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Só a bandalha nos une

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gatos Só a bandalha nos une

M. trabalha cinco dias por semana no litoral sul do Rio, mas mora em uma comunidade pobre na cidade do Rio de Janeiro, onde mantém uma casa muito simples.

Há alguns meses, M. recebeu a conta de luz e quase caiu de costas: seu gasto, que normalmente não passava de 50 reais, chegara a mais de 600 reais.

M. reclamou na Light, a concessionária de energia elétrica que atende a região metropolitana do Rio. A empresa mandou um técnico no local. Ele constatou que os vizinhos de M. haviam feito “gatos” em seu medidor.

O problema não terminou por aí. Cada vez que as ligações clandestinas eram desfeitas, os vizinhos, aproveitando as longas ausências de M., as refaziam.

M. foi à Light algumas vezes tentar resolver a pendenga, mas a empresa não abre mão dos 600 reais, que ele não tem condições de pagar. Algumas semanas depois, a luz de M. foi cortada.

O que ele fez? Simples: um “gato” em outro poste.

Anteontem, a Light revelou que a energia elétrica roubada por meio de ligações clandestinas na cidade do Rio de Janeiro seria suficiente para abastecer todo o Espírito Santo. Se os roubos fossem evitados, diz a empresa, o preço da conta de luz cairia, em média, 17% para todos os cariocas.

Outra historinha edificante: na cidade onde moro, Paraty (RJ), o prefeito Cazé (PT), que dias atrás escapou por pouco de ser assassinado a tiros, sem que isso modificasse perceptivelmente o cotidiano da cidade ou provocasse manifestações de protesto, iniciou um importante programa de instalação de redes de água e esgoto na cidade.

Parece mentira, mas Paraty não tinha água tratada ou esgoto. Ninguém paga água, que é coletada de ramais antigos que cruzam a cidade. Quanto ao esgoto, os mais conscientes têm fossas sépticas em suas casas, mas a maioria joga o esgoto nos rios e praias, que é mais fácil e barato (nossa ex-vizinha, que anda com um adesivo do “S.O.S. Mata Atlântica” no jipe e aluga a casa para turistas, simplesmente jogava o esgoto num córrego, o que só descobrimos depois de capinar uma área que exalava mau cheiro).

Pois bem: o comentário mais frequente que ouço sobre o projeto de água e esgoto na cidade é: “Lá vem mais uma taxa da prefeitura!”. As pessoas preferem não pagar nada e ter uma água podre a pagar as taxas e contar com estações de tratamento. É desanimador.

Voltando ao caso da energia elétrica roubada, a Light revela que isso acontece não só em residências, mas também em empresas e fábricas. O que prova que, nesse país dividido, a única coisa que une pobres e ricos é a bandalha.

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