“O Lobo de Wall Street” é a quinta colaboração entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio, depois de “Gangues de Nova York” (2002), “O Aviador” (2004), “Os Infiltrados” (2006) e “Ilha do Medo” (2010).
A parceria tem sido ótima para os dois: DiCaprio conseguiu respeito da crítica e Scorsese, os maiores sucessos comerciais da carreira (dos seis filmes mais rentáveis do diretor, só “Cabo do Medo” não tem DiCaprio no elenco).
Quando começou a trabalhar com o astro, no início dos anos 2000, Scorsese estava num momento difícil: seus dois filmes anteriores – “Kundun” e “Bringing out the Dead” – foram fracassos de bilheteria, e ele reclamava da dificuldade para conseguir financiamento. Hollywood não assina cheque em branco pra ninguém, nem pra Martin Scorsese.
A parceria com DiCaprio deu ao cineasta a tranquilidade financeira que ele nunca teve. E essa tranquilidade vem tornando seus últimos filmes cada vez mais livres e experimentais.
“Ilha do Medo”, por exemplo, é um delírio fulleriano que confundiu muita gente. E agora chega a extravagância de “O Lobo de Wall Street”, um filme de três horas que poderia ter durado a metade, mas que Scorsese estende por puro prazer.
O Lobo de Wall Street - Trailer Oficial por thevideos no Videolog.tv.
O filme é longo demais, barulhento demais, exagerado, e parece contaminado pela paranoia egocêntrica e cocainômana de seus personagens. Mas é justamente o excesso que o torna tão especial. Scorsese parece dizer: Vou fazer o que quero. Quem quiser, embarque por sua conta e risco.
“O Lobo de Wall Street” dá uma banana para regras básicas dos roteiros da escola Syd Field de mesmice hollywoodiana: há cenas inteiras que poderiam ser cortadas sem prejuízo à história (uma longa sequência envolvendo uma mala cheia de dinheiro trocada de mãos em um estacionamento, por exemplo), e personagens marcantes que somem da história de repente (como o corretor nóia vivido por Matthew McConaughey, numa participação tão rápida quanto fantástica).
A estrutura narrativa do filme é muito parecida com a de “Os Bons Companheiros”: o personagem principal narra a própria trajetória, começando no início pobre, passando pelo sucesso e fortuna e terminando, inevitavelmente, em desgraça, depois de caçado pela lei.
DiCaprio faz Jordan Belfort, um corretor de Wall Street que perde o emprego depois de uma crise da Bolsa nos anos 80 e decide abrir sua própria firma, recrutando uma gangue de fracassados e delinquentes, a quem ensina os segredos para vender qualquer ação para qualquer pessoa.
Imagine uma mistura de “Scarface”, “Wall Street” e “Clube dos Cafajestes”, e você terá uma boa ideia do que é “O Lobo de Wall Street”. A gangue de Belfort cheira e bebe sem parar, faz orgias e quebra qualquer lei que vê pela frente. O gigantesco escritório da firma parece uma arena romana montada no Studio 54.
O principal parceiro de Belfort é Donnie Azoff (Jonah Hill), um alucinado em tempo integral que fuma crack, trepa com qualquer coisa que se mexe, cheira pó como um tamanduá e tem um estoque inesgotável de Quaaludes (um sedativo conhecido no Brasil por Mandrix).
O que Jonah Hill faz nesse filme é inacreditável. Há muito tempo não via um personagem tão magnético no cinema. Ele está sempre em 78 rotações, com os olhos esbugalhados e uma expressão de psicopata, mas tem algumas das melhores frases do filme – cortesia do roteirista Terence Winter, de “Os Sopranos” e “Boardwalk Empire” – e quase rouba a cena.
Só não rouba porque Leonardo DiCaprio não deixa. É, de longe, a melhor atuação dele, sempre a um passo da caricatura, mas nunca escorregando para a demência de um Nicholas Cage ou um Gary Oldman, quando mal dirigidos.
E Scorsese parece estar se divertindo demais. Não posso esperar para rever o filme e conferir com calma alguns de seus truques. Há dois ou três primorosos planos-sequência com steadycam, além de uma cena que periga ser a mais engraçada da carreira do diretor, em que o personagem de DiCaprio ensina os empregados a vender uma ação.
Como sempre, Scorsese montou um elenco extraordinário e criou personagens coadjuvantes inesquecíveis, como o pai de Belfort, vivido por Rob Reiner (diretor de “Spinal Tap”) e um banqueiro suíço vigarista interpretado por Jean Dujardin (“O Artista”). E a australiana Margot Robbie é um achado no papel de Naomi, mulher de Belfort.
Já vi quase todos os principais concorrentes ao Oscar (só falta “Trapaça”), e nenhum chega perto de “O Lobo de Wall Street”. É o que acontece quando deixam Scorsese solto.
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