O que seria de nós sem a Versátil?
Enquanto a temporada do Oscar despeja nos cinemas estrupícios como “A Teoria de Tudo”, a distribuidora de DVD e Blu-Ray continua lançando ótimos filmes.
Entre os últimos lançamentos estão uma caixa com quatro filmes de Samuel Fuller, que comprarei esses dias e comentarei aqui no blog, e a versão restaurada do clássico udigrudi “O Bandido da Luz Vermelha”, de Sganzerla.
Sem contar que a empresa anuncia para breve o relançamento de “A Longa Caminhada” (“Walkabout”), de Nicholas Roeg, um dos filmes mais bonitos e estranhos já feitos.
Há algumas semanas, a Versátil lançou “Gloria” (1980), de John Cassavettes.
Cassavettes (1929-1989) foi o verdadeiro pai do cinema independente americano. Tudo que hoje chamamos de “indie”, ele inventou sozinho. Foi um dos primeiros cineastas a ter sua própria produtora e a financiar e distribuir os próprios filmes, em que utilizava uma trupe de ótimos atores que incluía Ben Gazarra, Peter Falk, Seymour Cassell e Gena Rowlands, sua esposa.
Cassavettes teve uma carreira de sucesso como ator e diretor no cinema comercial e na TV – atuou em “O Bebê de Rosemary” e “Os Doze Condenados” - e usava a grana que ganhava para financiar seus filmes, que traziam pessoas comuns em meio a conflitos amorosos e crises existenciais.
A narrativa dos filmes era “solta”, com câmera na mão e improvisação. Muita gente foi influenciada pela maneira livre com que Cassavettes contava suas histórias. Peter Bogdanovich, Scorsese, Hal Ashby, todos eram fãs de Cassavettes. Veja Scorsese falando sobre o cineasta:
Entre os melhores filmes do diretor estão “Faces” (1968), a comédia “Minnie and Moskowitz” (1971) - meu filme predileto de Cassavettes - e “A Woman Under the Influence” (1974), com atuações inesquecíveis de Gena Rowlands e Peter Falk.
Os filmes de Cassavettes sempre foram sucesso de crítica, mas não atingiam o grande público. Na virada dos 70 para os 80, ele começou a pensar em fazer filmes mais comerciais e escreveu o roteiro de “Gloria”, uma história sobre a máfia. Sua intenção era vender o roteiro para a Columbia, mas acabou convencido a dirigir depois que Gena Rowlands foi contratada para o papel principal.
“Gloria” é bem diferente dos filmes anteriores do cineasta. Conta a história de uma mulher solitária, Gloria, vizinha de um contador da máfia (interpretado por Buck Henry, roteirista de “A Primeira Noite de um Homem”) que deu um desfalque nos chefões. Quando gângsteres matam toda a família do contador, o filho pequeno do casal acaba sob os cuidados de Gloria, que precisa protegê-lo dos mafiosos.
“Gloria” ficou longe de ser um grande sucesso de bilheteria, mas pelo menos teve uma distribuição razoável nos Estados Unidos e foi visto por um público mais eclético, não só por estudantes de cinema ou fãs de Cassavettes.
Cassavettes faria mais dois filmes para grandes estúdios, o lindo “Love Streams” (1984) e a fracassada comédia “Big Trouble” (1986), antes de morrer de cirrose, em 1989. Seus três filhos com Gena Rowlands – Alexandra, Zoe e Nick - são cineastas. Nick dirigiu o ótimo “thriller” “Alpha Dog”, com Emile Hirsch e Justin Timberlake.
P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.
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