O Brasil é um país curioso: a gente reclama que nossa classe artística é acomodada, corporativista e chegada num abraço coletivo. Aí, quando um artista resolve falar o que dá na telha, todo mundo cai de pau no sujeito.
O Judas da vez é Ed Motta, que resolveu detonar parte do público brasileiro que vai a seus shows no exterior e que, segundo ele, só ouve música ruim, quer ouvir "Manuel" (um sucesso radiofônico de Ed, gravado em 1988 com o grupo funk Conexão Japeri) e gosta de pular "como se estivesse numa micareta".
Leia aqui a matéria do R7 sobre o caso.
Pessoalmente, acho que Ed Motta pegou pesado nos termos usados. Não precisava chamar esse público de "pedreiro" ou um leitor de "caipira". Pega mal.
Mas o que me interessa no caso, muito mais que discutir se Ed tem ou não razão no que diz, é debater essa mania brasileira de se ofender com opinião.
Ontem, o assunto tomou vários minutos de um telejornal noturno da Globonews. E todos os jornalistas se disseram horrorizados com o cantor. O repórter Gerson Camarotti disse que Motta, que havia classificado axé e sertanejo de "soda cáustica sonora", deveria ter "mais respeito" com outros gêneros musicais.
Por quê?
Por que um artista precisa respeitar alguma coisa? Que problema há se Ed Motta não sentir um pingo de consideração pelo axé e pelo sertanejo e criticar as pessoas que gostam?
Se um cantor de axé odiar a música de Ed Motta e escrever isso no Twitter, alguém vai se horrorizar também?
Por que, em vez de ficar horrorizados, os programas jornalísticos não usam a polêmica para discutir se nossa música contemporânea é ou não uma "soda cáustica sonora"? Que tal um debate entre Ed Motta, Ivete Sangalo e uma dupla caipira?
Prefiro um milhão de vezes ouvir alguém falando o que pensa, mesmo que de maneira preconceituosa e com a qual eu não concorde, do que aturar o jogo de comadres habitual da classe artística brazuca, onde todo mundo é lindo, odara, beija a mão dos veteranos e tem sonhos molhados com uma verbinha pública. Isso sim é o horror.
Bom fim de semana a todos.
The post Deixem o Ed Motta falar! appeared first on Andre Barcinski.