Que “That’s the Way It Is”, o álbum ao vivo gravado por Elvis Presley em 1970, é um clássico do pop, ninguém questiona. Mas alguém precisa de DEZ discos com as mesmas músicas?
A versão “deluxe” de “That’s the Way It Is” acaba de sair no exterior, trazendo, além do disco original, seis CDs com outros shows da mesma turnê, um CD de ensaios e dois DVDs com versões diferentes do documentário gravado naquela excursão. Ufa.
E que tal seis CDs e um DVD celebrando “Adore”, o disco que o Smashing Pumpkins gravou em 1998, incluindo a versão mono, demos, ensaios e versões ao vivo (tem até faixas gravadas em São Paulo!), além de um DVD com a íntegra de um show? Exagero?
E “The Velvet Underground”, terceiro disco do Velvet e o primeiro sem John Cale? O LP original é uma maravilha – “Pale Blue Eyes”, “Candy Says”, “I Can’t Stand it” – e você certamente o tem em sua coleção. Mas agora pode comprar a versão “Super Deluxe de 45º Aniversário”, com nada menos de seis discos.
Se preferir, pode ter os quatro discos da versão ultra-super-fodona de “Setting Sons”, do The Jam, ou três CDs celebrando um disco que nem é lá grandes coisas, "Defenders of the Faith”, do Judas Priest. Os deuses da indústria musical devem estar loucos.
Ou não. Se você é uma gravadora, relançar discos velhos é a coisa mais lucrativa a fazer.
Para começar, não há custos de gravação ou cachês para os artistas. A divulgação é fácil: esses discos já contam com um fã-clube consolidado, que vai adorar comprar novas versões de discos que já possuem.
Os números são impressionantes: em 2010, pela primeira vez, consumidores norte-americanos compraram mais discos de catálogo do que novidades.
Segundo o site Wondering Sound, dos 450 títulos lançados para o “Record Store Day” de 2014, nada menos de 243, ou 54%, eram relançamentos.
As versões remasterizadas dos discos do Led Zeppelin, lançadas recentemente por Jimmy Page, venderam 90 mil cópias cada, sendo que “Led Zeppelin 4” chegou a número 7 na parada da “Billboard”, 43 anos depois de seu lançamento original.
Pessoalmente, abomino essas versões “deluxe” cheias de extras. Ninguém precisa ouvir os demos de “Doolittle”, do Pixies, a menos que você seja tão fanático pela banda que não consiga dormir sem saber se Black Francis mudou a letra de “Wave of Mutilation”. Existe uma razão pela qual essas versões continuaram demos: o artista não quis lançá-las no disco oficial.
Os relançamentos que me interessam são as caixas que reúnem discos do catálogo de certos artistas, e que estão sendo vendidas a preços muito bons. Que tal pagar 170 dólares pela caixa com os dez discos do Roxy Music? Ou a bagatela de 50 doletas na caixa com os 11 primeiros discos de Leonard Cohen?
Recentemente, saíram caixas de Sly and the Family Stone, Sleater-Kinney, Bruce Springsteen, Captain Beefheart, e uma reunindo todos os discos solo de George Harrison de 1968 a 75. Isso sim é música para os ouvidos.
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