Ossos quebrados, sangramentos, esgotamento físico e mental, impulsos suicidas, depressão, tortura psicológica... Não é o resultado de um teste para o BOPE, mas a audição para uma prestigiada escola de música de Nova York, sob o comando de Terence Fletcher (J.K. Simmons), mostrada em “Whiplash”.
Fletcher é um dos personagens mais odiáveis que o cinema mostrou em muito tempo. Seu sadismo, maldade e arrogância só têm paralelo em personagens militares especializados em treinar meninos para a guerra, como o sargento Hartman interpretado por R. Lee Emmey em “Nascido para Matar” (Stanley Kubrick, 1987) ou o sargento Emil Foley vivido por Louis Gossett Jr. em “A Força do Destino” (Taylor Hackford, 1982).
Fletcher é o professor mais temido da escola Shaeffer, e os poucos alunos escolhidos para seu grupo de jazz passam por ensaios torturantes, mas sabem que podem sair dali e conseguir uma vaga em alguma grande banda – ou até, quem sabe, tocar com Wynton Marsalis na Orquestra do Lincoln Center.
É o sonho de Andrew Neyman (Milles Teller), um jovem ambicioso, que chega à escola e logo entra em rota de colisão com Fletcher. Este percebe talento no rapaz, mas o submete a um jogo psicológico para quebrar sua confiança e fazê-lo se esforçar cada vez mais.
O tema de “Whiplash” é a disputa entre mestre e pupilo. O que, na teoria, deveria ser um relacionamento paternal e carinhoso, com o veterano abraçando o novato e o guiando na direção da genialidade, aqui é uma briga de MMA, em que Fletcher tenta destruir a psique de Neyman para fazê-lo perceber que só a transpiração leva à inspiração.
Isso torna Neyman um músico melhor, mas destrói sua vida. Ele é incapaz de manter uma conversa com qualquer um que não envolva falar de jazz e de seus ídolos - Buddy Rich, Bob Ellis, etc. – e vê até sua vida amorosa prejudicada. Não parece haver espaço para romantismo no jazz.
Essa é uma questão interessante do filme: fazer música não deveria ser um prazer? Mas você sai da sessão com sérias dúvidas sobre isso. Durante todo o filme, não há um momento sequer em que os músicos parecem estar se divertindo. “Whiplash” parece um “Survivor” do jazz.
P.S.: Estarei fora até o meio da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado e respondido, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.
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