torcida vantagens financeiras injustas.
Logo, o Brasileirão periga virar o campeonato espanhol, onde dois times – Barcelona e Real Madrid – ganham cotas de TV quase três vezes maiores que o terceiro na lista, o Valencia, e vêm dominando quase todas as disputas.
A proposta do deputado Henry, que já está em fase de conclusão na Câmara dos Deputados, prevê uma distribuição semelhante à da Premier League inglesa, em que 50% da receita são divididos igualmente entre os times, 25% são distribuídos de acordo com a classificação da equipe na última temporada do campeonato em questão, e 25% são repassados proporcionalmente à média do número de jogos transmitidos no ano anterior.
Segundo o projeto de lei (veja a íntegra aqui), “esse modelo permitiu, por exemplo, que o Manchester United, campeão em 2008/09, tenha recebido 66 milhões de euros, enquanto o Middlesbrough, penúltimo colocado, tenha encaixado 40 milhões de euros.”
Ninguém está pedindo que os últimos colocados e times menos populares ganhem a mesma coisa que os times que dão mais audiência de TV. Mas não é possível uma distribuição tão sem vergonha. A médio prazo, isso restringirá as chances de título a pouquíssimos clubes e tornará todos os outros coadjuvantes.
Lembrando que os clubes de maior torcida ainda podem faturar mais que os rivais em bilheteria de jogos, venda de merchandise e patrocínios.
O campeonato brasileiro de 2014 acabou, mas está em jogo agora uma disputa bem mais importante, que vai decidir o futuro do futebol brasileiro.
Os gênios que comandam nosso futebol já acabaram com jogos de duas torcidas, afugentaram o torcedor com partidas às 10 da noite e destruíram o Maracanã e o Mineirão. Agora querem acabar com o Campeonato Brasileiro. Vão pro inferno.
The post PROJETO DE LEI COMBATE A “ESPANHOLIZAÇÃO” DO FUTEBOL BRASILEIRO appeared first on Andre Barcinski.