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OLIMPÍADAS: UM MAU NEGÓCIO

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beijing OLIMPÍADAS: UM MAU NEGÓCIO

Não discuto mais: da próxima vez que um amigo ou parente começar a elogiar a Copa e as Olimpíadas, a falar em "legado" e em como esses eventos ajudam o turismo e a economia, vou presenteá-lo com uma cópia de "Circus Maximus", novo livro do jornalista e economista norte-americano Andrew Zimbalist, lançado pela editora Brookings Institution Press.

Zimbalist é especialista em finanças do esporte e estuda a economia de grandes eventos esportivos há mais de 20 anos. Ele pesquisou dados sobre todas as Copas do Mundo e Olimpíadas de verão e inverno, e chegou a conclusões que a gente já desconfiava, mas não tinha como provar: esses eventos, com raríssimas exceções, só beneficiam a FIFA, o COI e grandes empresas, como empreiteiras, construtoras e fornecedoras de serviços. Os países-sede, invariavelmente, acabam com dívidas imensas que se arrastam por décadas e comprometem a economia local.

circus OLIMPÍADAS: UM MAU NEGÓCIO

"Ah, mas as Olimpíadas de 92 foram ÓTIMAS para Barcelona!", dirão alguns. E foram mesmo. Mas é importante analisar as circunstâncias daquele evento. As Olimpíadas não foram o início do processo de recuperação econômica e turística de Barcelona, mas sua coroação, a cereja no bolo de um projeto que já vinha acontecendo desde 1976.

Dos 37 estádios, ginásios e estruturas esportivas usadas nas Olimpíadas de Barcelona, 27 já estavam prontos e cinco em construção antes de a cidade ser escolhida sede dos jogos, em 1986. "Nesse caso", escreve Zimbalist, "o plano precedeu os jogos".

Do total gasto no evento, cerca de 11,5 bilhões de dólares (a Copa de 2014 nos custou entre 15 e 20 bilhões), mais de 60% vieram da iniciativa privada. E o plano da cidade incluiu a ampliação de estradas, a extensão dos sistema de metrô e trens, a renovação e ampliação do aeroporto e a modernização dos sistemas de água e esgoto.

Zimbalist explica, em números e dados, como o COI, a FIFA e os países-sede inflam expectativas de lucro para justificar as fortunas gastas. Ele conta também que a teoria do "legado" - os benefícios que ficariam para os países após os eventos - foi inventado pelo COI no início dos anos 2000, quando muitos países começaram a questionar as contas e perceber que aquilo não era um negócio tão bom.

Os casos de mau uso de dinheiro público são muitos, e não só no Brasil: em Nagano, no Japão, sede das Olimpíadas de inverno de 1998, o estádio olímpico foi transformado em estádio de beisebol, mas a cidade não tem time pra jogar lá. A vila dos atletas das Olimpíadas de inverno de Vancouver, no Canadá, que seria vendida após o evento para uma construtora, foi devolvida à cidade por falta de pagamento e acumula um prejuízo de 300 milhões de dólares.

Em Atenas, 21 das 22 estruturas erguidas para as Olimpíadas de 2004 estão completamente abandonadas, e metade dos 2300 apartamentos da Vila Olímpica estão desocupados. Um estádio de softball de 20 mil lugares foi invadido pela vegetação. Na Rússia, Putin rasgou de 50 a 70 bilhões de dólares para tentar transformar um balneário decadente, Sochi, em grande destino turístico.

Não podemos esquecer o Ninho do Pássaro, o nababesco estádio olímpico de Pequim, que custou 460 milhões de dólares para ser construído e ainda custa 10 milhões por ano de manutenção, e virou uma decadente atração turística da cidade. Ou os estádios abandonados da África do Sul, que perigam ser demolidos para acabar com seus exorbitantes custos de manutenção.

Zimbalist destrói a teoria segundo a qual esse eventos aumentam o turismo nos países. O que ocorre, geralmente, é o oposto: o tráfego de turistas internacionais que visitam um país por causa da Copa ou Olimpíadas é, muitas vezes, inferior ao número de turistas em um ano qualquer, e os altos preços de hotéis e restaurantes afugentam também os turistas locais. Foi exatamente o que aconteceu no Brasil, ano passado.

Pior: estatísticas mostram que,  nos anos seguintes aos eventos, o número de turistas não sobe, mas cai. Em Sydney, sede das Olimpíadas de 2000, o número de turistas caiu por três anos seguidos após os Jogos, enquanto o turismo na vizinha Nova Zelândia começou a subir absurdamente.

Zimbalist terminou o livro em 2014 e não teve tempo de analisar a fundo as implicações econômicas da Copa no Brasil. Espero que ele faça uma segunda edição de "Circus Maximus", quem sabe em 2017, listando todos os elefantes brancos, roubos e mentiras de nossa Copa e Olimpíadas. A despoluição da Baía da Guanabara, prometida pelo então governador do Rio, Sérgio Cabral - e por seu vice, Pezão  - Zimbalist já pode anotar no caderninho.

E um agradecimento especial ao leitor Carlos, que me indicou o livro. Valeu demais.

P.S.: Estarei fora por boa parte do dia e impedido de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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