O grupo The Sonics está completando 55 anos. E é com mais de meio século de atraso que desembarca no Brasil, para um show único em São Paulo, no clube Audio. Bati um papo com o saxofonista da banda, Rob Lind. Aqui vai a entrevista:
- Quando o Sonics acabou, em 1968, vocês culparam o desinteresse do público por sua música. Hoje, no entanto, muitas bandas copiam vocês. O que aconteceu?
- (Rindo) Pois é, também foi uma surpresa para nós. Não sei se estávamos muito adiantados para a época, ou se nossa música era muito agressiva, mas o fato é que ninguém, especialmente nos Estados Unidos, queria saber de nós. Acabou que a banda se separou no fim dos 60 e cada um foi cuidar de sua vida.
- Mas você não percebeu, ao longo dos anos, como o som do Sonics influenciou todo mundo, de Iggy Pop a Ramones e Nirvana?
- Sim, eu ouvia bandas novas citando a gente, mas foi só depois que voltamos a tocar juntos, em 2007, que percebi como éramos influentes. Começamos a excursionar pelo mundo todo e vimos as bandas novas falando como amavam nosso som. Meus amigos do The Hives, por exemplo, se inspiraram muito em nós.
- "Se inspiraram" é bondade sua. O Hives copia vocês descaradamente.
- (Rindo) Bom, isso é você quem diz. Eu prefiro dizer que se inspiraram em nós.
- Por que você acha que o público norte-americano não ligava pro Sonics?
- Olha, os Hives, que são suecos, dizem que os garotos europeus são bem mais informados sobe música do que os americanos. Eles lêem muito sobre as bandas de que gostam e procuram saber tudo sobre elas. Talvez, por isso, a gente seja bem mais famoso na Europa do que em casa.
- Como era a vida de vocês quando formaram a banda?
- Somos todos de famílias de classe média baixa de Tacoma (cidade a 50 km de Seattle, no estado de Washington). Meu pai operava um guindaste para uma madeireira. É importante mencionar isso, porque muita gente nos associa a Seattle, mas a verdade e que existia um abismo entre as cenas musicais de Seattle e Tacoma. Seattle era mais rica e o pessoal tinha mais dinheiro e bom gosto, todo mundo era ligado em jazz. Nós éramos uns broncos e só ouvíamos o lado mais selvagem do rock, como Jerry Lee Lewis e Little Richard. Foram esses caras que nos influenciaram.
- Você chegou a ver esse heróis do rockabilly e dos primórdios do rock'n'roll ao vivo?
- Não. Naquela época, viajar não era fácil, não é que nem hoje, com centenas de vôos todos os dias. Tacoma era um lugar isolado, no meio do nada, ninguém ia pra lá. Pra não dizer que não vi ninguém, lembro ter visto um show de Chubby Checker, o rei do twist.
- A música de vocês é muito rápida e agressiva para a época. Como vocês criaram esse estilo?
- Acho que tentando tocar, cada vez mais rápido, as músicas de nossos ídolos, Jerry Lee e Little Richard. Na verdade, a gente não sabia tocar muito bem e, quando não se sabe tocar, a tendência é acelerar tudo. Mas havia outro fator: quando começamos, tocávamos em rinques de patinação e feiras. Fazíamos três shows por noite, mas era só música de fundo, ninguém estava prestando atenção de verdade em nós. Aquilo nos enfurecia. Um dia, falamos: quer saber? Vamos tocar o mais alto e rápido possível, assim todo mundo vai parar o que estiver fazendo e prestar atenção. E foi o que fizemos.
- As letras de vocês, como "Strychnine" e "Psycho", também são ousadas para o início dos 60, falando de drogas e problemas mentais. Vocês usavam drogas na época?
- Não, mas bebíamos como peixes. Mas Gerry (Roslie, cantor e principal letrista da banda) tinha uma baita imaginação e também sabia como fazer uma letra que chamasse atenção. Ele tinha um grande talento pra causar polêmica.
- Vocês lançaram o primeiro disco em 1965, bem no meio da "Invasão Britânica" de Beatles, Stones e Kinks. Você chegou a tocar com essas bandas?
- Sim, excursionamos com os Kinks em 1965 ou 66, nos Estados Unidos. Era minha banda predileta. Lembro o dia em que ouvi "You Really Got Me" pela primeira vez. Eu estava no carro, liguei o rádio e ouvi aquele riff de guitarra espetacular. Pensei: "Meu Deus, esse é o som mais lindo que já ouvi em toda minha vida!" Depois ficamos amigos de Ray (Davies, do Kinks). Ele gostava muito de nós. É um de meus compositores prediletos. Acho "Waterloo Sunset" uma das maiores músicas do rock em todos os tempos.
- É verdade que você pilotou aviões na Guerra do Vietnã?
- É sim. Depois que larguei a banda, virei piloto de aviões e fui pro Vietnã.
- Você participou de muitos combates?
- Felizmente, não. Aquilo era um horror, eu só queria saber de voltar logo pra casa. Voei bastante pelo Pacífico, mas mais na retaguarda, transportando carga e soldados. Mas tenho uma história boa da guerra: estávamos numa boate uma noite, quando uma banda local começou a tocar músicas americanas. Eu estava com outros oficiais americanos, já tínhamos bebido bastante, e um amigo disse: "Rob, você não toca saxofone? Sobe lá e toca com os caras!" Ninguém na boate sabia quem eu era e muito menos conhecia o Sonics, mas acabei tocando com a banda da casa. Só não me pergunte o que eu toquei. Eu tinha bebido tanto que não lembro.
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