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“O ANO MAIS VIOLENTO”: EM ALGUM LUGAR, SIDNEY LUMET SORRI

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E não é que a programação de cinema não está das piores? Além de “Vício Inerente”, de Paul Thomas Anderson, e "Mapas para as Estrelas", de David Cronenberg, outro filme muito acima da média estreou esses dias: “O Ano Mais Violento”, de J.C. Chandor.

Chandor tem 41 anos e já dirigiu outros dois filmes muito bons, o drama político “Margin Call” (2011) e “Até o Fim” (2013), em que Robert Redford é um velejador solitário cujo barco naufraga em meio ao Oceano Índico (escrevi sobre o filme no blog; leia aqui).

“O Ano Mais Violento” é um drama policial passado em 1981. Segundo estatísticas, foi o ano mais violento da história da cidade de Nova York. Abel Morales (o excelente Oscar Isaac, de “Inside Llewyn Davis”, dos Irmãos Coen) é dono de uma empresa que vende gasolina para aquecedores.

Morales tem um problema: os caminhões de sua empresa estão sendo roubados por bandidos armados. Para piorar, sua firma está sendo investigada por um promotor público (David Oyelowo). Tudo isso ocorre na pior hora possível, justamente quando Morales acaba de dar a primeira parcela no pagamento de um velho depósito de gasolina de propriedade de especuladores judeus. O contrato determina que, se Morales não quitar a segunda parcela dentro de um prazo curto, perde o depósito e perde o dinheiro.

Morales é casado com Anna (a sempre sensacional Jessica Chastain), filha de um poderoso gângster, e tem um advogado que sempre dá um jeito de resolver os problemas da empresa, mesmo que envolva negociações das quais Morales prefere não participar. O advogado é interpretado por Albert Brooks, que sempre ilumina toda cena de que participa. Morales quer levar uma vida limpa e honesta, dentro das possibilidades oferecidas por um trabalho em que lida, 24 horas por dia, com a bandidagem.

“O Ano Mais Violento” lembra muito os dramas policiais urbanos de Sidney Lumet (1924-2011), como “Serpico” e “Um Dia de Cão”. É fascinante como Chandor mostra a engrenagem por trás das empresas que competem com Morales. São todas pequenas firmas familiares, que estão no negócio há décadas e aprenderam a sobreviver nesse mundo cinzento, em que ninguém é bonzinho e todos têm um pé na criminalidade, embora a fachada seja sempre imaculada.

Como é bom ver um filme que abre mão de tiroteios espetaculosos e irreais e mergulha de cabeça no realismo duro que o cinema americano exibia nos anos 70, com personagens de carne e osso, que têm medo de morrer e não são super-heróis de filmes de ação.

“O Ano Mais Violento” é artigo raro hoje em dia: um filme para adultos. Temática e esteticamente, remete a uma época em que Hollywood ainda se importava com esse público e fazia filmes que entretinham e tinham algo a dizer. E J.C. Chandor tem muito a dizer.

P.S.: Estarei fora até o início da tarde. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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