O CCBB de São Paulo está exibindo, até o dia 9 de fevereiro, a mostra “Easy Riders: O Novo Cinema de Hollywood” (veja a programação aqui), com uma ótima seleção de filmes produzidos entre o fim dos anos 60 e o fim dos 70, um dos períodos mais criativos do cinema norte-americano.
A mostra inclui “O Poderoso Chefão”, “Tubarão”, “Taxi Driver”, "Sem Destino", “M.A.S.H.”, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “A Última Sessão de Cinema”, todos clássicos, que não vou perder tempo indicando.
Listei dez filmes bem menos conhecidos que estão na mostra e merecem ser vistos. Quem não mora em São Paulo pode ver a maioria em DVD, Blu-Ray ou nos Cines Torrents da vida. Lembrando que publiquei, há alguns meses, um texto sobre “O Comboio do medo”, de William Friedkin, que também está na mostra (leia aqui).
A Última Missão (The Last Detail, Hal Ashby, 1973)
Adoro esse filme. Jack Nicholson e Otis Young são dois oficiais da Marinha que recebem a missão de escoltar um jovem marinheiro (o ótimo Randy Quaid) para a prisão. Uma pérola anti-establishment do genial Hal Ashby (1929-1988).
Amargo Reencontro (Big Wednesday, John Milius, 1978)
Não foi só Coppola em “Apocalypse Now” que juntou surfe e a Guerra do Vietnã no mesmo filme. Esse drama de Milius conta a vida de três amigos surfistas (Gary Busey, Jan-Michael Vincent e William Katt) que tentam escapar da guerra. Há um ótimo documentário sobre Milius passando na HBO, que vale muito a pena assistir.
Cada um Vive Como Quer (Five Easy Pieces, Bob Rafelson, 1970)
Que ator era Jack Nicholson nos anos 70, não? Nesse drama, um filme triste sobre a falta de perspectiva e ideais da América nos anos 70, Nicholson faz um trabalhador de perfuração de petróleo que esconde o fato de vir de uma família rica e excêntrica. Quando o pai fica à beira da morte depois de um derrame, Nicholson pega a namorada - a extraordinária Karen Black - e cruza o país para se despedir. Bonito demais.
A Outra Face da Violência (Rolling Thunder, John Flynn, 1977)
Um dos filmes mais brutais do período, conta a história de Charles Rane (William Devane), um soldado americano que passa oito anos sequestrado por tropas vietnamitas e sofrendo torturas inimagináveis. Após ser solto, ele volta aos Estados Unidos só para descobrir que a violência em casa é até pior. Tarantino gosta tanto desse filme que batizou sua produtora de Rolling Thunder. O roteiro é de Paul Schrader.
Na Mira da Morte (Targets, Peter Bogdanovich, 1968)
Inspirado pelo caso real de um homem que subiu numa torre e matou diversas pessoas a tiros, Bogdanovich fez esse filme B para Roger Corman, inclusive utilizando Boris Karloff de coadjuvante (Karloff devia a Corman dois dias de filmagem). Lançado logo após os assassinatos de Robert Kennedy e Martin Luther King, o filme foi um fracasso de bilheteria, mas depois virou “cult”, sendo inclusive homenageado por Elvis Costello na faixa “Big Tears”.
Os Maridos (Husbands, John Cassavettes, 1970)
O cinema de Cassavettes explorou o vazio da vida de classe média americana, e “Husbands” é um de seus melhores filmes: uma história melancólica sobre três amigos (interpretados pelo próprio Cassavettes, além de dois membros constantes de sua trupe, Ben Gazarra e Peter Falk), que saem para uma noitada de bebedeira após saberem da morte de um amigo. Sempre achei que Pietro Germi se inspirou nesse filme para escrever “Meus Caros Amigos” (1975), que acabaria dirigido por Mario Monicelli depois que Germi morreu.
Nasce um Monstro (It´s Alive, Larry Cohen, 1974)
“Trashão” da melhor qualidade: um casal vai ao hospital para o nascimento de seu filho, mas o que sai da barriga da mamãe é um monstro mutante que mata tudo que vê pela frente. Os Ramones adoravam esse filme e batizaram seu primeiro disco ao vivo de “It´s Alive” em homenagem a ele.
Warriors – Os Selvagens da Noite (Warriors, Walter Hill, 1979)
Vi essa beleza num drive-in na Ilha do Governador e minha vida nunca mais foi a mesma. Numa Nova York dominada pela violência, gangues defendem seus bairros e enfrentam as outras em brigas até a morte.
Hardcore – No Submundo do Sexo (Hardcore, Paul Schrader, 1979)
Paul Schrader é um herói. Escreveu “Taxi Driver”, “Touro Indomável” e “A Costa do Mosquito”, dirigiu “Vivendo na Corda Bamba”, “Mishima”, “Affliction” e este “Hardcore”, um dos grandes filmes desconhecidos da “Nova Hollywood”. George C. Scott faz um pai que procura a filha desaparecida e descobre que ela atuou em um filme pornô. Joel Schumacher copiou 90% desse filme em “8mm”.
Terra de Ninguém (Badlands, Terrence Malick, 1973)
Martin Sheen e Sissy Spacek saem sem destino pelo meio-oeste americano nesse “road movie” violento e lírico, o primeiro longa dirigido por Malick – e seu melhor. Se você achar parecido com “Assassinos por Natureza”, de Oliver Stone, não é mera coincidência.
Corrida sem Fim (Two Lane Blacktop, Monte Hellman, 1971)
O cinema americano do fim dos 60 e início dos 70 abusou do automóvel como metáfora da vida sem limites e símbolo da contracultura. É só lembrar “Sem Destino”, “Vanishing Point”, “Death Race 2000” e tantos filmes em que a estrada é uma analogia daqueles tempos caóticos em que ninguém conseguia saber o que aconteceria na próxima curva. “Two Lane Blacktop” é um grande “road movie”, uma parábola existencialista sobre a sociedade americana e que tinha no elenco dois músicos famosos: o baterista dos Beach Boys, Dennis Wilson, e o cantor folk James Taylor.
Bom fim de semana a todos.
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